Começa pelo nome: Protógenes – isso é nome de um tira da pesada? De acordo com a Enciclopédia Britânica, Protógenes foi o nome de um pintor grego que viveu por volta dos anos 390 a 200 antes de Cristo. Como todos os pintores de sua época, seus trabalhos foram destruídos pelo tempo, restando apenas relatos na literatura acerca de sua existência e de suas obras. No Dicionário do Significados dos Nomes, quer dizer “o primogênito”.
Nome grego, portanto. E da época em que só se falava em Sócrates (470-399 AC), o primeiro filósofo de responsa. Como é que um homem com a marca de um artista vai se meter a tira num país da impunidade, como bem definiu o malandro Bezerra da Silva em seu samba sobre os políticos canalhas?
Esperava o que, esse insólito policial? Achava que ir ganhar uma medalha por mexer em caixa de maribondo? E logo com o que há de mais protuberante nesses podres poderes?
Quanta petulância. Vai querer o que? Cavoucar as mazelas de uma República inebriada pelo mel do poder lambuzado? Não tem pra ninguém, cara. Tá todo mundo mareado pelo cruzeiro de ilusões multicores. Quem chega ao topo, manda e desmanda. Não adianta espernear.
Delegado atrevido
O delegado atrevido fez concurso, ralou para ganhar o distintivo. Um ministro do Supremo Tribunal Federal não precisa queimar a mufa. Ganha do presidente amigo a mais cobiçada cadeira da magistratura para o resto da vida. E, como é público e notório, o que a Justiça decide não se discute: cumpre-se. Inda mais se for a Justiça Superior. Mais o quê? Meter-se com um personagem poderoso, para o qual todos se agacham como se diante da galinha dos ovos de ouro?
O delegado Protógenes Pinheiro Queiroz brincou com fogo desde quando começou a trabalhar como agente federal. Mexeu com boa parte do nosso PIB. Sabe o que é PIB? É isso mesmo. Diz-se da turma que consta do pódio do sistema. Abusou, sem dúvida. Agindo como um autêntico “ET”, criou uma falsa idéia de que no Brasil, finalmente, a cana não seria só para ladrão de galinha.
Folha Corrida
Veja seu histórico: Foi quem efetuou a prisão de Paulo Maluf, do contrabandista Law King Chong, de Daniel Dantas, de Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
Estiveram sob sua coordenação, em parceria com a Promotoria de São Paulo as investigações do caso Corinthians/MSI, por evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Os envolvidos nas fraudes da arbitragem do futebol Brasileiro, em 2005, foram investigados por ele e pelos promotores Roberto Porto e José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Gaeco.
Queiroz também presidiu o inquérito sobre remessas ilegais de dinheiro para paraísos fiscais, que desvendaram movimentações de cerca de cinco milhões de dólares, das quais o ex-prefeito Celso Pitta seria o principal beneficiário. O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) foi investigado no mesmo inquérito. Foi seu o relatório que terminou o inquérito sobre desvio de dinheiro da Prefeitura de São Paulo, concluindo que "os cofres públicos foram pilhados" durante os governos de Maluf (1993-96) e Pitta (1997-2000).
Participou da operação que prendeu o comerciante Law King Chong, o maior contrabandista do Brasil. King Chong estava disposto a pagar 1,5 milhão de dólares ao presidente da CPI, deputado Luiz Antônio Medeiros para obter favores, mas suas conversas foram registradas.
Foi quem comandou a Operação Satiagraha, desde seu início até o dia 14 de julho de 2008, quando se afastou "voluntariamente, por motivos pessoais", a "conselho" da cúpula da Polícia Federal. Curiosamente Protógenes teria comentado com aliados que esse afastamento desmerece seu trabalho, e causa um prejuízo muito grande à investigação.
No dia 16 de julho o presidente Lula determinou ao seu ministro da justiça Tarso Genro que combinasse com a cúpula da Polícia Federal o retorno de Queiroz ao comando das investigações na Operação Satiagraha. Entretanto tal não ocorreu, e o último ato de Queiroz nesse inquérito foi indiciar formalmente Daniel Dantas, do Banco Opportunity, e mais nove pessoas investigadas na Operação Satiagraha no dia 18 de julho de 2008, sob acusação de gestão fraudulenta e formação de quadrilha.
Com tanta imprudência, você queria o que? Como as mais altas proeminências dos nossos podres poderes estão querendo comer-lhe o fígado, não será surpresa se alguma dessas vestais sugerir o restabelecimento da pena de morte com o objetivo de permitir a execução de todos os policiais e juizes que ousarem mexer com os donos do Brasil. A começar por esse Protógenes.
Matéria de encomenda
Com a palavra o inquieto repórter JORGE SERRÃO, editor do “Alerta Total”:
“O poderoso e bem articulado esquema de defesa do banqueiro Daniel Valente Dantas está por trás da publicação da reportagem de capa da revista Veja: “A Tenebrosa máquina de espionagem do Dr Protógenes”. A matéria tem o objetivo tático de desmoralizar, desqualificar e desacreditar as investigações comandadas pelo delegado federal Protógenes Queiroz na Operação Satyagraha. A intenção fica explícita quando o texto se encerra, na página 191 da revista, informando que um dos arquivos de computador do delegado indica que “ele estava se dedicando a escrever uma autobiografia. Título: Protógenes, a Lenda”.
O que não parece lenda é o trabalho produzido – e não completamente divulgado – do delegado. O processo da Satyagraha, para facilitar a eventual punição de poderosos envolvidos, corre em “segredo de Justiça”. Se Protógenes e sua equipe eventualmente cometeram erros, irregularidades ou ilegalidades durante a investigação, tal questão deveria ser apurada com isenção pela Justiça. Até agora só vazou para a mídia amestrada o conteúdo de eventuais situações nas quais o investigador teria cometido excessos ou abusos de autoridade – o que também precisa ser comprovado judicialmente. O que não vaza, estranhamente, é a ligação direta, real e comprovada de Daniel Dantas com todos os poderes da República.
O feitiço da reportagem da Veja tem tudo para se voltar contra o feiticeiro por causa da reação que já provocou nos bastidores políticos, neste final/começo de semana. Um dos mais indignados com a matéria – apenas porque foi citado nela, sem explicações mais completas – foi o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA). O filho do falecido ACM, que sempre se pautou pela discrição, ameaça ocupar esta semana a tribuna do Senado para cobrar que seja divulgada e aberta publicamente a relação completa de quem tem relações com Daniel Dantas.
O senador garante, nos bastidores, que todo mundo tem. Algumas ligações são comprometedoras politicamente. Outras são meros negócios praticados dentro da legalidade. ACM Júnior garantiu a amigos que não teve negócios ilegais com Daniel Dantas. O senador suspeita que a citação de seu nome nas investigações de Protógenes –classificada de “misteriosa” e sem aplicação pela revista – foi uma mera manobra ilusionista para esconder outros fatos muito mais graves que a reportagem não quis mostrar e que as investigações (em sigilo) podem ocultar no final do processo”.
E você o que acha?
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