segunda-feira, 9 de julho de 2007

Movimentos sociais realizarão manifestação de apoio aos povos zapatistas

No dia 19 de julho, movimentos sociais do México realizarão em Tuxtla Gutiérrez, Chiapas, uma manifestação que tem como objetivo apoiar as comunidades zapatistas que estão sendo vítimas dos ataques do governo, fazendeiros e da classe política que tenta retirá-los de usas terras. A manifestação ocorre às vésperas do Encontro dos Povos Zapatistas com os Povos do Mundo, que se realizará de 20 a 28 de julho, em Chiapas, México.
A Assembléia de Coordenação de Organizações, Grupos, Coletivos e Individuos da Outra Campanha no Vale do México está organizando uma caravana que levará os interessados em participar do ato e de outras atividades políticas. A caravana sairá em 18 de julho às 19 horas para a manifestação em Tuxtla e depois seguirá para San Cristóbal para estar presente na reunião do Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) com o Movimento dos Sem Terra (MST) brasileiro, organizações camponesas da Korea, Madagascar, Estados Unidos e outras organizações da "Via Campesina".
Quem deseja acompanhar todas as atividades, a volta é no dia 30 de julho e o custo é de $1,100 MN (pesos mexicanos), incluindo o transporte local rural até os lugares de reunião. A quem só interessa acompanhar o ato de Tuxtla Gutiérrez, a Conferencia do EZLN em San Cristóbal e inauguração do encontro dos Povos Zapatistas com os Povos do Mundo, o custo do transporte é de $720MN (pesos mexicanos) e a volta será no dia em 22 de julho.
Para mais informações: Redmyczapatista@gmail.com y ctr@avantel.net
Fonte: Adital
A fúria do Estadão contra Chávez





Altamiro Borges *
Conhecido por suas posições conservadoras explícitas, sem papas na língua ou falsos ecletismos, o jornal O Estado de S.Paulo revelou na semana passada o que está por traz das recentes intrigas contra o governo de Hugo Chávez. Num editorial raivoso, o jornalão da famiglia Mesquita defendeu enfaticamente que o Senado brasileiro rejeite o ingresso da Venezuela no Mercosul. O motivo não seria o "exagero retórico" do líder bolivariano contra os "papagaios do imperialismo" incrustados nesta casa legislativa e nem o seu "ultimato" para aprovação da entrada do país vizinho no bloco regional. A razão é eminentemente política e estratégica - o que só os ingênuos e os mal-intencionados insistem em não enxergar.
"O ‘socialismo’, o anticapitalismo e o antiamericanismo de Chávez seriam um peso insuportável para o Brasil e o Mercosul, que precisam disputar mercados num mundo capitalista", escancara o Estadão, que nunca escondeu a sua preferência pelas "relações carnais" com os EUA e a sua objeção a atual política do Itamaraty de reforço da integração latino-americana e das alianças Sul-Sul. Para o jornalão, os recentes incidentes envolvendo o Senado e o governo venezuelano ocorreram numa boa hora. "A truculência do caudilho abriu os olhos para as previsíveis conseqüências do ingresso definitivo da Venezuela bolivariana no Mercosul", comemora o porta-voz da direita neoliberal nativa e dos interesses imperialistas dos EUA.
Saudades do entreguista FHC
Para o jornalão, o episódio serve de lição para o presidente Lula, que estaria agindo com complacência diante dos países rebeldes da região - leia-se Venezuela e Bolívia. "Houve época em que o coronel [a famiglia Mesquita, a exemplo da mídia golpista venezuelana, não trata Hugo Chávez como presidente democraticamente eleito] respeitava o Brasil e os seus governantes. Era visível, por exemplo, o respeito reverencial que tinha pelo presidente Fernand Henrique, que mais de uma vez teve de colocar Chávez na linha. Mas com o presidente Lula o relacionamento mudou. Julgando que tinha encontrado um aliado, com identidade de propósitos e idéias, Lula cedeu a praticamente todas as exigências de Chávez".
A exemplo da colunista Miriam Leitão, da TV Globo, que pregou o rompimento de relações diplomáticas com a Bolívia e o envio de tropas para a fronteira com este país quando da desapropriação das refinarias da Petrobras, o Estadão exige agora o endurecimento do governo Lula diante do "caudilho Chávez" . Ele seria a personificação do "eixo do mal" de Bush e um estorvo às relações mercantis do Mercosul, já que insiste em "fazer o seu monótono comício contra Washington, a União Européia e o capitalismo", tem "a atenção cativa da Bolívia, da Nicarágua e de Cuba, na Alba", compra armas de Moscou e "articula com Mahmud Ahmadinejad [Irã] acordos de cooperação e planos de resistência contra o demônio ianque".
Ingerência indevida do Senado
O editorial do Estadão, por sua franqueza e dureza, é revelador do pensamento da burguesia neoliberal na recente crise fabricada na relação Venezuela-Brasil. O que no início parecia apenas uma refrega retórica, envolvendo alguns senadores da direita e o presidente Chávez, vai adquirindo assim a sua verdadeira e gravíssima dimensão, colocando em risco o inédito esforço da integração regional. Tudo começou com a ingerência indevida do Senado, a partir de um requerimento de Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB e fundador do "valerioduto", contra a decisão soberana do governo vizinho de não renovar a concessão da RCTV. Na seqüência, o líder bolivariano acusou os senadores de "papagaios do império". O desabafo foi o sinal para a direita brasileira e sua mídia venal questionarem o ingresso da Venezuela no Mercosul.
A direita brasileira, servil aliada dos EUA, nunca criticou a censura imposta pelo presidente George Bush à imprensa daquele país, através da Patriot Act, ou os campos de tortura de Guantanamo e de Abu Ghraib, ou o fim de dezenas de concessões públicas de televisões nos EUA e na Europa - mas resolveu cutucar o presidente da Venezuela, numa provocação rasteira. A manobra era evidente: ela nunca concordou com os esforços do governo Lula e de outros governantes progressistas da construção de um bloco regional capaz de se contrapor aos desígnios do império. O seu sonho, acalentado por FHC, era o da vigência do tratado neocolonial da Alca, da implantação da base militar em Alcântara e das "relações carnais" com os EUA.
Sórdida manobra em curso
O episódio da RCTV, que nada tem a ver com as relações econômicas, sociais e políticas do Mercosul, foi o pretexto encontrado pela direita nativa, bem ao gosto do imperialismo, para tentar implodir o esforço da integração. Deixada a aparência de lado, agora fica exposta a essência da manobra. "Indústria pede que o Congresso rejeite adesão venezuelana", festejou a Folha de S.Paulo. Barões do agronegócios e magnatas de poderosas empresas destilam seu ódio contra a revolução bolivariana. O embaixador Rubens Barbosa, membro da equipe entreguista de FHC e guru de Geraldo Alckmin, declara que o ingresso da Venezuela prejudicará o acesso do Mercosul ao mercado dos EUA. O editorial do Estadão é a prova cabal do crime!
Só os ingênuos não percebem a sórdida manobra. O problema não retórico, mas eminentemente político e estratégico. Aparentemente, o presidente Lula está antenado. O seu governo apostou todas as fichas na integração regional, não se curvou diante da pressão da elite para que declarasse "guerra" à Bolívia e nem fez coro com as viúvas da RCTV. Agora mesmo o presidente volta a qualificar a relação com a Venezuela de "extraordinária", citando o gasoduto que "atravessará toda a América do Sul" e os projetos conjuntos entre as estatais Petrobras e PDVSA. Evitando fazer este debate estratégico através da mídia venal, Lula informou que procurará Hugo Chávez para solucionar o impasse. A iniciativa é urgente, antes que os neoliberais e sua mídia melem os estratégicos e meritórios esforços da integração latino-americana.
(Autor do livro "Venezuela: originalidade e ousadia", Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).
A vaidade e o problema dos `outros´
:: Flávio Gikovate ::

O prazer erótico de caráter exibicionista é um tanto independente de quem é que está assistindo nosso “show”. O observador não é totalmente irrelevante, já que uma moça sempre preferirá ser olhada com desejo por um homem que ela valorize do que por um outro que não seja diferenciado (segundo os critérios dela). Em todos os casos, se as pessoas que estiverem nos olhando tiverem uma reação negativa, padeceremos da terrível dor da humilhação, ao passo que, se manifestarem admiração e respeito, nos sentiremos elevados, estimulados e sexualmente um tanto excitados.

Dependemos, pois, da reação das outras pessoas (os observadores). Não há como desconsiderar o fato de que nosso estado de alma é muito influenciado pela forma como nossa pessoa - ou algo que tenhamos feito - será recebida. Isso explica considerações que as famílias sempre fizeram aos seus filhos adolescentes acerca da importância de terem um comportamento compatível com a opinião média dos vizinhos. Quem nunca ouviu ou pensou sozinho acerca “do que é que os outros vão falar ou pensar a nosso respeito”?

Quanto mais dependemos da opinião dos outros para nos sentirmos bem, menor será nossa liberdade individual. Pensaremos duas vezes antes de tomarmos alguma atitude menos comum. Pensaremos na repercussão que nossos atos, nossa forma de vestir e até mesmo nossos pensamentos terão sobre os outros. Os outros passam a ser nossos juízes, aqueles que julgarão se somos ou não criaturas legais, dignas. A vaidade nos leva, pois, a uma situação muito delicada na qual nós somos os juízes dos outros e os outros serão os que irão dizer se somos ou não criaturas válidas.

Quanto maior a vaidade, maior a dependência que temos das outras pessoas. Assim, os outros se transformam nos “OUTROS”, observadores todo-poderosos aos quais devemos obediência. O paradoxo é inevitável: para chamar a atenção deles temos que nos destacar, nos diferenciar. Se o fizermos de uma forma inaceitável, segundo os critérios deles, seremos objeto de chacota e ironia. Como fazer? Onde encontrar coragem para arriscar e correr o risco de desagradar os OUTROS?

Na grande maioria dos casos, a questão se resolve apenas no plano da quantidade e não da qualidade. Ou seja, as pessoas buscam o destaque pela via da aquisição de uma quantidade maior de algo que seja valorizado por todos. Terão mais dinheiro, mais conhecimento, serão mais magras, mais belas (e recorrerão aos melhores cirurgiões para chegar a isso), mais viajadas etc. Usarão roupas caras e terão muitas delas. Não usarão, porém, aquelas que não sejam aprovadas pela maioria, as que não possuem uma grife (certificado de garantia de que se trata de algo precioso). Terão muitos carros, muitos relógios, farão dietas incríveis e dirão que são magras “por força da natureza”. A política do destaque será regida pelo lema “mais do mesmo”. As pessoas poderosas têm, portanto, muito das mesmas coisas; e são admiradas por isso. Destaque sem correr o risco de decepcionar OS OUTROS e serem objeto de rejeição e humilhação.

É claro que uma pessoa pode ser mais corajosa e tentar se destacar por ser, agir e pensar de uma forma original. Quase sempre será objeto de reações variadas e dificilmente agradará a todos os observadores. Será tida como pessoa extravagante e talvez desperte mais inveja pela coragem do que pelo modo de se comportar. Nossas sociedades permitem uma cota maior de originalidade aos artistas e a alguns intelectuais, criaturas responsáveis pelas inovações. Sim, porque a busca de destaque pelo caminho apenas de ter mais do mesmo não leva a nada de novo (o que acabaria por determinar a estagnação geral).

Sabemos que existem algumas pessoas com mais coragem para se exibir de forma incomum mesmo sem serem portadoras de grandes talentos. São poucas e, principalmente na adolescência, acabam se filiando a alguma “tribo” minoritária, passando a agir de acordo com o padrão daquele subgrupo. O desejo de destaque é grande e na falta de criatividade acabam por se integrar numa turma onde a originalidade é duvidosa e a extravagância é um objetivo em si mesmo. Penso que os “punks” sejam um bom exemplo disso. Não é essa a liberdade que me encanta. A que me encanta é a de não abrirmos mão de nossas convicções mesmo se venhamos a bater de frente com a opinião dos OUTROS. Ou, como dizia Santo Agostinho, que reconhecia, é claro, a presença da vaidade em si mesmo: “entre a vaidade e a verdade eu não tenho dúvidas acerca do caminho a escolher”.

Flávio Gikovate é médico psicoterapeuta,

pioneiro da terapia sexual no Brasil.



Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo

Email: instituto@flaviogikovate.com.br

Caráter progressista continuará marca do Consea, diz ex-presidente do órgão

O economista Chico Menezes, que deixa direção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, avalia que caráter progressista deve se aprofundar no órgão. Conferência do setor referendou movimentos sociais.

FORTALEZA – O último dia da III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que terminou nesta sexta (6) em Fortaleza, encerrou também o mandato do economista Francisco Menezes como presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Considerado por seus pares um negociador hábil, Menezes conduziu o Consea de forma a afirmá-lo como um dos conselhos mais progressistas e incidentes sobre o Executivo.

Órgão ligado diretamente à Presidência da República, o Consea é composto por 17 ministérios e secretarias do governo, além de representantes da sociedade civil, e tem sido responsável pela proposição de políticas no campo da segurança alimentar, combate à fome e desnutrição, direitos dos diversos setores e populações à alimentação adequada, sistemas de produção e distribuição de alimentos, entre outros.

Politicamente, uma das marcas do Consea tem sido a postura “de esquerda” nas disputas conceituais sobre o modelo de desenvolvimento do país, e, caso as diretrizes apontadas pela III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional sejam incorporadas, como se espera, pela nova direção do órgão, ao que tudo indica esta característica deverá se aprofundar, avalia Menezes.

Num rápido sobrevôo sobre as propostas elaboradas durante a última semana pelos cerca de 2 mil participantes da Conferência, além de uma série de diretrizes para a Lei e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN e SISAN, respectivamente), o debate e o documento final do evento incorporaram um dos mais completos panoramas das diversas demandas dos movimentos sociais que atuam politicamente sobre questões estruturantes no país.

Da crítica à política econômica, considerada um dos principais obstáculos ao saneamento das diversas situações de exclusão que cristalizam, em última instância, a pobreza e a insegurança alimentar, e da rejeição a projetos de grande impacto socioambiental, como a transposição do São Francisco, as hidrelétricas na Amazônia e a exploração dos recursos naturais (mineração, madeira, petróleo) nos territórios de populações tradicionais, passando pelo repúdio aos transgênicos, ao agronegócio e ao monopólio da distribuição dos alimentos (principalmente grandes redes multinacionais de supermercados), e por questionamentos aos acordos de comércio bi e multilaterais sobre agroenergia e agricultura (com os EUA, na OMC, União Européia, etc), até a defesa ampla dos direitos humanos, territoriais, sociais, culturais, econômicos e ambientais das populações tradicionais, da reforma agrária e da agroecologia, entre outros, a Conferência espelhou os debates da sociedade civil sobre o modelo de desenvolvimento do país.

O quanto desta agenda incidirá sobre o governo e terá algum reflexo concreto sobre as políticas sociais e de desenvolvimento, no entanto, depende agora da capacidade de convencimento dos representantes da sociedade civil no Consea, avalia Menezes, e da atuação dos Ministérios aliados, como Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Meio Ambiente (MMA), Desenvolvimento Agrário (MDA), Educação(MEC), Saúde, a Conab, entre outros.

Segundo o economista, apesar de haver uma crescente expectativa de que as manifestações da sociedade civil sejam respeitadas pelo governo, é preciso ter em conta que o Consea, por seu caráter consultivo, é diferente dos movimentos sociais e que o importante para o Conselho são as realizações.

“Passamos um tempo confrontando a base monetarista do governo, e agora o debate se dá com os desenvolvimentistas”, avalia Menezes, para quem a missão da nova direção do Consea será fortalecer o poder de incidência dos setores progressistas.

CTNBio
Quanto às manifestações políticas que confrontam diretamente projetos e posições do governo, como os debates sobre a transposição, o agronegócio, os agrocombustíveis, as hidrelétricas e a política econômica, Menezes acredita que são importantes por explicitarem a tendência dos participantes da Conferência, mas, na prática, tendem a não extrapolar o caráter de posicionamento político.

Diferente, para o economista, é o debate sobre biossegurança e organismos geneticamente modificados, um tema interditado para o Consea. Nesta questão, defende o economista, é urgente que ocorram mudanças, ja que é direito do Conselho participar das decisões sobre alimentos transgênicos, uma vez que afetam a segurança alimentar e nutricional.

“Ja falei isto para o presidente [Lula]. Para se ter uma idéia, como presidente do Consea fui barrado na reunião da CTNBio sobre milho transgênico. A CTNBio argumentou que a reunião era ‘fechada’. Que CTNBio é essa que tem que fazer tudo em segredo?”, questiona Menezes.

A rejeição aos alimentos geneticamente modificados está na própria definição de segurança alimentar e nutricional, cuja função é “garantir a todos alimentação adequada e saudável, conceituada como a realização de um direito humano básico”, que deve atender aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e sabor, e “às formas de produção ambientalmente sustentáveis, livre de contaminantes físicos, químicos e biológicos e de organismos geneticamente modificados”.

Em seu documento final, a III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional exige a revisão da Lei de Biossegurança, “com impedimento à produção e comercialização de alimentos transgênicos, uma vez que ameaçam a soberania alimentar dos povos, causam danos irreversíveis ao meio ambiente, prejudicam a saúde e inviabilizam a agricultura familiar, por manter o controle das sementes nas mão de grandes empresas”.

*a repórter viajou a Fortaleza a convite do Consea