sexta-feira, 13 de abril de 2012

DEA americana finge ser as FARC

Written By ronaldo - livreiro


Por Aaron Mehta, do Center for Public Integrity



Agentes da Força Administrativa de Narcóticos prende traficantes de drogas e armas se passando por integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Repetidas vezes...
Em março de 2008 foram feitas negociações importantes entre o traficante de armas Viktor Bour e dois supostos integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) identificados como Carlos e Ricardo.

Durante a conversa, eles não escondem suas intenções: “Nós queremos começar… Matando pilotos Americanos” diz Carlos a Bout, e pergunta sobre armas para assalto, rifles sniper e mísseis superífice-ar.

Bout não tardaria a descobrir, quando o encontro de negócios no Hotel Bangcoc Sofitel terminou com a sua prisão, que nenhum dos dois homens era realmente das FARC. Ao contrário, eles eram agentes pagos pela Força Administrativa de Narcóticos (DEA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos.

A prisão de Bout causou grande repercussão no país na semana passada. Mas não se falou muito no fato de que o DEA conduziu não só uma grande prisão sob o disfarce de FARC, mas pelo menos quatro nos últimos seis anos. A estratégia repetida sugere duas possibilidades: aqueles no mundo do tráfico de drogas e armas são bem menos informados e preocupados do que sugerem suas imagens na cultura pop ou o DEA é particularmente bom em enganar suas vítimas com um padrão convincente de revolucionários anti-imperialistas empenhados em atingir os Estados Unidos.

Todos os casos seguem um padrão similar. O DEA prepara agentes ou operadores e os coloca em contato com traficantes de armas. Depois de um tempo, o traficante combina o comércio com os agentes – geralmente são armas “em troca de drogas fabricadas pelas FARC” (o Departamento de Justiça diz que as FARC produzem mais da metade da cocaína do mundo). Uma vez que o negócio é alcançado, os agentes do DEA apanham o suspeito e arranjam o julgamento.


Operações-FARC de sucesso:

Antes de 2008, o alvo de maior interesse era Monzer al-Kassar, um traficante de armas com um longo histórico de apoio a terroristas. A ação usando falsos representantes das FARC que o pegou foi em 2007, levando a sua prisão na Espanha e à sua extradição. Ele recebeu uma sentença de 30 anos de prisão

Em Fevereiro de 2010, o DEA trabalhou em outra armadilha para capturar Paul Mardirossian, um sueco que tinha concordado em vender para os falsos agentes da FARC granadas e rifles AK-47 – as armas seriam para atacar uma base militar dos EUA. Mardirossian se disse inocente e sua sentence é esperada para Maio, agora.

Mais tarde naquele ano, o ex-oficial do exército salvadorenho, Hector Antonio Martinez-Guillen, concordou em trocar armamentos para um ataque contra americanos para um “representante das FARC” por drogas. Martinez-Guillen foi sentenciado a 31 anos de prisão.

Por que a artimanha tem funcionado tão bem? É algo que surpreende inclusive Michael Braun, ex-chefe de Operações do DEA que ajudou a coordenar as operações que capturaram Al-Kassar e Bout.

“Nós tínhamos usado [a armadilha das FARC] para Al-Kassar e funcionou bem,” lembra. “Quando chegou a Bout eu fiquei preocupado – `por que estamos usando o mesmo esquema? Qual o risco?’ Mas quando eu falei com os agentes responsáveis pela operação, fez sentido continuar a usar esta tática”. Parte dessa decisão, diz, veio da suposição que “Bout não acreditaria que pudéssemos usar o mesmo plano”.

O testemunho de Kathi Lynn Austin, chefe do Projeto para Consciência de Conflitos – que apoia iniciativas anti-armas – no julgamento de Bout, revelou que tanto Carlos como Ricardo são veteranos do tráfico da Colômbia e da Guatemala; Carlos já havia sido contratado pelo DEA como suposto oficial das FARC no caso de Kassar.

Braun, que deixou a agência em 2008 e não participou das operações que prenderam Mardirossian e Martinez-Guillen, acredita que as FARC são um ótimo bode expiatório: “A realidade é que eles precisam e sempre precisarão de armas” diz. “Eles precisam de munição, explosivos, peças para aeronaves”. E com o controle deles sobre o tráfico de drogas, diz, fica fácil acreditar que as FARC teriam o dinheiro necessário (ou drogas para troca) às mãos para negociar.

Kathi Lynn acredita que o DEA está conduzindo essas operações para expandir território. Ela diz que no passado o DEA e a CIA frequentemente discordavam sobre quem teria a jurisdição em relação a traficantes, com a CIA sempre saindo na frente. “Eu acho que é o DEA saindo de baixo de outras agencias e se auto afirmando.”

Rusty Payne, porta-voz do DEA, disse não saber quantas outras operações de armadilha estavam relacionadas às FARC mas acrescentou que todas as operações que a agência organiza tem a ver com drogas. “A missão do DEA é desmanchar redes de tráfico de drogas”, disse ele ao Center for Public Integrity. “Nós não levantamos de manhã e pensamos que precisamos pegar mais traficantes de armas. Nós vamos onde as investigações e a inteligência nos levam e nestes casos nós aproveitamos uma oportunidade e felizmente fomos bem sucedidos.”

Mas as operações de armadilha não conseguem resultados perfeitos. Os alvos tipicamente acabam sendo presos por planejarem novos crimes, não por crimes que eles cometeram no passado. No caso de Bout, por exemplo, ele só poderia ser acusado por aquela única tentativa de vender armas para os falsos agentes das FARC, mesmo que esse caso em particular tenha levado a outras quatro acusações distintas – conspiração para matar cidadãos estadunidenses, conspiração para adquirir e usar mísseis anti-aeronaves e conspiração para fornecer material de apoio a um grupo terrorista.

Enquanto o governo poderia ter trazido outras acusações contra Bout – o Estado apresentou queixa sobre vendas de armas passadas no memorando de apresentação ao juiz – fazer isso sem fortes provas de conduta ilegal prejudicou o caso. O DEA optou pelo que foi considerado uma condenação segura, como processar um mafioso por infrações da legislação tributária.

Operações de armadilha também significam que se existe o confisco de bens do requerido, nenhuma parte desse dinheiro vai para as vítimas de seus crimes passados – então se a família de alguém foi morta devido as ações de Bout, eles não verão um centavo do seu volumoso acúmulo de bens confiscados pelo governo.

Legalmente, estas operações continuam em ação. Em 2011, um tribunal de apelações confirmou o uso delas para capturar traficantes de armas. Mas existe o risco de que as armadilhas se mostrem insuficientes para os juízes. Austin afirma que Bout pegou sentença minima, apesar de ter oferecido uma venda muito maior que al-Kassar, Mardirossian ou Martinez-Guillen. “O tribunal está ficando cansado do mesmo padrão de preseguição” argumenta.

E também há o impacto potencial de toda a publicidade dada ao caso Bout no futuro. “Eu acho que outros traficantes de armas irão pensar duas vezes antes de cair nesse mesmo tipo de armadilha,” diz Austin, “e isso fará com que eles não confiem em clientes em potencial”.

Tudo bem para Braun. “Existe um certo grau de psicologia de guerra acontecendo nesses casos” conclui. “Pense nisso. Se você fosse um traficante de armas, nesse exato momento, você gostaria de vender suas armas para as FARC?”

Clique aqui para ler o original em inglês. Tradução por Jessica Mota

Tarso convida colunista da RBS a também ter vergonha pela situação do Presídio Central



O jornalista David Coimbra perguntou hoje ao governador Tarso Genro, em coluna publicada no jornal Zero Hora, se ele não tinha vergonha da situação do Presídio Central. Para externar sua indignação com a situação dos detentos do presídio gaúcho, o colunista de ZH critica, entre outras coisas, os defensores dos animais e as manifestações a favor das bicicletas. “E os homens martirizados do Presídio Central? Ninguém se importa com eles? Onde está a solidariedade da espécie?” – pergunta Coimbra, que propõe como solução para o problema a privatização dos presídios.
O RS Urgente encaminhou ao governador Tarso Genro três perguntas sobre o tema. Eis as perguntas e a respostas do chefe do Executivo gaúcho:

Governador, qual a reação do senhor ao ver o estado atual do Presídio Central?

Acho que todos os gaúchos estão envergonhados com a situação do Presídio Central. Mas eu, particularmente, sinto-me, além de envergonhado, contente por estar orientando o governo, desde o início da gestão, para incidir fortemente sobre aquela vergonha nacional. Comecei este trabalho na época em que era ministro da Justiça, quando passei vultosos recursos para a reforma do presídio Anibal Bruno, de Pernambuco, que era tão vergonhoso como o Presídio Central. Não consegui mandar recursos para o Rio Grande do Sul porque, naquela época, as autoridades locais não preencheram os requisitos necessários para receber o dinheiro, por razões técnicas ou políticas que desconheço.
Na edição de Zero Hora desta sexta-feira, o colunista David Coimbra pergunta se o senhor “não tem vergonha” da situação. Qual a sua resposta a essa indagação?
Convido o jornalista que escreveu o isento artigo a ter vergonha comigo. Mais vergonha, talvez, porque, afinal, os dois governos que nos precederam foram eleitos com o apoio ostensivo das editorias da rede de comunicação onde ele trabalha. Os últimos oito anos de total descaso com o Presídio Central é que resultaram esta situação dramática que, paulatinamente, vamos corrigir. Ou alguém pensa que drama do presídio é resultado dos últimos 15 meses? Portanto, em oito anos de governos que foram eleitos com o ostensivo apoio dos “formadores de opinião” do jornal ao qual o referido jornalista presta o seu serviço, pouco ou nada foi feito em relação ao Presídio Central.
É bom a gente socializar a vergonha, se não parece que a imprensa é uma estrutura de poder “neutra”, composta só por pessoas puras e dotadas de incrível senso de responsabilidade pública, que não tem nenhuma responsabilidade com o que ocorre na esfera da política e nas decisões de Estado. Eu gostei do artigo. Achei muito bom o texto. Mas como represento uma instituição -o Executivo Estadual- e um projeto político -da Unidade Popular Pelo Rio Grande- convido-o a refletir sobre a herança que recebemos, cuja construção não teve o nosso apoio nem a nossa cumplicidade política, para que todos nos envergonhemos. E para que passemos a trabalhar juntos para construir um novo Rio Grande.

Na sua avaliação, a privatização é uma solução para o problema dos presídios?

Não vamos diminuir ou abdicar das nossas funções, como ocorrido em gestões anteriores. Esta é uma questão constitucional: a custódia dos detentos é responsabilidade do Estado. Qualquer empresa que entra em um negócio visa o lucro e o sistema prisional não serve para isso. Quero deixar claro que não somos contrários às PPPs. Pelo contrário, estamos encaminhando algumas. Mas elas não podem ser feitas no sistema prisional.
Em um passado recente, era de bom tom neoliberal reduzir as funções públicas do Estado, fazer promoções para demissões voluntárias, como ocorreu no governo Britto (referência para alguns como “modelo de gestão”), aplicar brutais arrochos salariais em todos os servidores, principalmente da Susepe, policiais civis e militares, terceirizar serviços e dar isenções fiscais concentradas exclusivamente em grandes empresas, deixando a base produtiva histórica do estado a ver navios. E mais, ainda restam 50 mil ações da Lei Britto para pagar, presente herdado por todos os governos que sucederam o governador Britto, ponto culminante da arrogância neoliberal no nosso estado.

Por uma infância livre de consumISMO

do blog TREZENTOS


A internet é realmente uma revolução. E quando usada para o bem, é maravilhosa. Existe um projeto de lei, que tramita há 10 anos, com o intuito de proibir a veiculação de publicidade direcionada ao público infantil. Parece radical, parece censura? Mas não é. Lembram-se da publicidade para cigarros? A propaganda de cigarro gerou a mesma polêmica e só ganhamos com a ausência das “caras de pau” das empresas e publicitários que insistiam em associar cigarro a esporte e vida saudável e bem sucedida. Uma reportagem com fumantes famosos confirma que a maioria fumou para ser moderno e se inserir no grupo social que desejavam. Hoje se arrependem pois não conseguem se livrar do vicio. Assim é a publicidade infantil. No futuro teremos criancas com a vida pautada na satisfação exclusiva pelo consumo. Comprar é viciante e a insatisfação compulsiva já se trata nos consultorios e com medicação tarja preta como antidepressivos e ansiolíticos, porque hoje, quem não consome, não faz parte da turma moderna, descolada e bem sucedida. Qualquer semelhança com o cigarro é mera coincidência?
Para completar ,  a Associação de Agências de Publicidade, criou uma ação que pretende parecer dizer que todos somos responsáveis pela infância.  À primeira vista, a gente entende que a intenção da campanha é chamar todos à reflexão mas não é isso. A campanha empenhou-se em culpabilizar exclusivamente os pais pelo controle do que os filhos assistem na TV, como se as empresas não tivessem responsabilidade nenhuma sobre o que fabricam, vendem e anunciam, e as agências de publicidade sobre suas ações de marketing para promover qualquer tipo de produto e serviço direcionado ao público infantil. Uma ação com título dúbio, com atitudes dúbias, com intenções dúbias, assim como é a publicidade voltada para crianças que não têm condições de distinguir o que é bom para elas, o que é realidade, o que é mentira e o que manipulação. Nós adultos somos ludibriados, imaginem as crianças!
Os pais ativistas da internet se uniram e reagiram na hora. E a ABAP tratou-os com um desrespeito e desprezo absurdo, apagando suas mensagens na página da campanha, manipulando os comentários, banindo comentaristas que se opunham ao que eles queriam propagar. E ainda dizendo que nós, pais, queremos censurar a propaganda e impedir a liberdade de expressão da pobre publicidade. Liberdade de expressão só deles, basta ver as regras de participacão do seu site que a gente vê a cara ditatorial e demagógica de suas intenções. Mas uma coisa importante de se tentar entender, é o que a publicidade espera dos pais quando os culpabiliza. Afinal, o que querem que façamos: ficamos em casa cuidando do lixo propagandeado excessivamente às crianças ou saimos para trabalhar como loucos para poder consumir o que eles anunciam? Fiquei confusa.
O que eles não esperavam , era encontrar pais instruídos, informados e prontos para defender o bem estar de seus filhos respondendo na mesma moeda: criaram um site para divulgar a importância de se botar um freio na farra da publicidade infantil. E o site dos pais, entitulado INFÂNCIA LIVRE DE CONSUMISMO, recheado de depoimentos, artigos técnicos, reportagens, charges e imagens  relacionadas ao tema, atingiu, em apenas 3 dias, o mesmo número de simpatizantes e apoiadores que o site da ABAP levou 1 mês para conseguir.
E em 5 dias, o site Infância Livre, conseguiu ultrapassar o site da ABAP, que vale lembrar, é mantido por uma agência de publicidade contratada, o que não acontece com a ação dos pais da internet. Isso nos leva a pensar em outras coisas. Por que a ABAP faria uma ação tão desastrosa? Por que usaria profissionais tão amadores? Por que não teria o menor constrangimento em agir com tão pouca ética com os usuários do site? Será que isso se resume em apenas uma questão: eles subestimam as famílias? Os pais? E acham que somos realmente uma massa tola e manipulável sem força nenhuma para reagir?
Hoje, a publicidade é autorregulamentada pelo CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária e isso é péssimo para a nossa sociedade a começar pelo fato que o conselho de ética da entidade tem apenas 19 pessoas representam a sociedade civil, dentre eles, seis jornalistas, três advogados e apenas um médico, enquanto as outras 136 pessoas representam anunciantes ou veículos de comunicação. Isso prova, na base, o tamanho do problema que é o 

controle da publicidade brasileira que está longe de defender os interesses da sociedade.
Por isso, esse grupo de mães e pais, que defende a infância, convida a todos a conhecer e CURTIR  esta iniciativa no Facebook . Ela tem o intuito de informar e mostrar os argumentos que levam a ver essa necessidade tão grande de se proteger nossos filhos dos malefícios de uma propaganda que é estratégicamente pensada e elaborada para encantar, que não os respeita, que os engana, que os faz acreditar numa falsa sensação de alegria e determina o que se tem como fator primordial de status social desde a mais tenra idade.  E que ao repensar a publicidade, estamos pensando na forma como estamos consumindo o planeta, já que o consumismo está na contramão da educação para o futuro e da sociedade mais sustentável que buscamos.

Gay impedido de doar sangue em BH abre debate na saúde pública brasileira


Vários países proíbem doação de sangue por homossexuais; Brasil deve exigir período de 12 meses sem relações sexuais para autorizar doação | Foto: Valter Campanato/ABr

Rachel Duarte no SUL21

A menos de um ano da nova portaria do Ministério da Saúde que prevê a autorização de doação de sangue por homossexuais, um caso em Belo Horizonte (MG) alerta para a possível necessidade de revisão de um dos critérios da mesma portaria. Danilo França, 24 anos, foi impedido de doar sangue na última terça-feira (10), por ser homossexual. De acordo com a norma do MS, baseada em estudos da Organização Mundial de Saúde, homens que tiveram relações sexuais com outros homens nos últimos 12 meses não podem doar sangue. A medida adotada de forma rigorosa pode estar mantendo viva a tese preconceituosa da década de 80, quando a Aids era associada como a “doença dos gays”.
“Era a primeira vez que estava indo doar sangue. Esperei por duas horas na fila e na entrevista respondi que tinha um companheiro fixo há mais de três anos. Na hora me foi dito que eu não poderia doar. Sai e fiquei frustrado diante do argumento da portaria e constrangido diante dos meus colegas”, contou Danilo em conversa com o Sul21.
A doação de sangue estava sendo promovida na empresa onde Danilo trabalha e não esconde a orientação sexual, por meio de um mutirão da Fundação Hemominas. Segundo ele, a entrevista com o médico na hora da doação mudou a partir do momento em que ele declarou sua orientação sexual.
Entrevista para doação de sangue segue legislação federal | Foto: Reprodução / Sul21
Depois dessa resposta, Danilo alega que o profissional da saúde reagiu de forma diferente e fez mais outras perguntas sobre a vida sexual homossexual dele. Logo após, informou, com base na apostila do Hemominas, que Danilo não poderia ser doador. “É um critério que coloca homossexuais no tal grupo de risco, como se ser gay fosse condição de risco ou de doença”, afirma.
Após o episódio, no qual Danilo conta ter passado por constrangimento diante dos colegas ao deixar a sala e dizer que não seria e porque não seria doador, o jovem buscou esclarecimentos junto ao Hemominas e ao Ministério da Saúde.
A médica responsável pelo setor de Hematologia e Hemoterapia da Fundação Hemominas, Flávia Loureiro, afirma que o trabalho dos profissionais do Hemominas na hora da triagem é padronizado dentro da legislação federal. “Nas situações de risco acrescido, como chamamos estes casos, o comportamento sexual é analisado para verificar se a pessoa esteve exposta a situações de risco de saúde”, fala. Segundo ela, o questionário aplicado em Danilo é o disponibilizado pelo Ministério da Saúde e a orientação é de não haver discriminação na conduta da triagem. “Não entendemos que o doador é inapto apenas pelo comportamento sexual. Mas seguimos as normas federais. Compreendemos a frustração de Danilo e das pessoas que são impedidas de doar sangue, que é um gesto de solidariedade e nos auxilia muito nos estoques de bolsas que salvariam outras vidas”, disse.

“A orientação sexual não deve ser usada como critério para doadores de sangue”, diz nova portaria

Em 2011, o Ministério da Saúde consolidou um importante passo para o avanço na saúde pública brasileira. Diferente dos países da União Europeia e dos Estados Unidos, a regra para inclusão de homossexuais masculinos foi flexibilizada para aceitar os gays que não tiveram relações sexuais nos últimos 12 meses. “Em outros países eles são banidos completamente”, afirma o coordenador de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez.
Segundo a nova portaria do Ministério da Saúde, “a orientação sexual (heterossexualidade, bissexualidade, homossexualidade) não deve ser usada como critério para seleção de doadores de sangue, por não constituir risco em si própria”. Porém, a mesma portaria acaba estipulando um prazo quase inviável para um homossexual com vida sexual ativa ou com companheiro fixo, como é o caso de Danilo França.
A inaptidão para doação de sangue por homens que fazem sexo com homens dentro deste prazo segue recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e está fundamentada em estudos epidemiológicos que apontam que a epidemia de HIV/Aids ainda é concentrada entre os homossexuais. De acordo com o MS, a probabilidade de contágio entre os homens que fazem sexo com homens é cerca de 11 vezes maior que entre os heterossexuais.
Guilherme Genovez: "a janela imunológica pode levar até 21 dias. Não podemos arriscar a segurança das pessoas que serão beneficiadas com o sangue depois” | Foto: Ministério da Saúde

“O problema é que, com a transmissão transfusional do HIV se deu de forma muito catastrófica no Brasil nos anos 80 e várias pessoas contaminadas na época eram homens que faziam sexo com outros homens, acabou ficando esta associação. Porém, a janela imunológica entre a exposição em uma relação sexual até o vírus ser detectado no exame pode levar até 21 dias. Não podemos arriscar a segurança das pessoas que serão beneficiadas com o sangue depois”, alerta Genovez.
Segundo ele, o percentual de casos de sorologia positiva para HIV é de até 14% nos homossexuais que fazem exame. “Muitos procuram na doação de sangue a forma de fazer o teste. Têm receio de assumir sua sexualidade ou ainda não estão bem resolvidos e optam por ser doadores quando querem testar a sorologia”, conta. Mais de 80% dos gays homens que procuram os hemocentros, procuram com a expectativa de fazer exame ou monitorar, acrescenta Genovez.

Gays não são doadores porque fazem “sexo traumático”

Nem todos os homens que fazem sexo com homens são gays, mas todos os que tiveram relações entre homens são banidos da doação de sangue. A regra do Ministério da Saúde condiciona um homossexual masculino a não ter relação sexual por um ano para poder doar sangue, e os responsáveis garantem que o critério se comprova cientificamente necessário. As relações sexuais entre homens são chamadas tecnicamente de ‘sexo traumático’ que aumenta a porta de entrada para doenças. Mulheres que admitem praticar sexo anal durante a entrevista, também são impedidas de doar sangue.
“O coito anal impede a doação, assim como as pessoas que têm relação promiscua, e isso pode ser heteros, bissexuais ou quaisquer pessoa. Mais de uma relação sexual desprotegida por ano já não pode ser doador. Tem que ser rígido para evitar os riscos de não identificar os diferentes vírus. Já aconteceu de uma bolsa de um indivíduo destes ser colocadas em bolsas de transfusão de 10 crianças na UTI neonatal de um hospital, ainda bem que evitou-se uma tragédia”, relata o coordenador do MS.

Quem faz parte do grupo de risco?

De acordo com a portaria do Ministério da Saúde também são considerados integrantes do grupo de risco as pessoas com mais de um parceiro sexual, quem tenham feito sexo em troca de dinheiro ou de drogas, vítimas de violência sexual e que tenham colocado piercing ou feito tatuagem sem condições de segurança adequada. Entre os inaptos à doação de sangue estão os que tiveram hepatite após os 11 anos de idade, usuários de drogas ou quem ingeriu bebidas alcoólicas, se expôs a situações de risco acrescido para doenças sexualmente transmissíveis ou teve gripe, resfriado ou diarréia nos sete dias anteriores à doação.
De acordo com a especialista em Hematologia e Hemoterapia da Fundação Hemominas, Flávia Loureiro, os homossexuais homens que mantiveram relação nos últimos 12 meses não são incluídos no Grupo de Risco da instituição. “A relação sexual em si já é um risco de se contrair infecção. Não adotamos conceitos de risco ou grupo de risco para relações homossexuais. O critério básico que utilizamos na saúde é a prevalência para afirmarmos quantos casos efetivamente são reais dentro de uma determinada população para podermos tomar as medidas epidemiológicas. Há países que gays podem doar sangue porque os índices epidemiológicos de gays e heteros são os mesmos já”, explica.
Um doador de sangue pode salvar até três vidas | Foto: Elza Fiúza/ABr

No Brasil, o Ministério da Saúde ainda desenvolve estudos para aplicação de novas tecnologias nos exames sorológicos. “Estamos prevendo adotar um inibidor, uma substância misturada no sangue que matará tudo que está naquele sangue. Isto permitirá não descartar nenhum doador”, fala. Outro método que poderia auxiliar na redução do tempo exigido pelo MS para os doadores homossexuais não terem relação sexual é o teste NAT, já aplicado no Hemominas. “Até o final do ano vamos disponibilizar em todo país. É um exame de biologia molecular capaz de verificar a defesa do vírus nas pessoas e reduzir o tempo da janela imunológica em até 10 dias”, explica o coordenador de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez.
Enquanto isso, Geovanez afirma que o Ministério da Saúde capacita os profissionais da saúde para um atendimento livre de preconceito na área da saúde pública. Porém, com as atuais regras, Danilo França já admite que não terá condições de doar sangue. “Eu estou em dia com minha saúde e me cuido. Mas não vou mais pensar em doar sangue se for com estas condições”, fala, sendo mais um na estatística dos não-doadores e que poderiam estar salvando até três vidas com a coleta de sangue.