terça-feira, 16 de junho de 2009

E ainda falam mal de Cuba...

Especialista da ONU qualifica de efetiva política cubana antidroga


Escrito por Larissa C. S. Silva
- Prensa Latina


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Havana, 16 jun (Prensa Latina) A política de Cuba para enfrentar atualmente o problema mundial do narcotráfico é efetiva, disse Bernard Leroy, assessor jurídico superior do Escritório da Organização das Nações Unidas contra Drogas e o Crimes.

Os cubanos têm um sistema muito eficaz para conter o contrabando de entorpecentes, segundo as declarações do especialista difundidas pela Agência de Informação Nacional.

Por tal razão este país foi escolhido para celebrar o Seminário Regional de Assistência Judicial Recíproca da América Latina e Caribe sobre os Tratados para a Fiscalização Internacional de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, que acontece no capitalino Hotel Palco, acrescentou Leroy.

O propósito desta reunião, afirmou o especialista, é estabelecer contatos com as autoridades centrais latinoamericanas e caribenhas encarregadas de tais funções, incentivar a cooperação e encontrar pontos em comum que possamos comparar no futuro.

Destacou a necessidade de promover tais objetivos devido à existência de graves problemas com a rota da cocaína na Colômbia, Haiti e outras nações da zona, onde persistem dificuldades para trabalhar na erradicação do narcotráfico.

Todos os países assinaram a Convenção das Nações Unidas contra o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas (1988) e devem cooperar para sua eliminação, acrescentou ao recordar a negativa de Washington de colaborar com a ilha nesse tema.

Cuba está no centro da rota da droga entre a América do Sul e os Estados Unidos, principal consumidor mundial.

Aviões vindos do sul do continente deixam cair embrulhos no mar próximo de seu litoral para que foram recolhidos por lanchas rápidas procedentes do norte.

lma/ydg/lcss
Obama e as veias abertas da América Latina




Escrito por Grupo de São Paulo

Durante a quinta Cúpula das Américas, realizada em Trinidad e Tobago no mês passado, um gesto sintetizou os desafios na relação entre os países do continente e os EUA. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou o presidente dos EUA, Barack Obama, com um exemplar do ensaio histórico "As veias abertas da América Latina", do jornalista uruguaio Eduardo Galeano.

Publicado em 1971, o livro é uma exaustiva análise do saque a que foi submetida a região, desde a Colônia, com destaque especial para o papel dos sucessivos governos dos EUA ao imporem seu domínio ao longo do século XX.

O gesto é simbólico porque Obama, apostando em seu carisma midiático, levou para a Cúpula a clara mensagem de que o passado deveria ser esquecido, pois ele e seu governo representariam novo tempo nas relações interamericanas. Mesmo tendo mantido, do governo Bush, o assistente da Secretaria de Estado da América Latina, Thomas Shannon. E tendo levado como assessor especial para a Cúpula o presidente do Instituto das Américas, Jeffrey Davidow, que trabalhou na embaixada do Chile durante e depois do golpe de Pinochet e no Departamento de Estado durante a articulação do Plano Colômbia.

Em relação à política de segurança que Obama diz querer definir para o continente, seu governo precisará se posicionar em relação às bases militares implantadas pelos EUA ao longo do século passado e que hoje cercam militarmente todas as riquezas da América Latina. Há uma base militar no Equador, outras duas na Colômbia e uma no Peru, que controlam toda a região Amazônica. Existem ainda bases em Aruba e em Curaçao, praticamente em frente da Venezuela.

E na América Central existem bases em El Salvador, Porto Rico, Honduras e a de Guantánamo, em Cuba. Sem falar na Quarta Frota Naval, reativada ano passado para patrulhar o litoral da América Latina.

Mantidas estas bases, a almejada "cooperação na segurança" na América Latina mencionada por Obama continuará significando a segurança dos EUA na dominação das riquezas da região, a maior reserva energética e de água doce do planeta.

E este foi outro tema enfatizado por Obama. Os EUA são quase completamente dependentes do petróleo, importado principalmente da Arábia Saudita, do Iraque e da Venezuela. Para os EUA, encontrar caminhos para uma energia alternativa tem muito mais a ver com a sustentação do padrão de consumo do país do que com salvar o planeta. E na América Latina há petróleo e gás em abundância, sobretudo com as reservas do pré-sal em águas brasileiras, além da biodiversidade e das terras para os agrocombustíveis.

Em seus discursos, Evo Morales e Daniel Ortega reforçaram o gesto de Chávez. O boliviano cobrou de Obama a suspeita de que pessoal da embaixada dos EUA tenha colaborado no planejamento de atentado para matá-lo. O nicaragüense recuperou as agressões diretas e indiretas do governo dos EUA ao país centro-americano ao longo do século XX.

Ortega foi direto ao ressaltar a ausência de Cuba, excluída da Organização dos Estados Americanos (OEA) desde 1961: "sinto vergonha de participar nesta Cúpula com a ausência de Cuba". E ainda cobrou os participantes sobre Porto Rico, "um povo submetido ainda às políticas colonialistas", referindo-se ao protetorado dos EUA na América Central.

Sobre Cuba a fala de Obama, ambígua, não foi muito diferente do que já falaram Reagan, os Bush e Clinton: o bloqueio pode ser revisto desde que Cuba adote antes "eleições livres e respeite os direitos humanos". Obama manifestou pretender normalizar as relações com a ilha. Liberou as remessas de dinheiro e viagens dos parentes de cidadãos cubanos. Suspender o bloqueio é tarefa bem mais complicada. Será preciso vencer a resistência de fortes setores da direita estadunidense e dos emigrantes cubanos, embora a ampla maioria do povo americano esteja a favor do fim do bloqueio, assim como a Câmara de Comércio dos EUA e 185 dos 192 países-membros da ONU, que há 17 anos condenam os EUA pelo bloqueio.

Os interesses dos EUA nos países latino-americanos, neste mandato de Obama, são restritos. No máximo, uma maior cooperação na "guerra às drogas". Pode haver insistência em acordos comerciais bilaterais, embora os sindicatos estadunidenses, base de votos do partido Democrata, os vejam com suspeita, temendo que tirem empregos dos trabalhadores nos EUA.

Além disso, o grande desafio da política externa de Obama é o problema palestino, e a segurança nacional parece continuar sendo o maior objetivo da política internacional estadunidense, seja no Oriente Médio, seja na América Latina.

O que a Cúpula deixou evidente é que, encalacrado na mais grave crise do capitalismo desde 1929, o governo dos EUA não é o protagonista do novo em relação à América Latina. Ao contrário, o novo será fruto do aprofundamento do processo de reconquista de soberania e de superação da dependência econômica e cultural que se iniciou com a redemocratização nos anos de 1980 e se intensificou com os processos políticos bolivarianos, iniciados na Venezuela, em 1999. Hoje, estes processos, profundamente vinculados às históricas resistências dos povos latino-americanos, são reforçados pela Alternativa Bolivariana para os Povos da América (ALBA), integrada por Bolívia, Cuba, Dominica, Honduras, Nicarágua e Venezuela.

O gesto de Chávez e os discursos de Morales e Ortega propugnam que não se constrói o novo sem superar o passado. E não se supera o passado esquecendo-o. O governo dos EUA, agora sob Obama, terá de provar, com ações concretas, que mudou. Para isso, Obama poderá dar instruções claras sobre o voto dos EUA na próxima reunião da OEA, em junho, fórum próprio para decidir sobre o fim do bloqueio a Cuba e sua reinserção na organização interamericana.

Assim como manifestou José Saramago, escritor português ganhador do Nobel de literatura, esperamos que Obama aproveite a leitura do presente que levou da Cúpula.

Thomaz Ferreira Jensen, Andrea Paes Alberico, Guga Dorea, José Juliano de Carvalho Filho, Luis Eça, Marietta Sampaio e Marilena de Almeida Eça, do Grupo de São Paulo - um grupo de 12 pessoas que se revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do Boletim Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, de Petrópolis, RJ.

Contato: gruposp@correiocidadania.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

Artigo publicado na edição de maio de 2009 do Boletim Rede.








Livro muito interessante....

A batalha da mídia, de Dênis de Moraes




A Batalha da MídiaA BATALHA DA MÍDIA reúne ensaios que discutem o papel da comunicação na luta pela hegemonia política e cultural na sociedade contemporânea. Além de analisar a influência da mídia na propagação dos valores do mercado e o consumismo, Dênis de Moraes analisa experiências que se propõem a democratizar os processos comunicacionais, seja através de políticas públicas inovadoras ou de formas colaborativas e participativas de difusão na Internet.

O livro é composto por quatro ensaios: "Imaginário social, hegemonia cultural e comunicação"; "Cultura tecnológica, inovação e mercantilização"; "Governos progressistas e políticas de comunicação na América Latina"; "Ativismo em rede: comunicação virtual e contra-hegemonia".

No principal ensaio, Dênis de Moraes revela como a ação do Estado, em vários países da América Latina, tem sido reorientada para tentar reverter uma das piores heranças do neoliberalismo: a concentração dos setores de informação e entretenimento nas mãos de um reduzido número de corporações nacionais e transnacionais. Conforme aponta o autor, as novas políticas de comunicação de governos progressistas da região buscam viabilizar legislações antimonopólicas, apoiar meios alternativos e comunitários e estimular a produção audiovisual independente. Este amplo painel também avalia resistências e desafios postos aos governos que se dispõem a promover a diversidade e o pluralismo. Entre os países analisados estão Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile.

Como ressalta Virginia Fontes no prefácio, A batalha da mídia tem uma importância singular nestes tempos de crise global, na medida em que aponta o quanto ainda precisamos avançar, em termos de alternativas contra-hegemônicas, "para um mundo no qual a informação, a comunicação e a cultura estejam plenamente socializados", ao mesmo tempo em que evidencia conquistas acumuladas nos últimos anos pelos setores populares no campo da comunicação, sobretudo na América Latina.

Dênis de Moraes
Dênis de Moraes
DÊNIS DE MORAES nasceu no Rio de Janeiro em 1954. É doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutor pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO), sediado em Buenos Aires, Argentina. É professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Autor e organizador de diversos livros, entre os quais Cultura mediática y poder mundial (Norma, 2006), Sociedade midiatizada (Mauad, 2006), Combates e utopias: os intelectuais num mundo em crise (Record, 2004), Por uma outra comunicação: mídia, mundialização cultural e poder (Record, 2003), O concreto e o virtual: mídia, cultura e tecnologia (DP&A, 2001), O planeta mídia: tendências da comunicação na era global (Letra Livre, 1998), Vianinha, cúmplice da paixão (Record, 2000), O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos (José Olympio, 1992) e O rebelde do traço: a vida de Henfil (José Olympio, 1996).

Créditos: Fundação Lauro Campos