segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Atualizar a pedagogia face ao mundo mudado





Leonardo Boff * Adital 
 

Séculos de guerras, de confrontos, de lutas entre povos e de conflitos de classe nos estão deixando uma amarga lição. Este método primário e reducionista não nos fez mais humanos, nem nos aproximou mais uns dos outros e muito menos nos trouxe a tão ansiada paz. Vivemos em permanente estado de sítio e cheios de medo. Alcançamos um patamar histórico que, nas palavras da Carta da Terra, "nos conclama a um novo começo". Isto requer uma pedagogia, fundada numa nova consciência e numa visão includente dos problemas econômicos, sociais, culturais e espirituais que nos desafiam.
 Esta nova consciência, fruto da mundialização, das ciências da Terra e da vida e também da ecologia nos está mostrando um caminho a seguir: entender que todas as coisas são interdependentes e que mesmo as oposições não estão fora de um Todo dinâmico e aberto. Por isso, não cabe separar mas compor, incluir ao invés de excluir, reconhecer, sim, as diferenças mas também buscar as convergências e no lugar do ganha-perde, buscar o ganha-ganha.
Tal perspectiva holística vem infuenciando os processos educativos. Temos um mestre inolvidável, Paulo Freire, que nos ensinou a dialética da inclusão e a colocar o "e" onde antes púnhamos o "ou". Devemos aprender a dizer "sim" a tudo aquilo que nos faz crescer no pequeno e no grande.
Frei Clodovis Boff acumulou muita experiência trabalhando com os pobres no Acre e no Rio de Janeiro. Na esteira de Paulo Freire, entregou-nos um livrinho que se tornou um clássico: "Como trabalhar com o povo". E agora face aos desafios da nova situação do mundo, elaborou um pequeno decálogo daquilo que poderia ser uma pedagogia renovada. Vale a pena transcrevê-lo e considerá-lo pois nos pode ajudar e muito.
1."Sim ao processo de conscientização, ao despertar da consciência crítica e ao uso da razão analítica (cabeça). Mas sim também à razão sensível (coração) onde se enraizam os valores e de onde se alimentam o imaginário e todas as utopias.
2. Sim ao "sujeito coletivo" ou social, ao "nós" criador de história ("ninguém liberta ninguém, nos libertamos juntos"). Mas também sim à subjetividade de cada um, ao "eu biográfico", ao "sujeito individual" com suas referências e sonhos.
3. Sim à "praxis política", transformadora das estruturas e geradora de novas relações sociais, de um novo "sistema". Mas sim também à "prática cultural" (simbólica, artística e religiosa), "transfiguradora" do mundo e criadora de novos sentidos ou, simplesmente, de um novo "mundo vital".
4. Sim à ação "macro" ou societária (em particular à "ação revolucionária"), aquela que age sobre as estruturas. Mas sim também à ação "micro", local e comunitária ("revolução molecular") como base e ponto de partida do processo estrutural.
5. Sim à articulação das forças sociais sob a forma de "estruturas unificadoras" e centralizadas. Mas sim também à articulação em "rede", na qual por uma ação decentralizada, cada nó se torna centro de criação, de iniciativas e de intervenções.
6. Sim à "crítica" dos mecanismos de opressão, à denúncia das injustiças e ao "trabalho do negativo". Mas sim também às propostas "alternativas", às ações positivas que instauram o "novo" e anunciam um futuro diferente.
7. Sim ao "projeto histórico", ao "programa político" concreto que aponta para uma "nova sociedade". Mas sim também às "utopias", aos sonhos da "fantasia criadora", à busca de uma vida diferente, em fim, de "um mundo novo".
8. Sim à "luta", ao trabalho, ao esforço para progredir, sim à seriedade do engajamento. Mas sim também à "gratuidade" assim como se manifesta no jogo, no tempo livre, ou simplesmente, na alegria de viver.
9. Sim ao ideal de ser "cidadão", de ser "militante" e "lutador", sim a quem se entrega, cheio de entusiasmo e coragem, à causa da humanização do mundo. Mas também sim à figura do "animador", do "companheiro", do "amigo", em palavras pobres, sim a quem é rico de humanidade, de liberdade e de amor.
10. Sim a uma concepção "analítica" e científica da sociedade e de suas estruturas econômicas e políticas. Mas sim também à visão "sistêmica" e "holística"da realidade, vista como totalidade viva, integrada dialeticamente em suas várias dimensões: pessoal, de gênero, social, ecológica, planetária, cósmica e transcendente."

* Teólogo, filósofo e escritor

Paulo Henrique Amorim: o PiG vai morrer no próximo governo

Comentário extraído de uma manchete do UOL com a trepidante informação de que o caseiro não conhecia o contador, mas sabia que o jardineiro passava em frente à casa do padeiro, às 03h57 da manhã:

O Serra, tenho que ir dormir, trabalho de madrugada. Só dei uma passadinha aqui pra dizer ao Senhor que acabei de vê-lo na televisão. Era uma reportagem de outubro de 2009. Dizia que o sigilo do Senhor, de sua família, do Lula e família também, havia sido violado. É que tá parecendo que o senhor anda mentindo descaradamente agora, não é não??? Fica mais grave ainda aquela coisa de correr qualquer risco e usar qq arma para ganhar uma eleição, até usar a filha. Eu vou de Dilma, a vovó do ano!!!!


O Alexandre se refere a esse vídeo devastador, com a reportagem do SBT sobre o vazamento de 17 milhões de contas na Receita. Veja aí que o Zé Baixaria (José Serra) acha absolutamente normal que, numa esquina da capital do Estado que ele governa, se vendam disquetes com o sigilo dele e da filha. Normal.

(Outra coisa, amigo navegante: por que será que, entre milhões de violações, o vazador — quem será? — só vaze nomes de tucanos amigos do jenio? Que coincidência, não?)

O Conversa Afiada está convencido de que o sigilo é mais um problema do PiG (*) do que do Zé da Baixaria. O Zé, que já foi Pedágio e Alagão, o Zé Baixaria já sabe que o sigilo da filha não ganha a eleição.

Mas, o PiG (*) tem que tentar até o último traque. Dificilmente o PiG (*) resiste a outros quatro anos de governo trabalhista. A Globo, O Globo, a Veja e a Folha (**), nessa ordem, devem estar na linha de tiro do próximo governo.

É óbvio que o próximo governo vai ter que rever a Lei da Radiodifusão, de 1963! É obvio que a não revisão só ajudou a Globo. E a revisão prejudicará a Globo.

Quando Lula assumiu, a Globo, com 50% da audiência, engolia 90% da verba publicitária oficial. Ou seja, o Farol de Alexandria (Fernando Henrique Cardoso) subsidiava a Globo: a Globo levava 90% e entregava 50%. Pode?

Isso já mudou e vai mudar mais. Hoje, com 44% da audiência, a Globo leva 48% da verba oficial. Qualquer redução do market share e a Globo não aguenta manter a programação que tem hoje no ar. Não aguenta comprar filmes. Fazer novelas tão caras. Comprar o Brasileirão e a Copa do Mundo. Fazer o aero-jornalismo para espinafrar o Brasil. A grana não alcança. E a Globo perdeu a capacidade de dialogar com os governos trabalhistas.

A Lei vai mudar e o ambiente comercial também. A Folha (**) só pode estar jurada na boca do sapo. O que a Folha (**) já fez com a Dilma foi inaceitável, num regime democrático. A começar pela ficha policial falsa.

A Veja, a última flor do Fáscio, tem o destino escrito nas estrelas. Será vendida como a Newsweek ou vai virar um produto de finalidade desconhecida, como a Time. Se morrer com honra, ficará no lucro.

Mino Carta acha que a “mídia nativa” será o último bloco de resistência ao governo Dilma. É provável. Que morra na trincheira. Por isso, esse frenesi com o filho do porteiro que foi ao cinema com a irmã do contador e encontrou o pedreiro da agência da Receita em Mauá.

 
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.


(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Fidel aprova medidas de Raúl para reduzir o papel do Estado na economia cubana

Por Thaís Romanelli*
A revista norte-americana The Atlantic publicou nesta quarta-feira (8/9) uma entrevista com o ex-presidente cubano, Fidel Castro. Questionado sobre temas polêmicos, o cubano falou sobre o programa nuclear do Irã, os conflitos no Oriente Médio e a relação com os Estados Unidos.
Sobre a ilha, Fidel disse que “o modelo cubano já não funciona mais nem para os próprios cubanos”. Sem rejeitar as ideias da Revolução, o ex-presidente afirmou que a economia cubana precisa ser estimulada, bem como vem feito seu irmão e atual presidente da ilha, Raúl Castro.
O jornalista Jeffrey Goldberg, que conduziu a entrevista com Fidel, consultou Julia Sweig, especialista do Conselho de Relações Exteriores, em Washington, que considerou as afirmações do cubano como o reconhecimento do líder de que o Estado cubano tem um grande papel na vida econômica do país.
Para ela, este consentimento ajudará Raúl a enfrentar os membros do Partido Comunista que se opõem às medidas que visam reduzir o papel do Estado na economia de Cuba.
Irã – Questionado sobre o programa nuclear iraniano, Fidel se disse “preocupado com o futuro do mundo” em virtude de uma possível guerra nuclear após a aprovação de sanções contra o Irã.
Além disso, o ex-presidente criticou suas próprias atitudes durante a crise dos mísseis em Cuba, em 1962, quando pediu ao líder soviético Nikita Kruschev que atacasse os Estados Unidos com armas nucleares caso fosse preciso.
Fidel, porém, condenou o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, por negar o Holocausto. Para ele, o governo iraniano contribuiria para a paz se tentasse entender porque os israelenses temem por sua existência.
“Não acredito que alguém tenha sido mais difamado que os judeus. Diria que muito mais do que os muçulmanos. Foram mais difamados que os muçulmanos porque são acusados e caluniados por tudo. Ninguém culpa os muçulmanos de nada”.

*Matéria originalmente publicada no Opera Mundi

Na Europa, ao contrário da América Latina, a política está capturada pela sua dimensão gerencial


Por isso, não aparece a invenção nem a possibilidade de construir um relato de emancipação. Não aparece o problema da justiça nem o da igualdade, porque se supunha que isto estava superado

Está imperdível a leitura da entrevista do psicanalista argentino Jorge Alemán. Alemán politiza a psicanálise. Alemán psicanalisa a política. Para ele, é preciso recuperar a capacidade da política frente a mesmisse da economia e do mercado unidimensional.

O argentino não hesita em trazer para a esquerda pensadores que não foram originalmente de esquerda, tais como Freud, Heidegger e Lacan. Diante do radicalismo de cada um, pensa ele, é possível aportar novas categorias e linhas criativas de pensamento e ação à esquerda contemporânea.

Alemán (acima) quer recuperar, também para a esquerda, a expressão "populismo", na perspectiva do que não está concertado, do inesperado, da invenção criativa, daquilo que não resultou de mera conciliação com as oligarquias. Jorge Alemán afirma que "o populismo é um momento da soberania". 

Quem perder a leitura desta entrevista de Jorge Alemán é porque comunga da mitologia urdida pela sra. Lya Fett Luft e de sua reverendíssima, autoridade intelectual guasca, dom Dadeus Grings. Por isso, fique com Alemán: (Cristovão Feil)
A entrevista completa voce encontrará nesse excelente blog Diario Gauche de Cristóvão Feil

O bode expiatório

Os antigos donos do poder preparam-se para jogar sobre os ombros de José Serra a culpa pela próxima derrota. Por Mino Carta
Bom pai José Serra é. Mas basta isso para ser candidato à Presidência da República? Espantado, ouço estranhas, surpreendentes conversas pelos locais das horas felizes, os mesmos onde, até há pouco, pouquíssimo tempo, Serra era apontado como o aspirante “preparado”, concorrente, imbatível contra Dilma, “a guerrilheira” sem experiência eleitoral. Dramaticamente despreparada. Pois o tucano, conforme as falas que me cercam, começa a ganhar as inconfundíveis feições de bode expiatório. De certa forma, um Dunga da política.
Os cavalheiros e suas damas faiscantes de berloques e pedrarias buscam uma explicação para o desastre que se esboça. É com melancolia que tomam seu vinho de rótulo retumbante, a girar o copo em curtas evoluções aprendidas não sem fadiga psicossomática nos últimos anos. Aplicados discípulos do up-to-date, substituíram o uísque que os acompanhava horas a fio até ao jantar, enquanto, na hora do almoço, surgem de gravata amarela nos restaurantes finos e caríssimos. Salvo raras e honrosas exceções, entraram na parada com a certeza da vitória. Seria o seu próprio triunfo, por sobre os escombros de Lula e do lulismo, perdão, de Lulla e do lullismo. Se a Seleção Canarinho perde, é por vontade divina, ou porque o técnico errou. E se perde o candidato Serra, de quem a culpa?
Não faltam os técnicos, ou seja, os marqueteiros, uma corte de especialistas não se sabe com exatidão em que matéria, tidos, porém, como indispensáveis nas nossas paragens. Às vezes me pego a imaginar Roosevelt ou Churchill, ou mesmo Zapatero e a senhora Merkel, que invocam a presença de peritos à sua volta para instruí-los como diretor de teatro faz com seus atores.
Os marqueteiros nativos são iguais à mítica fênix. Imortais, reaparecem sempre porque sempre perdoados. Vai sobrar para o próprio Serra, não ficou à altura das esperanças. Caiu em incertezas e confusões que seus eleitores cativos, tão fiéis, tão dedicados, não imaginavam. Não mereciam. Já está em elaboração a listagem dos erros do candidato tucano. Demorou demais para anunciar a candidatura. Não soube cativar Aécio. Imprimiu à campanha direções diversas e até opostas. Etc. etc.
Não é que a mídia não tenha colaborado para a vitória tucana. Formidável mídia, de tucanagem ampla, geral e irrestrita. Um instituto de pesquisas, o Datafolha, também participou do esforço. Surgiu ainda a denúncia, também apelidada de dossiê, a lembrar histórias de aloprados e mensalões. E nada? Culpa do Serra, dirão os senhores e suas damas. E me vejo, de improviso, a me compadecer, sinceramente, do futuro, iminente derrotado, em quem reconheci, e reconheço, muitas qualidades.
O erro de Serra foi ter caído na esparrela urdida por Lula, a do plebiscito inescapável, sem perceber, além da força dos adversários, a mudança que o ex-metalúrgico guindado à Presidência acarretou para o País, acima e além de alguns bons e inegáveis resultados alcançados por seu governo. A situação, precipitada em grande parte pela identificação entre a maioria e seu presidente plebeu, digamos assim, acabou por empurrar Serra para a direita como nesta página foi observado inúmeras vezes. O ex-presidente da UNE, perseguido pela ditadura, tornou-se representante de um partido fadado a ocupar o mesmo espaço outrora preenchido pela UDN velha de guerra.
Sublinhei também que Serra nunca recomendou “esqueçam o que eu disse”. Mesmo assim, na alternância contraditória das rotas da sua campanha, o candidato tucano amiúde, e lamentavelmente, permitiu-se tons udenistas adequados à exposição de ideias idem. Vivêssemos outro tempo, nada disso importaria, está claro. Empenhada em assustar a minoria privilegiada, a mídia nativa teve êxito em 1989, 1994 e 1998, contra o espantalho do Sapo Barbudo. Faz oito anos, contudo, que os argumentos da chamada elite não logram os resultados de antanho, mas Serra e os seus eleitores não se deram conta disso até hoje.
Esta incapacidade de compreender um Brasil diverso daquele sonhado, esta ignorância, é que confere um toque patético à derrota da minoria privilegiada, dos herdeiros e cultores de um passado que os fez donos do poder. Não são mais, a despeito da descoberta do vinho servido em taças, como dizem os maîtres. 


Mino Carta

Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redação@cartacapital.com.br