sábado, 28 de fevereiro de 2009

Email de Heitor Reis - Brasil

Brasil envia 19 mil toneladas de solidariedade a Cuba........ .por quién merece amor!

Beto Almeida, jornalista

O Governo Lula doou a Cuba 19 mil toneladas de arroz para enfrentar os graves problemas causados pela passagem de três furacões que devastaram a ilha em outubro passado, o Ike, o Gustav e o Hannah. Uma expressão de solidariedade deste porte não pode passar sem merecer reflexões amplas, especialmente num momento em que o mundo registra principalmente é movimentação de armas. Enquanto Brasil doa arroz, os EUA seguem com o contínuo abastecimento de armas para Israel.

O carregamento de arroz - o equivalente a 718 caminhões - saiu do porto gaúcho de Rio Grande no dia 10 de Fevereiro e está por aportar em Havana por estes dias, levado por 3 navios cedidos pela Espanha, que, com isto, também participa desta operação de solidariedade a Cuba.

Os furacões também arrasaram o Haiti e Honduras, países que também receberão doações brasileiras, logo a seguir. Houve escassa divulgação sobre esta doação do governo brasileiro, apenas discretos registros na imprensa do sul, mas, no total ela representará 44,4 mil toneladas de arroz. Além disso, serão enviadas aos três países, em um terceiro carregamento ainda sem data prevista, 1.105 toneladas de leite em pó e 4,5 toneladas de sementes de frutas, verduras e legumes, produzidos pela agricultura familiar.

Fidel: como um ataque nuclear

Segundo o Itamaraty , somente no Haiti, as tempestades deixaram pelo menos 800 mortos e 800 mil desabrigados. Em Cuba, foram sete mortes e perdas calculadas em US$ 10 bilhões, com meio milhão de casas danificadas ou destruídas e centenas de milhares de hectares de plantações arrasados. O ex-líder cubano Fidel Castro chegou a comparar as imagens de destruição na ilha às que testemunhou na cidade japonesa de Hiroshima após a detonação da bomba nuclear.

É aqui exatamente onde se faz mais necessária uma reflexão bem atenta sobre o significado desta ajuda, retirada dos estoques públicos geridos pela Companhia Brasileira de Abastecimento e que conta com expressiva produção de responsabilidade da agricultura familiar.

Os jornalistas que acompanham há mais tempo as passagens constantes de furacões sobre o Caribe, podem observar uma diferença sobre o comportamento da sociedade cubana, de sua defesa civil, a unitária e disciplinada mobilização de seu povo. Com toda a lamentável destruição que ocorre, sobretudo em habitações, na agricultura e também no setor elétrico, é possível verificar que o caráter socialista da sociedade cubana permite sim minimização das perdas humanas. Pode-se alegar que em se tratando de furacões é difícil comparar as perdas cubanas, as 7 mortes em Cuba, com os mais de 800 que morreram no Haiti, país que vive um crise humanitária, uma tragédia social densa, além de estar sob a presença de Tropas da ONU, cuja permanência foi solicitada pelo presidente René Preval logo após sua eleição com expressivo apoio popular, superior a 73 por cento dos votos.

O que vale registrar é que em Cuba, diante da ameaça de uma catástrofe natural, todos os instrumentos do estado e da sociedade se mobilizam de modo integrado, sobretudo os meios de comunicação, atuando em sintonia completa com a Defesa Civil, com o intuito de salvar vidas. Lá não há mídia privada que não pode suspender sua programação para difundir diretrizes de evacuação de regiões que serão mais afetadas pelos furacões. Aqui só mudam a programação para explorar o sensacionalismo mórbido como na tragédia da adolescente Eloá, sempre na linha do vale-tudo pela audiência. Quem manda na programação é o departamento comercial. Em Cuba não há mídia privada, salvar vidas é obrigação, é a pauta fundamental.

Assim, com este esforço unitário que inclui órgãos do Estado, as Forças Armadas Revolucionárias, a Defesa Civil, os sindicatos, os meios de comunicação, os Comitês de Defesa da Revolução, o sistema de saúde, é possível em poucas horas evacuar contingentes de um milhão e meio de cubanos. Só isto já é uma façanha, pois estamos falando de mais de 10 por cento da população cubana aproximadamente, que hoje alcança pouco mais de 11 milhões de habitantes. Imaginemos o esforço que deveria ser feito, a magnitude da logística requerida se necessário fosse evacuar, em poucas horas, diante de uma ameaça climática, a 10 por cento do povo brasileiro, ou seja, algo como 19 milhões de seres humanos. Sabemos que sequer conseguimos resolver a contento ainda operações muito mais simples como a da documentação dos cidadãos, a do registro das crianças recém-nascidas, estamos sendo obrigados a dispensar boa parte dos recrutas pela impossibilidade de oferecer-lhe a refeição adequada nos quartéis.

Jornalismo de desintegração

Sim, o Brasil ainda não resolveu muitos problemas de séculos atrás, como diz o próprio presidente Lula, mas foi capaz de ter a sensibilidade social de enviar 19 mil toneladas de solidariedade para a Cuba que tanto merece amor. Seria necessário divulgar muito mais o que está ocorrendo de fato junto com o envio dessas toneladas de arroz-solidário. Era até mesmo necessário que a TV Brasil estivesse nos navios espanhóis que fazem o transporte para contar esta história de integração que caminha, mas que nem é compreendida adequadamente, seja porque a comunicação não opera, seja porque há a atuação do jornalismo da desintegração. Refiro-me aquela certa mídia que afirma que integração é pura retórica itamarateca.

Antes das 19 mil toneladas de arroz solidário, já haviam ido para a Ilha rebelde o braço da Emprapa, da Petrobrás. Multiplicam- se os acordos de cooperação, os volumes de comércio, os laços culturais. Há quem não queira ver.

Sangue brasileiro em solo cubano

Mas, entre Cuba e Brasil os laços de solidariedade - ternura entre os povos - são muito mais antigos, sempre mal divulgados. Lutaram no Exército de Libertação Nacional de José Marti dois brasileiros, dois cariocas. Essas 19 mil toneladas de arroz aportam em solo irrigado pelo sangue de dois brasileiros que atenderam ao chamado revolucionário de Marti para a luta de libertação de Nuestra América. Solo fértil. Lá ficaram, junto com José Marti, também abatido em combate. Já havíamos doado sangue ao povo cubano.

Em outros momentos, brasileiros e cubanos também estiveram de alguma forma juntos, como, por exemplo, na luta de libertação de Angola. Trezentos e cinqüenta mil cidadãos cubanos, homens e mulheres, incluindo a filha do Che, tomaram em armas e foram para Angola lutar contra o exército sul-africano que invadia a terra do poeta Agostinho Neto, que pessoalmente solicitou ajuda a Fidel Castro. A sanguinária democracia dos EUA apoiando o exército do Apartheid de um lado e Cuba lutando ombro a ombro com os angolanos do outro. O Movimento Negro brasileiro não mandou uma aspirina em solidariedade aos angolanos. Na Batalha de Cuito Cuanavale, 1988, os nazis do apartheid da África do Sul foram finalmente derrotados, levando Mandela a declarar: “ a Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid!!!” O Brasil tinha sido o primeiro país a reconhecer a independência da República Popular de Angola, o que levou Henry Kissinger, então secretário de estado dos EUA, a vir ao Brasil para reclamar de Ernesto Geisel , afirmando que o Brasil estava fazendo o jogo dos comunistas, estava junto com Cuba, etc. Geisel respondeu apenas: “a política externa brasileira não está em discussão com o senhor!” Houve um tempo em que chanceleres brasileiros tiravam o sapato diante de ordens desaforadas de qualquer guardinha de alfândega....

Furando bloqueios

Hoje o Brasil envia 19 mil toneladas de arroz para Cuba e dá uma banana para a tal lei Helms-Burton, fura o bloqueio com solidariedade, para lá envia a Embrapa e a Petrobrás. Com o apoio da Espanha de Zapatero. Antes, a Espanha de Aznar, mandava tropas para o Iraque, operava no Golpe de Abril de 2002 contra Chávez...

Por quem merece amor....

Solidariedade não se discute a quem, mas esta é matéria que Cuba pode dar aulas de sobra. Existem hoje profissionais de saúde cubanos em mais de 70 país. Apenas na Venezuela trabalham 23 mil médicos cubanos. No Timor Leste também encontram-se 350 médicos cubanos em missão de solidariedade. O presidente timorense, o jornalista e poeta Ramos-Horta, contou-me que o Embaixador dos EUA tentou pressionar para que Timor rejeitasse a ajuda cubana. Ramos, com a sabedoria humilde dos timorenses, apenas perguntou ao embaixador norte-americano quantos médicos seu país havia enviado para aquela ilha que antes foi um Vietnã Silencioso, dado seu heroísmo e dignidade, escondidos de modo vil pela mídia controlada pela indústria bélica e pela ditadura petroleira internacionais. O gringo vestiu a carapuça. Há mais médicos e professores cubanos em todos os continentes do que profissionais de todos os países ricos de idêntica especialização , somados. Mas, se a continha fosse de soldados.... ....

A Venezuela já foi declarada pela Unesco “Território Livre de Analfabetismo” , e lá estavam os professores e pedagogos cubanos para assegurar esta conquista. Ser livre é ser culto, diz Marti. Da mesma maneira, quando em dezembro último a mesma Unesco - mais acostumada nos últimos tempos a contabilizar a devastação da educação pública no mundo - declarou oficialmente a Bolívia como “Território Livre do Analfabetismo” , lá estavam os professores cubanos, com o seu método de alfabetização “Yo si puedo”, prestando sua solidariedade para tirar o povo boliviano das trevas da ignorância neoliberal.

Doando médicos, professores, pedagogia

Aliás, este método de alfabetização também foi adaptado por pedagogos cubanos para aplicação via rádio no Haiti, em dialeto creolo. A observação é simples: um país que já extirpou a praga do analfabetismo há mais de 48 anos coloca agora seus profissionais a serviço de outros povos buscando soluções para problemas sociais que já não existem mais ali entre cubanos. De certo modo, lá no Haiti brasileiros e cubanos também encontram-se novamente juntos. Seus esforços de algum modo coordenam-se favoravelmente. A integração se dá. Os 500 médicos cubanos que estão no Haiti são, na prática, a espinha dorsal do que resta do serviço de saúde pública daquele país em colapso e o Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro lá está a construir fossas, pavimentar ruas e estradas, obras de saneamento. O tema é provoca polêmicas, inclusive por vários movimentos sociais, mesmo assim é central considerar declaração do Comandante Fidel Castro em 2006: “eu prefiro tropas brasileiras do que mariners dos EUA no Haiti. Revelando a com quê concepção geopolítica, portanto com quê visão estratégica ampla avalia a questão.

Do mesmo modo, cabe registrar que este mesmo método de alfabetização cubano está sendo adaptado e aplicado entre indígenas na nova Zelândia e em inúmeros Assentamentos da Reforma Agrária do MST aqui no Brasil sempre combinando o uso do livro e da televisão, incluindo a participação, no caso brasileiro, de alguns artistas de telenovela, igualmente solidários com os mais necessitados.

Cuba, Katrina e Tusinami

O desastre do furacão Katrina nos Eua foi duplo: a catástrofe natural ceifou muitas vidas, mas foi agravada pela catástrofe da criminosa negligência dos administradores públicos que deixaram a população de Nova Orleans no deus-dará e dizendo-lhes apenas, “virem-se”. Quê diferença da mobilização disciplinada para evacuação de milhões de cidadãos em Cuba em poucas horas!!! Citemos os números: em Cuba, mais de 500 mil residências destruídas, porém, apenas 7 mortes. Uma vida perdida é sempre uma vida perdia, mas o aqui o valor da consciência, da solidariedade, do sentimento coletivo é o eixo central pois nestas evacuações, os médicos de família acompanham seus pacientes, cuidando inclusive que os animais domésticos também sejam evacuados coordenadamente, especialmente pelo efeito emocional positivo que têm sobre as crianças. É o modo como uma sociedade socialista trata seus animais. A solidariedade , por meio de políticas públicas, chega até estes.

Cuba imediatamente ofereceu aos EUA um total de 1200 médicos para cuidar da população flagelada pelo Katrina, ajuda prontamente rejeitada pelo então presidente Bush, mais preocupado em enviar soldados para o Iraque que em receber médicos cubanos. Como é possível que a poucas horas da passagem devastadora do furacão em Nova Orleans haja a oferta de 1200 médicos prontos para embarcar para os EUA? Já estão sempre preparados para ajudar outros povos! E como é possível que o país mais rico do mundo não tenha tido a capacidade, até hoje, de reconstruir o que foi destruído pelo furacão, deixando patente, sobretudo, o desprezo pelas populações negras que perderam suas casas, seus móveis etc.?

Eis aí um aspecto que diferencia fundamentalmente as sociedades: algumas são capazes de cuidar dos seus, mas também cuidar dos mais necessitados, mesmo que estejam em outro país, a civilizada capacidade de oferecer solidariedade. Por isso, é também importante registrar que a Venezuela continua doando para as populações pobres dos EUA óleo combustível a ser usado para a calefação neste período de frio. Sim, é comum a morte por frio entre os pobres nos EUA. E lembrando que em Cuba encontram-se hoje 500 jovens dos EUA, pobres e negros moradores do Harlen, a estudar gratuitamente na Escola Latino-Americana de Medicina.

Até os elefantes se salvaram...

Da mesma forma que no Katrina, também no Tsunami também ficou demonstrado o desprezo pelo salvamento de vidas. Quando os aparelhos eletrônicos dos EUA detectaram os tremores no fundo do mar, imediatamente foi possível calcular seus possíveis efeitos, o maremoto arrasador. Tanto é assim que rapidamente as embaixadas dos EUA na região foram orientadas sobre o que poderia vir. As aeronaves da base naval norte-americana da Ilha de Diego Garcia foram colocadas em área protegida. Sabia-se o que estava por vir em algumas horas. Horas suficientes para serem utilizadas na informação preventiva, mobilizadora, para organizar um operação de evacuação gigantesca. Tanto é que elefantes que percebem os tremores subterrâneos captaram a mensagem da natureza e fugiram para lugar seguro. Os elefantes escaparam!

Mas, a magnífica parafernália de comunicação hoje em mãos da humanidade para integrar bancos, bolsas de valores, esquadras navais, satélites, internet, para operações com capitais especulativos, não foi usada para salvar vidas! Se fosse um colapso bancário, em segundos todos os países do mundo estariam informados. Mas, era um maremoto que estava se formando a partir das súbitas mudanças das placas tectônicas no fundo do mar, não era mudança de capital. Havia o espaço de tempo necessário para salvar vidas se todos os meios de comunicação, os satélites, as rádios e televisões, trabalhassem com o sentido humanitário, com o espírito de missão pública, com a consciência de que se pode sim salvar vidas, como se faz em Cuba quando vêm chegando os furacões. A tecnologia, sem consciência solidária, de nada vale quando se trata de salvar vidas, apenas isto.

Assim, aprendamos todos com esta página de solidariedade que está sendo escrita agora pelo Brasil, coerente com uma política de integração. Militares brasileiros da Aeronautica participaram de operações de salvamento de flagelados quando das devastadoras inundações na Bolívia há alguns meses. Participaram também, recentemente, indicados pelas Farc, mas com a concordância do governo da Colômbia, da operação de resgate humanitário dos reféns coordenada pela Cruz Vermelha nas selvas do país vizinho. Mas, esta página tem muitos antecedentes, sobretudo inúmeras páginas nobres que Cuba já escreveu na história da solidariedade internacional dividindo generosamente seus escassos meios com outros povos mais necessitados.

Assim, o arroz solidário brasileiro vai para quem merece amor, como na canção de Silvio Rodriguez.

Beto Almeida

Diretor de Telesur

Mafiosos da Mídia mostram a cara:


Para eles, a Ditadura foi mesmo branda...

André Lux


Como todo mundo já deve saber, um desses asnos de terno e gravata que se prostituem para o PiG em troca de uns trocados e tapinhas nas costas, chamou na Folha de S. Paulo (panfleto neoliberal do PSDB) de "ditabranda" a Ditadura que destruiu o Brasil por 21 anos e prendeu, torturou e/ou matou centenas de brasileiros - inclusive velhos, mulheres e crianças.

O que dizer de alguém que escreve uma asneira dessas, exceto que se trata de um asno? Humano é que não é. Se bem que chamá-lo de asno é uma ofensa a esse animal irracional, porém pacato e inofensivo.

Tudo bem o sujeito não gostar do regime cubano ou dos presidentes eleitos democraticamente Hugo Chávez e Evo Morales, agora precisa tentar reescrever a história e ofender qualquer pessoa de bom senso inventando um termo grotesco só para agradar o playboy ridículo que lhe paga o salário?

Acho que todo mundo está careca de saber que TODA a imprensa tupiniquim não apenas apoiou, como clamou pelo Golpe Cívico-Militar que derrubou o presidente João Goulart, democraticamente eleito, colocando em seu lugar um bando de milicos babões que, entre outras aberrações, transformaram o Brasil no país mais desigual e corrupto do mundo.

Sim, existiram exceções e muitos jornalistas que trabalhavam para essa imprensa golpista e anti-democrática certamente eram contra o apoio dado à Ditadura pelos donos da mídia. Jornalistas que pagaram caro pela sua rebeldia contra o arbítrio e a covardia, como Vladmir Herzog, morto depois de ser barbaramente torturado pelos cães de guarda do regime apoiado pelos Frias, Mesquitas, Marinhos e outros mafiosos que vendem mentiras que visam atender seus interesses financeiros ou políticos travestidas de "informações".

Hoje, posam de vestais da defesa da democracia e da ética, porém ficaram milionários mamando nas tetas daquele governo de exceção, enquanto centenas de pessoas eram barbaramente torturadas e assassinadas covardemente.

Alguns, mais caras-de-pau, exibem provas de que foram censurados para dizer que nunca foram favoráveis ao regime. Mentira! A Folha, por exemplo, nunca sofreu qualquer tipo de censura. O Estadão, jornal cujos ex-donos lamentam o fim da escravidão até hoje, chegou a ser censurado, mas não por defender a volta da democracia e sim por ter apoiado a ala dos milicos que foi derrotada no golpe-dentro-do-golpe que aconteceu em 1968.

A rede Globo então, nem se fala. Funcionava como porta-voz oficioso da Ditadura e assim permanece até hoje - não ficaria chocado se soubesse que Ali Kamel, o torquemada da central de "jornalismo" da Globo, tem uma foto do general Garrastazu Médici, o carrasco, pendurada em cima da sua cama.

O meu amigo blogueiro Eduardo Guimarães, do Cidadania.com, está organizando mais um protesto em frente ao feudo dos Frias. Eu estarei lá. Confira abaixo a programação e compareça! Precisamos mostrar a esses canalhas desumanos que eles não detém mais o monopólio da palavra e da opinião.

PROTESTO CONTRA A "DITABRANDA" DA FOLHA
DIA: Sábado, 7 de março,
HORÁRIO: às 10 horas da manhã.
LOCAL: Folha de São Paulo, Rua Barão de Limeira, no centro de São Paulo.

Georges Labica


Um dos filósofos marxistas mais talentosos do século XX.

Por Miguel U. Rodrigues. Portugal

- Um Humanista Revolucionário que amava a Palavra, o Pensamento e a Vida

Resumo

Georges Labica faleceu no dia 12 de Fevereiro em Saint Germain en Laye, França. A esse amigo e colaborador de odiario.info, que foi um dos filósofos marxistas mais talentosos e criativos do século XX, dedica Miguel Urbano Rodrigues este artigo.

Foi pelo telefone que falamos pela primeira vez há uns dez anos.

Eu estava em Paris com Henri Alleg e pedira-lhe que encontrasse editor para o livro de uma amiga chilena.

Ele comentou: vais expor o caso a um camarada mais indicado do que eu para isso. Pegou no telefone ligou para Georges Labica, trocaram algumas palavras, e passou-me o aparelho. Eu conhecia dois ou três dos seus livros, admirava-o, mas senti algum acanhamento com a situação. Logo se desvaneceu.

Tive a estranha sensação de falar com alguém muito próximo, pelo tom de quase intimidade que imprimiu ao nosso breve diálogo. Foi o prólogo de uma futura amizade que não parou de crescer.

Georges visitou o Alentejo pela primeira vez em 2004. Chegou para participar no I Encontro Civilização ou Barbárie, em Serpa.

A velha cidade da Margem Esquerda do Guadiana produziu nele um efeito de deslumbramento.

As muralhas medievais, as ruelas tortuosas, o casario branco, a transparência do céu azul, a vastidão silenciosa dos montados, a atmosfera humana, fascinaram-no.

Nadya, a sua mulher, uma Kabila que aos setenta anos faz pensar, pela beleza e pela figura, numa princesa das Mil e Uma Noites, sentiu-se também enfeitiçada.

Georges e Nadya gostaram tanto que voltaram. Ele retornou a Serpa para fazer uma conferência e, posteriormente, para intervir no II Encontro Civilização ou Barbárie.

- Sabes – confidenciou uma tarde, sorvendo com vagar um café no pátio da residencial onde estava hospedado – sentir-me numa cidade governada há três décadas por comunistas, onde a fraternidade nos envolve de manhã à noite, mergulha-me num mundo sonhado cujas portas não fomos capazes de abrir. Os comunistas do teu Alentejo fazem-me regressar à juventude, quando acreditávamos que iríamos transformar rapidamente o mundo e concretizar o projecto de Marx.

As visitas de Georges Labica a Portugal foram ignoradas pela comunicação social caseira com excepção de um pequeno semanário de Beja, o «Alentejo Popular», que o entrevistou.

Essa atitude não surpreende. Os jornais ditos de referência e os e canais de TV portugueses não identificam qualquer interesse noticioso na vinda ao país de um intelectual com a envergadura do autor do “Dicionário Crítico do Marxismo”.

O Filósofo e a Obra

Georges Labica, foi na minha opinião um dos filósofos marxistas mais criativos do século XX.

A sua contribuição como professor e pensador foi importantíssima para que sucessivas gerações – primeiro na Universidade de Argel, depois na Universidade de Nanterre,em Paris – se aprofundassem na compreensão da obra, da mundividência e do projecto do autor de “O Capital”.

Na sua obra vastíssima livros como “O Estatuto Marxista da Filosofia”; “O Paradigma do Grande Hornu-Ensaio sobre a Ideologia»; ”De Marx ao Marxismo»; «Frederick Engels, sábio e revolucionado” e sobretudo o “Dicionário Crítico do Marxismo” são trabalhos fundamentais numa época em que o fim da URSS funcionou como estímulo à capitulação de milhares de intelectuais progressistas e transformou em moda a satanização do marxismo.

Pensador consciente de que a reflexão sobre o homem e a transformação da vida exigem a abertura ao universal, Labica adquiriu desde a juventude uma cultura humanista que lhe permitiu escrever sobre acontecimentos e personalidades muito diferentes que intervieram, por vezes decisivamente, no movimento da história, influenciando-lhe o rumo. Estão nesse caso ensaios sobre Ibn Kaldhoun, as Teses de Marx sobre Feuerbach, Lenin, Robespierre, Labriola e outros.

Essa faceta da sua personalidade ajuda a compreender a trajectória do pensador para o qual a participação militante nas lutas sociais do seu tempo era complemento indispensável do trabalho criador do filósofo.

Não se limita como outros à reflexão sobre a obra de Marx. Ao aplicar o marxismo à compreensão do mundo contemporâneo, ao utilizar o método do mestre para o entendimento de fracassos na transição do capitalismo para o socialismo, e para a análise do presente, inova, revela uma poderosa criatividade.

O fim da sua actividade docente permitiu-lhe intensificar as colaborações em revistas e outros media progressistas e participar com mais frequência em Congressos e Seminários Internacionais promovidos por partidos e movimentos revolucionários. Correu então muito pelo mundo, da Europa à Africa, de Havana ao Médio Oriente.

O Revolucionário

Foi nessa fase da sua vida que cimentamos a amizade que nos unia.

Comunista desde a juventude, afastara-se do PCF por não se rever mais num Partido que, participando no governo da gauche plurielle, avalizara uma política neoliberal tão reaccionária que – recordava – privatizara mais empresas do que, juntos, os governos de direita de Balladur e Juppé.

“Deixei o Partido ouvi-lhe desabafar um dia – para continuar comunista!”

Respeitado inclusive pelos inimigos, Labica conseguia com frequência nas suas intervenções em Encontros Internacionais, transmitir mensagens ideológicas de grande rigor teórico que findavam em apelos à acção revolucionária.

Conheci poucos comunistas como ele com os quais me tenha sentido tão plenamente identificado nos terrenos da ideologia e da praxis.

Fez do eticismo na política, como na vida quotidiana, uma exigência permanente. Essa fidelidade difícil a princípios e valores revolucionários criou-lhe ao longo da vida embaraços e antipatias mesmo entre camaradas. Era um marxista incómodo.

Como comunista não calava críticas aos mais altos dirigentes revolucionários quando as tinha por necessárias. Era incompatível com todas as modalidades de populismo e com opções tácticas que envolviam concessões ideológicas. Recordava a opinião de Lenin para o qual o taticismo era uma forma de oportunismo.

Mais de uma vez o vi permanecer sentado em actos públicos em que a quase totalidade dos presentes aclamava com entusiasmo um líder carismático cujo discurso resvalara para a demagogia.

O Humanista

Georges Labica desenvolvera um grande afecto pela América Latina. Falava com fluência o castelhano, conhecia bem a história atormentada do período colonial e a história das revoluções do século XX no Continente, desde a mexicana à venezuelana, e obviamente a cubana. Essa intimidade com o passado, remoto ou recente, de sociedades tão diferentes das europeias permitia-lhe um contacto directo com as pessoas nas cidades e nos meios rurais.

Coincidimos mais de uma vez em Caracas e no México. Esses encontros eram extremamente gratificantes para mim e minha companheira pela amizade que nos ligava a Georges e a Nadya.

Não esqueci uma manhã em Coyocan, na Cidade do México, quando visitámos a Casa de Frida Kahlo e Diego Rivera que todos admirávamos e, depois, aquela onde viveu e foi assassinado Trotsky.

Horas como essas abriam portas para intermináveis conversas posteriores sobre a bela e inquietante aventura do Homem empurrado hoje para o abismo por um sistema de poder monstruoso, que ameaça a própria continuidade da vida na Terra.

No Palácio Nacional, implantado na gigantesca Praça do Zocalo, a contemplação dos frescos de Rivera, como maravilhoso painel da história terrível e maravilhosa do seu povo, convidam, quase obrigam, a uma meditação serena e enriquecedora sobre a vida, as grandezas e misérias do homem, a sua caminhada para um futuro insondável, e os seus medos, impotência e insignificância.

Conversar com Georges ajudava a transformar o conhecimento em cultura num processo de assimilação difícil de compreender e explicar.

E difícil porque ele foi também um pensador que amou com paixão a palavra. Poderia ter sido como outros, um filósofo grande e um revolucionário íntegro e ético e um mau escritor. Mas Georges Labica, ao lançar pontes harmoniosas entre as ideias e a linguagem que as expressa, criou e dominou um estilo que fez dele um grande escritor. Ao ler alguns ensaios do seu último livro, A Teoria da Violência, recordo os grandes clássicos franceses do século XVIII, porque a forma e a essência do pensamento se fundem harmoniosamente, inseparáveis.

No final de um almoço, no seu apartamento de Saint Germain en Laye, onde quadros e objetos de arte conduzem o visitante a imaginar a caminhada de Georges pelas estradas do mundo, Nadya fez uma confidência de que guardo memória:

- Quando o vi pela primeira vez numa aula, no liceu onde ele era professor, eu era uma jovem da Kabilia que saía da adolescência. Mas pensei “este jovem vai ser o homem da minha vida”. E foi. Estamos casados há meio século e amo-o como nos anos da juventude.

Por mim, falo da amizade que cresceu com a admiração.

Aprendi com o rodar do tempo que o sentimento da amizade é muito diversificado. Incluo o que me ligava a Georges Labica entre os menos comuns.

Ele tinha o poder de transmitir confiança quando me escrevia, manifestando apreço pelos meus modestos escritos e identificação com posições e ideias que eu assumira.

É reconfortante a certeza de que a obra e o exemplo de Georges Labica vão sobreviver ao seu desaparecimento físico.

Vila Nova de Gaia,16 de Fevereiro de 2009

O original deste artigo encontra-se em www. odiario.info