Daniel Merli
A economia solidária pode ser a porta de saída da exclusão para vários setores sociais, na opinião do educador popular Cláudio Nascimento. Para isso a Secretaria Nacional de Economia Solidária tem trabalho em parceria com programas sociais de vários ministérios. Pescadores, mineradores, ex-internos de hospitais psiquiátricos e pessoas atendidas pelo Bolsa Família.
Nesta segunda parte da entrevista com o coordenador de Estudos e Divulgação da secretaria, ele fala também da formação de redes, que tem sido a principal estratégia dos empreendimentos de economia solidária para enfrentar a concorrência com as grandes empresas.
REVISTA FÓRUM - A Secretaria Nacional de Economia Solidária trabalha com orçamento e equipe reduzidas para dar conta de um setor que já responde por 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Que estratégias vocês têm usado para dar conta desse desafio?
CLÁUDIO NASCIMENTO - Nós temos de inserir a questão da economia solidária na máquina do Estado. Montamos um curso na Escola Nacional de Administração Pública (Enap) para colocar o tema para as pessoas que trabalham nos outros ministérios. Descobrimos que há umas 10 pastas em que há atuação com práticas de economia solidária. O Ministério de Desenvolvimento Agrário, por exemplo. Lá na ponta, as pessoas atendidas pelo ministério, são da agricultura familiar, que é uma forma de economia solidária.
Minas e Energia também tem, já que trabalha com garimpos. Pode não dar esse nome formal, mas é cooperativismo e tem de ser atendido assim. O Ministério de Desenvolvimento Social tem um programa que atende iniciativas de autogestão de pessoas que são atendidas pelo Bolsa Família e montam um pequeno empreendimento para escapar do desemprego.
Fomos ver que, na Secretaria de Aqüilcultura e Pesca, também há um monte de iniciativas atendidas que são de autogestão, como fábricas de gelo e cooperativas de pescadores. Na Cultura, havia um programa de resgate da cultura dos trabalhadores. E fomos ver que a maioria das obras tratava de iniciativas de autogestão.
A partir disso, cria-se uma sinergia de vários ministérios. E começamos a trabalhar em conjunto com as iniciativas que já existiam. E também apresentar o cooperativismo como uma porta de saída para problemas que eram enfrentados por outros ministérios.
Por exemplo, o trabalho escravo. O Ministério do Trabalho vai lá e liberta 40 pessoas, por exemplo. Se elas não tiverem uma alternativa de sobrevivência, vão voltar ao trabalho escravo. Então vamos fazer um diagnóstico da região e descobrir que tipo de empreendimento eles podem criar. No Ministério da Saúde, em que está colocada a luta antimanicomial. Após sair do hospital psiquiátrico, para onde esse sujeito vai? começamos a criar centros de produção artística. No Ministério do Turismo, já há iniciativas importantes de Turismo Solidário no Piauí e Maranhão.
REVISTA FÓRUM - Uma coisa interessante da economia solidária é que ela surge em locais onde menos se espera, como estratégia de sobrevivência, como você está mostrando. Mas elas não têm escala de produção para concorrer em pé de igualdade com outras empresas, dentro de um mercado capitalista. Como vocês tentam superar isso?
CLÁUDIO NASCIMENTO - Essa é uma dificuldade que temos. Uma das coisas que incentivamos para enfrentar esse problema são as Feiras de Economia Solidária. No Rio Grande do Sul, fizemos várias, inclusive trazendo empreendimentos de outros países do Mercosul. Outra coisa que investimos é na comunicação. A secretaria fez várias vinhetas de rádios, TV, para difundir a existência desses empreendimentos.
Outra coisa importante é a formação de redes. Elas já existem, mas agora começamos um programa em parceria com o Instituto Paulo Freire para sistematizar as experiências. Como é trabalhar em rede? Como é feita a comercialização entre eles e com o mercado? Temos de descobrir como são formadas essas redes. Inclusive porque a economia solidária tem uma diversidade imensa. Cada empreendimento é muito diferente do outro.
Mas já há iniciativas até de redes internacionais. Ano passado, houve um encontro internacional na Venezuela de empresas recuperadas por trabalhadores. A partir daí foi criada uma rede de produção de algodão, entre cooperativas brasileiras e venezuelanas.
Também temos investido na questão do comércio justo, que está ganhando força na Europa. Então temos feitos pesquisas para saber como explorar esse mercado.