terça-feira, 8 de abril de 2008

Não Te Vás Nunca!


Por Russ Howel.

A Revista Veja, edição 2.049 de 27 de fevereiro de 2008, colocou como reportagem de capa o título ‘JÁ VAI TARDE’ em relação a renúncia do Comandante Fidel Castro, e não obstante, irresignados com os argumentos da extrema direita incoerente, apresentamos e analisamos as 10 (dez) principais inverdades publicadas naquele periódico, a saber:

1º) “...visto o sofrimento que infligiu ao povo durante 49 anos como senhor absoluto de Cuba...”

Então se questiona, quais sofrimentos? Haja vista que Cuba enfrenta um bloqueio econômico imposto pelos Estadunidenses há mais de 40 (quarenta) anos, inviabilizando a comercialização com quaisquer países que mantenham relações comerciais com os Estados Unidos. Talvez o sofrimento imposto por Fidel seja a educação, onde os índices de analfabetismo chegam a quase 0%, isto para quem escreve de um país, no caso a nossa realidade, onde o número de analfabetos supera os 20% de toda a população, realmente talvez o autor da reportagem entenda ser um sofrimento para um povo ter que estudar em níveis de excelência e ter que trabalhar para mantê-los, sobretudo pelo fato de que os recursos externos são reduzidos ante o referido embargo imposto.

2º) “...foi pego exportando terroristas para insuflar a subversão em outros países...”

O autor se deixa conduzir pelo modismo Norte-Americano de utilização da palavra terrorista posta em prática pelo “César” George W. Bush, atual residente da Casa Branca. Destaque-se, no entanto, que o denominado terrorista por ele, é preferível chamar de membros da esquerda revolucionária que lutam por Justiça Social e contra governantes corruptos, como ocorreu em alguns países da América Latina e África, onde todos bebiam da fonte do internacionalismo revolucionário Cubano, recebendo a solidariedade do exército liderado pelo Comandante Fidel. Nenhum deles objetivava a apropriação do Estado por particulares, nem tão pouco a venda ao Capital estrangeiro das riquezas nacionais, ao contrário, rechaçavam todos essas idéias manipulados e influenciados pelo Imperialismo estadunidense.

3º) “...Todo político tem de ser bom mentiroso (está fazendo essa afirmação baseado na direita brasileira). Para ser Fidel é preciso, no entanto, ser um grande farsante. Ele é um dos maiores que a história conheceu. É presidente de uma nação paupérrima, mas vive como um cônsul romano que come lagosta quase todos os dias...”

Para fazer tal afirmação, o autor deve ter convivido durante meses com Fidel Castro, de forma familiar, tendo em vista que tal informação é publicada com exclusividade na imprensa mundial, ou seja, evidente o discurso inflamado sem argumentos sólidos que se baseiam em meras elucubrações, nada que se prove, mas tão somente um ponto de vista baseado tão somente nele mesmo.

4º) “...vive cercado de um aparato de segurança que parece um bunker ambulante...”

Lógico, não é apenas por ser Fidel, mas assim deve ocorrer com todo Chefe de Estado, e sobretudo ele que já sofreu mais de 600 (seiscentos) atentados pela Central de Inteligência Americana (CIA), muitos deles confirmados recentemente.

5º) “...o que será de Cuba depois que Fidel for se encontrar com Marx no céu dos comunistas?”

Tal questionamento não é digno de comentários, mas apenas de destaque por ter atingido, de forma desrespeitosa, elementos religiosos tais como a vida após a morte e a existência de Reino Celestial. Destaca-se tal frase apenas para demonstrar a rudeza e o desespero de tentar ofender, além da total ausência de argumentos.

6º) “...Fidel derrubou um sargento ignorante e corrupto, detestado pelos Cubanos e desprezado pelo mundo...”

O Sargento a que Fidel faz referência, no caso Fulgencio Batista, não era tão desprezado pelo mundo, na verdade mantinha boas relações com os Estados Unidos que o apoiavam.

7º) “...não fez isso apenas com seu grupo de guerrilheiros barbudos em Sierra Maestra...”

O autor demonstra total desconhecimento da História da América Latina contemporânea e da Revolução Cubana em específico, haja vista que Fidel, juntamente com Raul Castro, Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Célia Sánchez, e tantos outros, comandaram um pequeno exército de rebeldes que teve adesões posteriormente, desestabilizando e derrubando o governo de Fulgencio Batista, sem apoio externo, apenas de alguns Cubanos que residiam no exterior, de maneira que negar a atuação de Fidel e seus companheiros como sendo determinante para o êxito da Revolução Cubana, é querer negar a própria história.

8º) “...dois anos depois, aproveitou-se das rivalidades da Guerra Fria para instalar o comunismo e se tornar cliente da União Soviética...”

A parceria econômica com a ex-URSS que durou décadas originada também do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, impossibilitando assim a comercialização com quase todo o ocidente, principalmente as nações da América Latina que se viram enclausuradas pelas ditaduras financiadas pelo capital Norte Americano.

9º) “...o governo de Fidel Castro é agente do maior fracasso material da história das ditaduras latino-americanas.”

O que nos chama a atenção são os insultos, eis que o melhor nível educacional primário da América Latina encontra na referida Ilha Caribenha, além dos médicos, que em virtude da formação acadêmica bem como da sua atuação, são reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), como de excelência, de maneira que o fracasso material alegado não condiz com a realidade. Ademais, a igualdade social e igualdade de oportunidade foram alcançadas com êxito pelo sistema Socialista Cubano.

10º) “...na verdade, os indicadores sociais Cubanos pré-Fidel eram excelentes nos quesitos educação e saúde...”

Também outra afirmação sem o menor fundamento, eis que na Cuba Pré-Fidel, o índice de analfabetismo girava em torno de 23%, reduzido a quase 0% atualmente. Na saúde, por sua vez, “...a média de óbitos era de catorze pacientes por dia. Em 1947, num só dia morreram oitenta pacientes, de desnutrição e disenteria...” (A Ilha: um repórter brasileiro no país de Fidel Castro/ Fernando de Morais.- São Paulo; Companhia das Letras, 2001, p. 95), diferente, portanto, da atual situação, de maneira que não se compreende o termo excelentes quanto aos indicadores sociais quando na verdade é exatamente o oposto.

Art Pepper & Sonny Redd - Two Altos (1957)

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UPLOADER: redbhiku

Personagens:
1 & 6
Art Pepper (alto saxophone)
Jack Montrose (tenor saxophone)
Claude Williamson (piano)
Monty Budwig (bass)
Larry Bunker (drums)
2 & 4:
Sonny Redd (alto saxophone)
Pepper Adams (baritone saxophone)
Wynton Kelly (piano)
Doug Watkins (bass)
Elvin Jones (drums)
3:
Art Pepper (alto saxophone)
Russ Freeman (piano)
Bob Whitlock (bass)
Bobby White (drums)
5:
Art Pepper (alto sax)
Hampton Hawes (piano)
Joe Mondragon (bass)
Larry Bunker (drums)

gravado em: 04 de março de 1952; 29 de março de 1953; 25 de agosto de 1954; 12 de novembro de 1957.

Faixas:
1. Deep Purple (3:58)
2. Watkins Production (9:36)
3. Everything Happens To Me (3:08)
4. Redd's Head (9:13)
5. These Foolish Things (2:41)
6. What's New (3:25)

A arte de desconstruir um governo e de construir uma ilusão

ZH não produziu uma só manchete claramente questionadora de alguma política do Governo Yeda ao longo de três meses. Zero de crítica. Para o jornal, a administração Yeda ronda a perfeição, pouco importando que no mundo real arraste-se com um desempenho constrangedor. Já o Governo Lula padece nas manchetes de ZH, embora no mundo real obtenha a aprovação da grande maioria da população e a imagem do presidente seja ótima de acordo com todas as pesquisas de opinião.

Ayrton Centeno



Expostas nas bancas e nas sinaleiras, apregoadas pela publicidade em cartazes, rádio e TV, percebidas mesmo pelos mais desatentos, as manchetes de capa são o hall, o espaço mais visitado dos jornais. Mesmo quando apenas vislumbrado, captado num relance, pode-se dizer que seu enunciado se aloja, de algum modo, na mente de leitores e de não-leitores. Por conta desta alta visibilidade, sem a pretensão de ciência que não posso ter, resolvi anotar e catalogar as manchetes de Zero Hora do último trimestre.

Sabe-se que, no jornal, a criação de manchetes de capa observa, num processo de defesa e ataque, alguns padrões de conteúdo. A barragem de fogo político e ideológico destina-se, quase sempre, ao Governo Lula. Sob o ataque das letras graúdas também costumam estar a base parlamentar do governo federal, os movimentos sociais, as propostas de superação da desigualdade, o Estado brasileiro, o próprio Brasil como um país fragilizado, indigno de confiança, os aliados do Governo Lula na América Latina, notadamente Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel Castro, Rafael Correa. Aqui, tenta-se desconstruir o Brasil, Lula, seu governo, seus aliados, suas relações internacionais e seus projetos.

O afago benevolente vai para o Governo Yeda Crusius, o agronegócio, as papeleiras, o mercado e o Rio Grande. Aqui, ao inverso, a idéia é de construir o Grande Rio Grande mítico e empreendedor, cavalgando as propostas com o timbre do Piratini ou os planos de indústrias de se instalarem no Estado, muitas vezes montado apenas em intenções. Aqui, constrói-se uma quimera.

Alguém poderá dizer que não seria necessário dar-se a este trabalho já que a realidade nos informa disto suficientemente. Não deixará de ter certa razão. Mas custa apenas alguns minutos diários e uma dose de omeprazol para proteger as paredes do estômago. Além do mais, é bom escarafunchar estes escaninhos, saciar a curiosidade e perceber como se traduz em números e percentuais esta engrenagem de demolição e edificação de pessoas, partidos e poderes.

Provavelmente embalado pelo ócio de final de ano, comecei a registrar as capas sirostskianas no apagar das luzes de 2007, separando as manchetes em categorias. De pronto, descartei as vinculadas às investidas institucionais da RBS. No período, muitas capas de ZH foram dedicadas a si própria, ou seja, à agenda que implementou com sua campanha de trânsito. Neste movimento, os acidentes, as medidas das autoridades, as cifras de feridos e mortos são apropriados pela campanha e noticiados sob o logo e o slogan correspondentes. Coloquei de lado também àquelas que chamei de neutras. Somadas, as manchetes institucionais, auto-referenciadas, e as neutras são maioria absoluta no trimestre. São neutras - pelo menos dentro do proposto embora, de fato, nunca sejam neutras - geralmente as manchetes relacionadas às festas (Carnaval, Navegantes, Natal, Ano Novo), tragédias, meteorologia, ciência, polícia, esporte, etc.


Feita esta depuração e ajustando o foco apenas nas manchetes políticas, ou seja, aquelas que usam um determinado viés para gritar algo associado às disputas de poder na sociedade e que flagram como o veículo se posiciona diante destas mesmas disputas não obstante invoque o véu da imparcialidade, constata-se que 30,2% delas exploraram fatos negativos para o Governo Lula/PT/Aliados/Brasil, ao passo que somente 7,5% trataram de fatos positivos.

E, de inhapa, 7,5% das manchetes ainda abordaram negativamente fatos relacionados aos aliados latino-americanos do Governo Lula. Esta é a mão que apedreja. Em contrapartida, a mão que afaga acariciou o Governo Yeda/Aliados/Rio Grande com 40% das manchetes positivas e somente 12,5% das negativas.

Como as principais forças que comandam os dois governos são antagônicas, pode-se dizer que ZH prestou um serviço ao governo estadual e aos seus aliados, seja ao enfocar seus temas favoravelmente, seja ao enfocar desfavoravelmente seus adversários, ao publicar praticamente 80% de suas manchetes políticas. Desfavoreceu o Governo Yeda e seus aliados em 20% de suas manchetes.

O mais extravagante de tudo é que, excluídas as manchetes referentes às atribulações do pessoal do aprisco da governadora na CPI do Detran, ZH não produziu uma só manchete claramente questionadora de alguma política do Governo Yeda ao longo de três meses. Zero de crítica. De modo que, na avaliação do jornal, a administração Yeda ronda a perfeição, pouco importando que no mundo real arraste-se com um desempenho constrangedor. De outra parte, o Governo Lula padece nas manchetes de ZH embora no mundo real obtenha a aprovação da grande maioria da população e a imagem do presidente seja ótima de acordo com todas as pesquisas de opinião.

Este desligamento da realidade exterior a que Zero Hora se entrega – de resto, ao lado do PIG – desnuda um desejo de viver na fantasia autoproduzida. Um desejo legítimo, embora bizarro, se suas consequências se restringissem à pessoa física do dono do diário. O que parece anti-jornalístico e anti-democrático é usar um jornal - que pratica o marketing da pluralidade e da “vida por todos os lados” - para favorecer a visão de um lado só. Para, no limite, apresentar aos outros ficção como se fossem fatos. E fatos como se fossem ficção.

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