segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Paulo Freire continua vivo, humano, necessário, coerente, firme em pensamento.


 
Do sitio www.correiocidadania.com.br

 
Desenvolvimento econômico-social sem educação? Liberdade sem educação? Democracia sem educação? Vida digna sem educação? Como seria possível tudo isso sem a compreensão dos símbolos, da linguagem, sem a decodificação justa no contexto histórico-social? E sem investimentos?
 
Uma nova geração de brasileiros e brasileiras se divide entre aqueles que se incorporam aos já contados 33 milhões de analfabetos; aqueles que estudam como podem e então se viram, com suas famílias; e um número cada vez mais reduzido que são submetidos a uma preparação constante para o vestibular, com quatro professores em sala e aulas de reforço para que a escola que freqüentam chegue ao topo do ranking do ENEM. Uma representação usual de educação que para muitos é o que deve ser. Mas, essa é uma discussão para o longo prazo. E hoje não estamos exatamente para esse debate.
 
Por sinal hoje alguém declarou: "em nenhum país do mundo educação de qualidade é barata", para justificar que a matrícula e a mensalidade de uma escola deverão aumentar a mais de 2.000 reais no ano 2010.
 
A alguém interessa que o país deixe a educação e uma geração nacional abandonada a sua sorte. E por isso Paulo Freire vive e é necessário, imprescindível.
 
Continuamos a precisar de uma educação para a transformação, para a coragem e a esperança. De uma pedagogia criativa, de sonhos a serem conquistados; profundamente ética; de respeito pelo educando, pelo oprimido; com sabor a libertação e a dignidade.
 
A importância de Paulo Freire na transformação da realidade brasileira e de outros tantos países já foi reconhecida inúmeras vezes. Pensador, educador, pedagogo, humanista, homem de compromisso com a vida, com o outro, com o ser humano e não com os dominantes grupos que tecem as rédeas que aprisionam; aquelas que inibem a criação autônoma do sujeito que se depara com a letra e a linguagem. Para ele a educação é uma prática de liberdade, e essa prática somente tem condições de aflorar quando o sujeito que conhece descobre e conquista sua consciência sobre seu papel como agente capaz de fazer e transformar a sociedade, e com ela a história de todos e a sua própria.
 
No Método Paulo Freire a técnica para aprender vira técnica para unir socialmente, para entender o processo histórico e finalmente comprometer-se. Vira idéia que se leva a cabo, a idéia de reconhecer-se, daí que alfabetizar implique, simultaneamente, conscientizar, e ser alfabetizado significa ser consciente.
 
Palavras geradoras de uma motivação, de uma opinião; codificação e decodificação para descobrir e redescobrir o contexto da existência do sujeito, de onde logo surge a crítica, e a partir daí a reconstrução do seu mundo. Como diz Ernani Fiori, comentando a obra de Paulo Freire: "O que o homem fala e escreve e como fala e escreve, tudo é expressão objetiva de seu espírito. Por isto, pode o espírito refazer o feito, neste redescobrindo o processo que o faz e refaz".
 
Para Paulo Freire, ensinar exige reflexão-crítica sobre a prática; estética é ética, bom senso, humildade, tolerância, luta em defesa dos direitos dos educadores, alegria e convicção de que a mudança é possível.
 
No método, o mito tradicional do professor que tudo sabe, que tudo pode e que tudo vê desaparece aos poucos e surge uma relação educacional de sentido criativa, uma interação onde se transmite, mas também se escuta.
 
Nessa disponibilidade para o dialógico, o homem se conscientiza de que a língua é cultura e é ele quem a cria. E o faz porque precisa dela para conhecer seu mundo. O ser humano se assume como sujeito condicionado socialmente e então provoca juízos críticos nele e nos outros que enriquecem o vocabulário de todos. O homem sabe, ao final, como vive e porque vive do jeito que vive.
 
Sobrariam comentários sobre o quão perigoso isto pode resultar para os donos do poder, para os grupos dominantes acostumados a lidar com seres humanos aos quais se lhes nega o direito de ser informados. Paulo Freire se dedicou a eles e a um projeto de libertação da opressão.
 
E por isso Paulo Freire foi proibido de ensinar, preso, perseguido, obrigado a um exílio doloroso.
 
Na quinta feira, 26 de novembro, o Estado brasileiro, por meio da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, declarou a anistia post-mortem do professor Paulo Freire, falecido em 1997.
 
O ato consagra Paulo Freire mais ainda, porque é, nas palavras de Brecht, um dos imprescindíveis. Esse ato era uma exigência mundial.
 
E é também um reconhecimento aos pedagogos que no Brasil continental resgatam seu exemplo alfabetizando e gerando esperanças aos milhares de oprimidos.
 
É um pedido de desculpas ao Brasil pelo grave dano de punir com o exílio e a violência um de seus filhos mais notáveis, mas também por quebrar o desenvolvimento de um Plano de Alfabetização adiado, postergado pela força e a ignorância. É o reconhecimento da verdade histórica, do legado de Paulo Freire; a apresentação de uma satisfação mínima por parte do Estado diante da dor da sua família.
 
É um resultado honroso para o advogado e professor da PUC Pietro Alarcón e toda a equipe jurídica que se entregou à tarefa de pesquisar, procurar documentos e praticar as diligências para demonstrar a perseguição sofrida pelo professor até sua volta ao Brasil depois de 16 anos de exílio.
 
"Paulo Freire nunca morrerá!", gritou um dos presentes na sessão da Comissão de Anistia. E há dois dias a Comissão de Educação e Cultura da Câmara aprovou o projeto de lei 5418/2005, que o declara como patrono da educação brasileira.
 
Sim, Paulo Freire vive e se multiplica, renasce, se transforma e continua contribuindo, com galhardia, coerência e firmeza, para outro mundo possível!

Eric Clapton - 461 Ocean Boulevard (1971)

http://i350.photobucket.com/albums/q418/Maxyhitz/461OceanBlvd.jpg


Eric Clapton - 461 Ocean Boulevard (1971)

Naam Grootte

01-Motherless Children.mp3 8.457 kb
02-Give Me Strength.mp3 5.032 kb
03-Willie and the Hand Jive.mp3 6.105 kb
04-Get Ready.mp3 6.563 kb
05-I Shot the Sheriff.mp3 7.650 kb
06-I Can't Hold Out.mp3 7.329 kb
07-Please Be With Me.mp3 5.952 kb
08-Let It Grow.mp3 8.666 kb
09-Steady Rollin' Man.mp3 5.618 kb
10-Mainline Florida.mp3 7.050 kb

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Os movimentos sociais rumo a Copenhague








Sitio Esquerda.net
A agenda dos movimentos sociais em Copenhaga será intensa. Foto Medmoiselle T/FlickrNa cimeira(cúpula) de Copenhaga, espera-se que milhares de activistas de todo o mundo se juntem em torno de um turbilhão de actividades paralelas. Enquanto os líderes dos governos de todo o mundo discutem um acordo para substituir Quioto, os movimentos sociais vão marcar a sua presença, ocupando as ruas com protestos ou pressionando directamente os negociadores. Mas o que são estes movimentos, de onde vêem e o que defendem? Podemos começar por responder a esta questão vendo o que os une.  

Artigo de Ricardo Coelho.  

A maioria dos movimentos ambientalistas, incluindo os mais conhecidos, faz-se representar nas cimeiras sobre o clima pela Climate Action Network (Rede pela Acção Climática). Apesar da enorme diversidade das centenas de ONGs e movimentos que estão presentes nesta rede como membros ou observadores, alguns pontos de união são notórios. Desde logo, une-os a defesa de um acordo internacional elaborado de acordo com o que a ciência nos diz que devemos alcançar para evitar alterações climáticas catastróficas: estabilização das concentrações de gases com efeito de estufa em 350 partes por milhão, o que implica uma redução nas emissões de 80% até 2050 (40% até 2020) relativamente a níveis de 1990.
Consensual é também a ideia de que os países mais ricos devem assumir a liderança neste esforço de redução de emissões. Tendo em conta as enormes diferenças que subsistemnas emissões per capita entre países e a responsabilidade histórica pelas alterações climáticas que recai sobre os países industrializados, estes países devem ainda apoiar os países menos desenvolvidos a adaptar-se às alterações climáticas já inevitáveis e a adoptar tecnologias que lhes permitam desenvolver-se sem aumentar muito as suas emissões.
Finalmente, existe algum consenso relativamente à ideia de que os mecanismos de flexibilidade do mercado de carbono devem ser usados com restrição.
Dentro da CAN, contudo, subsistem importantes diferenças, sobretudo entre movimentos que defendem um ideal de “capitalismo verde” e movimentos defensores da justiça climática. No primeiro extremo, podemos encontrar a WWF. Esta mega-ONG cultiva laços de proximidade com a indústria, o que lhe permite contar com um orçamento superior ao da OMC. Não é de admirar, portanto, que tenha sido desde o primeiro momento defensora do mercado de carbono.
Noutro extremo, podemos assinalar a Climate Justice Action (Acção Pela Justiça Climática), uma rede que junta movimentos e activistas no confronto com o capitalismo fóssil. Esta rede tem insistido na necessidade de acabar com a exploração de combustíveis fósseis e de reconhecer e pagar a dívida ecológica que os países ricos têm relativamente aos países mais pobres. Sendo extremamente crítica em relação ao mercado de carbono, visto como um mecanismo que reforça o injusto status quo, tem também dado destaque à defesa dos direitos dos indígenas, negligenciados nas negociações climáticas.
Talvez ainda mais radical é o Never Trust a COP, um colectivo de activistas que coloca em causa a legitimidade nas negociações climáticas e que planeia perturbar o quotidiano de Copenhaga com acções de desobediência civil. Certamente que vamos ainda ouvir falar muito deste colectivo nos próximos tempos.
Mas neste retrato a preto-e-branco dos movimentos cabem muitas tonalidades de cinzento. Um bom exemplo disso é a Greenpeace, que consegue concilar o radicalismo da acção directa com um certo alinhamento face a políticas neo-liberais. Tendo sido crítica face ao mercado de carbono no início, cedo esta ONG acabou por aceitar a sua perversa lógica, estando hoje numa posição defensiva, de oposição face a propostas que visam a sua expansão. Exemplo disso é a proposta REDD, que visa a criação de créditos de carbono pela preservação de florestas, uma ideia combatida pela grande maioria dos movimentos ambientalistas e pelos movimentos de indígenas.
Já o Friends of the Earth, uma rede de ONGs internacional, tem sido cada vez mais crítica em relação às soluções de mercado para o aquecimento global. A secção britânica elaborou recentemente um relatório onde categoriza o mercado de carbono como um novo mercado especulativo que nada faz para reduzir emissões enquanto prejudica os mais pobres do planeta, uma posição que contrasta profundamente com a de ONGs como a WWF.
A Friends of the Earth tem assumido também outras posições que mostram as divergências entre os movimentos que convergem em Copenhaga. Recentemente, a sua secção dinamarquesa lançou o apelo “politizemos Copenhaga”, tendo-se solidarizado com refugiados das guerras por petróleo cuja entrada na UE é recusada, um gesto que foi criticado por algumas ONGs que acharam que isto nada tinha a ver com ambientalismo. A rede internacional criou ainda uma petição on-line pela justiça climática, com um conteúdo social que não encontramos em campanhas como a Tck Tck Tck ou a 350.
Este tipo de posições, compatíveis com a ideia de justiça climática, encontram eco sobretudo entre os movimentos do mundo sub-desenvolvido. A Acción Ecológica, do Equador, tem-se centrado na ideia de transferências para os mais pobres com base no conceito de dívida ecológica, uma proposta que será colocada em cima da mesa pela delegação da Bolívia. ONGs de países com florestas tropicais, assim como a Rede Indígena Ambiental, estão particularmente preocupadas com a proposta REDD1, na medida em que irá conduzir a uma apropriação das florestas por especuladores. Outra preocupação comum à generalidade das ONGs do “terceiro mundo” é a expansão dos agro-combustíveis e das barragens, legitimada em nome da luta contra as alterações climáticas.
Estas preocupações encontram eco nas associações pelo desenvolvimento, como a Oxfam e pelos direitos dos indígenas, como a Survival International. A Via Campesina, por seu lado, foca sobretudo o papel do agro-negócio nas alterações climáticas, defendendo a pequena agricultura.
Todos estes actores estarão presentes em Copenhaga, como muitos outros. Numa lógica semelhante à dos Fóruns Sociais, os movimentos pela justiça climática vão-se reunir em torno do Fórum pelo Clima e convergirão tanto na marcha unitária de 12 de Dezembro como na acção directa de 16 de Dezembro. Mais novidades serão dadas no Esquerda, diariamente a partir do dia 7 de Dezembro.
 

(1) Redução de Emissões da Desflorestação e Degradação das florestas