sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nouriel Roubini: “Karl Marx estava certo”


Na avaliação de Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente por Karl Marx há mais de um século. Roubini, que há quatro anos previu a crise financeira global diz que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.


Há um velho axioma que diz que “sábia é a pessoa que aprecia a sinceridade quase tanto como as boas notícias”, e com ele como guia, situa decididamente o futuro na categoria da sinceridade.

O professor de economia da Universidade de Nova York, doutor Nouriel “Dr. Catástrofe” Roubini disse que, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente pelo economista Karl Marx há mais de um século.

Roubini, que há quatro anos previu acuradamente a crise financeira global disse que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.

A crítica de Marx em vigor, agora
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no mínimo, faria pressão sobre o sistema econômico. As corporações, disse Roubini, motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das companhias.

Agora, na atual crise financeira, os consumidores, além de terem menos dinheiro para gastar devido ao que foi dito acima, também estão motivados a diminuírem os custos, a economizarem e a fazerem caixa, ampliando o efeito de menos dinheiro em circulação, que assim não retornam às companhias.

“Karl Marx tinha clareza disso”, disse Roubini numa entrevista ao The Wall Street Journal: "Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente ... é um processo autodestrutivo”.

Roubini acrescentou que uma ausência forte, orgânica, de crescimento do PIB – coisa que pode aumentar salários e o gasto dos consumidores – requer um estímulo fiscal amplo, concordando com outro economista de primeira linha, o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, em que, no caso dos Estados Unidos, o estímulo fiscal de 786 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso em 2009 era pequeno demais para criar uma demanda agregada necessária para alavancar a recuperação da economia ao nível de uma auto expansão sustentável.

Na falta de um estímulo fiscal adicional, ou sem esperar um forte crescimento do PIB, a única solução é uma reestruturação universal da dívida dos bancos, das famílias (essencialmente das economias familiares), e dos governos, disse Roubini. No entanto, não ocorreu tal reestruturação, comentou.

Sem estímulo fiscal adicional, essa falta de reestruturação levou a “economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”, disse ele.

Fora o estímulo fiscal ou a reestruturação da dívida, não há boas escolhas

Os Estados Unidos, disse Roubini, pode, em tese: a) crescer ele mesmo por fora do atual problema (mas a economia está crescendo devagar demais, daí a necessidade de mais estímulo fiscal); ou b) retrair-se economicamente, a despeito do mundo (mas se muitas companhias e cidadãos o fizerem junto, o problema identificado por Marx é ampliado); ou c) inflacionar-se (mas isso gera um extenso dano colateral, disse ele).

No entanto, Roubini disse que não pensa que os EUA ou o mundo estão atualmente num ponto em que o capitalismo esteja em autodestruição. “Ainda não chegamos lá”, disse Roubini, mas ele acrescentou que a tendência atual, caso continue, “corre o risco de repetir a segunda etapa da Grande Depressão”—o erro de ‘1937’.

Em 1937, o presidente Franklin D. Roosevelt, apesar do fato de os primeiros quatro anos de massivo incentivo fiscal do New Deal ter reduzido o desemprego nos EUA, de um cambaleante 20,6% na administração Hoover no começo da Grande Depressão, a 9,1%, foi pressionado pelos republicanos congressistas – como o atual presidente Barack Obama fez com o Tea Party, que pautou a bancada republicana no congresso em 2011 – , rendeu-se aos conservadores e cortou gastos do governo em 1937. O resultado? O desemprego estadunidense começou o ano de 1938 subindo de novo, e bateu a casa dos 12,5%.

Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia dos EUA em 1937, ao reduzir a demanda, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo hoje, ao se seguir as medidas de austeridade implementadas pelo acordo da dívida implemented by the U.S. debt deal act.

Roubini também argumenta que os levantes sociais no Egito e em outros países árabes, na Grécia e agora no Reino Unido têm origem econômica (principalmente no desemprego, mas também, no caso do Egito, no aumento do custo de vida). Em seguida, argumenta que, ao passo que não se deve esperar um colapso iminente do capitalismo, ou mesmo um colapso da sua versão estadunidense, o capitalismo corporativo – capitalismo e mercados livres são rápidos demais e capazes de se adaptarem - dizer que a ordem econômica atual não está experimentando uma crise não é correto.

Fonte: http://www.ibtimes.com/articles/197468/20110813/roubini-nouriel-roubini-dr-doom-financial-crisis-debt-crisis-europe.htm

Tradução: Katarina Peixoto

Bolsa Família: mais que transferência de renda


Artigo publicado em 15/08/2011 no jornal CORREIO BRAZILIENSE

TIAGO FALCÃO

Se fosse apenas um programa de transferência de renda, o Bolsa Família já traria ganho enorme para a
sociedade. Não só por sua faceta mais evidente, relativa ao alívio imediato da pobreza, mas, também,
pela menos óbvia, referente à sua contribuição para o crescimento econômico - o Ipea aponta que cada
R$1 investido no programa aumenta o PIB em R$ 1,44.
Acontece que o Bolsa Família é bem mais que transferência de renda. Cada benefício assume a forma
de um pacto entre a família beneficiária e o poder público. As famílias têm de manter na escola os
meninos e meninas de seis a 17 anos, de vacinar as crianças, de acompanhar seu desenvolvimento
nutricional e de certificar-se de que as gestantes façam o pré-natal. Cumprir esses compromissos é a
condição para receber as transferências. Já a parte que cabe ao Estado não se limita ao pagamento do
benefício. Envolve também o dever constitucional de ofertar serviços de educação, saúde e assistência
social.
Não fossem as condicionalidades, boa parte das famílias beneficiárias, em especial as que vivem em
pobreza extrema, não teriam acompanhamento de saúde adequado e não conseguiriam manter os filhos
na escola. O mais provável é que essas crianças começassem a trabalhar muito cedo, em atividades de
baixíssimas qualificação e renda, perpetuando o ciclo intergeracional de reprodução da pobreza. Mas,
com a abordagem de responsabilidades mútuas, o Estado se obriga a tornar os serviços disponíveis e
determina que as famílias os utilizem, tornando efetiva a sua universalidade constitucional. Cumpridas as
condicionalidades, essa geração de crianças terá a chance de um futuro mais digno.
Conferir o cumprimento das condicionalidades é tarefa complexa, seja pela necessidade de articular
órgãos historicamente condicionados a trabalhar de forma isolada, seja pelo imenso volume de dados
envolvidos. O acompanhamento efetivo que temos hoje só se tornou possível graças a mecanismos e
processos desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo de anos. Para dar uma ideia dessa evolução, no
segundo trimestre de 2002 - um ano depois da criação do Bolsa Escola -, apenas 10% das escolas do
país informavam a frequência dos alunos - de maneira agregada, sem discriminar a assiduidade de cada
um dos estudantes. Hoje, os 5.565 municípios brasileiros fazem o acompanhamento, que envolve todo o
universo de escolas que têm alunos do Bolsa Família - com informações individualizadas por aluno.
Para que isso fosse possível, o MEC desenvolveu um sistema dedicado ao acompanhamento da
frequência escolar do público do Bolsa Família. O registro e monitoramento dos resultados da frequência
são feitos pelo MEC em articulação com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS) e com a participação dos estados e municípios. A cada dois meses, um exército de mais de 10 mil
profissionais da educação é mobilizado em todos os municípios para registro da informação da
frequência escolar de 16,6 milhões de crianças e jovens, com retorno de informação de quase 90% do
público-alvo. Algo similar acontece na saúde a cada semestre.
Esse esforço conjunto está surtindo efeitos. Dados do IBGE mostram que, entre 2004 e 2009, a
quantidade de jovens de 15 a 17 anos que frequentavam a escola no grupo dos 20% mais pobres
aumentou 13,6%, enquanto que entre os 20% mais ricos não houve variação. No mesmo período, a
quantidade de jovens de 15 a 17 anos que frequentavam a escola na série esperada para sua faixa etária
(ensino médio) cresceu 51% no grupo dos 20% mais pobres, enquanto que no quintil mais rico o
crescimento foi de apenas 1,8%.
Tais conquistas são, em larga medida, fruto de sete anos de política de estímulo à permanência na
escola do Bolsa Família. O MEC aponta que, em 2008, a taxa de abandono escolar do ensino
fundamental entre os estudantes beneficiários foi de 3,6%; menor, portanto, do que o resultado referente
a todo o universo de alunos desse nível, que foi de 4,8%. Pela primeira vez um resultado foi melhor para
os mais pobres em um indicador educacional.
Apesar dos progressos, ainda há uma série de disparidades a reduzir. Por isso a agenda de
condicionalidades persevera como essencial. Para o Estado, o descumprimento das condicionalidades
indica que as famílias têm vulnerabilidades. O acompanhamento das condicionalidades fornece alertas
sobre os desafios de inclusão social para superar a extrema pobreza.
Não é incomum as pessoas perderem de vista que o Bolsa Família não se restringe à transferência de
renda, quando na verdade ele é muito mais que isso. O acompanhamento das condicionalidades envolve
trabalho descomunal que, embora pouco reconhecido, vem mudando a vida das crianças e jovens mais
pobres do Brasil. É isso que nos move.
 
Secretário nacional de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Cpers anuncia paralisação e não descarta greve nas escolas estaduais


"Se não tivermos acordo, iremos parar pelo tempo que for preciso”, diz Rejane de Oliveira | Ramiro Furquim/Sul21

Rachel Duarte no Sul21

“Tarso: pague o piso ou a educação para”. Com esse lema, o Cpers promove nesta sexta-feira (19) uma paralisação do magistério estadual para cobrar, do governador Tarso Genro, a implementação do piso nacional da categoria e dos planos de carreira no Rio Grande do Sul. Um ato no Gigantinho, em Porto Alegre, marcará o lançamento de um movimento em defesa da educação pública.
“Na campanha o governador falava que não precisava do STF para cumprir o piso. Agora ele diz que está esperando o acórdão”, critica a presidente do Cpers, Rejane Oliveira. Ela afirma que o sindicato irá intensificar as movimentações pelo pagamento do piso da categoria e não descarta uma greve nas escolas estaduais.
“Vamos colocar os símbolos da nossa luta na rua e lançar um cronograma de caravanas pelo interior. Vamos conversar com as regiões e organizar a nossa greve. Se não tivermos acordo, iremos parar pelo tempo que for preciso”, afirma.
Mesmo com a aprovação da Lei do Piso e com o reconhecimento da sua legalidade pelo Supremo Tribuanal Federal (STF) em abril deste ano, professores de alguns municípios e Estados brasileiros ainda não recebem o valor estipulado pela legislação. Por isso, paralisações acontecem em diversos locais do país desde terça.
A Central Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) lidera o movimento da categoria e esteve com o ministro da Educação Fernando Haddad na última terça. Eles pediram prioridade da gestão junto ao STF para publicação do acórdão sobre a Lei do Piso, que irá garantir o cumprimento da lei por parte dos Estados.
Em visita a Porto Alegre nesta quarta, Haddad afirmou que os governos estaduais foram pegos desprevenidos com a decisão do STF e, agora, estão tentando encontrar alternativas para o pagamento do piso. “O governador (Tarso) é um dos artífices da lei do piso. Nós queríamos, quando ele foi ministro, resgatar este pacto com os professores e efetuar o pagamento atrasado há 12 anos. Mas a aplicação é um processo”, defendeu.
A atividade do Cpers no Gigantinho acontece a partir das 17 horas. Após o lançamento do movimento, serão empossadas a nova direção central e as direções de núcleos do sindicato