sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Don Quixote - (Don Kikhot)

Don Kikhot é a aclamada versão da obra-prima de Miguel de Cervantes, "Don Quixote de la Mancha". Don Quixote é um romântico e excêntrico sonhador, um cavaleiro cortês que adora a dama do seu coração, Dulcinéia de Toboso. Em sua jornada como cavaleiro errante, ele luta contra moinhos, defende os oprimidos, tendo ao seu lado o seu fiel companheiro Sancho Pança. Trilhando vários caminhos da Espanha medieval, os dois heróis - o alto e magricela Don Quixote e o baixo e gorducho Sancho -, mesmo diante de muitos perigos, não se afastam de seus princípios, acreditando sempre no poder da bondade e da lealdade.

Legendas exclusivas smile.gif

créditos:makingoff - willams
Gênero:
Aventura / Drama
Diretor: Grigori Kozintsev
Duração: 111 minutos
Ano de Lançamento: 1957
País de Origem: União Soviética
Idioma do Áudio: Russo
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0050326/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: DivX
Vídeo Bitrate: 1200 Kbps
Áudio Codec: Mp3
Áudio Bitrate: 128
Resolução: 720 x 480
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 974 Mb
Legendas: Em anexo

Nikolai Cherkasov ... Don Quixote de la Mancha / Alonso Quixano
Yuri Tolubeyev ... Sancho Panza
Serafima Birman ... The Housekeeper
Lyudmila Kasyanova ... Aldonsa
Svetlana Grigoryeva ... The Niece
Vladimir Maksimov ... The Priest
Viktor Kolpakov ... The Barber
Tamilla Agamirova ... Lady Altisidora
Georgi Vitsin ... Sanson Carrasco
Bruno Frejndlikh ... The Duke
Lidiya Vertinskaya ... The Duchess
Galina Volchek ... Maritornes
Olga Vikland ... Peasant girl

- Don Kikhot é considerado por muitos críticos como uma das melhores adaptações do clássico de Cervantes, sendo esta opinião bastante devedora da atuação memorável de Nikolai Cherkasov, um dos atores preferidos de Eisenstein, tendo inclusive estrelado dois de seus filmes mais conhecidos (Ivan, o Terrível e Alexander Nevsky). Para quem desejar conhecer mais a respeito deste importante ator russo, tem este site (em inglês) aqui.

- Don Kikhot tem como realizador o diretor russo Grigori Kozintsev, também diretor de verdadeiras preciosidades como Gamlet e Korol Lir. Embora considerado um realizador de relevo para o povo russo, sua obra é pouco conhecida fora do cenário soviético. Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre este o diretor e sua filmografia, tem este site (em espanhol) aqui.

- Para a realização do filme, Kozintsev contou com o assessoramento estético do escultor espanhol Alberto Sánchez, que estava então exilado na URSS.

- Embora filmado em 1957, em virtude das tensões do período da Guerra Fria, o filme permaneceu sob censura durante 4 anos, só vindo a estrear no Estados Unidos em 1961.

- Para quem quiser saber mais sobre o universo que circunda esta maravilhosa obra-prima de Cervantes, recomendo o post do nosso amigo eeeuuu, enriquecido com um farto material na parte de "Curiosidades".
- O ator Nikolai Cherkasov foi indicado à Palma de Ouro, no Festival de Cannes (1957).

Don Quixote

Don Kikhot é uma adaptação fiel do clássico de Cervantes, perpassado por uma sutil leitura marxista, e com um uso de recursos bastante impressionante para a época, como efeitos especiais, sistema Sovcolor, som estereofônico, etc. Tendo como realizador o aclamado diretor russo Grigori Kozintsev (Gamlet, Korol Lir), o longa teve como locações a Criméia (antiga URSS), local escolhido por Kozintsev para reproduzir a Espanha medieval. Somando-se a estes elementos, temos ainda as ótimas atuações de Nikolai Cherkasov (Don Quixote) e Yuri Tolubeyev (Sancho Pança), num conjunto que faz deste filme um clássico belo e raro, que merece ser redescoberto. Vale a pena conferir. wink.gif


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Notícias de Gaza-Auschwitz

Blog do Bourdoukan

Na quarta feira o Hamas se dispôs dialogar com Israel pela milésima vez.

Israel respondeu com uma chuva de mísseis que assassinaram quatro crianças e um bebê.

Na quarta feira o Haaretz publicou uma pesquisa na qual 62% dos israelenses manifestavam-se favoráveis a uma solução com o Hamas.

Israel enviou helicópteros e tanques para assassinar, até o momento, 30 palestinos.
Entre os mortos, as quatro crianças e o bebê.

As crianças, com idades entre 7 e 12 anos, foram assassinadas quando jogavam bola em um terreno baldio.

O porta-voz da Agência da ONU de Ajuda aos Refugiados Palestinos (Unrwa), Christopher Gunness, "condenou fortemente" a ação que levou à morte do bebê.

Gaza-Auschwitz continua cercada, água e luz continuam cortadas, alimentos e remédios não conseguem atravessar as barreiras israelenses.

Isto significa que centenas de palestinos morrerão de fome, sede e por falta de medicamentos. Não se conhece ainda o número de feridos.

Mas para essa humanidade apática isto não tem a minima importância, já que logo todos estarão mortos.

Entre o crime ambiental e a necessidade social

Assim como no Pará, madeireiros de Mato Grosso ameaçam com “revolta popular” se o governo deflagrar a Operação Arco de Fogo de combate ao desmatamento da Amazônia. No meio do conflito, estão milhares de trabalhadores pobres que vivem da destruição da floresta.

RIO DE JANEIRO - Os jornais de maior circulação do país divulgaram com destaque nesta sexta-feira (29) a ameaça feita ao governo federal pelos donos de empresas madeireiras que atuam em Mato Grosso. Estes advertem que, se for mesmo deflagrada no estado a Operação Arco de Fogo de combate ao desmatamento da Amazônia, certamente haverá reação violenta da população em municípios que têm a degradação da floresta como principal pilar de sua economia, casos de Sinop, Marcelândia e Alta Floresta, entre outros.

Há poucos dias, no Pará, uma “revolta popular” insuflada pelos empresários no município de Tailândia impediu que policiais e agentes do Ibama retirassem da cidade 15 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente que haviam sido apreendidos nos pátios de algumas de suas mais de 150 madeireiras, serrarias e carvoarias.

Em ambos os casos, a reação de alguns empresários que enriquecem devorando a Amazônia se apóia num importante e inquestionável fato social: a destruição da floresta é hoje o principal meio de subsistência para milhares de trabalhadores pobres nos municípios espalhados ao longo do chamado arco do desmatamento. Essa foi a realidade que colocou milhares de pessoas na rua em Tailândia e pode colocar novamente em Sinop ou Marcelândia.

Senhores da economia na região, os madeireiros não hesitam em manipular suas armas políticas para impedir a ação da força-tarefa coordenada pela Polícia Federal. Em Tailândia, após uma campanha massiva de comunicação para alertar a população sobre os malefícios da operação preparada pelo governo, os empresários, em ação orquestrada, demitiram duas mil pessoas que trabalhavam diretamente no setor madeireiro. Isso aconteceu exatamente na véspera do recolhimento da madeira que havia sido apreendida pelo Ibama. Até agora, segundo informação fornecida pelo prefeito, cerca de seis mil trabalhadores já foram demitidos em Tailândia, que tem cerca de 67 mil habitantes.

A coisa não deve ser muito diferente em Mato Grosso, onde os primeiros agentes da PF têm chegada programada para domingo (2). Em entrevista ao jornal O Globo, o dono da madeireira Madevale, que atua em Sinop, anunciou que, por conta da ação do governo, já demitiu 40 de seus 50 empregados: “O governo está impondo regras muito duras para a extração da madeira. Onde serão colocados os empregados que vão perder seus empregos?”, indaga, no mesmo tom de ameaça de seus pares paraenses.

Se quiser mesmo seriedade e eficiência nessa nova etapa do combate ao desmatamento da Amazônia, não resta dúvida de que o governo tem de ser firme e contundente na resposta aos madeireiros que decidirem partir para o confronto e para a manipulação dos trabalhadores. Também é evidente, entretanto, que os governos (aí incluo os estaduais) têm a obrigação de oferecer alguma alternativa econômica aos milhares de trabalhadores pobres que direta ou indiretamente tiram do desmatamento seu sustento e sobrevivência.

Caminhos para isso não faltam, mas é preciso que os governos tirem do papel alguns de seus diversos projetos que têm o objetivo de “dar maior valor econômico à floresta em pé do que à floresta derrubada”. Como medida emergencial, o anúncio feito pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente) de que o governo pretende criar um mecanismo de auxílio-financeiro para os trabalhadores pobres da Amazônia que subsistem graças a sua participação em atividades ilegais parece ser uma boa opção.

Em médio e longo prazos, no entanto, é preciso dar a essa massa de trabalhadores rurais amazônicos a real possibilidade de tirar de forma digna seu sustento econômico da participação em projetos de desenvolvimento florestal sustentável ou de preservação da biodiversidade. Uma opção que certamente trará melhor retorno econômico do que simplesmente engrossar as fileiras de pessoas de baixíssima renda que servem aos “empresários” do desmatamento ou do tráfico de animais silvestres, entre outros criminosos ambientais.

Uma capa de VEJA que nunca vamos ver...



CHÁVEZ CRITICA EXTREMA-ESQUERDA VENEZUELANA; PESQUISA DIZ QUE TAXA DE APROVAÇÃO DELE É DE 67%

Blog do Azenha

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, sugeriu que a extrema-esquerda que o apóia pode ter sido infiltrada para provocar atos que resultem em dano político para o governo. Ele fez referência explícita à ativista Lina Ron, que liderou a ocupação do Palácio Episcopal de Caracas. A hierarquia da Igreja Católica se opõe fortemente a Chávez.

Falando no programa La Hojilla, da emissora estatal VTV, Chávez afirmou: "Não entendo a camarada Lina Ron, não consigo entendê-la, é uma coisa totalmente absurda, tomaram o Palácio Episcopal; seria bom fazer uma investigação sobre o dano que a ultraesquerda causou a Salvador Allende, que não se dava conta da infiltração da CIA e provocava."

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Da sede da ocupação, Lina Ron pediu ao governo que tome ações contra o canal de oposição Globovisión - que em parceira com outras emissoras privadas ajudou a promover o golpe que afastou Hugo Chávez do poder durante cerca de 72 horas, em abril de 2002.

Chávez também repudiou o uso de violência política. Um grupo que se identifica como Frente Guerrilheira Venceremos explodiu quatro bombas desde o início deste ano em Caracas. O grupo diz que apóia o governo. Num dos atentados, diante da Fedecámaras, a FIESP da Venezuela, morreu o homem que aparentemente "plantava" a bomba. O vigia do prédio estava dormindo. Panfletos encontrados junto ao corpo acusavam a Fedecámaras de causar desabastecimento na Venezuela.

A grande mídia venezuelana continua sua campanha diária contra o governo. Mais recentemente, apoiou a petroleira Exxon Valdez, que tem uma disputa comercial com o governo Chávez. Hoje dá ampla cobertura ao depoimento de militares americanos no Congresso, em Washington. Um deles disse que a Venezuela "tem quatro vezes mais armas do que o necessário." Ninguém perguntou se os Estados Unidos tem mais armas do que o necessário.

O diretor de inteligência nacional, J. Michael McDonnell, e o diretor da Agência de Inteligência para a Defesa, Michael D. Maples, depuseram ontem no Comitê das Forças Armadas do Senado. McDonnell afirmou textualmente, sobre as compras de armas do governo Chávez: "Provavelmente três ou quatro vezes mais do que necessita." O grifo é meu. Eles chutam qualquer coisa e a imprensa publica.

Então o senador Mel Martinez, republicano da Flórida que representa interesses da extrema-direita americana, perguntou se o objetivo de Chávez seria "desestabilizar governos vizinhos, entre eles o da Colômbia, e ajudar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)".

McDonnell respondeu: "Poderia ser". O grifo é meu. Poderia ser ou poderia não ser. Ele não apresentou provas. Especulou - e a mídia distribuiu a notícia mundo afora.

O apagão da segurança pública e o apagão alimentar são apontados como os principais problemas do país. São problemas reais, resultam em parte da incompetência do governo Chávez mas são amplificados pela mídia venezuelana.

Segundo a pesquisa mais recente do Instituto Venezuelano de Dados (IVAD) a taxa de aprovação de Chávez no governo é de 67,3%. O maior programa social, conhecido como Las Missiones, tem aprovação de 73,1% e é rechaçado por 15%.

Conselho de um velho apaixonado

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante,
e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa,
se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino : O amor!
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso,
um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.
Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento,
chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...
Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...
Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...
Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.
É o livre-arbítrio.
Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor!

Carlos Drummond de Andrade

Nara Leão - Nara Pede Passagem (1966)




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Tropeços do cavalo



Escrito por Frei Betto

Fala-se muito em neoliberalismo para definir o novo caráter do capitalismo. O que significa isso? A essência do capitalismo é a progressiva acumulação do capital em mãos privadas. Os bens já não têm valor de uso, têm valor de troca. Não são para se viver, são para se vender. No capitalismo, o dinheiro – essa abstração que representa valor – está acima dos direitos e das necessidades das pessoas.

Como observa Houtart, após a Segunda Guerra Mundial três fatores puxaram as rédeas do cavalo de corrida chamado capitalismo: o fortalecimento do movimento operário e o medo da expansão do comunismo, que fizeram com que os Estados burgueses regulassem os direitos trabalhistas; a implantação do socialismo no Leste europeu; o projeto de desenvolvimento nacional em países pobres como o Brasil (conferência de Bandung, Indonésia, 1955).

Esses três fatores eram a pedra no casco do sistema capitalista que, por força deles, se viu obrigado a reduzir seu nível de acumulação e sua liberdade de apropriar-se de tudo que possa gerar riqueza.

O cavalo reagiu. Deu um coice na regulação do trabalho, lesando os direitos dos operários (sob os eufemismos de flexibilização, terceirização etc.), desmobilizando o movimento sindical e aumentando consideravelmente o índice de trabalhadores informais e o desemprego, agravados pela crescente informatização da economia.

O segundo coice foi no socialismo, com a derrubada do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética, acrescido da cooptação da China. O terceiro, a globocolonização, a internacionalização da economia e a imposição ao planeta de um único modelo de sociedade, o anglo-saxônico, que predomina na zona rica do planeta.

Eis o neoliberalismo: livre de rédeas e freios, o cavalo corria desabalado na pista da acumulação.

Ocorre que a vida é feita de imprevistos. O sistema carrega em si suas próprias contradições. Como apontou Marx, ele é o seu próprio coveiro. E, agora, o cavalo vê-se obrigado a desacelerar sua corrida por força da crise ecológica (o aquecimento global), da crise de superprodução (há mais oferta que demanda de produtos) e da atual crise financeira que exaure os bancos dos EUA, faz mais de um milhão de pessoas verem evaporar seu sonho de casa própria e provoca, em um mês, o desemprego de mais de 35 mil bancários estadunidenses.

Os governos dos países capitalistas vivem se queixando de que o déficit público é alto e eles não têm dinheiro para o essencial: alimentação, saúde, educação etc. Porém, na hora em que o cavalo tropeça, o dinheiro imediatamente aparece para socorrê-lo. Bush liberou US$ 145 bilhões para tentar evitar a recessão americana e os Bancos Centrais do mundo rico tratam de disponibilizar seus balões de oxigênio financeiro aos bancos asfixiados pela crise ou em agonia diante de um mercado inadimplente.

Ora, não viviam clamando que o mercado é o melhor regulador da economia? Não viviam apregoando "menos Estado e mais mercado"? Por que agora todos correm aos braços acolhedores do Estado de bem-estar financeiro? E de onde veio toda essa fortuna, antes negada aos direitos sociais, ao socorro da África, ao cumprimento das Metas do Milênio?

A recente reunião de Davos, clube que aglutina os donos do dinheiro, foi como um conclave de cardeais que, súbito, descobrem que Deus não existe. Eis abalada a fé no mercado. Se ele trouxe tantas bênçãos aos eleitos da fortuna, agora ameaça com maldições.

O curioso é que a origem do problema não é mundial. É local, nos EUA. Como toda a economia mundial atrelou-se à hegemonia unipolar de Wall Street, se este espirra, o mundo se gripa. Resta esperar para conferir se a gripe é passageira, curável com um analgésico ou levará o doente à cama, acometido por febres e infecções.

O que ninguém duvida, entretanto, é que, mais uma vez, a conta de tantos tropeços do cavalo será paga pelos pobres. Assim funciona o sistema que promete liberdade, prosperidade e paz para todos, mas não cumpre. Há que se buscar um outro mundo possível.

Frei Betto é escritor, autor de "A mosca azul – reflexão sobre o poder" (Rocco), entre outros livros.

YES


yesband2

Foi através deste álbum que eu tomei conhecimento da banda, e guardo até hoje o meu vinil, com carinho. Simplesmente imperdível. A faixa "And You And I", é uma verdadeira viagem!


Close to The Edge ( Próximo à Margem), [1972]
Studio Album, released in 1972

Tracks

1. Close To The Edge (18:50)
2. And You And I (10:09)
3. Siberian Khatru (8:57)

Créditos: jimihendrixforever

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Site Oficial da Banda, Click
UM EPITÁFIO PARA O PT

Por Marco Arenhart.

A morte política do PT tem sido anunciada ou celebrada praticamente desde seu nascimento. Muitos desses anúncios têm pouca importância por serem apenas frutos de disputas e confrontações de adversários ou dissidentes. Eles podem ser contraditos facilmente como fazia Mark Twain, em relação aos seus freqüentes obituários: “as notícias sobre minha morte são um tanto prematuras”. Mas, hoje, podemos perceber um momento histórico no qual é preciso pensar seriamente em um epitáfio digno do grande partido operário brasileiro.

Compor epitáfios não é uma tarefa fácil. Registrar em pedra duradoura a síntese de uma vida, particularmente das intensamente vividas, é um compromisso demasiado sério – ou não. Este registro duradouro é uma tradição tão antiga quanto a escrita. Do relato da vida de faraós ao simples encomendar da alma aos deuses por um comerciante assírio, estes epitáfios constituem uma valiosa fonte para a compreensão da história humana, especialmente a partir da perspectiva das pessoas comuns.

Dos ex-votos das estrelas da antigüidade, que apelavam por favores divinos na próxima vida, os epitáfios evoluíram para assumir, em meados do século XIX, no ocidente, um tom irônico, mesmo jocoso, as vezes desafiando a morte e os vivos. Devemos encarar essas mudanças no caráter das mensagens à posteridade como fruto do secularismo que impregnou a cultura contemporânea. Sem o conforto metafísico da eternidade da alma, o humor acaba sendo um grande aliado. Graças a isso, ao invés de prometer sacrifícios de cabras ou votos de castidade, muitos epitáfios nos presentearam com verdadeiros diamantes literários.

Um rápido passeio entre essas mensagens garante muitas reflexões e uma boa diversão:

No túmulo de de Robespierre:

Passant, ne pleure pas ma mort (Passante, não chores minha morte)

Si je vivais tu serais mort. (Se eu vivesse tu estarias morto)

Em um cemitério de Thurmont, Maryland

Aqui jaz um ateu completamente vestido para não ir a lugar algum.


De Moliere, escrito por ele mesmo:

Aqui jaz Moliere o rei dos atores

Neste momento se faz de morto

e de verdade o faz muito bem


De William Shakespeare

Good friend for Jesus sake forebear

To dig the dust enclosed here

Blessed be the man that spares these stones

And cursed be he that moves my bones

(Caro amigo em nome de Jesus abstenha-se

De cavar o pó que aqui se encontra

Abençoado o homem que preserve estas pedras

E amaldiçoado seja aquele que mover meus ossos)

De Werner Heisenberg (que formulou o princípio da incerteza)

He lies here, somewhere. (Ele jaz aqui, em algum lugar.)

De Groucho Marx

Groucho Marx 1890-1977 (mas ele queria: “Desculpe-me mas não posso levantar.”)

De Karl Marx

Trabalhadores de todas as nações, unam-se. Os filósofos tem apenas interpretado o mundo de várias formas; a questão é mudá-lo.

De Fernando Pessoa

Fui o que não sou

Do filósofo cínico Diógenes:

Ao morrer, joguem-me aos lobos

já estou acostumado

De George Bernard Shaw

I knew if I waited around long enough something like this would happen

(Eu sabia que se eu esperasse por aqui o bastante algo assim iria acontecer.)

Do Mausoléu de Júlio de Castilhos (do pensamento positivista de Augusto Comte):

Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos

Refletindo sobre esses epitáfios, sou obrigado a reconhecer que a tarefa à qual me propus está muito além de minha capacidade literária. Mas não sou pessoa de desistir facilmente e o ônus de encarar o resultado fica transferido para o leitor.

Propor um epitáfio para o PT é necessário, primeiro porque ele é digno de algo mais que uma sepultura de indigente sob o edifício da estatal eleitoral na qual a sigla se converteu; segundo porque os anúncios de sua morte, feitos por detratores costumeiros ou por aqueles que desejam construir seus “own private PT” , alem de pouca credibilidade, não fazem justiça à bela experiência vivida por milhares de lutadores sociais deste país.

O PT sempre será o maior partido operário do Brasil.

Foi de fato um partido de caráter operário, por sua composição social, suas táticas políticas e seu esboço estratégico dos primeiros anos. A convergência entre lutadores sociais (assalariados, estudantes, ativistas comunitários, camponeses sem terra e pequenos agricultores, que compuseram a maioria numérica dos membros de milhares de núcleos de base que viabilizaram sua organização) e grupos que defendiam uma estratégia socialista e marxista. Todos esses deram ao partido o potencial de vir a ser um instrumento de profundas transformações sociais e mesmo, dentro de conjunturas especiais, um vir a ser revolucionário. Mas, é obvio, isto nunca passou de uma mera possibilidade. Livros e mais livros estão sendo e serão escritos para entendermos como e porquê o PT teve a trajetória que agora podemos ver em perspectiva. Podemos formular hipóteses sobre a conjuntura política global após a queda do muro, sobre o poder de cooptação do Estado clientelista latino-americano, sobre o caráter oportunista de Lula e dos chefes do campo majoritário, sobre as debilidades da esquerda petista, que não assumiu a responsabilidade da defesa da estratégia revolucionária dentro do partido (1) ; e assim por diante, até o infinito. Mas a evolução – ou melhor , deterioração – não nega seu caráter originário, como de inúmeros outros partidos ao longo dos últimos duzentos anos de luta operária.

Sempre será o maior porque antes dele houveram outros que não tiveram sequer perto da dimensão política e social do PT. Temos que reconhecer, também, o caráter de partido operário do PCB fundado em 1922, antes de resvalar para a abominação stalinista na década de 30. Mas ,neste período, o PCB teve pouca relevância . No futuro nenhum outro partido operário será maior que o PT pelo simples fato que a história da luta social já não comporta mais este tipo de partido. As transformações dos sujeitos políticos e sociais decorrentes da evolução do capitalismo demandam novas formas de luta e organização. Nove anos após Seatle, 14 anos após a insurgência zapatista, depois do FSM, passando pela reorganização dos mercados globais e pela precarização das relações formais de trabalho, faz sentido colocar o partido operário como sujeito central da luta? Lutar certamente é preciso. Mais do que nunca, pois o rumo da humanidade aponta não para sua libertação, mas para o aprofundamento da escravização pela mercadoria e pela tecnologia a serviço do capital. Porém as formas de luta precisam se adaptar à realidade política da época em que vivemos. Os clássicos da política são referências importantes, mas não manuais. Se o capitalismo se reinventa constantemente, precisamos reinventar também as formas de articulação da luta anti-capitalista no mesmo ritmo, dessacralizando nossas tradições e histórias, sem menosprezá-las. E ainda, precisamos discernir o que se deve transformar e o qual é excrescência que permanece.

Insisto, justamente por esta sua relevância histórica, que o partido transformador que idealizamos não pode ficar sem uma sepultura digna. Muitos dos seus feitos vão se desmanchando no ar e é por isso que uma mensagem precisa ser gravada de forma pétrea, para que não se esqueça tudo que ele representou. Ao menos uma lição precisa ser preservada.

Da sua morte política, se tínhamos alguma dúvida, ela se dissipou em razão esforço de alguns petistas. Presos aos princípios originais do partido por alguma dívida moral ou coisa parecida, articularam uma plataforma de “refundação” do PT. Formada por várias das correntes de “esquerda” e algumas figuras “históricas”, essa plataforma formulou a hipótese de que seria possível - dentro das limitações das compreensões políticas internas à própria plataforma – recolocar o partido no caminho da ação como sujeito de transformação social (dizer socialista seria ingenuidade demais). Apesar das idiossincrasias deste projeto, havia que se observar seu desfecho, porque, mesmo que não saísse vitorioso, poderia ter tido peso suficiente para estabelecer um ponto de virada no debate interno. Se a proposta de refundação tivesse quebrado a maioria absoluta do campo majoritário e ido para a disputa da presidência partidária em segundo turno, um fio de esperança poderia renascer. Afinal de contas, todo escândalo em torno do mensalão e das atribulações do comandante José Dirceu poderiam ter servido para abrir os olhos da militância. Mas, o resultado da eleição interna, realizada em fins de 2007, colocou a plataforma de “refundação” em terceiro lugar, tanto na composição do Diretório Nacional quanto na disputa pela Presidência, sendo superada no segundo lugar por uma anexo do campo majoritário, capitaneado pela máquina eleitoralista paulista. O resultado desta votação decisiva para o partido mostrou que a militância histórica e comprometida com um projeto de partido transformador, está sufocada no meio de filiações em massa de “cabos eleitorais” que vêem o PT como atalho para ascensão social. No final das contas, a 'combi-lotação' superou o projeto de “refundação”.

A única coisa que resta a esta militância sincera, porem cansada, atropelada pela história, que ainda sobrevive em meio às engrenagens da máquina eleitoral que chamam de PT, é achar um repouso para os ossos do que outrora fora seu partido. Mas como achar uma síntese de experiência tão rica que mereça os entalhes na lápide?

Nesta hora, vem em socorro o comandante Dirceu. Quem teve o duvidável prazer de ler a infame entrevista publicada na revista Piauí (2) (que pertence ao grupo editorial Abril), viu um desfile de confissões vergonhosas. Desde relatos de crimes de prevaricação, como ceder veículo de uma embaixada para fazer compras pessoais, até admitir abertamente o tráfico de influência, é tudo muito deprimente. Sem constrangimento admitiu que usa sua carteira de relações com integrantes do governo para articular lobies, como se ignorasse que o que esta vendendo não é o profissional independente José Dirceu mas o presidente do PT, o ministro da Casa Civil, o amigo do Lula etc. Dirceu parece concordar que o único crime punido no Brasil é ser pobre e por esta razão se esforça para manter-se longe da cadeia. Alem da falta de ética, Dirceu demonstra uma falta de caráter extraordinário - que deve ter sido a fonte do seu sucesso dentro do partido - ao levantar insinuações levianas contra seus desafetos (Heloisa Helena, Raul Pont). E, por final, uma pérola: “eu nunca fui estalinista!”. Desta afirmação se deduz que ele nunca compreendeu o verdadeiro caráter do stalinismo e, por extensão, do marxismo (o que seria verdade para muita gente, mas não para ele em particular) ou é um cínico de marca maior.

Se eu chegar a conclusão de que José Dirceu é o cínico que aparenta ser, nada mais justo do que aproveitar suas palavras para compor o derradeiro epitáfio para o PT (não a sigla da máquina eleitoral que, por muitos anos, permanecerá no cento do poder, mas o partido da transformação social que embalou nossos sonhos por duas décadas). Basta inverter o sentido e ai teremos sua visão sincera da realidade. De um artigo publicado na Folha de São Paulo em 13/02/08, podemos parafrasear:

“Aqui jaz o Partido dos Trabalhadores. Morreu porque não soube manter seus compromissos históricos, nem ser fiel a uma moral socialista, abandonando o povo brasileiro no combate por sua libertação.”

Parafraseando um pouco mais, busco de Getúlio Vargas o desfecho:

“Deixa a História para entrar na (boa) vida.”

Florianópolis, 23 de fevereiro de 2008.

1. Aqui abro um parêntese sobre a responsabilidade na defesa da estratégia revolucionária, assumida pelas correntes de esquerda. Por mais de 20 anos, militei no PT enquanto membro de uma das ditas correntes de esquerda revolucionárias. Mesmo a distância que mantenho agora não impede reconhecer que a teoria e o programa revolucionário que tínhamos credenciais para defender, eram e continuam sendo alguns dos bens mais preciosos da cultura política e o melhor que se pode despreender do marxismo. Não pretendo desmerecer o valor de outras tradições – anarquistas, autonomistas, situacionistas, utópicas, humanistas e outras, que compõem a diversidade de caminhos possíveis para a emancipação da humanidade. Apenas reafirmo minha opinião de que o marxismo continua sendo, apesar de subprodutos abomináveis que derivaram, o caminho mais consistente para a realização desta emancipação. Voltando para os grupos que atuavam no PT sob esta perspectiva estratégica, fica claro hoje que eles não estavam à altura da responsabilidade que reivindicavam. Recordo um episódio emblemático, quando , no final dos anos 80, no Rio Grande do Sul, Flávio Koutzi, em nome desta esquerda, disputava a candidatura de um cargo majoritário com um grande nome partidário (não recordo se era Olívio Dutra ou Tarso Genro). Nesta ocasião, Koutzi respondeu a uma matéria de um boletim partidário de São Paulo, indagado se levaria a disputa até as últimas conseqüências, que “não era irresponsável”. O que Koutzi quis dizer foi que, embora houvesse uma disputa de estratégia, o eleitoralismo superava de longe qualquer outro projeto. A responsabilidade da esquerda petista, apesar de dar o colorido da diversidade ideológica ao partido, era fundamentalmente contribuir com a contabilização de votos para o partido e , é claro, receber seu quinhão dos frutos obtidos, como pode ser visto anos mais tarde no loteamento de ministérios do governo Lula.

2. Edição de janeiro/2008, www.revistapiaui.com.br .