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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Resistência Palestina


Globo, os palestinos não se veem por aí


Globo, os palestinos não se veem por aí. 19582.jpeg 
Em 19 de dezembro, foi ao ar na chamada "novela das oito" da TV Globo, intitulada "Amor à vida", uma cena que não deixa dúvidas a quem serve a emissora: aos interesses hegemônicos e ao império. A telenovela líder da audiência em âmbito nacional, seguida pelo Jornal Nacional, apresentou na trama um romance entre um palestino, Pérsio (Mouhamed Harfouch), e uma judia, Rebeca (Paula Braun). No capítulo em questão, o primeiro deles declara que pertenceu a uma "célula terrorista" e se diz arrependido: "Eu queria ser um homem bomba.
Achava que era um sacrifício justo pela causa do meu povo. Só não fui porque eu sou filho único, a minha mãe me procurou, insistiu demais pra eu desistir. Mas eu ajudei a organizar um atentado. Um amigo meu, um amigo próximo, foi o homem bomba. Ele entrou num ônibus em Jerusalém e explodiu, matando muita gente. Mulheres, crianças... crianças como o seu irmãozinho, RebecaEu me senti culpado, quando vi o seu irmão, quando falei com a sua família. Eu percebi que a guerra, o terrorismo, atinge pessoas indefesas, crianças. Vendo aquele menino sorrindo, eu percebi que um dia eu quis atacar crianças como ele. Como eu posso dizer que aquele menino é meu inimigo?." Alguns capítulos depois, no dia 30, em uma nova conversa, Rebeca se recusa a falar com Pérsio, a não ser profissionalmente, pelo que ele quis fazer com "seu povo". E em cena no dia 7 de janeiro último, a personagem busca conselhos junto a um rabino, já que teria se apaixonado por "um árabe, um palestino", pertencente a um "grupo terrorista".
O diálogo que inaugura essa farsa é permeado por desinformação, distorção e manipulação da verdade. Rebeca chega a afirmar que há muitos casais judeus e palestinos em Israel, como conviria a qualquer estado democrático. A verdade é que a própria convivência está comprometida.
 
O apartheid imposto aos palestinos impede até que vivam no mesmo bairro. Alguém poderia afirmar que conhece um caso assim na atualidade. Mas não é essa a regra. Os palestinos que vivem onde hoje é Israel (território palestino até 1948, ano da criação desse estado como exclusivamente judeu) são considerados cidadãos de segunda ou terceira categoria, discriminados cotidianamente - há 30 leis racistas contra essas pessoas, que lhes impedem ter os mesmos direitos.
Há dezenas de aldeias em que vivem que sequer são reconhecidas por Israel, o que significa que não lhes são assegurados serviços essenciais, como fornecimento de eletricidade, água, educação e saúde de qualidade.

Quem é o terrorista?
Em 1948, ano que na memória coletiva árabe é conhecido como "nakba", a catástrofe, foram expulsos de suas terras e propriedades cerca de 800 mil palestinos e aproximadamente 500 aldeias foram destruídas para dar lugar a Israel. Massacres exemplares são hoje comprovados. Os palestinos, desumanizados desde o início desse projeto de limpeza étnica e colonização de suas terras, não foram apagados da história graças a sua resistência - apresentada na telenovela da Globo como terrorismo. Resistência reconhecida pelo direito internacional como legítima diante da ocupação.
Ademais, os chamados atentados com homens bomba, atos desesperados perante o silêncio do mundo e a falta de alternativas, há muito foram abandonados. A contextualização histórica sobre o terror de Estado que fabricou esses "homens bomba", durante um tempo determinado, ficou fora da telinha. Assim como os contínuos ataques israelenses, que atingem sobretudo crianças e mulheres, com tecnologias de última geração vendidas depois ao mundo. Os laboratórios humanos em que se transformaram os palestinos no shopping center que se converteu Israel à venda de suas parafernálias militares também não encontraram lugar no diálogo que foi ao ar na "novela das oito".
O autor de "Amor à vida", Walcyr Carrasco, reforçou, assim, mitos que são denunciados pelo historiador israelense Ilan Pappe em seu artigo "Os dez mitos de Israel". Entre eles, de que a luta palestina não tem outro objetivo que não o terror e que Israel é "forçado" a responder à violência. Segundo ele, a história distorcida serve à opressão, à colonização e à ocupação. "A ampla aceitação mundial da narrativa sionista é baseada em um conjunto de mitos que, ao final, lançam dúvidas sobre o direito moral palestino, o comportamento ético e as chances de qualquer paz justa no futuro. A razão é que esses mitos são aceitos pela grande mídia no Ocidente e pelas elites políticas como verdade."
O Brasil não é exceção. Na contramão da campanha global por boicotes ao apartheid israelense, o governo federal se tornou nos últimos anos o segundo maior importador de tecnologias militares da potência que ocupa a Palestina e porta de entrada dessa indústria à América Latina. E sua cumplicidade com a opressão, ocupação e apartheid a que estão submetidos os palestinos é justificada a milhares de espectadores desavisados da novela da Globo, através de um discurso que reproduz a versão falsificada da história e se fortalece perante a representação orientalista - em que os árabes seriam "orientais" bárbaros e atrasados, ante cidadãos pacíficos e civilizados, segundo explicita o intelectual palestino Edward Said em seu livro "Orientalismo, o Oriente como invenção do Ocidente".

Democratização já!
Num cenário de concentração midiática, preconceitos como esse - não são os únicos - são especialmente graves. Assim como é bastante preocupante que o tradicional show natalino do cantor Roberto Carlos, exibido na mesma emissora ao final de 2013, tenha sido patrocinado pela marca Café Três Corações, que tem como acionista majoritária uma empresa israelense cuja colaboração com a opressão em terras palestinas já foi amplamente denunciada.
Apesar do crescimento acentuado de usuários da internet - que chegaram à marca de 94,2 milhões ao final de 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) -, a maioria da população brasileira ainda se informa sobretudo pela TV, presente em 96,9% dos domicílios, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/IBGE). Enquanto a propaganda nesse meio é o principal impulsionador ao consumo, programas de entretenimento como as telenovelas igualmente moldam comportamentos, conceitos e ideias. E a produção desses encontra-se nas mãos de apenas seis famílias, detentoras das concessões públicas que lhes garantem espaço para difundir livremente preconceitos e falsificações históricas. Outorgas concedidas muitas vezes ao arrepio das leis vigentes, renovadas pelo governo brasileiro sem qualquer critério para garantir a pluralidade e diversidade na produção cultural.
Para transformar a realidade, é fundamental reforçar a luta pela democratização das comunicações e denunciar essas distorções que grassam na TV brasileira. É importante se somar às vozes que, nas manifestações de junho de 2013, protestaram contra o monopólio da mídia e elegeram para tanto o lema: "Globo, a gente não se vê por aqui".

Soraya Misleh* é jornalista, membro da diretoria do ICArabe, da Ciranda Internacional da Informação Independente e do Mopat (Movimento Palestina para Todos)

Fonte: Correio ICAbare

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Cantor Daniel Viglietti denuncia golpe de estado jurídico no Uruguai



Preso pela ditadura em 1972, Viglietti afirmou que a Suprema Corte de Justiça deu um golpe de Estado jurídico | Foto: Libertinus
Da Redação do SUL21
O cantor uruguaio Daniel Viglietti denunciou que a Suprema Corte de Justiça do Uruguai (SCJ) deu “um tipo de golpe de Estado jurídico” que pretende liquidar com os processos contra os criminosos da ditadura (1973 – 1985). Viglietti afirmou que a SCJ busca impedir que sejam julgados os “que torturaram, assassinaram e sequestraram”.
“Se, por um lado, o estado escavou a terra para encontrar os corpos, é preciso continuar escavando a sociedade para encontrar os responsáveis por tudo isso”, afirmou o cantor e compositor de 73 anos de idade à Prensa Latina.
Nesta sexta-feira (22), a Suprema Corte emitiu uma sentença considerando inconstitucional a lei aprovada em 2011 que permitia a investigação de crimes ocorridos durante a ditadura, antes abrigados sob a lei da anistia, aprovada em 1986. A decisão ganhou o apoio da direita e foi condenada pelo governo esquerdista.
Para o vice-presidente da coalizão governista Frente Ampla, Juan Castillho, a decisão foi “uma barbaridade”. “O recado que está sendo dado às vítimas e a suas famílias é aterrorizante”, lamentou o político. O partido do presidente José Mujica emitiu um comunicado na segunda-feira (25) afirmando que “a maioria da SCJ é responsável pela manutenção da impunidade”. O PVP, outro partido que integra a Frente Ampla, afirmou que irá denunciar a SCJ à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A oposição direitista criticou o posicionamento do governo após a decisão: “Não respeitam o povo quanto vota, nem os juízes quando ditam sentença; acreditam estar por cima da Constituição”, escreveu o senador Ope Pasquet, do Partido Colorado, no Twitter.
O porta-voz da SCJ, Raúl Oxandabart, afirmou que “o destino de cada um dos procedimentos ou julgamentos sobre os crimes da ditadura dependem do juiz da causa, e nisso a SCJ não pode intervir”. Segundo o El País, a decisão determina que causas judiciais abertas nas quais não há militares processados por crimes na ditadura devem ser arquivadas. As causas nos quais já há processados, no entanto, poderão continuar a ser investigadas.

| Foto: Victor Farinelli/Opera Mundi
Protesto
Nesta segunda-feira (25), milhares de uruguaios, entre eles o escritor Eduardo Galeano, protestaram contra a decisão e exigiram o fim da impunidade pelos crimes da ditadura. Os manifestantes, convocados pela Frente Ampla e por várias organizações de defesa dos direitos humanos, se concentraram na Praça Cagancha, em frente à sede da SCJ. Ao redor da Coluna da Paz, monumento simbólico da Plaza Cagancha, em Montevidéu, havia pouco mais de 25 mil uruguaios em protesto. Após cinco minutos de silêncio, vieram os aplausos, abraços, lágrimas e o hino do país.
Terminada a parte protocolar do ato, os gritos passaram a ser variados, e direcionados a um dos flancos da praça, onde está o prédio da Suprema Corte de Justiça do Uruguai. Foi de lá que saiu, na última sexta-feira (22/02), a decisão que motivou o evento.
O tribunal de justiça do país declarou inconstitucionais os dois artigos centrais da chamada Lei de Interpretação, aprovada pelo Congresso do país em 2011, e que anulava os efeitos da Lei de Caducidade (similar à Lei de Anistia no Brasil), pela qual se determina a prescrição dos crimes da ditadura uruguaia (1973-1985).

A Cagancha, ontem | Foto: Victor Farinelli/Opera Mundi
Com informações da Radil Del Sur, Opera Mundi, Terra e O Globo

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Urariano Mota: Começam a justificar a tortura, perigo à vista

Do blog VIOMUNDO


por Urariano Mota, em Direto da Redação, dica de Paulo Dantas e Artur Scavone
Recife (PE) – Nesta quinta-feira, Contardo Calligaris na Folha de São Paulo deu à sua coluna o mesmo título desta agora. Diz ele:
“O saco plástico do capitão Nascimento funciona. Os ‘interrogatórios’ brutais do agente Jack Bauer, na série “24 Horas”, funcionam. E, de fato, como lembra ‘A Hora Mais Escura’, de Kathryn Bigelow, que acaba de estrear, o afogamento forçado e repetido de suspeitos detidos em Guantánamo forneceu as informações que permitiram localizar e executar Osama bin Laden.
Nos EUA, na estreia do filme, alguns se indignaram, acusando-o de fazer apologia da tortura. Na verdade, o filme interroga e incomoda porque nos obriga a uma reflexão moral difícil e incerta: a tortura, nos interrogatórios, não é infrutuosa -se quisermos condená-la, teremos que produzir razões diferentes de sua inutilidade”.
Antes de mais nada, vale ressaltar que há muito o cinema norte-americano naturaliza a tortura, a injustiça, a exclusão. Desde Hollywood ele tem sido sentinela avançado do modo capitalista, na propaganda dos valores da formação do homem norte-americano. De passagem, lembro um filme de Ford (sim, do grande Ford) em que John Wayne ouve a seguinte frase do empregado do hotel: “você e o cachorro sobem, mas o índio não”. O que dizer de 007, por exemplo, em sua cruzada contra os comunistas? O que falar dos mexicanos e índios, sempre pintados como bandidos desde a nossa infância? O que dizer da ausência de interioridade nos personagens negros que apareciam em seus filmes, sempre em posição subalterna ou de pianista para o amor do casal romântico?
O fundamental é que no fim do texto Calligaris conclui:
“Uma criança foi sequestrada e está encarcerada em um lugar onde ela tem ar para respirar por um tempo limitado. Você prendeu o sequestrador, o qual não diz onde está a criança sequestrada. Infelizmente, não existe (ainda) soro da verdade que funcione. A tortura poderia levá-lo a falar. Você faz o quê?”.
Esse é um recurso de justificativa da tortura é manjado. Seria algo como:
- Você é capaz de matar uma criança?
- Não, claro que não.
- E se a criança fosse uma terrorista?
- Crianças não são terroristas.
- E se ela estivesse domesticada, com lavagem cerebral, que a tornasse uma terrorista?
- Ainda assim, de modo algum eu a veria como uma terrorista.
- E se essa criança trouxesse o corpo cheio de bombas?
- Eu preferiria morrer a matá-la.
- E se essa criança, com o corpo de bombas, entrasse para explodir uma creche?
- Não sei.
- E se nessa creche estivessem os seus filhos e as pessoas que você ama?
- Neste caso…
E neste caso estariam justificados os fuzilamentos de meninos que atiram pedras em tanques de Israel. E neste caso, num desenvolvimento natural, estaria justificado até o assassinato dos que lutam contra a opressão, porque mais cedo ou mais tarde se tornarão terroristas. E para que não vejam nisto um exagero, citamos as palavras de Kenneth Roth, da Human Rights Watch: `Os defensores da tortura sempre citam o cenário da bomba-relógio. O problema é que tal situação é infinitamente elástica. Você começa aplicando a tortura em um suspeito de terrorismo, e logo estará aplicando-a em um vizinho dele` “.
É monstruoso, é um atestado absoluto do desprezo pela pessoa, que na mídia se discuta hoje não a moralidade da tortura, mas a sua eficiência. Esse deslocamento de humanidade – que sai da moral para descer no mais útil -  é sintomático de que não basta mais ser brutais em segredo, na privacidade, escondido. Não. Há de se proclamar que princípios fundamentais da barbárie sejam fundamentos de cidadania. Assim como os defensores  da ditadura têm a petulância de vir a público dizer que apenas se matavam terroristas, portanto, nada de mais; assim como o cão hidrófobo que leva o nome de Bolsonaro – e nesse particular, ele é da mesma raça e doença dos fascistas em geral – zomba sobre os cadáveres de socialistas, agora nas tevês, no cinema, passam à justificação moral da tortura.
Perigo à vista. Nós, os humanistas, temos adotado até aqui uma atitude passiva, ordeira, o que é um claro suicídio. Esse ar de bons-moços que andam pela violência como Cristo sobre as águas, além de suicídio, porque nos afundaremos todos,  é, antes do desastre,  um recolhimento da ética para os fundos que defecam.
Entendam. Longe está este colunista da valentia e poderosas forças. Mas nós que não sabemos atirar balas ou socos,  temos que agir com as armas que a dura vida nos ensinou: escrevendo. E como temos sido omissos.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Solidariedade aos presos políticos palestinos em Israel

(ESQUERDA MARXISTA)Divulgamos este abaixo-assinado de uma campanha que ocorre em todo o Brasil em solidariedade aos presos políticos palestinos em Isael. Antes, durante e após o Fórum Social Mundial Palestina Livre, ocorrido no final do ano passado, publicamos em nossa página diversos artigos sobre a luta do povo Palestino e nossa posição em defesa de um Estado laico e democrático em todo o território histórico da Palestina. Essa campanha de solidariedade é mais uma importante iniciativa em defesa da luta do povo Palestino contra a brutal repressão do Estado Sionista de Israel. Convidamos todos os leitores de nossa página a assinarem esta carta que será encaminhada a orgãos governamentais, comitês de direitos humanos, escritórios da ONU, etc, após o dia 15 de janeiro. Contamos com a solidariedade de todos.
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EM DEFESA DOS PRESOS POLÍTICOS PALESTINOS
LIBERDADE PARA OS 4600 PRESOS PALESTINOS ENCARCERADOS NAS PRISÕES ISRAELENSES

Desde 1948, quando foi criado o Estado de Israel em terras da Palestina, uma onda de violência e agressão marca o cotidiano do povo palestino. Todos os palestinos que lutam contra a ocupação israelense e pela independência nacional tem sido perseguidos, presos, torturados ou assassinados pelos sucessivos governos de Israel. O Estado de Israel é hoje o campeão mundial em violações dos direitos humanos. É um Estado anti-democrático e racista, que pratica uma limpeza étnica em todo o território da Palestina ocupada. A legítima luta de libertação nacional palestina contra o colonialismo israelense tem levado mais de 800 mil palestinos para as prisões israelenses.
Nós, abaixo assinados, condenamos as práticas a agressões diárias, cometidas pelo Estado de Israel, contra os presos politicos palestinos dentro das prisões israelenses. Condenamos as detenções contra o povo palestino, que almeja a liberdade e independencia. Segundo os últimos relatórios de organizações de direitos humanos o numero dos presos palestinos nas prisões israelenses chega a 4600, até o final de mês de outubro de 2012. Entre eles: 84 detidos administrativos, 189 crianças, 10 deputados, 9 mulheres, 530  que cumprem prisão perpétua, 451 sentenciados há mais de 20 anos. diante dessa situação exigimos:

1)  a revogação imediata das prisões administrativas, que carecem de qualquer fundamentação legal e são mais um instrumento ilegal das foraças de ocupação;
2)  a proteção à dignidade e à vida dos presos que realizam greves de fome como protesto contra as suas precárias condições nas prisões;
3)  o cumprimento dos acordos realizados entre os presos, a direção dos presídios e o serviço  de inteligência interna de Israel(Shein Beit);
4) imediata libertação de todos os 1027 presos que foram incluídos no acordo realidado em 2011, pois muitos dos que foram libertados foram perseguidos e presos novamente pelas tropas de ocupação;
5) libertar imediatamente todos os deputados membros do Conselho Legislativo Palestino, que foram eleitos pelo povo para exercer seu mandato e fortalecer a luta democrática na Palestina, e que hoje se encontram nas nas prisões israelenses;
6) o fim da politica de isolamento dentro das prisões, que submete o preso à condições muito mais desumanas, pois o excluí da possibilidade de contato com outros presos e com seus familiares;
7) a libertação imediata de todas as crianças e jovens menores de 18 anos, pois seus direitos fundamentais assegurados por diversas resoluções e pela própria Carta de fundação da ONU estão sendo cotidianamente desrespeitados nas prisões israelenses, como direito à saúde, à educação, etc;
8) a libertação imediata de todos os presos que se encontram com doenças consideradas graves;
9) atendimento médico digno e acesso à medicação e tratamento adequado, com possibilidade de visitas de médicos indicados por familiares e/ou organizações de direitos humanos que acompanham e prestam assistência e ajuda humanitária aos presos;
10) garantia ao direito à educação e acesso ao ensino superior no interior das prisões israelenses, com direito aos presos de ter acesso à livros, revistas e jornais;
11) que o Estado de Israel respeite e cumpra os acordos e as convenções internacionais de direitos humanos em relação aos presos políticos palestinos. 
A luta dos presos políticos palestinos por melhores condições de vida nas prisões e por sua libertação é parte fundamental da luta por justiça e pela paz na Palestina. Não haverá paz sem justiça. E justiça hoje significa tratar com dignidade e libertar todos os presos políticos encarcerados por lutarem pela libertação de sua pátria. A luta do movimento de libertação nacional palestino contra a ocupação israelense é uma luta legítima, inspirada na heróica resistência popular de outros povos que também lutaram e venceram o colonialismo, conquistando assim seu direito inalienável à soberania, à independência e a autodetermninação.
Pedimos à todas as forças democráticas e progressistas do mundo, e suas organizações políticas, sociais, culturais e humanitárias, bem como aos governos que defendem e praticam os princípios fundamentais dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, que divulguem este abaixo-assinado e que façam chegar às autoridades israelenses em seus países, pois a causa palestina é hoje uma causa de toda a humanidade.
Ninguém pode ficar impune quando comete uma injustiça. Chegou a hora do Estado de Israel ser julgado pelos inúmeros crimes que vem cometendo contra o povo palestino.
PAZ, JUSTIÇA E LIBERDADE PARA A PALESTINA!!!!!

Para assinar envie e-mail para CONTATO@MARXISMO.ORG.BR preenchendo no assunto "SOLIDARIEDADE PRESOS PALESTINOS" e enviando no corpo do e-mail seu NOME, PROFISSÃO, ENTIDADE (se participar de algum sindicato, partido, associação de moradores, etc).

domingo, 23 de dezembro de 2012

Os EUA constroem um búnker subterrâneo no valor de 100 milhões de dólares numa base secreta de mísseis israelita



Richard Silverstein 
Mais um elemento sobre a colaboração EUA/Israel na preparação das condições para a escalada da guerra no Médio-Oriente. Uma coisa é certa: sempre que o imperialismo toma medidas de defesa, é garantido que está a preparar o ataque. Não lhe basta a tragédia há décadas vivida na zona: tenciona ampliá-la, admitindo até um cenário de utilização de armamento nuclear.

Há alguns dias Walter Pincus informou no The Washington Post que o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA solicitou a apresentação de propostas com o fim de encontrar empreiteiros com garantias de segurança máxima para construir uma instalação militar subterrânea no valor de 100 milhões de dólares para o exército israelita. O que segue é a descrição do projecto:
O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA planeia a supervisão da construção de uma instalação subterrânea de cinco níveis para um complexo das Forças de Defesa de Israel, com o estranho nome de Instalação 911, numa Base da Força Aérea israelita próxima de Tel Aviv.
Espera-se que a construção demore mais de dois anos, a um custo de até 100 milhões de dólares. Terá salas de aulas no Nível 1, um auditório no Nível 3, um laboratório, portas resistentes ao impacto, protecção contra radiação não ionizante e uma segurança muito estrita. Todos os trabalhadores na construção darão garantias de segurança, haverá guardas na vedação e estará separada do resto da base por barreiras.
O artigo assinala também que no passado o Corpo já construiu instalações para mísseis nucleares de Israel. Portanto, não deveria surpreender-nos que uma fonte israelita de alto nível afirme que o local para este projecto é a base israelita de mísseis de máximo segredo Sdot Micha, localizada próximo de Beit Shemesh (a uns 24 quilómetros de Jerusalém). É aí que se encontra a frota de ICBM (mísseis com armas nucleares Jericó). O local é tão secreto que várias passagens de um artigo de 2010 al respeito em Yediot foram censurados. Provinha directamente do amplamente acessível sítio na web Global Security. Os censores costumam ser célebres pela sua subtileza, e muito menos pelo seu senso comum.
A instalação subterrânea construída pelos EUA será edificada à prova de armas nucleares, de modo que possa resistir a um ataque com armas de destruição massiva de um inimigo de Israel. Isso permitiria que o sistema de comando e controlo de mísseis de Israel se mantenha operacional mesmo nas condições de um possível ataque massivo e devastador. Segundo esta fonte, as FDI [exército israelita] já têm um centro de comando à prova de armas nucleares por debaixo de Kirya, a sua sede em Tel Aviv.
Como é sabido que Israel e os EUA se espiam um ao outro, considero que extraordinário que Israel confie nos EUA para construir uma das suas instalações militares mais confidenciais. De facto, tenho pessoalmente conhecimento de que o FBI interceptou durante anos a embaixada israelita em Washington D.C. A Mossad vem operando há décadas nos EUA ¿Por que não teme Israel que os EUA façam o mesmo no caso destas instalações?
Uma resposta pode ser que o projecto é financiado pelo programa de Vendas Militares ao Estrangeiro dos EUA, o que quer dizer que o nosso governo financia o projecto sem encargos para o contribuinte israelita. No caso de Israel, a economia triunfa sobre a própria segurança.
Há que preguntar: ¿de que inimigo se defende Israel ao construir este complexo? Como o projecto tardará dois anos a ficar concluído, isto será aproximadamente quando uma série de analistas crê que o Irão poderá ter capacidade nuclear se decidir criar uma arma.
Neste caso poderia haver duas considerações:
1. Israel prevê que o Irão terá armas de destruição massiva em 2014.
2. Israel prevê atacar o Irão em algum momento após a conclusão do Bunker subterrâneo.
Só pode haver um motivo para construir uma instalação semelhante: a protecção contra um ataque inimigo. Só há um inimigo que poderia pressupor uma ameaça semelhante para Israel: o Irão. De entre os inimigos actuais de Israel, só o Irão (para além da Síria, que está distraída pelos seus próprios problemas internos) tem capacidade de lançar mísseis de largo alcance contra ele. Ainda que actualmente não possa armá-los com uma ogiva nuclear, é concebível (na opinião de Israel) que esta situação mude. Por isso é crítico que Israel mantenha a sua própria capacidade nuclear para lançar um ataque e/ou responder a um ataque inimigo.
Uma vez que parece extremadamente improvável que os dirigentes iranianos lancem um ataque preventivo contra Israel, e certamente não um ataque nuclear, a construção de semelhante fortaleza indica que Israel prevê ele próprio a realização deste ataque e que tem que assegurar que as suas forças militares críticas permanecem intactas após uma reacção iraniana.
Mesmo que o nome de código do projecto 911 [acrónimo para 11-S] seja uma coincidência, é palpável o sentimento de um Armagedão iminente. Também há que assinalar que os três inimigos más formidáveis de Israel, Hezbollah, Hamas e Irão, têm consideráveis complexos militares subterrâneos. Pode admitir-se que Gilad Shalit tenha sido mantido em semelhantes búnkeres durante o seu cativeiro, e os altos dirigentes do Hamas retiram-se para complexos semelhantes durante os ataques israelitas, como o do mês passado.
Uma das tácticas mais efectivas do Hezbollah foi o uso de túneis que as FDI desconheciam para atacar as tropas israelitas a partir de diversos quadrantes com um efeito devastador. O Irão também enterrou a sua instalação avançada de enriquecimento de uranio Fordow sob 100 metros de montanha. Esta protecção impede que Israel destrua o local a menos que obtenha as bombas rebenta-búnkeres de 14 toneladas estado-unidenses. Portanto, Israel (juntamente com os seus adversários) está a colocar a sua infra-estrutura militar mais crítica e os seus sistemas de armamento debaixo de terra a fim de que possam resistir a uma possível sabotagem ou ataque frontal.
Pincus menciona algumas exigências religiosas verdadeiramente estranhas que são especificadas na solicitação da apresentação de propostas. Especifica as mezuzás :
O Corpo desenvolve uma detalhada descrição das mezuzás que o empreiteiro deve fornecer “para cada porta ou abertura com excepção dos serviços higiénicos ou cabines de duche” no edifício da Instalação 911. Uma mezuzá é um pergaminho com versos da Torá em hebreu, colocado num estojo e fixado na moldura da porta de uma casa de família judia como sinal de fé. Alguns interpretam que la lei judia requer –como neste caso– que em cada porta de uma casa seja fixada uma mezuzá.
Essas mezuzás, assinala o Corpo, “devem ser escritas em tinta indelével, em […] pergaminho de coiro sem revestimento” e escritas à mão por um escriba “possuidor de uma autorização escrita segundo a lei judia.” A escrita pode ser “asquenaze ou sefardita” mas “não uma mistura” e “deve ser uniforme”.
Também, “as mezuzás devem ser revistas por um computador numa instituição autorizada para a inspecção de mezuzás, bem como revistas manualmente no que diz respeito à forma das letras por um revisor autorizado pelo Rabinato Principal”. A mezuzá será fornecida com um estojo de alumínio com orifícios para que possa ser fixada à moldura da porta ou da abertura. Finalmente, “todas as mezuzás para a instalação serão fixadas pelo rabi da Base ou pelo seu representante nomeado e não pelo pessoal do empreiteiro”.
Francamente, nunca ouvi falar de alguma diferença entre mezuzás sefarditas ou asquenazes, nem de alguma diferença entre os estilos de escrita de uma tradição em relação à outra. O Parece mais que isto se terá baseado em informação inexacta sobre rituais judeus ou em interpretação errónea de alguma coisa que as FDI tenham indicado ao Corpo.
Mas, para além disso, sinto-me confiante ao saber que Deus, por meio deste poderosos amuletos religiosos, estará a proteger o povo judeu e seus defensores militares. A única interrogação que fica é ¿que divindade é mais poderosa: o Jeová judeu ou o Alá chiíta do Irão? ¿Mas não ofereceu Moisés um só Deus aos judeus? Que diria se visse agora o seu povo criar um Deus para Nós e outro Deus para Eles?. Espero que lhe provocasse tanto horror como me provoca a mim.

Richard Silverstein escreve o blog Tikun Olam que examina temas relacionados com a segurança nacional de Israel, os direitos humanos, e as ameaças contra a democracia israelita.

Este artículo foi publicado originalmente em Anti War
Fonte: http://www.informationclearinghouse.info/article33205.htm

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

TV Globo e os terroristas do campo

Por Altamiro Borges
Em outubro de 2009, integrantes do MST ocuparam uma fazenda grilada pela empresa Cutrale no município de Iaras (SP). Revoltados com a lentidão da reforma agrária, ativistas destruíram pés de laranja com tratores. Apesar da direção do movimento ter criticado a iniciativa, a cena foi superexplorada pela mídia ruralista. A TV Globo, já em campanha para a sucessão de 2010, reproduziu o vídeo inúmeras vezes. Ontem, porém, ela silenciou sobre uma ação terrorista dos ruralistas em terras indígenas no Mato Grosso.
Segundo relato dos jornalistas Daniel Carvalho e Juca Varella, na Folha deste domingo, os fazendeiros que invadiram ilegalmente terras dos índios xavantes Marãiwatsédé, na cidade Alto da Boa Vista (MT), utilizaram métodos terroristas para sabotar ontem uma ação de despejo liderada por agentes do Incra e da Polícia Federal. “Eles usam táticas de guerrilha contra forças federais para tentar impedir despejo, queimam ponte, bloqueiam estrada e armam um ataque frustrado”. A emboscada poderia até ter causado mortes.
Emboscada e coquetéis molotov
Os grileiros chegaram a fabricar coquetéis molotov. “Quem está com bomba fica desse lado. Quem não está fica desse outro”, dizia um deles, de cima de uma caminhonete. “Era uma emboscada para os agentes de segurança. A ideia era atacá-los e depois tocar fogo ao caminhão com a mudança, em protesto. Um produtor da região, de cerca de 60 anos, puxou conversa com os jornalistas. Em tom jocoso, questionou se o repórter não estaria disposto a ‘pegar umas pedras’ e se juntar aos manifestantes”, descrevem os repórteres.
Ainda segundo os jornalistas, “a tensão ia aumentando. Uns, mais preocupados, diziam: ‘Dessa vez não vai ser bala de borracha’. Um homem retrucou: ‘Mas aqui também tem [bala de verdade]’. De repente, as luzes se apagaram. A escuridão era quebrada apenas pelos faróis do comboio de 20 carros de polícia que se aproximava. Um grupo de quatro manifestantes se aproximou do primeiro carro, de onde saíram quatro soldados armados. ‘Nem mais um passo, senão a gente atira’, gritou um soldado da Força Nacional”.
A seletividade da mídia ruralista
“O barril de pólvora que se armou na região não havia explodido até a conclusão desta reportagem, mas a disposição de quem está em Posto da Mata deixava claro que pode ser apenas uma questão de tempo. ‘Vai morrer homem, mulher. Estou disposto a morrer pelo que tenho’, dizia Odemir Perez”. A invasão da reserva dos Marãiwatsédé foi planejada por ricaços ruralistas, que alistaram pequenos produtores e contam com o apoio de políticos da direita. Dom Pedro Casaldáliga há muito denuncia o clima de tensão na região.
O conflito, porém, nunca foi destaque na mídia ruralista. Quando da ocupação da fazenda grilada da Cutrale em 2009, jornais, revistas e emissoras de tevê fizeram um baita escândalo. Eles ajudaram a criar o clima para a instalação da CPI do MST, visando criminalizar o movimento dos trabalhadores rurais sem-terra. Agora, a mídia nada fala sobre a ação terrorista dos ruralistas no Mato Grosso. Nem sequer um vídeo no Jornal Nacional da TV Globo. E ainda tem gente que acredita na neutralidade da imprensa burguesa!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

"O que Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que o apartheid sul-africano”.

          

Para Ronnie Kasrils, Israel só vai parar com o expansionismo e com a opressão de fora para dentro. “Um movimento de solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante. Foi assim que nós derrubamos o apartheid. Nós tínhamos razão. Levou tempo, mas Leclerc teve de libertar Mandela e dizer ‘vamos conversar’, que era o que nós dizíamos que tinha de ser feito. "Eu acredito que este é o aspecto mais importante da luta em solidariedade ao povo palestino. É preciso denunciar os assentamentos, mas é preciso boicotar, também. É preciso constrange-los materialmente, economicamente”, defendeu.


        
 


Ele tem 73 anos e nasceu numa comunidade judaica de Joanesburgo, formada por fugitivos do extermínio em Vilna e em Riga, na Lituânia, no início do século XX. Aos 9 anos, numa sessão de cine-notícias entre filmes, viu as imagens que começavam a circular, no mundo, dos campos de concentração nazistas. Voltou para casa e perguntou a sua mãe, a quem diz dever a sua consciência frente à opressão e à intolerância, se o que acontecia na sua vizinhança e no seu país, com a população negra, era a mesma coisa. Se a pobreza, a humilhação e a segregação a que estavam condenados pelos brancos era a mesma coisa que, no cine-notícia que acabara de ver, chamaram de antissemitismo. “A minha mãe, que não era uma intelectual, cuja família tinha uma delicatessen, mas que frequentou a escola até os 16 anos, disse que não, que não era a mesma coisa. Mas que aquilo que eu tinha visto e que tinha acabado de acontecer com o nosso povo na Europa tinha começado dessa mesma maneira que eu descrevera, ali (na África do Sul)”. Esse é o tipo de coisa que Ronnie Kasrils começa a contar, assim que senta na mesa e pede que nos apresentemos, para uma conversa com alguns dos mais proeminentes participantes do Fórum Social Mundial Palestina Livre, que começa nesta quinta (29) e vai até domingo, em Porto Alegre.

Ronnie, ou “Ronaldo”, como ele gosta de se chamar, aqui, é um homem extraordinário e um sujeito adorável. Parece muito mais jovem, talvez pela exuberância, talvez pela natureza de seu compromisso moral com o mundo. É muito raro, quando se trata da questão palestina, que algum militante abra sorrisos tão largos e demonstre tamanho otimismo, como o faz Kasrils, um escritor, ativista, ex-ministro de estado da África do Sul pós-apartheid e membro do Tribunal Russell para a Palestina. Ele começou a falar de sua vida, de suas trajetórias e de suas escolhas. É difícil de acreditar, mas Kasrils, aos dez anos, fez parte do Betar, o movimento da juventude sionista criado por Ze'ev Jabotinsky, o pai do revisionismo sionista, um movimento de extrema direita, que defende o que chamam de Israel bíblica, algo que hoje implicaria a incorporação da Síria, do Líbano, da Jordânia e do norte do Egito. Ronnie contou esse fato pitoresco rindo, para em seguida deixar claro: “Éramos muito influenciados por um professor, que estimulava um sentimento de violência e de conflito, inclusive entre nós, e mesmo físico, como se isso nos fortalecesse, como um projeto pedagógico. Éramos meninos, tínhamos pouco mais de dez anos, mas entendemos que ele era doente. Era um louco”. O seu engajamento no Betar se desfez com essa descoberta e também com a entrada no ensino médio, num colégio da elite branca, onde conheceu um professor história, Teddy Gordon, também judeu, que lhe ensinou sobre a Revolução Francesa.

É difícil descrever à altura o brilho nos olhos do sul-africano, quando falou de seu professor, a quem atribui a mudança mais definitiva na sua vida. Ronnie Kasrils é um homem poderoso e mundialmente conhecido, pegou em armas com Mandela, foi ministro de estado, mas quem mudou a sua vida, em termos políticos, foi o professor de história que lhe deu aula sobre um acontecimento chamado Revolução Francesa. “Eu era, até então, um péssimo aluno, eu era um atleta, não era da ala dos intelectuais, como Richard Goldstone, que era meu colega. Mas quando esse professor começou a dar aula eu me tornei o melhor aluno, e saí do colégio de maneira promissora”, disse, sorrindo, convincente. Kasrils tem aquela capacidade rara de nos ensinar a mirar a história com ganas de atribuir-lhe sentido e com a confiança em tal coisa. A escolha por nos contar essa história, essa pequena parte dela, era uma operação deliberada e ao mesmo tempo refinada. Era como se ele estivesse nos dizendo: olha aqui, gurizada, eu passei a levar a sério um ponto de vista universalista e é deste ponto de vista que eu estou aqui.

A ligação com a esquerda judaica e a luta contra o apartheid sul-africano

“Mas eu também saí do Betar por uma outra razão”, conta, rindo. “As meninas do Habonim Dror eram muito mais bonitas” e, na época, Kasrils não era exatamente um militante da esquerda judaica socialista, que buscava criar um lar nacional judaico a partir da cultura e da educação e da vida kibutziana.

“O que me tornou de esquerda foi o massacre de Shaperville, de março de 1961, em que 69 militantes pacifistas negros foram mortos e centenas ficaram feridos. Ali eu tomei a decisão de que iria fazer alguma coisa. A minha família nunca foi militante, de esquerda, mas eu tinha um tio na Cidade do Cabo que era advogado e comunista. Eu peguei um ônibus e fui para a casa dele. Cheguei lá e disse: eu quero me juntar a vocês”. Ele nos olha bem sério, encosta-se na cadeira, abre um sorriso e completa: “Então foi assim que eu comecei. Eu tinha de pôr em contato os núcleos da resistência ao apartheid, os membros dos partidos comunistas, da esquerda. E o meu tio estava isolado, noutra cidade. Eu disse que iria fazer isso. E fiz”.

Quando Mandela convocou à luta armada, após os acontecimentos de Shaperville, Kasrils se juntou a ele. Treinou na União Soviética, recebeu formação militar e esteve em vários países africanos, quando se tornou chefe de inteligência militar do movimento Lança de Uma Nação, o braço armado do Congresso Nacional Africano, liderado por Nelson Mandela. Passou cinco anos na cadeia, perdeu o emprego como executivo de uma empresa de telefonia, foi perseguido e banido da comunidade branca sul-africana. E se tornou ministro de estado da África do Sul pós-apartheid. Foi então que se voltou para a questão palestina.

A luta contra o apartheid israelense

Com o fim do apartheid e a primeira eleição democrática da África do Sul, Kasrils se tornou ministro de estado. E, depois do ministério da defesa, foi nomeado ministro para assuntos de água e florestas, de 1999-2004. Nesse período, ocorreu a segunda intifada e o muro de anexação de territórios palestinos, pelo então governo de Ariel Sharon, começou a ser erguido, anexando territórios palestinos para construir assentamentos, esmagando casas e vilas palestinas, segregando bairros, vilas e famílias, dividindo a região e instaurando um sistema identificado pelo sul-africano como muito mais hostil que o apartheid sul-africano. Em 2001 ele redigiu a “Declaração de Consciência de Sul-Africanos Judeus”, contra as políticas israelenses nos territórios palestinos ocupados. Passou a ser acusado de antissemita, pela direita judaica local, e viajou para a Cisjordânia, como ministro para assuntos de água e florestas. Lá conheceu Jamal Juma, que dava início ao movimento de resistência não violenta Stop the Wall.

O que você defende como solução, os dois estados, as fronteiras da linha verde, um só estado para dois povos? Eu perguntei e isso parece não ter ecoado como uma questão a ser respondida. Kasrils olha para mim e diz que Israel só vai mudar, só vai parar com o expansionismo e com a opressão de fora para dentro. “Um movimento de solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante. Foi assim que nós derrubamos o apartheid. Nós tínhamos razão. Levou tempo, mas Leclerc teve de libertar Mandela e dizer ‘vamos conversar’, que era o que nós dizíamos que tinha de ser feito. Mas é preciso constranger economicamente, não apenas politicamente. O programa de Desinvestimento e de Boicote significou o começo do fim do apartheid e nós terminamos vencendo. Eu acredito que este é o aspecto mais importante da luta em solidariedade ao povo palestino. É preciso denunciar os assentamentos, mas é preciso boicotar, também. É preciso constrange-los materialmente, economicamente”, defendeu. Para Kasrils, o fato de que em Israel os cidadãos palestinos são cidadãos de segunda classe, com direitos limitados e sem o grau de liberdade civil dos israelenses configura apartheid. “No regime do apartheid, diante de um mestiço que não se sabia ao certo se era negro ou não, passavam um pente para ver se iria ou não deslizar sobre o cabelo. Caso o pente parasse, a pessoa iria para os setores dos negros”.

Em Israel não é assim, mas não precisa ser, lembrou. Há um muro que consegue separar as sociedades, anexando territórios dos palestinos, mas que afasta completamente os dois povos, promovendo limpeza étnica e criando “coisas como rodovias em que só judeus podem trafegar. Isso é uma violência que nem o apartheid sul-africano cometeu. O que o estado de Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que aquilo que acontecia no apartheid sul-africano”, concluiu.


A seguir, a chegada de Jamal Juma, o seu diagnóstico sobre a iminência da eclosão da Terceira Intifada e o pessimismo contrastante com o otimismo de Kasrils.


Fotos: Carlos Carvalho

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

FSM - PALESTINA LIVRE

Inicia hoje o FSM PALESTINA LIVRE, mas desde ontem iniciou-se o encontro dos militantes de 36 países que vieram a Porto Alegre debater a questão palestina, estratégias e saídas para enfrentamento do genocídio que acontece na faixa de GAZA, promovido pelo sinismo israelense.No mesmo dia que será votado na ONU a participação efetiva do estado palestino nas resoluções mundiais, esse encontro na capital gaucha será de importância fundamental para o fortalecimento da causa palestina.

domingo, 25 de novembro de 2012

O Fórum Palestina Livre e o movimento sionista

 

 
Se há extremistas na Palestina, são os colonos judeus vindos da Eurásia e seus descendentes, que atacam os palestinos
 
Baby Siqueira Abrão no BRASIL DE FATO
 
Representantes do movimento sionista no Brasil tentam por vários meios impedir o brilho do Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL), que será realizado entre 28 de novembro e 1º. de dezembro de 2012 em Porto Alegre, RS. O embaixador de Israel no Brasil e uma comitiva da Federação Israelita do Rio Grande do Sul chegaram a dizer, numa reunião com Tarso Genro, temer o ataque de “extremistas” palestinos a propriedades de judeus no Brasil.
O argumento é falso e os sionistas sabem disso. Sabem também que, se há extremistas na Palestina, são os colonos judeus vindos da Eurásia e seus descendentes, que atacam os palestinos, suas casas, plantações, rebanhos, com o apoio de soldados do Exército israelense. Sabem, igualmente, que o povo palestino há muito optou pela resistência não-violenta à ocupação – esta sim, violenta – militar a que Israel o submete. O objetivo tácito das declarações dos sionistas é criminalizar mais uma vez os palestinos, para justificar os crimes que os governos de Israel cometem contra o povo nativo, semita, da Palestina.
Seja como for, os sionistas venceram em alguns pontos. Persuadiram o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, a retirar o apoio que prometera dar ao Fórum. Até mesmo o local, a Usina do Gasômetro, foi negado. O Fórum só poderá usar um andar, o térreo. Esta semana foi a vez do presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Alexandre Postal, impedir que o FSMPL utilizasse espaços do prédio da Assembleia para a realização de algumas das mais de 100 atividades inscritas no Fórum por organizações de 36 países. O governador Tarso Genro, porém, manteve seu apoio à realização do Fórum.
Por isso mesmo, tornou-se alvo das críticas de um raivoso colunista, conhecido por suas ligações com o movimento sionista, em seu blogue numa revista que chegou a ser pautada pelo crime organizado. O colunista chegou a citar a Constituição brasileira, afirmando que Genro teria violado seu artigo 4o, sem se dar conta de que os princípios citados defendem tudo aquilo que os governos sionistas de Israel nunca observaram em relação aos palestinos: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, concessão de asilo político. Vejam-se as resoluções das Nações Unidas sobre Israel – resoluções que o Estado sionista jamais cumpriu – e os vídeos e fotos feitos na Palestina que estão na internet para conferir as violações de Israel ao direito internacional.
A veiculação de comentários falaciosos sobre o Fórum tem o objetivo de, ao desinformar a população, tecendo críticas insensatas ao evento e ao povo palestino, colocar parte da opinião pública brasileira contra a causa palestina e suas iniciativas, bem como impedir que a narrativa palestina sobre a destruição de seu país, sobre o genocídio e a expulsão sofridos por sua população para que os sionistas pudessem criar ali um Estado, seja divulgada e conhecida pelos brasileiros.
Por ter o controle dos meios de comunicação dominantes, o movimento sionista vem divulgando há mais de 60 anos apenas a sua versão sobre a criação de Israel. A verdade, porém, é que essa versão é falsa, constituída sobre uma base histórica fantasiosa e distorcida, como provam os documentos dos próprios sionistas que foram desclassificados (liberados para conhecimento público) em meados dos anos 1970 e que corroboraram tudo aquilo que os palestinos já vinham contando sobre a catástrofe, a Nakba, que se abateu sobre eles com a chegada dos sionistas à Palestina. Um dos objetivos do FSMPL é, precisamente, dar voz à narrativa palestina, para reafirmar a justeza de sua causa: pôr fim à ocupação militar israelense e à violência que a caracteriza; ter de volta um país independente e soberano; reaver os direitos humanos básicos que lhes foram retirados por sucessivos governos de Israel; controlar seus recursos naturais e impedir a continuidade da devastação e do envenenamento de seu ambiente, hoje submetido à exploração comercial israelense e às substâncias tóxicas que o Exército de Israel atira em território palestino com mísseis e bombas que vitimizam civis inocentes; evitar a destruição de sua base econômica e de seu meio de vida – as plantações e as oliveiras –, alvos frequentes das violentas ações de colonos que vivem ilegalmente em território palestino; incrementar sua agricultura sem agredir a Natureza e buscar, de modo independente, outras formas de desenvolver sua economia, sufocada pelo controle exercido pelos governos sionistas; evitar que seu território e suas fontes de água sejam confiscados pelo governo israelense para a construção de colônias – ilegais, conforme entendimento do Tribunal Internacional de Justiça – exclusivamente habitadas por judeus, grande parte deles extremistas vindos de outros países.
Os palestinos, enfim, não exigem nada além daquilo que é garantido a todos os seres humanos – que, pelo simples fato de existirem, são portadores de direitos, assegurados pela legislação internacional. A diferença entre os palestinos e outros povos do mundo é que, no caso palestino, esses direitos são negados pelos governos sionistas de Israel. É por esse motivo que eles se mobilizam e lutam, com firmeza e dignidade, por autonomia, justiça e liberdade.
A causa palestina é hoje defendida por milhões de pessoas em todo o mundo, num movimento crescente de proteção da vida humana e da própria espécie, contra interesses financeiros que têm levado o planeta ao caos social, econômico, climático e ambiental. A sociedade civil internacional não aceita que, em pleno século XXI, um povo – o palestino – seja submetido a um regime de apartheid e de destruição de suas raízes sociais, históricas e culturais. Indivíduos e movimentos organizados em torno dos temas da paz, da justiça social, da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos decidiram organizar o Fórum Social Mundial Palestina Livre para pensar conjuntamente estratégias não-violentasque levem mais rapidamente ao fim da ocupação militar sionista da Palestina. Entre esses indivíduos e movimentos há judeus e israelenses inconformados com a violência e a repressão a que os governos sionistas de Israel submetem o povo palestino. O objetivo dessas estratégias é levar a uma convivência, entre os habitantes daquela parte do mundo, baseada no respeito, na tolerância, na diversidade e na paz.
Quaisquer outras coisas que digam os detratores do FSMPL não passa de propaganda sionista – a hásbara –, que procura por todos os meios deslegitimizar a causa palestina e seus milhões de apoiadores ao redor do mundo para justificar os crimes cometidos pelos governos israelenses contra a população palestina. É preciso mostrar aos sionistas que o povo brasileiro não permitirá que o Brasil seja transformado em palanque para sua pregação – uma pregação que procura criminalizar aqueles que, por estarem ao lado da justiça, dos direitos humanos, do respeito à multiculturalidade, à multietnicidade, à diversidade de crenças religiosas (e da não crença), apoiam sem restrições a causa palestina.

Baby Siqueira Abrão é correspondente do Brasil de Fato no Oriente Médio

Israel e a Operação Chumbo Impune

 



Por Eduardo Galeano, no sitio da Adital:
Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que essa carnificina de Gaza que, segundo seus autores, quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.


Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamas ganhou limpamente das eleições, em 2006. Algo parecido havia acontecido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submissos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelita usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel; gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel vai apagando-a do mapa.

Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel ‘tragou’ um pedaço da Palestina, e os ‘almoços’ continuam. A ‘devoração’ se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou; pelos dois anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que os palestinos geram à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas; é o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais; o que se ri das leis internacionais; e é também o único país a legalizar a tortura dos prisioneiros.

Que lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança em Gaza? O governo espanhol não teria podido bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico teria podido arrasar a Irlanda para liquidar a IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica em uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência ‘manda chuva’ que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro; mata por horror. As vítimas civis são denominadas ‘danos colaterais’, três são crianças. E os mutilados são milhares, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando exitosamente nessa operação de limpeza étnica.

E, como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense.

Gente perigosa, adverte o outro bombardeio, a cargo dos meios de comunicação em massa de manipulação que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional existe?

É algo mais do que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais do que o nome artístico que os Estados Unidos assumem quando fazem teatro?

Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas rendem tributo à sagrada impunidade.

Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra essa jogada mestra. Porque a caça de judeus sempre foi costume europeu; porém, há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram,nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonante, uma conta alheia.

(Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas assessoradas por Israel).

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A criação do "Estado" de Israel - uma breve cronologia

 

 
Foi num 29 de novembro. Reunião da ONU. 1947. Bem longe da Palestina, onde Fátima colhia azeitonas, Marta recolhia as folhas do quintal e Rachid tomava seu chá de maravia à sombra do alpendre da casa simples. Eles não sabiam, mas naquele dia estava sendo decidido seus destinos
 
 
 
Foi num 29 de novembro. Reunião da ONU. 1947. Bem longe da Palestina, onde Fátima colhia azeitonas, Marta recolhia as folhas do quintal e Rachid tomava seu chá de maravia à sombra do alpendre da casa simples. Eles não sabiam, mas naquele dia estava sendo decidido seus destinos. Destino de violência, morte e dor. Havia acabado a segunda grande guerra, guerra feia, dura, grotesca. Nela, o governo alemão tinha promovido o massacre do povo judeu, dos ciganos e de outras gentes que apareciam à seus olhos como “diferentes”. Os judeus foram os mais atingidos, em função do grande número. Foi um holocausto. Por conta disso, no fim da guerra, os vencedores, comandados pelos Estados Unidos decidiram que havia de dar uma terra essa gente oprimida, roubada e esfacelada.
O lugar escolhido para a criação de um estado judeu foi a região da Palestina, por ali estar também o núcleo originário do povo hebreu. Naquele espaço haviam nascido as 12 tribos de Judá e era para onde os judeus sonhavam voltar. Mas, esse desejo nunca foi discutido ou compartilhado com as gentes que ali viviam há outras centenas de anos, os palestinos. Então, numa decisão vinda de cima para baixo, os 57 países que conformavam a ONU naquele então decidiram entregar 57% do território palestino para a formação do Estado de Israel. O argumento era de que lá não havia gente, era deserto, portanto, livre para ser ocupado. Mas, essa não era a verdade. Ali viviam milhares de seres, tal qual Fátima, Marta e Rachid. Ainda assim, numa sessão dirigida pelo brasileiro Osvaldo Aranha – qualificado por Alfredo Braga como um desonesto - 25 países votaram pelo sim, 13 foram contra e 17 se abstiveram. Nascia então, por desejo dos vencedores da grande guerra, o estado de Israel. Já para os palestinos, aquele dia ficou conhecido como o "dia da catástrofe".
Contam os historiadores que, naqueles dias que antecederam a votação – bastante tumultuada – diplomatas receberam cheques em branco, outros foram ameaçados e as mulheres dos políticos receberam casacos de visom. Portanto, foi alavancado na corrupção que vingou Israel.
A proposta da ONU foi de metade do território, o que deixa bem claro que todos sabiam que aquela não era uma terra vazia. A conversa nos corredores é de que também seria criado um Estado Palestino e cada povo seguiria seu rumo. Para os que viviam na terra doada aos judeus, os meses que se seguiram foi de terror. Famílias inteiras tiveram de deixar suas casas, seu olivais, sua história. A maioria foi desalojada na força, e muitos não entendiam o que se passava. Como suas terras tinham sido doadas? Naqueles tristes dias de nada adiantou o grito da gente palestina, não se soube dos mortos, nem da destruição. A informação demorava a chegar nos lugares. Quando o mundo se deu conta do terror, já era tarde demais.
Tão logo se instalou, o governo israelense decidiu ampliar seus domínios. Não aceitou a metade, queria mais e abocanhou, na força das armas, 78% do território. os palestinos tiveram de migrar, abandonar suas vidas e tudo o que era seu. O Estado da Palestina nunca foi criado.
Todo o terror imposto por Israel ao povo palestino não terminou por aí. No ano de 1967, o governo sionista, de novo com a força dos canhões, expandiu ainda mais o território em busca do domínio das regiões mais férteis, passando a ocupar mais de 80% da área,  massacrando outras tantas milhares de famílias palestinas.
Ao longo desses anos todos, por várias vezes Israel arremeteu contra o povo palestino, numa tentativa de dizimar a população. Sem conseguir, decidiu criar então um imenso campo de concentração à céu aberto. Praticamente todo o território ocupado por palestinos está cercado por enormes muros de concreto. As pessoas vivem como prisioneiras, muitas famílias foram separadas e não podem mais se ver. Muitos são os documentários que mostram as famílias se comunicando através dos muros e cercas de arame farpado, aos gritos, sem poderem se abraçar.
Nos últimos dias, Israel começou nova escala de violência, com bombardeios à Faixa de Gaza, onde se concentram os palestinos. O argumento que a televisão e as empresas de jornalismo passam é o que fala de "direito de defesa" de Israel. Vendem a ideia de que é esse estado militarizado e terrorista o que está sendo agredido.
Ora, qualquer pessoa de mediana inteligência sabe que a força de um menino com uma pedra é abissalmente inferior a de um canhão ou mísseis teleguiados. Israel quer destruir o povo palestino, quer "limpar a área", região absolutamente estratégica para a proposta de poder dos Estados Unidos, principal parceiro de Israel nesse massacre continuado.
A resposta dos palestinos é a resposta dos desesperados. Pessoas como Fátima, Rachid, Hadija ou Kaleb nada mais querem do que viver suas vidas, estudar, sonhar com algum amor, casar, ter filhos, comer azeitonas no cair da tarde. Uma vida como a de qualquer ser humano no mundo. Mas, eles não podem fazer isso. Estão continuamente humilhados,  ameaçados pelas balas, pelos soldados, pelos tanques, pelos bombardeios. Vivem em alerta 24 horas no dia. Quando podem, reagem. Com pedras, com bombas caseiras, com autoimolação. Sim, respondem às vezes com violência extrema, mas nada menos do que o que aprendem no cotidiano de uma vida de prisioneiro em sua própria casa, acossado pelo exército invasor.
Agora, nesses dias, as famílias palestinas estão vendo morrer seus filhos, crianças despedaçadas, jovens estraçalhados. Morrem mães e pais, avós, gente simples, que está no quintal varrendo as folhas. Garotinhos que brincam nas ruas de terra. Não são terroristas, nem carregam armas. São pessoas comuns, calejadas na opressão. Não é uma guerra, onde se batem os exércitos. É um genocídio, um massacre, no qual perecem as pessoas comuns.
Pelo mundo inteiro gritam as gentes, as imagens de dor se espalham pela internet, o mundo inteiro sabe o que acontece  no imenso campo de concentração que Israel criou. Mas, toda a ação das gente é inútil. As bombas seguem caindo, armas químicas são usadas (o fósforo, que queima inteira a pessoa) e o que se vê são os governantes do chamado "mundo livre" apoiando a ação de Israel. Os Estados Unidos, que invadiu o Iraque por uma "suspeita" de que estavam fabricando armas químicas por lá, observa o uso das mesmas sobre os palestinos e diz que é um "direito de defesa" de Israel. Ou seja, se quem usa armas químicas é amigos dos EUA, está tudo bem. Hipocrisia, cinismo.
Para os movimentos sociais e militantes da causa humana, o que fica é o absurdo sentimento de impotência. Desde tão longe só o que se pode fazer é gritar, denunciar, contar essa velha história para que ela não se perca no meios da mentiras que os noticiários contam todos os dias. O conflito Israel x Palestina nada tem de religioso. Usa-se a religião para legitimar determinadas ações, os judeus julgam-se o "povo eleito". Mas, o que se esconde por trás da aparência é a configuração geopolítica de poder. Os palestinos estão num espaço da terra que é muito importante para o projeto de dominação do Oriente Médio. Ficam na entrada principal e não são amigos dos Estados Unidos. Por isso é necessário que sejam extintos.
As bombas seguem caindo sobre as famílias palestinas, dor e morte é o que têm. Mas, os palestinos seguem defendendo sua terra e suas vidas. Não haverão de se extinguir. Estão por todo o mundo e nunca esquecerão sua história.  Cabe a nós solidarizar com esse povo valente porque nada no mundo justifica o que acontece hoje na Palestina ocupada. Israel haverá de responder à história pelos seus crimes. Mais dia, menos dia. Porque, se como dizia o grande poeta Mahmud Darwish, "ainda goteja a fonte do crime", há que estancá-la. 

GAZA NÃO ESTÁ SÓ. ESTAMOS EM GAZA! TODO MUNDO CONTRA O FRENESI ASSASSINO DE ISRAEL



Ahdaf Soueif, The Guardian, UK-PATRIALATINA

 
Israel é uma democracia cujos políticos podem ordenar o assassinato de crianças, como ‘ferramenta’ de campanha eleitoral. Sempre, claro, crianças palestinas.
Mas as multidões, em todo o mundo árabe, não são racistas.


Protestos em Londres e em mais de 100 cidades em todo o mundo exigem o fim do ataque de Israel contra Gaza e o fim do cerco.
http://stopwar.org.uk/index.php/palestine-and-israel/2038-gaza-is-no-longer-alone-as-it-faces-israels-killing-spree

Martírio em Gaza: Vídeo de um cineasta e ativista britânico, filmado na cidade de Gaza

http://www.youtube.com/watch?v=B27HH6CFAOU&feature=player_embedded

Gaza Sob Ataque: Emergência! Proteste!
Sábado, 17/11, das 14h às 16h
Embaixada de Israel em Londres (2 Palace Green)
London W8 4QB

http://stopwar.org.uk/index.php/action-a-events/national-events/2033-november-17-gaza-emergency-demonstration-march-from-hyde-park-to-israeli-embassy 

SE VOCÊ CLICAR 
emhttp://audioboo.fm/users/578060/boos, ouvirá os ataques de Israel contra Gaza.

Ouvem-se as explosões, o zunido dosdrones, a sirene das ambulâncias. É a trilha sonora da vida dos palestinos nesse exato momento. Os sons estão sendo gravados e retransmitidos e ouvidos em todo mundo. Todo o mundo árabe está ouvindo. Todos os amigos de Gaza, em todo o planeta, tremem de indignação. Gaza não está só.

Todos passamos a noite lendo e repassando tuítes e distribuindo matérias de blogs de jovens palestinos, em Gaza e em todo o mundo, e todos estamos vendo as imagens que eles distribuem.

Naquele mesmo hospital Shifa em Gaza (
http://www.guardian.co.uk/world/2012/nov/16/gaza-hospital-emergency-reserves), hoje cedo, o primeiro-ministro do Egito, Hisham Kandil, pela primeira vez em 42 anos, estava onde os egípcios querem ver seu primeiro-ministro: solidário ao povo palestino.

Pela primeira vez em 42 anos, um representante do governo egípcio não mentiu ao falar primeiro ao povo egípcio, antes até de se dirigir ao presidente do Egito
. Antes disso, Mursi falara de“coordenar a segurança” com Israel no Sinai; começou por fechar os túneis, que são o único canal de sobrevivência para os que vivem sitiados em Gaza; rejeitou a propostas de uma área de livre comércio na fronteira entre Egito e Gaza; e enviou um embaixador a Telavive com uma carta a Shimon Peres (http://www.thejc.com/news/world-news/87069/letter-morsi-peres-prompts-disbelief). E assim se viu muito inconfortavelmente associado aos restos do governo Mubarak e seus seguidores da ditadura militar.

O pessoal da Fraternidade Muçulmana e seu partido Liberdade e Justiça muito se empenharam em justificar as ações de seu representante no palácio presidencial, ante o resto do país.

Progressistas e todo o campo da esquerda no Egito zombaram do muito que eles falavam e do nada que faziam para defender os palestinos ao longo dos anos em que viveram na oposição, tanto quanto do espantoso silêncio que sobreveio, depois que chegaram ao poder. Os muros e paredes do Cairo cobriram-se de grafitis que zombavam da “carta de amor” que Morsi enviara a Peres. A zombaria que começou nos muros da cidade alastrou-se online e na blogosfera.

Agora, afinal, os próprios israelenses decidiram por Morsi. Agora, afinal, o presidente do Egito poderá dar melhor sentido à sua presidência, mais sintonizada com o desejo do povo egípcio.

Grandes caravanas de jovens egípcios já marcham em direção a Gaza. Com eles vai também minha sobrinha mais jovem. Toda a sociedade civil em todo o planeta está mobilizada; já partiram vários barcos em direção a Gaza, civis egípcios, de todo o país, estão em viagem para Gaza.

No plano mais ‘oficial’, o governo egípcio já enviou médicos, enfermeiros e remédios, que já chegaram a Gaza. Abdel Moneim Aboul-Fotouh, que é médico e foi candidato a presidência do Egito já partiu para Gaza (
http://www.guardian.co.uk/world/feedarticle/10132171) – como também fez em 2008, durante a “Operação Chumbo Derretido”, muito antes de pensar em concorrer à presidência do Egito. O Sindicato de Médicos Árabes já está organizando o transporte de doações e de médicos voluntários para Gaza.

Israel sempre tentou vender-se à opinião pública ocidental como se fosse a única democracia, num mar de fanáticos. A Primavera Árabe desmentiu e destruiu essa narrativa, talvez para sempre. Então os políticos israelenses passaram a trabalhar a favor de uma guerra contra o Irã. E, enquanto esperam, entraram num frenesi de assassinatos em massa em Gaza.

Se Israel queria instigar violência crescente contra o próprio governo, não poderia ter encontrado meio mais garantido do que assassinar Ahmed al-Jaabari, comandante do Hamás que, pelos últimos cinco anos, trabalhou para impedir ataques contra Israel.

Assassinado o comandante Jaabari, imediatamente recomeçaram os ataques, exatamente o que se vê agora.

Assim, Israel supõe que possa sequestrar a narrativa da Primavera Árabe e fazer andar para trás o relógio da história. Israel quer voltar ao tempo em que ainda havia quem acreditasse em “terroristas islamistas versus israelenses civilizados”. Simultaneamente, desviam o foco do morticínio na Síria e, claro, ganham pontos para a política de linha duríssima de Binyamin Netanyahu e Ehud Barak, em período de campanha eleitoral, em população anestesiada pela propaganda.

De fato, a única coisa que conseguiram foi expor ao mundo a prova definitiva de que Israel é uma democracia em que os políticos podem ordenar o assassinato de crianças, para vencer eleições. Sempre crianças palestinas, é claro.

Os cidadãos do mundo já não se deixam enganar. Na 5ª-feira começaram protestos em todo o mundo em defesa de Gaza. Continuam na 6ª-feira e no sábado. E isso é apenas o começo.

Em todos os países árabes nos quais a população levantou-se para exigir respeito aos seus direitos, as multidões voltam às ruas para exigir respeito também aos direitos dos palestinos. A Tunísia já informou que seu ministro de Relações Exteriores já está em Gaza. Na Jordânia, hoje, centenas de milhares estão nas ruas e, ali também, ao mesmo tempo em que exigem o fim da monarquia jordaniana, exigem justiça para o povo palestino. Há protestos na Líbia. Do Egito já partiram várias caravanas e outras preparam-se para partir para Rafah e, dali, para Gaza.

Essas multidões em movimento carregam a verdadeira representação popular e manifestam o desejo dos povos da região. Daqui em diante, os governos terão de trilhar o caminho que está sendo aberto, hoje, pelos homens e mulheres que caminham rumo a Gaza, para defender Gaza.
 
Tradução Vila Vudu