Por Gregório Grisa, no Augere
Essa
onda de atos preconceituosos e manifestações racistas e
discriminatórias para com grupos sociais diversos dos últimos meses, nos
mostra uma característica fundante da classe economicamente
privilegiada do nosso país. Já ouvi falas do tipo “não se pode dizer
mais nada que corremos o risco de virar debate na internet e na
televisão” ou até mesmo pérolas como “estão exagerando com essa
hipervisibilização de movimentos de homossexuais, quilombolas, negros,
índios e minorias”.
Processos
políticos que signifiquem a perda de privilégios reais ou simbólicos
expõem uma conduta preconceituosa que antes não tinha razão de se
mostrar. Causam uma sensação de sufoco na elite que a faz gritar “deu,
chega desse papo”, e quando os intelectuais que passeiam nas televisões
hegemônicas ainda não desenvolveram as perfumarias argumentativas ou os
malabarismos de palavras para justificar esse grito, o que exala é mais a
raiva instintiva da elite, fruto da sua formação, do que qualquer outra
coisa.
Aqui
no sul do país isso ficou claro; enquanto a raiva do comentarista Luiz
Carlos Prates da RBS contra os “pobres que agora compram carros” se
mostrava para todos, no horário do almoço dessas mesmas famílias, seu
companheiro de empresa David Coimbra através do seu blog tentou, ao
organizar sua perfumaria interpretativa, defender o colega relativizando
sua fala carregada de preconceito. Esse é o exemplo típico do fenômeno
que descrevi no parágrafo anterior.
A
internet, os espaços de trabalho, as disputas nas universidades são os
meios pelos quais desagua esse preconceito sem filtro da elite e ao
perceberem-se ridiculamente dispostos em uma sociedade cada vez mais
plural, alguns grupos, jovens em geral o que infelizmente surpreende,
resolvem assumir essa postura retrograda e se unir para não ficar tão
feio.
É
o que vem ocorrendo nas eleições dos diretórios centrais dos estudantes
da USP e da UFRGS, por exemplo, aonde algumas chapas saudosas de
pensamentos conservadores, até certo ponto perigosos, vêm pautando a
disputa política por valores religiosos, antidemocráticos, por
inculcação de preconceitos que imaginávamos superados e por condutas que
ferem o lento, mas fértil processo de avanços que o Brasil tem
experimentado. Há uma chapa paulista contra o direito de greve
inclusive.
Há
uma guerra de posições instaurada entre aqueles que querem a promoção
da igualdade entre negros, brancos e indígenas, entre gays e
heterossexuais, nordestinos e sulistas e aqueles que resistem de várias
formas a qualquer movimento de avanço ou políticas que valorizem grupos
discriminados. Esses que resistem, que chamo aqui de elite, o fazem, às
vezes, de modo desesperado e desarticulado como temos visto em
manifestações absurdas nos meios digitais, mas também o fazem de forma
bem organizada e articulada através do monopólio da comunicação por meio
de personagens “bonzinhos”, “lidos”, “bem arrumadinhos” que
superficialmente analisam a realidade e difundem essas interpretações
como verdades.