quarta-feira, 2 de maio de 2012

Delegado do DOPS revela em livro detalhes da repressão, tortura e assassinatos

Kikodmachado em seu blog


Foto:

Capa do livro de Cláudio Guerra


O site IG publica, nesta quarta-feira (2), matéria sobre o lançamento do livro de delegado do DOPS Cláudio Guerra com revelações bombásticas sobre a tortura, incineração de corpos de prisioneiros políticos e assassinatos cometidos pelas forças de repressão durante o regime militar brasileiro. Confira:

“Militantes de esquerda foram incinerados em usina de açúcar”

Delegado revela em livro que viraram cinzas os corpos de David Capistrano, Ana Rosa Kucinski e outros oito opositores da ditadura

Ele lançou bombas por todo o país e participou, em 1981 no Rio de Janeiro, do atentado contra o show do 1º de Maio no Pavilhão do Riocentro. Esteve envolvido no assassinato de aproximadamente uma centena de pessoas durante a ditadura militar. Trata-se de um delegado capixaba que herdou os subordinados do delegado paulista Sérgio Paranhos Fleury nas forças de resistência violenta à redemocratização do Brasil.

Apesar disso, o nome de Cláudio Guerra nunca esteve em listas de entidades de defesa dos direitos humanos. Mas com o lançamento do livro “Memórias de uma guerra suja”, que acaba de ser editado, esse ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) entrará para a história como um dos principais terroristas de direita que já existiu no País.

Mais do que esse novo personagem, o depoimento recolhido pelos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, ao longo dos últimos dois anos, traz revelações bombásticas sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes das décadas de 70 e 80.

Revelações sobre o próprio caso do Riocentro; o assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982; a morte do delegado Fleury; a aproximação entre o crime organizado e setores militares na luta para manter a repressão; e dos nomes de alguns dos financiadores privados das ações do terrorismo de Estado que se estabeleceu naquele período.

A reportagem do iG teve acesso ao livro, editado pela Topbooks. O relato de Cláudio Guerra é impressionante. Tão detalhado e objetivo que tem tudo para se tornar um dos roteiros de trabalho da Comissão da verdade, criada para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar (1964-1988).

David Capistrano, Massena, Kucinski e outros incinerados

Cláudio Guerra conta, por exemplo, como incinerou os corpos de dez presos políticos numa usina de açúcar do norte Estado do Rio de Janeiro. Corpos que nunca mais serão encontrados – conforme ele testemunha – de militantes de esquerda que foram torturados barbaramente.

“Em determinado momento da guerra contra os adversários do regime passamos a discutir o que fazer com os corpos dos eliminados na luta clandestina. Estávamos no final de 1973. Precisávamos ter um plano. Embora a imprensa estivesse sob censura, havia resistência interna e no exterior contra os atos clandestinos, a tortura e as mortes.”

Os dez presos incinerados

João Batista e Joaquim Pires Cerveira > presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury.
Ana Rosa Kucinsk e Wilson Silva > “A mulher apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente, e o jovem não tinha as unhas da mão direita”.
David Capistrano (“lhe haviam arrancado a mão direita”) , João Massena Mello, José Roman e Luiz Ignácio Maranhão Filho > Dirigentes históricos do PCB.
Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho > Militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML).

O delegado lembrou do ex-vice-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro, proprietário da usina de açúcar Cambahyba, localizada no município de Campos, a quem ele fornecia armas regularmente para combater os sem-terra da região. Heli Ribeiro, segundo conta, “faria o que fosse preciso para evitar que o comunismo tomasse o poder no Brasil”.

Cláudio Guerra revelou a amizade com o dono da usina para seus superiores: o coronel da cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira, que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar).
Afirma que levou, então, os dois comandantes até a fazenda:

“O local foi aprovado. O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano.”

“A usina passou, em contrapartida, a receber benefícios dos militares pelos bons serviços prestados. Era um período de dificuldade econômica e os usineiros da região estavam pendurados em dívidas. Mas o pessoal da Cambahyba, não. Eles tinham acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o Estado poderia prestar.”

Do porão para o púlpito

Cláudio Guerra foi um dos policiais mais poderosos dos anos 70 e início dos anos 80. Circulava no eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais-Espírito Santo com a desenvoltura de uma autoridade anônima consciente de seu poder de destruição humana. Hoje é um pastor evangélico que passa boa parte das manhãs de domingo estudando hebraico, e grande parte de seu tempo estudando a Bíblia. Também desenvolve atividades sociais sob a supervisão da Justiça, já que ainda cumpre pena de prisão, recolhido numa instituição para idosos. E vive pedindo por suas ovelhas: o tratamento difícil para alguma criança, uma cirurgia de emergência, um olhar mais técnico sobre um promissor jovem atleta de sua comunidade. Ex-policial experiente, ele sabe que sua vida sofrerá graves mudanças a partir da divulgação das informações constantes em Memórias de uma Guerra Suja.

O site memoriasdeumaguerrasuja.com.br apresenta o livro, os autores e o protagonista, além de indicar personagens da comunidade de informações, cemitérios clandestinos e desaparecidos políticos.

Faixa de Gaza, no centro da questão palestina


A escalada de violência na Faixa de Gaza em março confirmou o caráter instável do status quo e o impasse da estratégia israelense
por Jean-Pierre Filiu no LeMondeBrasil
(Garoto palestino agita a bandeira de seu país durante protesto na Faixa de Gaza)

A Faixa de Gaza, como entidade autônoma, foi moldada pela guerra de 1948-1949. Durante o conflito, muitos palestinos expulsos afluíram para lá. O primeiro-ministro israelense, David ben Gurion, sempre visionário, compreendeu imediatamente o risco de tal concentração de refugiados no noroeste do Neguev. Isso porque a barreira natural do Deserto do Sinai impedia que ocorresse em Gaza um fenômeno de dispersão, como se deu nos países vizinhos, com o surgimento de campos de refugiados ao redor de Amã, Beirute e Damasco. Assim, para pelo menos dois terços de sua população, o território se transformou num enorme campo de refugiados. Ben Gurion pensou em resolver o problema com a oferta de anexação de Gaza, mas ela foi enterrada em 1949, na Conferência de Lausanne. O território tornou-se então o abscesso da frente meridional, campo de teste para incursões de intimidação e bombardeios indiscriminados.
 
A invasão israelense de 1956, durante a crise de Suez, foi acompanhada por uma sangrenta repressão, mas Gaza teve de ser evacuada, sob pressão internacional. Ben Gurion então achou que devia fazer uma aposta-padrão na mão de ferro do presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, o qual garantiu uma efetiva paz no território até 1967. Para Israel, a ocupação da Faixa de Gaza, desde a abertura da guerra de junho, era acima de tudo um desafio em termos de contrainsurreição, diante da uma guerrilha palestina de tenacidade inigualável. O general Moshe Dayan, tendo esmagado brutalmente os insurgentes, decidiu dissolver Gaza nas “portas abertas” (livre circulação) com Israel e Cisjordânia. Essa política deu frutos por duas décadas. Em 1993, o primeiro-ministro Yitzhak Rabin decidiu ao mesmo tempo sistematizar as “barreiras” do território e abrir um diálogo com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
 
Livrar-se de Gaza tornou-se a obsessão das autoridades israelenses, que buscavam transferir a manutenção da ordem a uma força palestina, mesmo reservando-se um direito de intervenção permanente em caso de ameaça. É evidente a continuidade estratégica entre a retirada parcial de 1994 e o desengajamento unilateral de 2005. Porém, enquanto Rabin desencadeou um processo de paz, o primeiro-ministro Ariel Sharon colocou Gaza diante do fato consumado.
 
CUSTO EXORBITANTE

Desde 2005, Israel enfrenta o impasse de sua abordagem exclusivamente securitária, que alimenta, com sua brutalidade, uma mobilização internacional pontuada por crises. As “missões civis”, nascidas da urgência humanitária, atingiram seu limite, pois não são capazes de dar uma perspectiva à população de Gaza. Esta continua suspensa no braço de ferro entre o Fatah, que nunca aceitou a vitória islâmica nas eleições de janeiro de 2006, e o Hamas, que assumiu o controle do território em junho de 2007. Assim, o impasse da estratégia israelense acentua o impasse humanitário, que por sua vez é agravado pelo impasse político que perdura na cena palestina. O 1,5 milhão de habitantes do território, já submetidos a um isolamento físico de rigor excepcional, são também prisioneiros desse triplo impasse.
 
O desengajamento israelense e o desmantelamento das colônias da Faixa de Gaza, no final do verão [do Hemisfério Norte] de 2005, foram seguidos, um mês depois, pelo início de uma ofensiva de nome premonitório: “Eterno Recomeço”. Sucederam-se as incursões e os bombardeios israelenses, o mais recente deles em março de 2012. A captura do soldado Gilad Shalit, no dia 25 de junho de 2006, inaugurou uma nova escalada militar. A quebra da trégua entre o Hamas e Israel, de junho a dezembro de 2008, levou à onda de violência da operação “Chumbo Grosso”, cujas vítimas se contam na proporção de um israelense para cada cem palestinos, ainda que, apesar da ação, os ataques de foguetes contra Israel não tenham cessado em 2009. Durante os seis primeiros meses de 2010, o ocupante matou 34 palestinos na Faixa de Gaza (incluindo onze civis), ao passo que os três israelenses mortos eram todos militares.1 O segundo semestre de 2010 terminou com um saldo de 37 palestinos mortos (incluindo doze civis) e nenhuma vítima israelense.2 Israel acredita ter encontrado a fórmula de gestão de sua fronteira meridional, a um custo sem dúvida exorbitante para os habitantes de Gaza, mas perfeitamente aceitável para a opinião pública.
 
A revolução egípcia, que eclodiu em 25 de janeiro de 2011 e em dezoito dias obrigou o presidente Hosni Mubarak a renunciar, logo dissipou essa ilusão estratégica. Numa inversão de papéis, é a Faixa de Gaza que alimenta, por meio de túneis, a cidade egípcia de Rafah, isolada do mundo – isto é, do Cairo – pelos motins do Canal de Suez. Israel, que insistiu para que o tratado de paz de 1979 com o Egito proibisse qualquer implantação militar no Sinai, autorizou uma presença sem precedentes das forças armadas egípcias a leste de Suez, a fim de conter a agitação revolucionária...
 
No dia 11 de outubro de 2011, por meio da mediação do Cairo e do serviço de inteligência alemão (BND), Hamas e Israel conseguiram chegar a um acordo de troca de prisioneiros. A libertação do soldado Gilad Shalit, uma semana depois, foi condicionada à libertação de 1.027 presos palestinos: 477 de uma lista aprovada pelo Hamas e Israel, mais 550 soltos a critério de Israel em um prazo de dois meses. É verdade que o Hamas não conseguiu a libertação das figuras emblemáticas do Fatah – Marwan Barghouti – e da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) – Ahmed Saadat. Mas garantiu a de muitos militantes do Fatah, dos Comitês de Resistência Popular e da Jihad Islâmica. Principalmente, assegurou o retorno de dezenas de quadros e membros históricos, alguns condenados a várias penas de prisão perpétua por envolvimento em ataques contra Israel.
 
Foram necessários quase 2 mil dias para que Israel aceitasse as exigências básicas transmitidas pelo Hamas após a captura de Shalit. Durante cinco anos e meio, seu Exército encadeou ofensivas para quebrar ou pelo menos dobrar o Hamas. O governo de Benjamin Netanyahu, no entanto, não sofreu nenhuma consequência do fracasso dessa opção estritamente militar, já que nunca foi capaz de ameaçar o controle do Hamas sobre a Faixa de Gaza. Pelo contrário, é o movimento islâmico que mantém a intensidade do conflito no nível mais baixo, contornando o bloqueio por meio de seus túneis, estimados em seiscentos pela ONU.
 
“FIM DA DIVISÃO”

No inverno [do Hemisfério Norte] de 2011, uma militância inédita em Gaza revelou-se sincronizada com as reivindicações populares em Túnis e no Cairo. Uma manifestação de apoio à revolução egípcia foi proibida no dia 31 de janeiro de 2011. A derrubada do presidente Mubarak, em 11 de fevereiro, animou os manifestantes palestinos. O grito “O povo quer derrubar o regime” foi adaptado em Gaza para “O povo quer o fim da divisão”, colocando Hamas e Fatah lado a lado em nome dos interesses do povo palestino. No dia 14 de março de 2011, milhares de jovens manifestavam-se em favor dessa causa. No dia seguinte, eles já eram dez vezes mais numerosos, enquanto os protestos eram muito mais limitados na Cisjordânia. A manifestação degenerou, pois militantes do Hamas quiseram impor o emblema do partido aos manifestantes, que só permitiam a bandeira palestina.
 
Apesar desses incidentes, a dinâmica unitária preparou o terreno para uma reconciliação, pelo menos formal, entre Hamas e Fatah. A queda do regime de Mubarak, menos preocupado em mediar do que em conter o movimento islâmico, também contribuiu para isso. E o enfraquecimento da Síria de Bashar al-Assad forçou a liderança exilada do Hamas a dar mais valor às reivindicações de Gaza. Em 4 de maio de 2011, os dois dirigentes, Khaled Meshaal e Mahmoud Abbas, que não se encontravam desde a efêmera “união nacional” concluída em Meca quatro anos antes, reuniram-se no Cairo para assinar um acordo. Um quadro de cooperação entre os serviços de segurança de Ramallah e de Gaza foi aceito. O princípio do acompanhamento pela OLP das negociações com Israel foi apoiado pelo Hamas, que não se considera ligado a essas conversações, mas está disposto a aceitar suas consequências.
 
Depois de tanto sangue derramado e tantas oportunidades perdidas, os habitantes de Gaza lutam para acreditar que a página das batalhas de uma Palestina contra a outra foi de uma vez por todas virada. Uma real reconciliação continua sendo condição indispensável para tirar o território do limbo em que ele foi relegado desde junho de 2007. A decisão última está nas mãos de Abbas e Meshaal, que vivem respectivamente em Ramallah e no Catar (desde que saiu de Damasco), bem longe de Gaza e suas preocupações. As vinganças de milícias rivais e a duplicação de grandes burocracias3 representam um sério desafio a qualquer forma de aproximação duradoura. Mas como imaginar um futuro decente e um destino coletivo para a população de Gaza enquanto os dois principais movimentos palestinos continuarem a se destruir mutuamente?
 
Três gerações cresceram nessa faixa de terra moldada pela história. A geração do luto, de 1947 a 1967, preparou o caminho para a do arrasamento, de 1967 a 1987, e em seguida para a das intifadas, de 1987 a 2007. Porém ali, como em todo o resto da Palestina, o caminho para sair desse pesadelo coletivo é simples e conhecido. Ele se desdobra num tríptico virtuoso: desenclave, desenvolvimento e desmilitarização. Tal dinâmica inverteria as tendências consistentemente seguidas há duas décadas. A juventude de Gaza já demonstrou, na mobilização de março de 2011, determinação em reverter uma ordem tão sinistra. Para conjurar essa fatalidade, seria preciso retornar ao pressuposto mais promissor dos acordos de Oslo: Gaza em primeiro lugar.

Jean-Pierre Filiu
Professor na Sciences Po Paris e autor, entre outros livros, de Histoire de Gaza,  publicado pela Fayard.


Ilustração: Ibraheem Ab Mustafa / Reuters
1 Relatório semanal do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas, 2 jul. 2010.

2 Relatório semanal do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas, 7 jan. 2011.

3 O Hamas controla o salário de 31 mil funcionários na Faixa de Gaza, onde a Autoridade Palestina mantém cerca de 70 mil agentes remunerados.

Repúdio mundial a cortes sociais no Dia do Trabalho


Milhares de pessoas saíram às ruas terça-feira nas manifestações do Dia Internacional do Trabalho realizadas nos diferentes países da América Latina, reivindicando melhorias salariais e das condições de trabalho, em alguns casos e, em outros, apoio a políticas governamentais.No México, as comemorações do Dia do Trabalho se converteram em um ato contra os partidos PAN e PRI. Os trabalhadores foram chamados a dar um voto de castigo aos “partidos que quebraram a nação”. Muitos manifestantes utilizaram a máscara que se tornou ícone da resistência cidadã contra os centros do poder mundial.


Milhares de pessoas saíram às ruas terça-feira nas manifestações do Dia Internacional do Trabalho realizadas nos diferentes países da América Latina, reivindicando melhorias salariais e das condições de trabalho, em alguns casos e, em outros, apoio a políticas governamentais. No Chile, a jornada culminou com distúrbios provocados por encapuzados e um saldo de 20 detidos e seis policiais feridos.

Em Caracas, milhares de venezuelanos marcharam pacificamente pelas ruas centrais da cidade, divididos entre os seguidores do presidente Hugo Chávez, que viajou de novo a Cuba na segunda-feira, e os opositores. As mobilizações começaram desde cedo em um ambiente festivo e marcado pelas campanhas políticas para a eleição presidencial de 7 de outubro.

Os partidários do governo reafirmaram seu apoio a Chávez e à promulgação de uma nova lei do trabalho que prevê a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, pagamento em dobro para trabalhadores demitidos injustificadamente, eliminação de contratação de terceiros e aumento da licença maternal para seis meses, normas que o ministro da Energia, Rafael Ramírez, considerou como ferramentas extraordinárias com as quais nossos trabalhadores passarão a contar para a construção do socialismo. O presidente Chávez, por sua parte, enviou por meio do Twitter uma saudação revolucionária a “todos e todas dignos trabalhadores da pátria bolivariana. Viva a classe operária! Viva o 1º de maio!”.

Em La Paz, com o apoio dos movimentos sociais e protestos da Central Operária Boliviana, o presidente Evo Morales insistiu na necessidade de pensar na Bolívia, fazendo alusão aos setores que reclamam aumentos salariais exorbitantes e aos que rechaçam a jornada de trabalho de oito horas.

Os empregados sindicalizados equatorianos também marcharam divididos entre os apoiadores e os opositores das políticas laborais do governo. Em Quito, ocorreram as principais concentrações com o opositor Frente Unitária dos Trabalhadores e a Confederação de Trabalhadores do Setor Público, que apoia o governo do presidente Rafael Correa. Correa esteve nesta última marcha, onde propôs radicalizar as políticas trabalhistas e pediu apoio à revolução cidadã, mas sem lançar pedras e sim com paz e votos.

O presidente peruano Ollanta Humala, por sua vez, anunciou um aumento do salário mínimo, de 253,7 para 281,9 dólares, e se comprometeu a avançar em uma estratégia contra o trabalho infantil e a buscar uma igualdade salarial entre homens e mulheres. Não faltaram críticas por parte da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru, que denunciaram que Humala mantém o mesmo sistema de exploração da época de Alberto Fujimori (1990-2000).

Em São Paulo, os sindicatos reuniram milhares de trabalhadores e reivindicaram como uma vitória a crítica feita pela presidenta Dilma Rousseff contra os bancos privados pelos altos custos do crédito. Em São Luiz, no Maranhão, ocorreu um protesto pelo assassinato por pistoleiros do jornalista Décio As, o quarto repórter assassinado este ano no Brasil.

No Chile, a Central Unitária de Trabalhadores reuniu cerca de 40 mil pessoas na comemoração em Santiago, que começou pacificamente e terminou com graves distúrbios e detenção de vinte manifestantes, além de seis policiais feridos. Os distúrbios ocorreram quando as marchas já estavam se dispersando e apareceram encapuzados que entraram em choque com a polícia. Os trabalhadores caminharam ao lado dos estudantes em meio à muita dança e música, com bandeiras e cartazes com demandas de melhorias nas condições de trabalho e melhores salários, relatou Enrique Gutiérrez, correspondente do La Jornada.

Paraguai, Uruguai, Argentina, Colômbia e os países centroamericanos também foram palco de mobilizações. No México, as comemorações do Dia do Trabalho se converteram em um ato contra os partidos PAN e PRI. Os trabalhadores foram chamados a dar um voto de castigo aos “partidos que quebraram a nação” e a cobrar a fatura por suas políticas, vetando seus candidatos. “Não dê teu voto ao PRI-PAN. Os indignados do México também votam”, diziam alguns dos cartazes e faixas carregados pelas dezenas de milhares de trabalhadores de sindicatos independentes durante a mobilização realizada na capital e em outras cidades do país. Muitos manifestantes utilizaram a máscara que se tornou ícone da resistência cidadã contra os centros do poder mundial.

Tradução: Katarina Peixoto

Piso e abonos

Juremir Machado no CP

 

<br /><b>Crédito: </b> ARTE DE VANDERLEI DUTRA

Crédito: ARTE DE VANDERLEI DUTRA

Em se tratando de pagamento do piso do magistério, faço parte dos que só querem entender a diferença entre o proposto pela equipe de Yeda Crusius e o defendido pelo time de Tarso Genro. Yeda entrou na Justiça. Tarso também. Yeda não queria pagar o piso como básico. Tarso também não quer. Salvo se mudar o índice de reajuste. Yeda propôs um abono que fixaria o menor valor recebido por um professor em R$ 1.500,00. Tarso, seguindo o atual valor do piso, propõe um abono que eleva o menor salário percebido a R$ 1.451,00. O abono de Yeda incidia sobre a totalidade dos ganhos, o de Tarso sobre o básico. Yeda não queria negociar com o Cpers. Tarso está negociando com o Ministério Público. Yeda recusava o índice de reajuste do piso pelo custo-aluno Fundeb. Tarso também. Yeda queria mexer no plano de carreira. Tarso, na prática, está fazendo isso, sem precisar da Assembleia Legislativa. Se a sua proposta passar, os professores de nível 1, com ensino médio, receberão o mesmo que os de nível 5, com ensino superior. É o chamado achatamento.

Onde estão as diferenças? Os defensores do atual governo sustentam que Tarso quer pagar o piso, mas, nos moldes da lei federal, não tem recursos para isso, enquanto Yeda simplesmente era contra e não queria pagar por considerá-lo inconstitucional. Os críticos do governo reagem dizendo que tudo aquilo que foi detonado quando proposto por Yeda agora é legitimado ao ser anunciado por Tarso. A grande diferença entre os dois governos estaria na "judicialização" ou não do problema. Yeda foi ao STF. Ao assumir, Tarso quis tirar o Rio Grande do Sul da ação que tramitava em Brasília. Mais tarde, foi à Justiça por conta própria. Surge uma nova diferença: Yeda teria pretendido uma alteração definitiva do plano de carreira e um achatamento salarial permanente. Tarso estaria propondo algo provisório, à espera da Justiça. O Cpers rejeitou os avanços de Yeda. Faz o mesmo com Tarso. Não pode mais ser acusado de partidarismo ou de petismo.

Como fica o observador externo? Tenta compreender. Há aumento salarial com Tarso. Até o final do mandato seriam 40%. Mesmo assim, abaixo da lei. Os yedistas rotulavam o Cpers de radical. Quem faz isso hoje é o PT. A oposição atual, situação de ontem, passou a defender o pagamento integral do mesmo piso que considerava inviável. A situação atual, oposição de ontem, passou a considerar inviável o pagamento integral do mesmo piso que defendia ontem. Se o abono de Tarso emplacar, o PT dirá que está pagando o piso (ninguém recebendo abaixo dele). Vai contrariar o STF, para quem o piso é o básico sobre o qual incidem as vantagens, e confundir cabeças. Dirá: que importa, se os professores recebem mais? Era o que dizia Yeda em favor do abono trucidado pelo petismo.

Outra diferença: Yeda não queria pagar o piso, que não era ideia dela. Tarso deveria pagá-lo por ser o pai da criança. O peixe morre pela boca. O PT paga por prometer o que não sabia se poderia cumprir, talvez imaginando que o STF declararia o piso inconstitucional ou que o índice, muito alto, seria mudado. Os yedistas me detestavam por causa do piso. Os tarsistas começam a torcer o nariz para mim. Meu destino é ser odiado.