quarta-feira, 9 de abril de 2008

GRANDE CHAVEZ...

VENEZUELA RENACIONALIZARÁ SIDERÚRGICA SIDOR--FONTES

CARACAS (Reuters) - O governo venezuelano renacionalizará a maior siderúrgica do país, a Ternium Sidor, na segunda grande aquisição de ativos de companhias estrangeiras em uma semana.
Depois de anunciar a estatização da indústria cimenteira do país, fontes do sindicato e do governo disseram nesta quarta-feira que a Sidor voltará ao controle de Caracas.
O secretário-geral do sindicato da Sidor, Nerio Fuentes, afirmou que o vice-presidente da Venezuela informou à companhia e aos funcionários sobre a decisão tomada em reunião realizada no final da terça-feira.
"Estamos aqui comemorando em assembléia a decisão de que a Sidor retornará às mãos do Estado", disse Fuentes à Reuters em entrevista por telefone. Um ministro do governo que pediu para não ser identificado confirmou a decisão de nacionalização.
No fim de semana, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou que seu governo assumiria a responsabilidade na negociação com a companhia em uma disputa trabalhista que envolve pagamento dos funcionários e que gerou uma série de greves regulares nos últimos meses.
Chávez fez uma série de ameaças de tomar o controle da produtora de aço no ano passado, em um momento em que ele estava aumentando o controle do governo sobre a economia, num impulso de nacionalização.
Ele renovou sua campanha na semana passada, quando ordenou a nacionalização da maior empresa de cimento do país, totalmente controlada por estrangeiros.
Em ambos os casos, Chávez reclamou que as empresas não estavam priorizando de maneira suficiente o abastecimento do mercado venezuelano.
Representantes da Techint, a empresa argentina que controla a Sidor, não estavam imediatamente disponíveis para comentar o assunto. A companhia detém 60 por cento do capital da siderúrgica e o governo venezuelano possui outros 20 por cento. O restante está nas mãos de trabalhadores e ex-funcionários da empresa.
A brasileira Usiminas detém participação na Ternium. Representantes da empresa não comentaram imediatamente a decisão.
A Ternium Sidor, privatizada em 1997, é a principal siderúrgica da região andina e Caribe. As usinas principais estão próximas da cidade de Puerto Ordaz, no sudeste da Venezuela.
(Por Brian Ellsworth e Ana Isabel Martínez)

EXPANSÃO DA SOJA DEVASTA MEIO AMBIENTE NA ARGENTINA

argentina_map.jpg

ESTE MAPA MOSTRA A REGIÃO DE MAIOR CONCENTRAÇÃO DE PLANTIO DE SOJA DO MUNDO, A MAIOR PARTE TRANSGÊNICA: ARGENTINA, BRASIL E PARAGUAI; NELE APARECEM AS PROVÍNCIAS "SOJEIRAS" DA ARGENTINA, CITADAS ABAIXO: SANTIAGO DEL ESTERO, CHACO, CORRIENTES, ENTRE RIOS E SANTA FÉ.

do site Proteger.org.ar, da Argentina

A expansão da fronteira agrícola na Argentina, promovida fundamentalmente por grandes monocultivos de soja, produziu uma das maiores transformações econômicas, sociais, demográficas e ambientais da história do país. A superfície semeada com soja em 2007, com uma nova colheita recorde, alcançou a 16 milhões de hectares. Simultaneamente, a taxa de desmate de bosques nativos chegou, segundo dados oficiais, a superar várias vezes a média mundial - com enorme impacto na biodiversidade e em comunidades indígenas e tradicionais. Em quatro anos, o desmate cresceu quase 42%. O corte e as queimadas arrasaram mais de 1 milhão de hectares, a maioria agora com soja. Em 2007 se perdeu em média 821 hectares de bosques por dia, 34 hectares por hora.

No nordeste da Argentina - uma das áreas onde a soja constitui a principal atividade agrícola, a situação social revela, coincidentemente, os níveis de pobreza e indigência mais altos do país, segundo informações oficiais. As cinco cidades argentinas mais pobres estão na área sojeira: La Banda-Santiago del Estero, Concordia [província de Entre Rio], Corrientes, Resistencia e Santa Fé. Na região sojeira, a agricultura familiar e os pequenos produtores praticamente desapareceram, enquanto continua a migração rural até os assentamentos carentes das grandes cidades, onde cresce o desemprego, a violência urbana, a perda de identidade e a tensão social - que a sociedade e o Estado, a um altíssimo custo, devem suportar e atender.

Hoje, mais de 300 vilas rurais se extinguem; as casas em ruínas dos camponeses se levantam como testemunho mudo em meio aos imensos desertos verdes. Quando se viaja de Santa Fé a Buenos Aires, passando por Rosário, é habitual ter de fechar as janelas para não inalar diretamente o ar irrespirável e contaminado pelas fumigações [de herbicidas]. Quando se vai de Entre Rios a Córboda ou se usa a rota até Salta a paisagem é a mesma: o interminável verde da soja; já não se vê árvores, nem pássaros, nem gente. A soja atravessa as cercas, ocupa o acostamento e chega até o asfalto. As pessoas trabalhando em fazendas, circulando pelas vias rurais ou as crianças saindo das escolas já não estão lá. Nada indica que um dia voltem. Não se sabe para quê voltariam. Nem o que encontrariam.

Créditos: Blog do Azenha

Soledad Bravo - Caribe (1983)




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De Jéssia para Isabella





Roberto Malvezzi

Oi, Isabella. Fiquei sabendo de sua morte. Fiquei imaginando como alguém pode pegar uma criança como você, maltratar, asfixiar e depois ainda atirar pela janela do apartamento. Nunca consegui entender essa crueldade humana. Acho até que nem humanos são. Por isso, acho até normal que tanta gente se interesse pela sua morte, embora grande parte goste mesmo de sensacionalismo ou apenas de ganhar audiência em seus programas.

Queria lhe dizer que eu também já morri. Um dia, no assentamento que eu morava, tive que buscar água no canal de irrigação para o pessoal lá de casa. Era sempre assim. A gente não tinha água no assentamento e eu tinha que roubar uns 20 litros por dia para nossa família beber. Teve uns tempos que fui sem terra. No assentamento, eu e minha família éramos sem água. Então, um dia, quando eu estava roubando um balde de água no canal de quinze metros de altura, caí e morri.

Gente como eu, os sem terrinha, não tem muito espaço na mídia. Quem sente nossa falta são apenas nossos pais e nossos amigos. É só no coração deles que deixamos algum vazio. De resto, viramos estatísticas. Sabe, a gente entra numa lista, mas ninguém conhece o rosto que está por detrás daquele número. São muitos que morrem aí por essas beiras de estrada, debaixo da lona preta, seja por um motivo ou por outro. Quando acontecem chacinas, as crianças também são mortas, assim como jovens e adultos. Mas a gente só busca ter um pedaço de terra, ter uma casa, poder estudar, ter os bens que todo mundo tem, como uma TV, uma geladeira e até mesmo um celular. Queremos também um Brasil justo e decente. Nem vamos falar dos adolescentes e crianças que morrem por arma de fogo, no tráfico, ou aqueles que morreram ainda na infância de dengue, fome, sede e outras misérias. O país onde nascemos ainda não é um lugar para gente. Nós duas sabemos bem.

Pois é, agora estamos as duas do lado de cá. Já não temos distância, tempo, classe social, nem preconceitos a nos separar. Vamos nos encontrar e sair brincando por aí. O infinito é nosso limite.

Roberto Malvezzi é coordenador da CPT.

Perspectivas da economia chinesa





Wladimir Pomar

Os pessimistas e críticos das reformas chinesas, à direita e à esquerda, não acreditam que as economias da China e de outras nações asiáticas possam ter o mercado interno como foco central e "descolar-se" das crises dos países centrais. Para eles, isso não passaria de um mito.

Em parte, têm razão. No atual estágio da globalização, nenhum país tem condições de se "descolar" do resto do mundo. Porém, é fraco seu argumento de que, se a inflação nos países centrais recrudescer, não haverá como sustentar os preços das commodities, levando muitos emergentes ao desastre. No caso da China, o "desastre" seria o crescimento de seu PIB cair de 11% para 8% ao ano.

Tal "desastre" será um alívio para a China. Desde 1999, ela busca reduzir seu ritmo de crescimento, justamente para 8% a 6% ao ano, de modo a reduzir a pressão sobre seus recursos e sobre sua infra-estrutura, e evitar tensões inflacionárias e sociais. Com um crescimento desses, a China poderá continuar contribuindo para o crescimento global.

Em 2007, essa contribuição foi de 17% do crescimento global, quase o mesmo que os Estados Unidos. Se mantiver um ritmo de crescimento de 8%, a China pode tornar-se a maior economia exportadora do mundo em 2009 ou 2010. Portanto, o que aqueles críticos precisariam explicar são os motivos pelos quais a China, e diversos países emergentes, estão reagindo à atual crise de forma muito diferente do que ocorria no passado, quando um simples espirro especulativo nos países centrais os levava à desordem econômica e financeira.

Com descolamento ou sem descolamento em relação aos países centrais, a tendência mais forte parece ser a de manutenção do crescimento da China e dos países em desenvolvimento, mesmo que num ritmo levemente menor. E o crescimento industrial da China deverá manter seu efeito de onda sobre os demais países emergentes, contribuindo diretamente para o excepcionalmente forte crescimento deles nos anos mais recentes.

Os planos chineses, para 2008 até 2010, mantêm os investimentos em ativos fixos, principalmente em economia energética e recuperação ambiental, como as locomotivas do crescimento. Além de já haver extinguido os impostos agrícolas, a China deve elevar todos os salários e tornar universais os serviços públicos nas zonas rurais e urbanas, reduzindo o atual desequilíbrio de rendas e as tensões sociais. O que fortalecerá o consumo da população que, em 2006 e 2007, foi relativamente fraco em comparação a outros componentes do PIB.

Em tais condições, ao invés de levar a China ao desastre, a queda do ritmo do crescimento de seu PIB, para 8%, pode servir para equilibrar seus diversos setores econômicos e ampliar seu mercado interno. Estamos diante de novos parâmetros, mesmo que não agradem a muitos.

Wladimir Pomar é analista político e escritor.