quarta-feira, 7 de novembro de 2007



Instituída em 1997, a Fundação Quinteto Violado - FQV reúne a experiência do grupo que lhe dá nome, com o objetivo de explorar, promover e incentivar, sob todas as formas, o desenvolvimento da cultura do Nordeste do Brasil. A ligação do Quinteto com o trabalho deste compositor paraibano já tem longa data. Gerando Vandré, compositor de muita força poética e com emoção inimitável em sua interpretação, já teve suas canções interpretadas pelo Quinteto em 1980, quando o grupo montou um espetáculo homônimo, que terminou sem registro em disco.

extraia o sumo - download Quinteto Violado canta Vandré[1997]

1
Na terra como no céu
(Geraldo Vandré)
2
Cantiga brava
(Geraldo Vandré)
3
Fica mal com Deus
(Geraldo Vandré)
4
República brasileira
(Geraldo Vandré)
5
Hora de lutar
(Geraldo Vandré)
6
A canção primeira
(Geraldo Vandré)
7
Disparada
(Théo Barros - Geraldo Vandré)
8
O plantador
(Hilton Acioli - Geraldo Vandré)
9
Ventania [De como um homem perdeu]
(Hilton Acioli - Geraldo Vandré)
10
Vem, vem
(Geraldo Vandré)
11
Prá não dizer que não falei das flores [Caminhando]
(Geraldo Vandré)
12
Canção da despedida
(Geraldo Azevedo - Geraldo Vandré)

*contribuição de Aranha

Copiado de:SomBarato

Para “Veja”, vale tudo contra a democracia na Venezuela

Nessa linha, “Época” foi atrás e fraudou até foto

Jornal HoraDoPovo


Há algum tempo, a “Veja”, sempre na vanguarda de tudo o que não presta, falsificou uma foto de João Pedro Stédile, líder do MST, manipulando-a por computador para apresentá-lo com feições sinistras e algo diabólicas. Pois a “Época”, da Globo, resolveu imitar a sua congênere. Foi exatamente o que fez com a imagem do presidente venezuelano Hugo Chávez, na capa da semana passada.

Verdade seja dita, nesse terreno – o da falta de escrúpulos, da canalhice, em suma, do fascismo editorial – a “Veja” continua sem competidores. Haja vista a matéria de capa desta semana, cujo assunto - de surpresa nós não vamos morrer - é o presidente Hugo Chávez.

POPULAÇÃO

Quem revelou a falsificação na capa de “Época” foi nada menos que o diretor de arte da revista, Marcos Marques (v. suas declarações em nossa primeira página). Não estava fazendo uma denúncia. Pelo contrário, estava expondo a competência do departamento que dirige. O incrível é que o diretor de arte e seus comandados parecem achar absolutamente normal esse procedimento. Parecem achar que a profissão é uma licença para fazer qualquer coisa que o patrão mandar, inclusive, ludibriar os leitores.

Chávez não falsificou nenhum retrato – e nenhuma história – da família Marinho. No entanto, os Marinho acham que podem chamar Chávez de ditador, falsificando a foto e os fatos...

Quanto à matéria, é de uma estupidez garrafal. Quem pode acreditar que Chávez está reaparelhando as forças armadas da Venezuela para atacar o Brasil, e não para se defender dos americanos? É preciso uma mente asinina para crer em tamanha estultice. Mesmo assim, não é qualquer asno que consegue achar que o Brasil, 9 vezes maior - e com uma população que é 7 vezes a do país vizinho – está ameaçado pela Venezuela.

Quanto à “Veja”, é outra coisa. Nesta semana, em 11 páginas de xingamentos, a prova de que Chávez é um ditador se resume a 7 artigos da Constituição – entre os 350 que a compõem. Os artigos são os seguintes:

1) O artigo 11, que dá poderes ao presidente para estabelecer regiões militares especais em qualquer parte do país.

“Veja” sabe perfeitamente que este é um dispositivo que existe em qualquer Constituição – inclusive na dos EUA e na do Brasil.

2) O artigo 16, que estabelece o Poder Popular baseado nas comunidades locais.

“Veja” quer passar a idéia de que trata-se de um poder paralelo ao do Estado, quando é apenas uma forma, que não se sobrepõe ao poder federal, estadual ou municipal, de complementar e democratizar o poder político em comunidades localizadas.

3) O artigo 115, que define que, por utilidade pública ou interesse social, poderão ser desapropriados determinados bens.

O Civita, americano que o é, não deve ter lido o artigo 5º da nossa Constituição, incisos XXIII e XXIV. O Estado brasileiro tem o mesmo poder e o nosso texto constitucional tem quase a mesma redação do venezuelano. Mas o Civita & matilha querem ter o monopólio da expropriação dos bens de outros...

4) O artigo 153, que propõe que a Venezuela envide esforços para construir na América um projeto supranacional.

Desde que o presidente Sarney fundou o Mercosul, o Brasil está envidando esforços exatamente no mesmo sentido, o que foi retomado pelo presidente Lula, inclusive com a CASA (Comunidade Sul-americana de Nações). Mas o Civita prefere a Alca, ou seja, em vez de um projeto supranacional, um de submissão nacional.

5) O artigo 230, que acaba com as restrições a que o povo possa reeleger o presidente.

Até Eisenhower, apesar de republicano, era a favor desse direito democrático. Disse ele que “o povo americano deve eleger quem ele quiser, quantas vezes quiser”. As restrições à reeleição consistem em limitações à democracia, cuja essência é a vontade do povo, não o impedimento à vontade do povo.

6) O artigo 318, que estabelece que a política monetária deverá ser estabelecida em conjunto pelo Executivo e o Banco Central.

O presidente Chávez é um homem moderado. O Brasil é mais radical: constitucionalmente, é o Executivo que estabelece a política monetária. O BC é um mero aplicador. Até o Meirelles sabe disso, pois vive citando o conteúdo desse dispositivo.

7) O artigo 337, que estabelece que o presidente poderá decretar estados de exceção no país.

Pois é, aqui também (artigo 21 da nossa Constituição).

Muito interessante, também, são os conceitos emitidos sobre democracia, pela “Veja”. Por exemplo: “Hugo Chávez foi escolhido em eleições democráticas em 1998. O partido nazista teve um terço dos votos em 1933. Á frente de sua milícia, Mussolini impôs sua nomeação como primeiro-ministro. Para todos eles, isso foi a etapa inicial da ditadura”.

Logo, a democracia é a etapa inicial da ditadura e não há outro jeito de evitar as ditaduras, senão acabando com a democracia. Não é brincadeira, leitor. O problema de Chávez não é que ele seja um ditador, o problema é que ele é um democrata, logo, segundo a “Veja”, é inevitável que ele seja um ditador. Por isso, ela coloca no mesmo saco as eleições democráticas da Venezuela e as eleições de 1933 na Alemanha, realizadas depois da proibição do Partido Social-Democrata e do Partido Comunista e da prisão em massa dos dirigentes e militantes de ambos os partidos. Da mesma forma, a “marcha sobre Roma”, de Mussolini, cujo objetivo era passar por cima das instituições - inclusive, e sobretudo, das eleições – virou exemplo de democracia. Mas, realmente, essa é a democracia do Civita, isto é, o fascismo.

DIAS

O resto é um besteirol de mesmo teor:

a) Chávez “arrancou do parlamento a autorização para governar sem o parlamento”. Parece até que as medidas provisórias e as ordens executivas dos EUA são alguma novidade.

b) A “milícia” da Constituição da Venezuela não são de Chávez; são a reserva do exército, isto é, todos os reservistas, organizados e comandados pelo exército.

c) Chávez não fez expurgo algum do Judiciário. Apenas, como qualquer presidente, inclusive o nosso, cumpre a ele nomear juízes de determinadas instâncias.

d) O que “Veja” chama de “lavagem cerebral” da juventude é que a educação deixou de ser privilégio dos brancos e ricos, e o ensino passou a ter algo a ver com a realidade do país.

Por último, não há perseguição aos opositores, que continuam proprietários da maioria dos órgãos de comunicação do país. A oposição é que tentou dar um golpe, rasgar a constituição, fechar o Congresso e o Judiciário, no que foi efusivamente saudada pela “Veja”. Mas a esbórnia durou apenas dois dias.


FALAH ALWAN: IRAQUE É UMA QUESTÃO INTERNACIONAL


Em entrevista ao Pravda em português, Falah Alwan, presidente da Federação de Conselhos de Trabalhadores e Sindicatos do Iraque, declarou que a questão do Iraque é internacional e, por isso, a sua resolução deverá passar pela comunidade internacional e as suas associações e instituições.

Alwan revela que Saddam Hussein tinha perdido o poder anos antes da invasão e os americanos sabiam disso: "A qualquer altura, um governo revolucionário socialista poderia ter surgido e não teria sido difícil derrubar Saddam nos últimos tempos do seu regime, era uma questão de quando, não se".

* * *

No tempo em que Saddam Hussein era todo poderoso no Iraque, Falah Alwan já trabalhava nos bastidores secretamente, organizando comissões de trabalhadores e tentando angariar fundos para compensar as famílias em caso de acidentes - no Iraque de Saddam Hussein, os sindicatos eram proibidos.

Eleito em 2005 pela segunda vez presidente da Federação de Conselhos de Trabalhadores e Sindicatos do Iraque, Falah Alwan continua a lutar contra os velhos decretos de Saddam, utilizados por um governo fantoche que continua a praticar muitos dos abusos do antigo regime, continua a dificultar a formação de sindicatos e que não é mais do que o braço político das várias facções armadas no país, cuja autoridade está restrita à Zona Verde em Bagdad.

Em Lisboa, a convite do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, Falah Alwan falou ao PRAVDA.Ru.

Qual é a situação atual do movimento sindical no Iraque?

As autoridades continuam a evocar os decretos de Saddam Hussein, que esmagou tentativas de formar sindicatos de trabalhadores, por isso continua a ser uma luta constante que precisa do apoio dos movimentos internacionais. Começamos com o Sindicato dos Desempregados e tivemos 13 manifestações com a lema “Emprego ou Segurança Social”, movimento que obrigou as autoridades a instalarem um fundo de desemprego, embora elas se referem a isso como extensão do sistema que já existia e nunca admitiriam que fosse uma vitória nossa. Continuamos na Federação de Conselhos de Trabalhadores e Sindicatos do Iraque a trabalhar ativamente na construção de Comissões de Trabalhadores para coordenar as suas atividades com Conselhos de Trabalhadores.

E como se pode descrever a vida diária do cidadão no Iraque de hoje?

Além da violência, o desemprego aumentou em flecha. As pequenas fábricas do tempo de Saddam Hussein, que empregavam principalmente mulheres na área de têxteis, desapareceram, e as grandes indústrias que empregavam milhares de homens também, levando a uma situação em que as autoridades admitem uma taxa de desemprego de 30 até 35 por cento, mas a cifra real seria de 50% ou mais.

O custo das necessidades básicas subiu muito. O custo de combustível, num país que produz tanto, aumentou e em grandes áreas nem há electricidade, por isso as firmas paralisaram. Isso é o resultado da ocupação, que não serve para nada. E para dar um exemplo do dia a dia, por exemplo, no centro de Bagdad, uma viagem de táxi do centro da cidade até o aeroporto, uma viagem de meia hora, custa 60 dólares americanos, por ser tão perigoso, e o caminho se chama “caminho da morte”. Há assassinatos, há raptos, há ataques com bombas todos os dias.

E o que faz o governo e as tropas de ocupação para reduzir a violência e criminalidade?

O governo não está interessado no desenvolvimento de segurança porque, se houver segurança, muitas facções no governo perderiam a sua posição. Elas não são mais do que o braço político das facções armadas, que por sua vez são as facções armadas das formações políticas no governo.

Estas facções no governo falam com as facções armadas e discutem como reterem o poder e as suas posições, como manter o equilíbrio de poder. E quanto aos americanos, ficam nas suas bases, porque sabem que não conseguem manter a paz. A violência é um resultado direto da ocupação. E está ficando pior.

A sociedade iraquiana está dividida como nunca antes, está dividida entre seitas, religiões, línguas, grupos étnicos que pela primeira vez assumem importância. Dentro de Bagdad há uma muralha entre as várias secções da sociedade, como uma Muralha de Berlim dentro de Bagdad.

E esta situação não existia no Iraque de Saddam Hussein?

Esta divisão não existia mas também Saddam Hussein tinha perdido o poder antes da invasão, uns anos antes e os americanos sabiam disso. A qualquer altura, um governo revolucionário socialista poderia ter surgido e não teria sido difícil derrubar Saddam nos últimos tempos do seu regime, era uma questão de quando, não se. Talvez para neutralizar a ocorrência deste tipo de governo no Iraque, e as ondas de choque que teria tido na região, eles invadiram. Lembremos que 70% dos iraquianos vivem nas cidades, muitos são operários.

Relativamente aos sindicatos e movimentos operários internacionais, têm recebido apoio?

Sim, recentemente quando o Ministro de Petróleo decretou que os organizadores de uma greve neste setor deveriam ser presos, houve uma onda de indignação de movimentos nos Estados Unidos, Reino Unido e outros países, que fizeram com que o Ministro recuasse. Isso foi em julho de 2007. O governo em si nada faz para nos ajudar porque nos trata como ilegais e impede os operários de se organizarem, utilizando medidas draconianas do tempo de Saddam. Mas o governo representa a si próprio e na Zona Verde.

No discurso do governo, seus inimigos são terroristas ou os restos do regime de Saddam, quando de fato cada facção no Governo tem sua milícia. Pode dizer-se que este governo depende em grande parte da milícia controlada pelo Iran, mas mesmo dentro das milícias há muitas divisões e mini-facções.

Os britânicos recentemente saíram da Basra e disseram que “o trabalho estava feito”. Comentários?

Vou dar-lhe um exemplo. Quando em Basra uns militantes estabeleceram um ponto de controle e queriam espancar uma mulher que não usava o véu, esses soldados britânicos disseram que não tinha nada a ver com eles, pois eram costumes locais e não defenderam a mulher. Que o trabalho está feito em Basra? Bem, eu diria que a cidade de Basra e aquela região está sob a influência do Iran, seus agentes e gangues criminosas. Quem manda aí são grupos armados de milícias e o Reino Unido não fez nada para impedi-los de se impor na cidade.

E o caminho para a frente?

Está no interesse dos operários e trabalhadores terminarem a ocupação o quanto antes. Isso interessa a muitos setores. Há que mudar o equilíbrio de poder político, de estabelecer um poder político secular e não Islamistas políticos, que é o governo de hoje maioritariamente. Temos de impor um modelo diferente, de progresso social e temos aqui o potencial para os classes de operários organizar a sociedade iraquiana em base secular, polarizando à volta dos interesses dos trabalhadores, criando uma sociedade justa e de benefícios a todos.

Queríamos expandir o movimento secular dos trabalhadores e, para isso, precisamos de criar laços internacionais. Por esta razão estou aqui hoje. A invasão é uma questão internacional e, daí, tem de ser a comunidade internacional a resolver a questão do Iraque. É altura para o resto da comunidade internacional intervir. A nossa questão é como criar uma coordenação internacional para continuar a apelar pelo apoio de organismos e instituições que zelem pelos direitos dos operários, que já alcançaram as suas metas nos seus países. Nós estamos no início e precisamos de apoio.

Precisamos de apoio para estabelecer um modelo humanitário, um movimento internacionalista e um movimento secular que constitui uma alternativa viável, primeiro no Iraque. É altura para uma Nova Esquerda intervir.

Entrevista realizada por Timothy Bancroft-Hinchey, Diretor e Chefe de Redação do PRAVDA.Ru (versão portuguesa). Iniciativa do colaborador Luís de Carvalho, agradecimentos ao SPGL. É possível contactar Falah Alwan directamente em falahalwan@yahoo.com (inglês e/ou árabe). Sites: www.equality.org e www.uuiraq.org

Se porventura quiserem contactar Falah Alwan e não souberem inglês ou árabe, podem enviar a sua mensagem à PRAVDA.Ru (pravdaru@hotmail.com). O Pravda (http://port.pravda.ru/) fará a tradução e servirá de ligação entre as partes.

Copiado de:FazendoMedia

VIA CAMPESINA QUESTIONA TV GLOBO

No último domingo, uma milícia armada invadiu um acampamento sem-terra e executou a tiros o militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e membro da Via Campesina, Valmir Mota de Oliveira. Diante do ocorrido, a Via Campesina divulgou a nota abaixo, em que questiona a versão da TV Globo:

NOTA PÚBLICA

Após reocupação nenhum refém foi mantido no local, ao contrário do que a Rede Globo informou.

Domingo (21), por volta das 13h30, o acampamento da Via Campesina, no campo de experimentos transgênicos da Syngenta, em Santa Tereza do Oeste (PR), foi atacado por uma milícia armada. No massacre o militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e membro da Via Campesina, Valmir Mota de Oliveira (conhecido como Keno), foi executado à queima roupa com dois tiros no peito. Os trabalhadores Gentil Couto Viera, Jonas Gomes de Queiroz, Domingos Barretos, Izabel Nascimento de Souza e Hudson Cardin foram gravemente feridos.

Diante dos acontecimentos a Via Campesina faz os seguintes esclarecimentos:

1. A reocupação da área da Syngenta aconteceu às 6h de domingo (21), por cerca 150 agricultores. Na ação os trabalhadores rurais soltaram fogos de artifício. No momento havia quatro seguranças na área. Uma das armas dos seguranças foi disparada e feriu um trabalhador, que foi hospitalizado. Os agricultores desarmaram os seguranças, que em seguida abandonaram o local. As armas foram apreendidas para serem entregues para a polícia.

2. Por volta da 13h30, um ônibus parou em frente ao portão de entrada e uma milícia armada com aproximadamente 40 pistoleiros fortemente armados desceu metralhando as pessoas que se encontravam no acampamento. Eles arrombaram o portão, executaram o militante Keno com dois tiros no peito, balearam outros cinco agricultores e espancaram Isabel do Nascimento de Souza, que continua hospitalizada em estado grave.

3. A milícia atacou o acampamento para assassinar as lideranças e recuperar as armas ilegais da empresa NF Segurança, que foram apreendidas pelos trabalhadores. Os dirigentes do MST Celso Barbosa e Célia Aparecida Lourenço chegaram a ser perseguidos pelos pistoleiros, mas conseguiram escapar durante o ataque.

4. A Syngenta utilizava serviços de uma milícia armada, que agia através da empresa de fachada NF Segurança, em conjunto com a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e o Movimento dos Produtores Rurais (MPR), ligado ao agronegócio.

5. A denúncia da atuação de milícias armadas na região Oeste do Paraná foi reforçada durante uma audiência pública, na última quinta-feira (18), para a coordenação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal dos Deputados (CDHM), em Curitiba (PR). Os dirigentes do MST, inclusive Keno, já vinham sendo ameaçados há mais de seis meses, pelas milícias que estavam a serviço do consórcio SRO/MPR/Syngenta. Um inquérito havia sido aberto para apurar as denúncias contra a Syngenta e a NF Segurança.

6. A Rede Globo vem sustentando em suas reportagens que a Via Campesina teria mantido reféns durante a reocupação. A versão da Rede Globo e de outros veículos da grande imprensa têm como objetivo criminalizar os movimentos sociais e retirar de foco o ataque realizado pela milícia da Syngenta, que executou um trabalhador e deixou outros feridos. A Via Campesina esclarece que não houve, em nenhuma hipótese, reféns durante a ocupação.

7. A Via Campesina exige punição dos responsáveis pelos crimes – principalmente os mandantes –, a desarticulação da milícia armada na região e o fechamento imediato da empresa de segurança NF. Além da garantia de segurança e proteção das vidas dos dirigentes Celso e Célia, e de todos os trabalhadores da Via Campesina, na região.

8. Os camponeses seguem na luta para que a área de experimentos ilegais de transgênicos da Syngenta seja transformada em Centro de Agroecologia e de reprodução de sementes crioulas para a agricultura familiar e a Reforma Agrária.

Histórico
O campo de experimento da Syngenta havia sido ocupado pelos camponeses em março de 2006 para denunciar o cultivo ilegal de sementes transgênicas de soja e milho. A ocupação tornou os crimes da transnacional conhecidos em todo o mundo. Após 16 meses de resistência, no dia 18 de julho deste ano, as 70 famílias desocuparam a área, se deslocando para um local provisório no assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste (PR).

VIA CAMPESINA

O golpista é presidente, já o eleito...

Bourdoukan

Não tem jeito mesmo. Não há remédio que consiga curar a esquizofrenia midiática.O general Pervez Musharraf que governa o Paquistão na base do prendo e arrebento é denominado pela mídia pilantra de PRESIDENTE; já o presidente Hugo Chávez, eleito e reeleito com mais de 60 por cento dos votos é denominado de DITADOR...

Abaixo, algumas manifestações midiáticas criadas em cloacas e cujo odor não merece comentário:

BBC: Líderes de oposição foram presos no Paquistão depois que o PRESIDENTE do país, Pervez Musharraf, declarou estado de exceção no sábado.

Folha de S. Paulo: O governo paquistanês afirmou neste domingo que a data das eleições legislativas previstas para janeiro pode ser "modificada", após o estado de emergência instaurado ontem pelo PRESIDENTE do país, general Pervez Musharraf.

O Estado de S. Paulo: O PRESIDENTE do Paquistão, Pervez Musharraf, declarou estado de emergência neste sábado.

Como se vê e de acordo com a teoria do delinqüente Bush, tanto o povo paquistanês quanto o venezuelano não sabem votar. Os paquistaneses por não quererem Musharraf e os venezuelanos por eleger Chávez. Razão pela qual, ainda de acordo com a teoria bushista, o general Musharraf está correto ao dar um golpe de Estado e assumir o poder sobre milhares de cadáveres. Tão correto que já ganhou dos Estados Unidos mais de 11 bilhões de dólares.

Já o povo venezuelano, ao eleger democraticamente o presidente Chávez, mostrou-se despreparado, daí a necessidade de depor o eleito a qualquer preço.
Maurice Ravel - Bolero

Postagem dedicada a todos aqueles que amam música e deixam que os outros também amem pacificamente!
Créditos: Michel Rhapisody-Lagrimapsicodélica


Bolero (Boléro, no título original francês) é uma música para balé na tonalidade de dó maior composta entre Julho e Outubro de 1928 por Maurice Ravel. É uma das mais célebres obras musicais de todos os tempos e a mais famosa peça de Ravel.

O Bolero tem um ritmo invariável e uma melodia uniforme e repetitiva. Deste modo, a única sensação de mudança é dada pelos efeitos de orquestração e dinâmica, com um crescendo progressivo e uma curta modulação em mi maior.

Forma uma obra singular, que Ravel considerava como um simples estudo de orquestração. A sua imensa popularidade tende a secundarizar a amplitude da sua originalidade e os verdadeiros objectivos do seu autor, que passavam por um exercício de composição privilegiando a dinâmica em que se pretendia uma redefinição e reinvenção dos movimentos de dança. O próprio Ravel ficou surpreendido com a divulgação e popularidade da obra, muito devido às variações que numerosos maestros, incluindo Willem Mengelberg e Arturo Toscanini, introduziram nas suas interpretações.

A origem do Bolero provém de um pedido da dançarina Ida Rubinstein, que encomendou a Ravel a criação de um balé a caráter espanhol. Ravel pensou poder arranjar alguns extratos de Iberia, um conjunto de peças para piano de Isaac Albéniz, mas ele não pôde obter os direitos de fazer como desejava, pois Albéniz havia dado os direitos de arranjo a seu pupilo Ferdinand Enrique Arbos.

Em vez disso, Ravel compôs uma nova obra.

O segredo desta obra está nessa partitura ali em cima. Repetidos cento e sessenta e nove vezes pela caixa, estes dois compassos em ostinato dão ao Bolero de Ravel o ritmo uniforme e invariável.

A estreia deu-se em Paris, na Ópera Garnier, em 22 de Novembro de 1928 sob direcção de Walther Straram, com coreografia de Bronislava Nijinska e cenários de Alexandre Benois. Uma das dançarinas foi Ida Rubinstein, e a peça causou escândalo devido à sensualidade da coreografia.

O Bolero é tocado diariamente na Praia do Jacaré em Cabedelo-PB durante o pôr-do-sol.

1928 - Bolero

Fraude no Detran e prisões atingem governo Yeda Crusius

Ação da Polícia Federal contra quadrilha especializada em fraudes no Departamento Estadual de Trânsito provocou a prisão de 12 pessoas. Entre elas, o diretor-presidente do órgão, Flavio Vaz Netto, o ex-diretor, Carlos Ubiratan dos Santos, o diretor da Companhia de Energia Elétrica, Antonio Maciel, e um dos coordenadores da campanha de Yeda, Lair Ferst.

PORTO ALEGRE - Uma ação da Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público Federal, a Receita Federal e o Tribunal de Contas da União, prendeu 12 pessoas no Rio Grande do Sul e expôs um esquema de fraude no setor do trânsito, envolvendo figuras importantes do governo estadual, entre elas, um dos coordenadores da campanha de Yeda Crusius (PSDB) na campanha eleitoral de 2006.

Na Operação Rodin, desencadeada pela Polícia Federal na madrugada desta terça-feira, foram presos, entre outros, o diretor-presidente do Departamento Estadual de Trânsito do RS (Detran), Flavio Vaz Netto, o ex-diretor-presidente do órgão e atual diretor financeiro do Trensurb, Carlos Ubiratan dos Santos (ambos integrantes do Diretório Estadual do PP), o empresário Lair Antonio Ferst (integrante do Diretório Estadual do PSDB e um dos coordenadores da campanha de Yeda Crusius), e o ex-diretor-geral da Assembléia Legislativa, Antonio Dorneu Maciel, integrante da executiva estadual do PP e atual diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).

O objetivo da ação foi desarticular uma quadrilha especializada em fraudes em contratos públicos realizados pelo Detran. Segundo estimativas da Polícia Federal, a ação dessa quadrilha causou prejuízos de cerca de R$ 40 milhões aos cofres públicos, desde 2002. O Detran teria contratado, sem licitação, a Fundação de Apoio, Ciência e Tecnologia (Fatec), da Universidade Federal de Santa Maria, para fazer avaliação teórica e prática nos exames de habilitação de motoristas de automóveis, usando a estrutura física e os servidores da universidade.

Desde o início da madrugada, policiais federais e servidores da Receita cumpriram 12 mandados de prisão temporária e 43 mandados de busca e apreensão nos municípios de Porto Alegre, Canoas e Santa Maria. As prisões têm desdobramentos políticos que atingem em cheio partidos como o PP, o PSDB e o PMDB no Estado. O Detran, desde o governo de Germano Rigotto (PMDB), vem sendo dirigido por políticos indicados pelo Partido Progressista (PP).

Ligação com escândalo dos selos
As suspeitas sobre irregularidade no Detran são antigas. Em abril deste ano, durante entrevista coletiva em que falou sobre sua demissão do governo, o ex-secretário da Segurança, Enio Bacci (PDT), citou denúncias que teria encaminhado a governadora Yeda Crusius envolvendo o Detran. Bacci falou sobre a existência de contratos lesivos ao Estado no Detran e na própria segurança da Secretaria de Segurança. Na época, Yeda rechaçou as acusações.

As prisões efetuadas nesta terça também respingam em um outro escândalo político recente no RS. O ex-diretor-geral da Assembléia Legislativa, Dorneu Maciel, foi citado por Ubirajara Macalão, pivô do escândalo do desvio dos selos na Assembléia gaúcha, como envolvido no esquema (conforme entrevista publicada no jornal Zero Hora, no dia 16 de julho deste ano). Macalão disse, então, que Maciel o teria orientado em 1996, a providenciar a compra de selos para todos os deputados que fizessem a demanda. Na época, Maciel negou as acusações. Como diretor-geral da Assembléia, Maciel era peça-chave no funcionamento e na articulação política da Casa.

Guerra na disputa pelo Detran
No início deste ano, o site de notícias Vide Versus, de Porto Alegre, publicou a seguinte nota, falando sobre uma guerra na disputa pelo controle do Detran no Estado. A nota afirmava:

“Há uma verdadeira guerra na disputa pela direção superior do Detran do Rio Grande do Sul. O chefe da Casa Civil do governo de Yeda Crusius (PSDB), deputado estadual Luiz Fernando Zachia (PMDB), deseja indicar um companheiro seu para o cargo. O PP entrou na guerra e quer colocar no lugar o procurador de Estado Flávio Vaz Neto. O PDT também está lançando olhar gordo para a direção do Detran, alegando que pegou só lugares "descarnados" da administração estadual, ou seja, sem direito a nomeações. Corre a informação de que a escolha de nome para a direção do órgão passa por uma empresa de Santa Maria, de trabalhista que presta serviços ao Detran”.

A ponta do iceberg
Em entrevista à rádio Gaúcha, Ênio Bacci disse que as prisões realizadas pela Polícia Federal são apenas a ponta do iceberg de irregularidades no Detran. Bacci reafirmou que alertou a governadora Yeda Crusius sobre os problemas no órgão, antes de ser demitido. Yeda rebateu secamente as declarações de Bacci, dizendo: “Ele não pode inverter a verdade. Ele sabe porque foi demitido”. A governadora não explicou o que significa a expressão “inverter a verdade”, no caso das irregularidades no Detran.

Bacci também afirmou que o chefe da Casa Civil do governo do Estado, Luiz Fernando Záchia, teria apoiado a nomeação de Hermínio Gomes Junior, do PMDB, para a Diretoria Administrativa e Financeira do Detran. Hermínio Gomes, Flavio Vaz Netto (Detran) e Antônio Dorneu Maciel (CEEE) foram afastados de seus cargos no governo hoje por determinação judicial.

Também em entrevista à rádio Gaúcha, Záchia negou que tenha respaldado a indicação de Hermínio Gomes para o Detran. Segundo o chefe da Casa Civil, as nomeações foram partidárias, resultantes de indicações de partidos da base aliada de Yeda (prática, aliás, que a atual governadora prometeu que não existiria no “novo jeito de governar”). “Se nós pegarmos as três funções de gestão no Detran, uma é indicação do PP, outra é de uma indicação do PMDB, e outra é uma indicação do PSDB. Todas de pessoas com tradição, de pessoas com reputação, com experiência na área”, explicou didaticamente Záchia. Ele lembrou ainda que Hermínio Gomes Júnior foi diretor do Detran durante o governo de Germano Rigotto (PMDB) e que tem “experiência técnica na área de transportes”.

“Peça-chave na campanha de Yeda”
Até hoje, alguns episódios envolvendo a demissão do ex-secretário da Segurança, Ênio Bacci, são guardados a sete chaves no Palácio Piratini. Ao dizer que Bacci estaria “invertendo a verdade”, a governadora Yeda Crusius enviou um recado ao pedetista, dizendo que “ele sabe porque foi demitido”. A julgar pela evolução dos acontecimentos envolvendo o Detran, Yeda poderá ser obrigada a falar mais do que disse até agora. Bacci bateu forte na governadora hoje. Ele enfatizou que Lair Ferst foi “peça-chave” na campanha eleitoral de Yeda. Ainda segundo Bacci, não basta uma sindicância interna para acompanhar o caso, como anunciou a governadora. “Temos que chamar o Tribunal de Contas e o Ministério Público”, defendeu.

Casado com a ex-Miss Brasil (1986), Deise Nunes, Ferst chegou a ser cotado para ocupar um cargo no primeiro escalão do governo Yeda. No dia 21 de outubro de 2006, a colunista política de Zero Hora, Rosane Oliveira, apontou-o, junto com Sandra Terra, como um dos nomes fortes para ocupar um futuro secretariado de Yeda.

Fraude no Detran aumentou preço de carteiras
O delegado do Núcleo de Combate a Crimes Financeiros, Gustavo Schneider, disse, durante coletiva de imprensa, que o núcleo que elaborou o esquema de fraudes no Detran tinha “bom trânsito junto a círculos decisórios”. As investigações conduzidas pelo Ministério Público Federal, em conjunto com Polícia Federal, Receita e Tribunal de Contas da União, descobriram que a população do RS passou a pagar mais pelos exames teóricos e práticos para a habilitação de motoristas.

O esquema funcionava através da subcontratação, pelo Detran, de empresas terceirizadas (via Fundação de Apoio, Ciência e Tecnologia, da UFSM), que passaram a fazer os exames. O MP e a PF não revelaram os nomes das empresas, dizendo apenas que duas são de Santa Maria. Ainda segundo Gustavo Schneider, essas empresas subcontratadas ilegalmente recebiam um valor mensal fixo e mais uma parcela variável, de acordo com o número de habilitações concedidas. A fundação universitária, segundo o delegado, distribuía o lucro para as empresas, utilizando inclusive malas para entregar o dinheiro, além de empréstimos de pessoas físicas para jurídicas.

PT pede investigações e cogita CPI
O líder da bancada do PT na Assembléia, Raul Pont, defendeu o acompanhamento pela mesa diretora da Assembléia Legislativa do escândalo envolvendo a cúpula do Detran. Pont justificou o pedido argumentando que um dos acusados – Antônio Dorneu Maciel – já ocupou o cargo de diretor geral da Casa e foi apontado por Ubirajara Macalão, como responsável por contratos sob suspeição. “É fundamental que a mesa diretora discuta o tema e adote medidas para acompanhar de perto as investigações. Afinal, os envolvidos nos escândalos ocupam cargos importantes na administração pública por indicação de partidos políticos”, disse o petista.

Outro deputado petista, Fabiano Pereira, anunciou que solicitará à bancada do PT que estude a possibilidade de pedir a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as administrações de estatais no RS. Além de irregularidades no Detran, o petista quer esclarecimentos sobre denúncias envolvendo as direções da Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (Corag) e Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul (Procergs).

O Imperialismo e a Guerra contra o Irã

As pressões imperialistas sobre o Irã se agravam na mesma medida em que se agrava a crise da ocupação norte-americana do Iraque

As pressões imperialistas sobre o Irã se agravam na mesma medida em que se agrava a crise da ocupação norte-americana do Iraque


Osvaldo Coggiola - BrasilDeFato


O provável ataque militar, não só norte-americano, mas “ocidental” (Europa incluída), contra o Irã, sob pretexto de impedir o desenvolvimento de armas nucleares por este país, está posto na agenda política mundial. E não tem nada de improvisado. Quase metade dos 277 navios da frota de guerra dos Estados Unidos está fundeada próxima ao Irã. Em aeródromos espalhados pelo mundo, milhares de aviões também esperam. Os EUA lançaram também o maior conjunto de medidas punitivas impostas ao Irã desde 1979. [1]


Desde março de 2006, o Irã é apresentado como “o maior perigo mundial” pelos EUA. Em janeiro desse ano, Bush classificou o país de “grave ameaça à segurança do mundo”. Mas, nesse momento, uma ação unilateral contra o Irã teria transformado os EUA, aos olhos da opinião pública, no maior inimigo da comunidade muçulmana. Uma escalada progressiva foi sendo desenhada: em fevereiro de 2006, Bush conseguiu a aprovação do Congresso para a liberação de uma verba de US$ 75 milhões a ser usada em um programa do Departamento de Estado destinado a "promover a abertura e a liberdade" no Irã. Mas também determinou meios secretos de atacar o regime militarmente, sem a necessidade de um decreto presidencial formal, fazendo com que o Paquistão e Israel armassem e financiassem grupos guerrilheiros já existentes nas áreas balúchis e curdas, por meio de relações bem enraizadas entre os EUA, o serviço secreto paquistanês (ISI) e o serviço secreto israelense (Mossad).


Na verdade, já em 2004 evidenciou-se a preparação de uma guerra contra o Irã, com uma eventual utilização de ogivas nucleares, preparada conjuntamente entre os EUA, Israel, Turquia, e o quartel general da OTAN em Bruxelas. Forças da coligação EUA-Israel-Turquia, num estado de preparação avançada, realizaram desde o começo de 2005 diversos exercícios militares, enquanto as forças armadas do Irã, na previsão de um ataque, realizavam manobras no Golfo Pérsico. Era como se a chamada “comunidade internacional” aceitasse a eventualidade de um holocausto nuclear “localizado”. O exército israelense começaria os ataques. Fontes militares norte-americanas confirmaram que o ataque ao Irã seria muito mais importante que o ataque israelense, de 1981, ao centro nuclear de Osirak, no Iraque. Utilizando todos os recursos militares dos EUA na região, poderiam destruir-se as vinte instalações nucleares “suspeitas” do Irã.


A revelação de que o exército dos EUA estaria discutindo o uso de armas nucleares "táticas" contra alguns alvos no Irã foi revelada por Seymour Hersh, o jornalista que revelou ao mundo a infame prisão de Abu Ghraib: "Aviões de combate norte-americanos com capacidade de carga fizeram simulações de vôos com bombas nucleares, dentro do alcance dos radares costeiros iranianos". Diante da afirmação do premiê iraniano de que “já temos mais de três mil centrífugas em atividade, e outras estão sendo instaladas”, um conhecido think tank de atiçadores de fogo, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, afirmou que, caso os iranianos conseguissem pôr em funcionamento três mil centrífugas, eles poderiam construir uma bomba atômica em menos de um ano.


Em janeiro, cinco iranianos foram detidos por americanos no Iraque, acusados de apoiar “insurgentes iraquianos”. Suspensa por causa da crise diplomática entre Grã-Bretanha e Irã, devido à prisão pelo Irã de 15 militares britânicos entre 23 de março e 4 de abril, a questão nuclear iraniana reapareceu, depois da libertação dos boys, e desta vez com afirmação, pelos Estados Unidos, de considerarem o emprego de armas nucleares táticas, ou seja, bombas atômicas de menor poder de devastação. Nesse caso, romper-se-ia a chamada “barreira da dissuasão nuclear”, vigente desde a ofensiva ao Japão em 1945, com o lançamento das bombas em Hiroxima e Nagasaki. [2]


Nessa opção, não haveria o envio de tropas americanas em solo iraniano, tropas neste momento insuficientes para “atender” Iraque e Afeganistão ao mesmo tempo, mas o uso da força aérea, com ataques específicos a instalações nucleares e destruição maciça de complexos militares e político-administrativos.


Em agosto, os Estados Unidos passaram a classificar a Guarda Revolucionária do Irã como um grupo terrorista. Pela primeira vez na história, uma força militar oficial de um país soberano foi considerada terrorista pelos EUA. A Guarda Revolucionária iraniana é composta por mais de 120 mil homens, está ligada ao Ministério da Defesa desde 1989, mas o corpo obedece diretamente ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e existe como força separada do Exército. A classificação da Guarda Revolucionária como terrorista permite o congelamento de bens e fundos controlados por membros da instituição em bancos dos EUA (e não são poucos). A Guarda Revolucionária, principal objetivo das sanções americanas, controla um terço da economia iraniana, sendo responsável por contratos de construção civis e pelas operações do novo aeroporto internacional da capital, Teerã.


Alguns oficiais seniors da Guarda já são considerados terroristas pelos EUA e sofrem sanções individuais. O Tesouro americano também impede que bancos do país negociem com bancos e empresas iranianas, como parte das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU contra o programa iraniano de enriquecimento de urânio. Porém, dos 40 bancos europeus e asiáticos que fazem negócios com o Irã, somente sete cortaram relações com o país, em resposta às sanções dos EUA. O Irã vem, cada vez mais, conduzindo seus negócios internacionais por meio de 400 instituições financeiras baseadas em Dubai, em sua maioria árabes. Considerando que as transações entre o Irã e os Emirados Árabes Unidos, incluindo Dubai, chegaram a quase US$ 11 bilhões neste ano, o subsecretário do Tesouro dos EUA, Stuart Levey, falou em vão quando ameaçou, com represálias, às empresas que faziam negócios com o Irã.


Em 21 de agosto passado, o governo iraniano firmou um acordo com a AIEA, Agência Internacional da Energia Atômica, da ONU, comprometendo-se a permitir inspeções em suas instalações nucleares e a revelar informações completas sobre suas atividades desde 2005. O egípcio Mohamed El Baradei, diretor-geral da agência, considerou o contencioso com o Irã resolvido. As acusações contra o Irã são quase kafkianas: o Irã deveria demonstrar que não desenvolve tecnologia que “poderia” ser usada, no futuro, para produzir armas atômicas. A mesma AIEA, contudo, adotou atitude inteiramente diversa em relação ao Egito e Coréia do Sul – dois grandes aliados dos EUA. Suas experiências nucleares secretas, muito semelhantes às desenvolvidas pelo Irã, foram descobertas pela agência, que, no entanto, contentou-se com uma “repreensão”.


Mas, em outubro, o presidente Bush alertou que “os líderes mundiais devem impedir que o Irã tenha armas nucleares se quiserem evitar a Terceira Guerra Mundial”, nada menos. O comentário surgiu de uma pergunta sobre o apoio dado ao Irã pelo presidente russo, Putin. Bush contradisse o discurso oficial de que os EUA buscam uma aproximação diplomática com o Irã, e confiam na mediação da Rússia pára interromper o programa nuclear iraniano. Putin deixou claro sua oposição à opção militar contra o Irã: "Não devemos nem pensar em fazer uso da força nesta região". Mas “os congressistas (norte-americanos) estão preocupados de que a Casa Branca atue sem prévio aviso”, e “Condoleezza Rice advertiu que fazer o que o Irã faz, particularmente no sul do Iraque, tem seu custo”. Seymour Hersh informou que “só falta a decisão final”.


O vice-presidente dos EUA, Richard Cheney, encabeça um lobby que pressiona para bombardear instalações do exército iraniano.[3] Esse grupo está também apoiado pelo lobby sionista do partido democrata, incluída Hillary Clinton. A senadora-candidata disse que, se eleita presidente, deveria começar a retirar tropas do Iraque sessenta dias após a sua posse, mas deixou uma mensagem: "todas as opções estão na mesa", para lidar com o Irã. A frase, que abre as portas para a ação militar, é a mesma usada pelo governo de Bush, apesar de toda a retórica crítica à atuação republicana, e em defesa do multilateralismo e a diplomacia, dos democratas. No papel, seus planos vão na direção oposta da "doutrina Bush" (unilateralismo e ataques preventivos); na prática, estabelece uma divisão de tarefas com os republicanos. Propõe, por exemplo, aumentar as tropas no Afeganistão, "a fronteira esquecida na guerra contra o terror". Segundo o ex-funcionário da CIA e especialista em Irã do Instituto Brookings, Bruce Riedel, apesar do tom diplomático, Hillary Clinton não esconde que ela "é a mais beligerante entre os pré-candidatos democratas".


Os EUA não podem tolerar um “Irã forte”, desafiando sua hegemonia no Oriente Médio. As palavras de Nicholas Burns, Subsecretário de Estado, comentando o fornecimento de armas aos amigos da região, não deixaram dúvidas: "Este pacote de armas diz aos iranianos que os Estados Unidos são o poder maior no Oriente Médio, continuarão a ser e não irão embora". Saindo do Iraque, os americanos perderiam fatalmente o controle do país, que se aliaria ao Irã. As jazidas de petróleo, que os americanos pretendem conseguir através de contratos com o “Estado” iraquiano, poderiam sair de suas mãos. O suprimento de petróleo do Oriente Médio, vital para os EUA, não estaria garantido pela provável hegemonia do Irã na região. O Irã, quarto país mundial em jazidas de petróleo e segundo em gás, controla o estreito de Ormuz, por onde passa o tráfego de petrolíferos da Arábia Saudita e outros países árabes. Os EUA dependem cada vez mais das importações de petróleo. O seu consumo cresceu de 19,7 milhões de barris por dia, em 2002, para 26,7 milhões previstos para 2020. As reservas são insuficientes – em quatro anos deverão se esgotar. Dominando o Irã, diretamente ou através de um governo títere, os EUA teriam, por outro lado, condições para submeter a China e a Índia.


Israel bombardeou instalações militares na Síria para preparar o caminho da agressão contra o Irã. Aviões israelenses penetraram, via Mediterrâneo, no norte da Síria, até serem alvejados pelas baterias antiaéreas locais. Foi uma operação em grande escala, com uso dos mais modernos aviões israelenses, especialmente acondicionados para percorrer grandes distâncias, um avião de espionagem eletrônica, e unidades de elite que operaram no solo para indicar os alvos; os EUA lhe deram apoio. Tudo indica que se tratou de demonstrar que Israel tem a capacidade de golpear a longas distâncias, um treino para ir ao Irã, já que Israel no necessitou de aviões com tanques suplementares para atingir alvos em Síria


Embora diversas autoridades israelenses e dos EUA tenham dito que o objetivo foi bombardear equipamentos nucleares trazidos aos sírios por um misterioso navio norte coreano, a verdade é que, como afirmou John Bolton, ex-embaixador dos EUA na ONU: "O ataque foi uma mensagem clara ao Irã, que os seus esforços para adquirir armas nucleares não ficarão sem resposta".


Há comandos norte-americanos operando em território iraniano, e Bush iniciou a construção de uma base militar gigantesca na fronteira entre o Iraque e o Irã. A Casa Branca passou a financiar grupos terroristas sunitas em solo iraniano: o Jundulá, cujo líder, Abdel Malik Regi, é descrito como “em parte traficante, em parte talibã, em parte ativista sunita”. Estabelecido além da fronteira com o Paquistão, o Jundulá promove atentados na região norte do Irã, o Baluquistão, matando soldados iranianos e também civis. Formado por membros da etnia baluchi, o Jundulá recebe fundos da CIA. Financiando o separatismo baluchi, o governo Bush visa desestabilizar o governo de uma região suscetível ao separatismo, para criar condições favoráveis à invasão do Irã.[4] Há também o apóio à milícia de exilados conhecida como Mujahidin-e-Khalq (MEK), baseada no Iraque. A MEK apoiou Saddam Hussein na guerra entre o Iraque e o Irã, de 1980 a 1988, e seus 3.600 combatentes permaneceram em território iraquiano.


Em termos econômicos, a mais importante ameaça contra o Irã é a província sudoeste do Khuzestão, responsável por 80% da produção petrolífera do país. Os xiitas árabes do Khuzestão têm a mesma identidade étnica e religiosa dos xiitas árabes da bacia de Shatt-al-Arab no Iraque, e sua capital, Ahwaz, se situa a 120 quilômetros a leste de Basora, onde as forças britânicas no Iraque estavam aquarteladas.[5] O Mossad oferece "equipamento e treinamento" ao grupo curdo do Irã, Pejak, ligado ao PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), da Turquia, rotulado por Washington e Ancara como “organização terrorista”.


Internacionalmente, o mais importante é o alinhamento da França com os EUA, inclusive para uma guerra contra o Irã. Isto foi defendido pelo “socialista, pacifista e progressista” Bernard Kouchner (fundador de uma ONG que presta assistência a populações vitimadas pela guerra!), integrado ao governo do direitista Nicolas Sarkozy. Atualmente ministro francês das Relações Exteriores, Kouchner avisou o mundo que deveria preparar-se para uma guerra em torno do programa nuclear iraniano: "Precisamos nos preparar para o pior, e o pior é a guerra". Chamando a suspender o enriquecimento do urânio pelo Irã, Sarkozy ameaçou: "A bomba iraniana ou bombardear o Irã". E garantiu ser “inaceitável para a paz mundial” que mais um país viesse a ter a bomba atômica.


Por trás da retórica radical, Ahmadinejad voltou a jogar a carta da saída diplomática, ao pedir que os Estados Unidos evitem fazer "declarações ilógicas e sem fundamento", e solicitar à União Européia (UE) que "atue com independência" em relação ao programa nuclear iraniano.


Mas os EUA e a União Européia, conjuntamente, não deram seu aval ao acordo entre o Irã e a AIEA, o que é um motivo de fricções com o diretor da agência, El Baradei. Logo que este reportou o acordo a que chegara com o Irã, Bush apresentou ao Conselho de Segurança propostas de novas e muito mais duras sanções contra Teerã. Vetadas pela China e a Rússia, Sarkozy levou essas medidas à consideração da Comunidade Européia. Sarkozy disse da tribuna da ONU que “não haverá paz no mundo se a comunidade internacional der provas de fraqueza diante da proliferação de armas nucleares”. A alemã Angela Merkel qualificou de “desastre” a possibilidade de uma bomba nuclear iraniana, “um risco para a existência de Israel, inaceitável”. O imperialismo francês, em especial, defende a necessidade de fortalecer a capacidade de Europa para quebrar a resistência da Rússia a uma colonização aberta pelo capital internacional. Propõe fechar as brechas de Europa com os EUA, e reintegrar a França ao comando operacional da OTAN.


Acontece, porém, que o Irã é a peça chave para resolver a crise da ocupação militar do Iraque, sendo, ao mesmo tempo, um campo de provas da resistência russa. No Iraque, no setor petroleiro, as disputas são brutais. Ao norte, os curdos declararam sua “independência petroleira” e começaram a firmar contratos por separado com firmas ocidentais. O ministro de petróleo do Iraque os declarou “ilegais”; os curdos lhe responderam que “não se metesse em assuntos que não lhe interessam” (sic!).


A questão curda se transformou no estopim do início do completo desequilíbrio regional. A Turquia alocou 100 mil tropas apoiadas por tanques, artilharia, aviões e helicópteros, próximas à fronteira com o Iraque, para uma possível ação militar em larga escala para combater os curdos. Os Estados Unidos e o Iraque vêm tentando demover Ancara do intuito de lançar uma campanha militar em larga escala, com o argumento de que isso poderia desestabilizar a região. O ministro das Relações Exteriores do Iraque, Hoshiyar Zebari, alertou para as "desastrosas conseqüências" de uma ação militar. O caos é tal que o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, disse que os Estados Unidos e Israel apóiam os separatistas curdos do PKK, estabelecidos no norte do Iraque, ou seja, acusou-os de “terrorismo”... O Irã também tem população curda, e seu Exército entra em conflito freqüentemente no noroeste do país com milicianos curdos do já mencionado Pejak (Partido para Vida Livre do Curdistão), aliado do PKK. Na questão curda, o governo iraniano busca as bases de um acordo regional geral, e com os próprios EUA: Ahmadinejad declarou que defende uma solução pacífica para a crise, e destacou a “necessidade de confrontar as atividades terroristas do PKK. O Irã também tem uma minoria curda e sofre ataques rebeldes contra seu território”.


No sul do Iraque, a riqueza petroleira em torno à cidade de Basora é objeto de uma dura disputa entre as diversas milícias xiitas que lutam por tomar conta da empresa estatal de petróleo. A retirada dos ingleses de Basora, derrotados pelos milicianos, “ameaça desatar uma guerra total pelo controle da indústria petroleira”, segundo The Christian Science Monitor. O governo do primeiro ministro Maliki está no limiar do colapso. A crise agravou-se depois que os ministros pertencentes ao movimento do dirigente xiita Al Sadr abandonaram o governo. Al Sadr rejeitou o acordo da coalizão xiita governante com os curdos e os norte-americanos, para que os integrantes do partido Baath (o velho partido de Saddam Hussein) pudessem voltar ao governo. O governo de Maliki está em minoria e, segundo analistas, “só o apoio do Irã, e o cada vez mais reticente apoio norte-americano o mantêm em pé”. A invasão que devia, segundo “Dick” Cheney, “redesenhar o mapa do Oriente Médio”, transformou toda a região em um gigantesco barril de pólvora.


Putin aceitaria não se envolver na defesa do Irã, se os EUA e Europa se retirassem da Ásia Central e do Cáucaso, condição impossível para o imperialismo ocidental, por ser aquela uma zona chave para a colonização econômica e geográfica do capital mundial.[6] Em meados de setembro, o chanceler russo, Serguei Lavrov, advertiu publicamente que “nos preocupa especialmente a multiplicação de informações segundo as quais se analisa seriamente uma ação militar contra o Irã”.


Esse é o quadro principal das disputas internacionais e regionais, incluído o conflito contra o Irã. O Kuait, baluarte dos EUA (foi em nome da sua pretensa “independência” que os EUA promoveram a primeira Guerra do Golfo, em 1990), através de seu representante Jaber Al Sabah, afirmou que seu país, onde há bases militares ianques, não permitiria que fossem usadas para atacar o Irã. A belicosidade americana está preparando um tiro pela culatra na região mais sensível (e rica) do Oriente Médio.


As ameaças norte-americanas, porém, visam também, e sobretudo, conseguir uma mudança da situação interna do Irã, quebrando a resistência antiimperialista. O principal “partido reformista” (ou “modernista”) iraniano, a Frente de Participação (Mosharekat), advertiu, durante seu X Congresso, contra o crescente isolamento internacional do Irã. "Desde o início pensamos que a política nuclear do governo de Ahmadinejad era um erro", disse seu secretario geral, Mohsen Mirdamadí. Mas também entre os chamados “conservadores” a vontade de capitular se faz visível. Um ex vice - ministro, próximo do ex presidente Ali Rafsanjani, queixou-se de que "a forma em que se leva adiante a política externa" seria um "completo desastre".


E, sobretudo, até agora a maioria do establishment político e diplomático norte-americano se opõe a lançar uma guerra. As ameaças ao Irã são uma via de saída para o “inferno iraquiano” dos EUA. Essa é sua principal função política para o imperialismo hegemônico. As pressões imperialistas sobre o Irã se agravam na mesma medida em que se agrava a crise da ocupação norte-americana do Iraque.


Por isso, o Foreign Affairs afirma que “chegou a hora da distensão com o Irã”: “A diferença do que aconteceu na escalada que levou à invasão do Iraque, o Pentágono se declarou contrário a uma ação militar contra o Irã”. A verdade é que o Irã está longe de obter a bomba nuclear, o seu processo de produção da mesma depende de tecnologia estrangeira. Ainda que tivesse a bomba, sua utilidade seria bem relativa: não poderia usá-la por se encontrar (o Irã) rodeado de potências nucleares (como Israel); e, caso o fizesse, as naves norte-americanas no Golfo Pérsico destruiriam o Irã de modo imediato.


Um ataque ao Irã poderia ser, contudo, um recurso em última instância para o imperialismo ianque. Mas, inclusive como último recurso seria extremamente custoso. O Irã tem acordos de colaboração militar e nuclear com a Rússia. E Rússia tem a possibilidade de converter um ataque norte-americano ao Irã no pesadelo de Washington, provendo Irã de sistemas de defesa, radares, mísseis e sistemas de comando. Segundo a revista de análise estratégica - militar Stratfor, “a primeira fase do ataque norte-americano – a supressão da defesa aérea – seria muito custosa; a segunda - a batalha contra a infraestrutura – seria uma guerra de desgaste. Estados Unidos não poderia forçar uma mudança de regime, e deveria pagar um alto preço por isso”. O enorme custo de uma operação militar - uma campanha catastrófica ou, alternativamente, a entrega à Rússia da Ásia Central e das repúblicas que integravam a ex URSS - explica a rejeição, por enquanto, de uma aventura militar anti - iraniana pelo establishment político, diplomático e militar dos EUA, que não desaprova, porém, a montagem do dispositivo militar bélico.


O regime teocrático do Irã, devido ao seu caráter reacionário-clerical, é incapaz de mobilizar revolucionariamente os países do Oriente Médio ou da Ásia Central contra a perspectiva da agressão imperialista, e menos ainda às massas de seu próprio país, submetidas a uma exploração sem limites. 50% da população sobrevive sob a linha de pobreza, o desemprego atinge 15%, o salário médio não supera 100 dólares mensais - a cesta básica situa-se em 600 dólares - e abunda o trabalho “negro”, precário ou "terceirizado". Os direitos sindicais praticamente inexistem. É uma situação de miséria material e social refletida também em outros indicadores: 20% da população consome algum tipo de droga. A base social do regime é menos a burguesia comercial (disposta a joga-lo fora a qualquer momento) do que a proto-burguesia estatal dos “Guardas”, e uma pequeno burguesia, cinicamente “laica”, beneficiária indireta do maná petroleiro, através de cargos estatais e diversas formas de subsídio.


A 8 de março passado, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, milhares de mulheres saíram à rua em diversas cidades iranianas, sem o véu que obrigatoriamente deveriam usar, em um desafio aberto aos aiatolás. Desde esse mês (começo oficial do ano civil iraniano) aconteceram importantes greves docentes: 80% dos grevistas são mulheres. O governo ordenou à polícia, a 22 de abril, castigar na rua toda mulher que não usasse as roupas ordenadas pela lei islâmica.[7] Uma luta conseqüente contra o imperialismo, que unifique as massas iranianas, iraquianas, afegãs e de toda a região, exige se livrar dos regimes teocráticos que dividem os explorados em linhas sectário-religiosas.


Dobrar o Irã através da pressão política e da ameaça militar, ou encorajar a guerra: tais são as alternativas dos EUA. Mas há ainda o problema de como reagiriam as massas dos países imperialistas a uma nova guerra. A crise financeira internacional está fazendo um estrago social nos EUA e parte da Europa; uma eventual guerra consumiria a riqueza social em condições de queda do poder aquisitivo dos salários, em conseqüência da inflação, num quadro de endividamento crescente, e até terminal, das famílias do famigerado “Primeiro Mundo”.


Em caso de guerra, deveria se mobilizar unificadamente, no mundo todo, todos os setores dispostos a se opor à nova aventura militar, qualquer que seja argumento ou ideologia com que o façam. A guerra teria conseqüências internacionais imediatas: na América Latina, uma guerra contra o Irã levaria os EUA a apertar o cerco contra a Venezuela, buscando o apoio dos governos da “esquerda moderada” de nossas bandas, elogiados pela Casa Branca. Mas, depois das grandes mobilizações de 2001 e 2002, o movimento mundial contra a guerra parece anestesiado, e foram comparativamente muito inferiores, especialmente na Europa, às mobilizações contra a invasão anglo – ianque do Iraque em 2003.[8]


As bases do movimento anti – guerra devem ser clarificadas, o pacifismo deve ceder seu lugar ao antiimperialismo e à luta pela unidade dos explorados de todo o mundo contra o parasitismo bélico do capital. Chegar à conclusão de que não se trata de convencer às “pombas” imperialistas a fazer a paz, mas de destruir o imperialismo capitalista.

Oswaldo Coggiola é professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), doutor pela École des Hautes Etudes em Sciences Sociales (França). É autor, entre outros livros, de Revolução Russa (Lázuli, 2004)

A paz invade o coração da Colômbia

Num país golpeado pela violência política, a sociedade civil reage humilhando, em eleições regionais, os grupos pára-militares e o presidente associado a eles. Apoio a Uribe é cada vez mais precário, e sistema partidário tradicional está em frangalhos

Simone Bruno

A eleição de Samuel Moreno para a prefeitura de Bogotá, segundo posto eletivo em importância na Colômbia, demonstra que o Pólo Democrático fez um bom trabalho como partido. Pela segunda vez consecutiva, seu candidato triunfou numa capital que havia varrido do mapa as agremiações tradicionais, elegendo prefeitos independentes.

Junto com o Causa Radical, o Pólo é hoje a única força com forte base eleitoral na cidade, o que amplia suas chances para a disputa presidencial de 2010. Uma boa gestão de Samuel poderia abrir caminho para que se consolide também fora da capital. Os outros partidos, incluindo os históricos, Liberal e Conservador, estão dispersos, perderam força nas grandes cidades e parece difícil que tenham condições para lançar candidatos próprios daqui a três anos. O Partido Conservador, em especial, parece reduzido a um tentáculo a mais do uribismo.

A vitória amplia também a força do atual prefeito da capital, Lucho Garzón, cujo bom trabalho no campo social permitiu-lhe acumular experiência e projetar-se no cenário nacional. Em contrapartida, quase todos os analistas destacam a derrota do presidente Alvaro Uribe. Sua derrota foi agravada por ter mantido, ao longo da campanha, postura abertamente contrária a Samuel, a quem acusou de “comprar votos” e receber respaldo das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Muitos concordam que a derrota esmagadora sofrida por Enrique Peñalosa (candidato independente apoiado pelos partidos governistas) deveu-se, em parte, a uma reação contra esta tomada de posição do presidente. Além de inconstitucional, sua intervenção explícita na campanha é muito perigosa, num país como a Colômbia. Nos anos 80, mais de 2 mil militantes da organização de esquerda União Patriótica foram assassinadas, precisamente a partir de insinuações de que seriam o “braço desarmado das FARC”

Na lista de perdedores, a mídia de mercado e seus comentaristas

Também os meios de comunicação tentaram atingir Samuel Moreno, servindo-se de expedientes rasteiros. Para tentar vincular o então candidato com apoio à atividade subversiva, o canal RCN, por exemplo, levou ao ar, de forma descontextualizada, trecho de uma entrevista concedida por ele há quase 14 anos. A reação da sociedade foi cristalina: Samuel obteve mais de 900 mil votos, um recorde absoluto. Por isso, jornalistas como, María Isabel Rueda, da revista Semana, incluem na lista perdedores os meios de comunicação de massa e os comentaristas políticos que, em sua maioria, apoiavam o candidato Peñalosa.

Mas o sinal mais alarmante lançado pelas eleições para Uribe é que a corrente política criada por ele parece incapaz de se reproduzir. O polvo inteiro do uribismo e seus tentáculos pode estar fadado a morrer, com o fim do mandato do presidente. Nos planos regional e local, os partidos que compõem esta corrente tendem a se dispersar, em uma constelação de alianças variáveis. Alguns, apoiando candidatos liberais e outros grupos. Outros, enfrentando-se em batalhas eleitorais ferozes entre si mesmos. Um exemplo deu-se agora no município de Ciénaga de Oro, onde houve confrontos violentos até mesmo no interior de um dos partidos uribistas. Os desordeiros atacaram prédios públicos e atearam fogo na prefeitura. Nos distúrbios, morreu uma pessoa.

Pela primeira vez, grupos da sociedade civil e meios de comunicação somaram forças para lutar contra a infiltração dos grupos pára-militares e mafiosos nas eleições locais, onde tais bandos encontram o combustível que lhes permite existir. Um sistema de alarmes precoces e de listas manteve os leitores constantemente informados sobre os candidatos que representam um risco.

“Vote bem”, chamava-se, por exemplo, uma lista que, com apoio da comentarista política Claudia López, classificava os candidatos com base em seu grau de risco: extremo, alto, médio e baixo. Os critérios incluíam o partido de filiação, as relações políticas, financiadores, inquéritos em curso e outros fatores. Foi uma resposta relevante dos colombianos ao “escândalo da pára-política”, que já implica 50 parlamentares, quase todos ligados ao uribismo.

Sociedade e justiça impõem série de derrotas aos “páras”

O escândalo é um processo que tem marcado profundamente a sociedade colombiana. Alguns dos partidos uribistas foram cassados pelas investigações, e parte de sua alta dirigência está na cadeia. Isso ocorreu com agremiações como Alas, Equipo Colombia, Colombia Democratica (de Mário Uribe, primo do presidente), Convergencia Ciudadana, Abertura Liberal e Colombia Viva. Parlamentares eleitos pelas quatro primeiras foram condenados e encarcerados.

O despertar dos colombianos e a atuação de organizações como Vote Bem permitiram cortar estas ramificações apodrecidas do uribismo, conhecidas como “aliança de La Picota” (o presídio em que estão detidos os políticos condenados), cujos candidatos foram todos considerados de risco extremo. Também os organismos institucionais de fiscalização impugnaram cerca de 300 postulantes.

A “aliança de La Picota” disputou 16 governos departamentais e 24 prefeituras de capitais. Contava com poderosas redes clientelistas e coronéis locais, mas fracassou. Perdeu quase todos os governos (exceto os de Sucre — onde um estranho apagão permitiu a vitória de Jorge Carlos Barraza, candidato de risco extremo, de amizades notórias com pára-militares —, Amazonia e no complicado Magdalena). Também representam risco os eleitos en Vale del Cauca e Antioquia.

Mas é importantíssima a recuperação da legalidade nos departamentos Atlantico, Santander, Cartagena, Barranquilla e Cesar – onde ganhou Cristian Moreno, que nas eleições passadas teve de deixar o departamento sob ameaça, ficando o governo em mãos de Hernando Araujo Molina, hoje hóspede de La Picota.

As urnas desmoralisam as “pesquisas” do Instituto Gallup

Isso evidentemente não significa que já esteja eliminada a infiltração pára-militar na política. Mas não há dúvidas de que o processo sofreu uma importante redução – mais nítida nos governos e capitais que nas pequenas prefeituras.

Uma das formas de repúdio à classe política corrupta foi a abstenção. Nos departamentos onde o fenômeno é mais sentido, o percentual de votos em branco chegou a 18%, atingindo 50% em alguns municípios. Em Cartagena, Judith Pinedo, primeira prefeita da história, ganhou contra três candidatos de alto risco – entre eles, Carlos Gossain Rognini (do partido Colombia Democratica, apoiado por Mario Uribe, o primo do presidente). Nas eleições anteriores, Judith liderava o movimento Cartagena 1815, em favor do voto em branco.

No rol dos perdedores, não se deve esquecer a “prestigiosa” empresa internacional de pesquisas Gallup. Até seu último boletim, ela enxergava, em Bogotá, um empate técnico entre Samuel Moreno e Peñalosa. O presidente da empresa na Colômbia, Jorge Londoño, já esteve no centro de uma polêmica há meses, quando eclodiu o escândalo da pára-política. Foi acusado de alterar os parâmetros de uma pesquisa que afere, entre outros dados, a popularidade do presidente Uribe – nunca, segundo o Gallup, abaixo de 70%. O instituto elevou o peso dos mais ricos e dos habitantes das grandes cidades, na metodologia que apura o apoio do chefe de governo. Diante do fracasso de suas sondagens sobre as eleições de Bogotá, o jornalista Julio Sánchez Cristo disparou, na Rádio W, uma pergunta muito interessante ao presidente do Gallup: “Vocês usam a mesma metodologia em todas as pesquisas”? “Sim”, respondeu Londoño...

Tradução: Antonio Martins
antonio@diplo.org.br