terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sobre a Marina e o PT...


Resposta coletiva aos que reagiram no meu blog e por emails

Marilza de Melo Foucher

Recebi muitos e-mails reagindo à carta aberta escrita para a senadora Marina publicada em varios blogs no Brasil e no jornal Pagina 20 no Acre. Acho que não conheço a maioria dos que me escreveram, quem sabe já lhes encontrei nas viagens que fiz pelo Brasil de Norte ao Sul. Dai decedi de escrever uma resposta coletiva com copia para Marina. Não sei a posição política deles, nem tão pouca sei como eles analisam a decisão final de Marina. Ao meu ver ela cometeu um erro político fenomenal. Até entendo seu deslumbramento, alias quem não gosta de ser convidado(a) a ser Presidente do Brasil? O ser humano é vaidoso, mas quando ele consegue separar o interesse pessoal do coletivo ele ganha letra de nobreza!

Sou uma militante do desenvolvimento integrado, sustentável e solidário. Eu fui durante muitos anos responsável de projetos para a América Latina. Conheço a atuação de muitas ONGs e o trabalho político dos movimentos sociais.
Muitos integram a dimensão ecológica nos projetos de desenvolvimento, muitos estão ha muitos anos comprometidos com as mudanças estruturais ocorridos no Brasil. Muitas ONGs estão articuladas com outros atores locais, por exemplo, universidades, prefeituras, centros de pesquisas, desenvolvem projetos conjuntos. Um trabalho no qual os resultados se alcançam em longo prazo...

Infelizmente, existem muitos ambientalistas iluminados, que vivem de fazer lobbyng, recebem muita grana daqui da Europa de outros iluminados, estes não têm uma visão integrada do desenvolvimento e desprezam a ecologia política. São capazes de jejuar com a Marina, depois tomar o Santo Daime sem entender mesmo as dimensões espirituais de nossas culturas. O Gabeira defende a liberação da maconha, mas não discute sobre as causas da dependência. Essa mesma reflexão pode-se fazer sobre a globalização da economia, a banda FHC defendia ardorosamente a globalização da economia, ao ponto, de nos considerar como neobobos, e diziam que nós da esquerda, não entendíamos a maravilha que era a globalização dos mercados, todavia eles não entendiam e nem discutiam as causas da exclusão mundial. Vejam hoje o resultado! Os que destruíram o Estado hoje apelam à volta do Estado como regulador da economia!

Fora da simples questão ambiental, eu me pergunto se a maioria dos ambientalistas seria capaz de entender a dimensão política da causa dos excluídos? O desafio de quem trabalha pela inclusão social dos pobres? Reconheceriam a importância da educação popular como metodologia, que leva os excluídos a terem auto-estima, serem sujeitos e, em seguida serem atores de transformação, capazes de exercerem a cidadania política para mudar o Brasil?
Existem no Brasil muitas Ongs e movimentos sociais que atuam há anos lutam pela reforma agrária, reforma urbana, e agem em prol de um desenvolvimento integrado, sustentável e solidário. Apesar de serem próximos do PT ou petistas não se deixam instrumentalizar pelos poderes executivos, eles têm consciência do jogo de poder e exercem uma verdadeira correlação de forças para continuar exigindo do governo um verdadeiro plano de desenvolvimento muito dessas medidas foram postas em pratica pelo governo Lula, todavia o processo de mudança é mais lento do que se esperava, mas quem estar no terreno da ação, tem consciência de quem são seus verdadeiros inimigos que impedem um Brasil para todos! Sabem que a esquerda dividida não terá forças para vencer o lobbyng da direita e seus aliados. Já que dentro do campo aliado o embate da esquerda dentro do governo é difícil... Imagino o que será a próxima campanha! Marina poderá analisar o resultado dessa situaçao depois do desastre político! Lhe desejo boa sorte!
Os ambientalistas iluminados nunca irão se somar nessa luta de mais de 40 anos! A questão ambiental não pode ser isolada dos outros direitos. O direito que todo o cidadão de tenha água potável, rios não poluídos, floresta explorada racionalmente, escolas publicas de qualidade em todos os níveis de ensino, educação ambiental, educação cívica para que todos entendam que têm direitos e deveres face à Republica Brasileira, pagar os impostos corretamente, exigir uma distribuição equitável das riquezas da nação.

Eu fiz sempre a diferença entre os ambientalistas iluminados e os que vêem que a ecologia deve se integrar em qualquer plano ou projeto de desenvolvimento. Atuar com visão de processo é distinta, percebe-se como se interagem os ecossistemas e como a política se articula com os demais setores, não é mesmo? Na floresta vivem seres humanos e não humanos e devemos defender essa convivência. Todos nós necessitamos da mãe terra, de nossa pacha-mama, isto é inquestionável e não precisamos fazer dos ambientalistas nossos gurus! Todavia, vivemos em uma republica, onde a política exige clareza e as contradições devem ser exploradas, entendidas para podermos intervir na realidade e transforma-la. Dai não existe neutralidade política, você é de um campo ou de outro, esse discurso morno, que tornam a política híbrida defendida atualmente a corrente ambientalista, despolitiza a realidade. Marina no seu discurso em Rio Branco me pareceu adotar essa postura.

Se vocês podem observar, muitos desses que estão hoje com Marina, participaram do governo Collor, eles passam da esquerda para direita, trocam de capela e vigário sem problemas, agem assim porque não têm convicção política. Em geral dizem que a ecologia não é nem de esquerda e nem de direita, assim não atacam os verdadeiros problemas estruturais que provocam a exclusão de milhares de seres humanos.
Espero não ter sido confusa na distinção que tentei fazer entre ambientalistas puros e duros com os defensores do eco-desenvolvimento e da cidadania política do qual eu milito há 40 anos!

Com tristeza eu assisto a companheira Marina, a mulher guerreira que eu admiro, transformada em guru dos ambientalistas "iluminados", ( com todo meu respeito aos companheiros da ecologia politica) que o único objetivo é de se aproveitar da imagem positiva que ela usufrui nacionalmente e internacionalmente para tirar proveito político e trazer de volta os que leiloaram o Brasil e apregoavam o Estado Mínimo, privatizando o serviço publico no lugar de melhorar sua qualidade. O que fazer? Resta respeitar sua decisão.

Minha fraternura cabocla franco-brasileira

texto politico para reflexão....

Estado e Revolução: o retorno de um debate





Escrito por Ruy Polly

A crise trouxe novamente o debate sobre a estratégia. Um debate crucial que articula temas tão abrangentes e complexos quanto o programa, o papel do Estado, política de alianças, os instrumentos e os métodos para concretizar os objetivos almejados. Por sua vez, tais questões pressupõem uma análise da realidade que permite determinar os objetivos e tarefas a serem realizados. Essa discussão ainda está para ser aprofundada.

O documento programático aprovado no Encontro de fundação do PSOL em 2004 não apresenta uma estratégia clara, mas as "bases" para uma estratégia, como o próprio documento aponta.

Mas podemos encontrar algumas visões em textos e livros, como o livro "A Nova Toupeira" de Emir Sader e nas teses que serão debatidas no II congresso do PSOL.

Não pretendemos – e nem poderíamos – discutir tais questões aqui. Mas queremos chamar a atenção para o retorno de posições que propõem o fortalecimento do papel do Estado, conferindo-lhe um papel decisivo como "indutor de um novo modelo de desenvolvimento, que aponte para a construção do socialismo", segundo uma das teses congressuais. Ou ainda, como defende outra tese, a defesa de "construção de um Estado democrático e forte" como um dos eixos programáticos com o "objetivo ampliar as capacidades e forças em sua relação com o mercado e subjugando-o".

Tais posições não são novas. Mas a diferença é que nos dias atuais há a experiência dos governos de esquerda da América Latina (AL), que têm se constituído em paradigmas e referências para significativas parcelas de militantes dos movimentos sociais e organizações de esquerda.

Inconsistências

Qualquer suposição de que se possa controlar o Estado e colocá-lo a serviço de políticas que favoreçam a população pobre e criem condições para avançar rumo ao socialismo deve responder algumas questões fundamentais. Uma delas é como chegar, e por quais vias, ao controle do atual Estado? Talvez a resposta óbvia, tendo em conta os processos na Venezuela e demais países, seja a via eleitoral.

Mas não se pode esquecer que os governos de esquerda da AL foram produtos de circunstâncias concretas. Durante o primeiro governo de Chávez não havia uma "Revolução Bolivariana" em curso. O marco do seu surgimento foi o amplo movimento de massas que salvou Chávez dos golpistas que o haviam seqüestrado em 2002. Da mesma forma, na Bolívia, a eleição de Morales em 2005 expressou a radicalização da grande revolta popular que em 2004 obrigou Sanchez de Lozada a fugir do país.

Dois aspectos merecem ser considerados. Primeiro, que os resultados dos processos latino-americanos não podem ser analisados em uma relação causal, ou seja, não podem ser considerados como conseqüências inevitáveis, uma vez que refletiram situações e correlações de força específicas àquelas sociedades. Segundo, qualquer generalização daquelas (e outras) experiências – produtos de circunstâncias concretas – em táticas ou caminhos a serem perseguidos é temerária, uma vez que se leva a implantar políticas que não correspondem à realidade concreta do Brasil. Foi o caso das guerrilhas urbanas e rurais que tentaram repetir aqui e na AL uma estratégia que ocorreu em Cuba em uma situação completamente específica e atípica. É preciso observar o que é universal e particular em cada processo.

A idéia de que a partir do controle do Estado se possa implementar um "novo modelo de desenvolvimento" exige que se explicite o que é esse "novo modelo". E, independente disso, cabe lembrar que ganhar o governo não significa ter o controle do Estado. No caso do Brasil, o Estado – e a própria estrutura social - é muito maior e extremamente mais complexo que em qualquer outro país da AL. As dificuldades seriam muito maiores, e qualquer política socializante envolveria a oposição não só da direita e do grande capital nacional e estrangeiro, mas da burocracia estatal, da mídia, dos parlamentos estaduais e locais, de setores significativos da classe média e do extenso aparelho repressivo que engloba as Forças Armadas, as Polícias Militares e Civis estaduais.

Por fim, é necessária uma boa dose de realismo ao analisarmos a situação da Venezuela e outros países latino-americanos. Não podemos nos ater aos governos, mas sim enxergar o todo, em especial a situação da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. Surpreendentemente, Sader é realista quando afirma que aqueles governos são governos antineoliberais, mas que ainda não podem ser considerados anticapitalistas. Ele está correto.

Com relação ao governo Chávez e os demais governos, não é possível qualquer apoio acrítico e incondicional. Apoiamos as suas medidas progressistas, que confrontem o capital e o imperialismo, e que favoreçam a população trabalhadora e pobre. Mas não podemos apoiar medidas que tendem a apertar o controle sobre os movimentos e a promover uma centralização cada vez maior do Estado. Infelizmente, tais tendências têm se fortalecido na política chavista.

Portanto, para nós o fundamental é o fortalecimento da auto-organização e da consciência revolucionária da classe trabalhadora e dos explorados. É isso que possibilita a auto-emancipação dos trabalhadores, e não o fortalecimento do Estado.

A natureza do Estado

Por trás de tudo isso está o debate sobre a natureza do Estado. Fala-se em tomar o Estado, controlar o Estado. Mas o Estado não é uma "coisa" que possa ser tomada para que se modifique sua natureza conforme a vontade. A estrutura do aparelho de Estado burguês expressa as relações sociais preponderantes no capitalismo, baseadas na exploração de uma classe majoritária na sociedade – a classe trabalhadora – por uma classe minoritária – a burguesia . O Estado existe precisamente para manter e assegurar essas relações de exploração através dos seus vários mecanismos: parlamento, forças armadas, polícia.

É verdade que o Estado sofre mudanças. Assume formas e regimes políticos diferentes, mas até o limite da "ossatura institucional" que é o conjunto de instituições e mecanismos de poder que não são porosos à participação e controle social. Em outras palavras, o Estado não pode ser modificado a ponto de garantir o controle social, com direito à eleição e revogação dos mandatos dos parlamentares, funcionários estatais, forças armadas e polícia. Emir Sader afirma que o Estado é um "espaço em disputa". Ele está errado. Só poderíamos admitir tal afirmação em termos parciais e limitados. Há espaços a serem disputados, mas não o núcleo duro do aparelho estatal. Mas ele e outros teóricos como Carlos Nelson Coutinho parecem convencidos de que é possível disputar e transformar o conjunto do aparelho de Estado. Parece que muitas das lições trágicas proporcionadas por experiências históricas como o governo de unidade popular de Allende no Chile não foram aprendidas. Ou outras conclusões foram extraídas desses processos.

Para nós, as análises de teóricos como Marx, Rosa, Lênin, Trotsky e Gramsci – cuja obra do cárcere foi "seqüestrada" por Togliatti e o eurocomunismo – permanecem referências decisivas para a compreensão da natureza e do papel do Estado burguês. E seus ensinamentos devem compor a base de qualquer estratégia revolucionária conseqüente que pressupõe a ruptura com o capitalismo e a construção do socialismo como uma obra da maioria e não de uma minoria substitucionista que age "em nome" da classe trabalhadora ou da sociedade.

Conclusão

Finalmente, um aspecto fundamental decorre das experiências do chamado "socialismo real". Naqueles países não havia mercado nem capital privado. A economia era controlada a partir de cima por uma burocracia que, tendo o Estado sob seu controle, determinava todo o processo produtivo. Esses regimes não caíram por conta de qualquer conspiração da CIA, mas sim por conta da dinâmica de suas economias que engendravam o mesmo tipo de contradições existentes no capitalismo de mercado. E seus governantes foram derrubados pelas mesmas massas cujos interesses supostamente representavam.

A forma estatal da propriedade não é, em si, superior à forma privada. Depende de que tipo de Estado se fala, de quem controla esse Estado e como se dá esse controle. Uma transição socialista só pode ser conduzida pela classe trabalhadora "alçada à condição de classe dominante", o que significa não um Estado capitalista "forte", mas um semi-Estado, baseado em órgãos democráticos – os conselhos de trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo - que exercem o poder diretamente a partir da base da sociedade.

Defender essa perspectiva revolucionária não nos permite alimentar quaisquer veleidades sobre controlar o Estado burguês para avançar rumo ao socialismo. Mesmo que tais políticas sejam chamadas de "táticas", não o são. Afinal, o stalinismo e os Partidos Comunistas também defenderam "táticas" - como a visão etapista de revolução e a "tática" da frente popular - que conduziram a derrotas trágicas que custaram não apenas a vida de milhões, mas dramáticos retrocessos na luta pela emancipação humana.

Rui Polly é ambientalista e membro do Diretório Estadual de São Paulo do PSOL.

Contato: ruipolly@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

Este texto foi retirado de http://www.revolutas.net

Filosofia e Questões Teóricas - texto de Gramsci

Quando se pode dizer que um partido está formado e não pode ser destruído por meios normais



Antonio Gramsci

Antonio Gramsci
Antonio Gramsci














O problema de se saber quando um partido está formado, quer dizer, quando desempenha um papel preciso e permanente, dá lugar a várias discussões e, quase sempre, infelizmente, a uma forma de vaidade que não é menos ridícula nem menos perigosa do que a "vaidade das nações" de que fala Vico. Pode-se dizer, é verdade, que um partido nunca está acabado nem formado no sentido de que qualquer desenvolvimento cria novos comprometimentos e novas tarefas, e no sentido de que para certos partidos se verifica o paradoxo de que eles só estão acabados e formados quando já não existem mais, vale dizer, quando sua existência torna-se historicamente inútil. Assim, posto que qualquer partido não é mais do que uma nomenclatura de classe, é evidente que para o partido que se propõe a anular a divisão em classes, sua perfeição e seu acabamento consistem em não mais existir após a supressão das classes e, portanto, de suas expressões. Mas aqui se quer fazer alusão a um momento particular desse processo de desenvolvimento, ao momento que se segue àquele em que um fato pode existir e não existir, no sentido de que a necessidade de sua existência ainda não se tornou "peremptória", mas depende em "grande parte" da existência de pessoas possuindo um extraordinário poder de volição e uma extraordinária vontade.

Quando um partido se torna "necessário" historicamente? Quando as condições de seu "triunfo", de sua inelutável transformação em Estado estão ao menos em vias de formação e deixam prever normalmente seus desenvolvimentos ulteriores. Mas quando se pode dizer, em tais condições, que um partido não pode ser destruído por meios normais?[2] Para responder a essa questão, é preciso desenvolver um raciocínio: para que um partido exista é necessário que confluam três elementos fundamentais (quer dizer, três grupos de elementos):

1. Um elemento difuso de homens comuns, medianos, que oferecem como participação sua disciplina, sua fidelidade, mas não o espírito criativo e altamente organizado. Sem eles, o partido não existiria, é verdade, mas também é verdade que o partido não existiria com eles "unicamente". Eles constituem uma força na medida em que encontrem os homens que os centralizem, organizem, disciplinem, mas na ausência dessa força de coesão, eles se espalhariam, se dispersariam numa poeira impotente. Não se trata de negar que cada um desses elementos possa se transformar numa força de coesão, mas de considerá-los precisamente no momento em que ainda não o são, ou o são apenas num círculo restrito, politicamente sem efeito e sem consequência.

2. O elemento principal de coesão, que centraliza no plano nacional, que torna eficaz e potente um conjunto de forças que, abandonadas a si mesmas, seriam zero ou pouco mais; esse elemento é dotado de uma potente força de coesão, que centraliza e disciplina e igualmente ─ sem dúvida a esse respeito ─ inventa (se se entende "inventar" numa certa direção, seguindo certas linhas de força, certas perspectivas, às vezes certas premissas): é verdade também que sozinho esse elemento não formaria o partido, todavia ele o formaria mais facilmente do que o primeiro elemento considerado. Fala-se de capitães sem exército, mas na realidade é mais fácil formar um exército do que formar capitães. Tanto é verdade que um exército constituído é destruído se lhe faltam os capitães, enquanto que a existência de um grupo de capitães que se põem de acordo entre si, reunidos por objetivos comuns, não demora em formar um exército mesmo lá onde não exista nada.

3. Um elemento intermediário, que deve articular o primeiro ao segundo elemento, colocá-los em relação por um contato não apenas "físico", mas moral e intelectual. Na realidade, para cada partido existem "proporções definidas"[3] entre esses três elementos e atinge-se o máximo de eficácia quando essas "proporções definidas" são realizadas.

Após essas considerações, pode-se dizer que um partido não pode ser destruído, através de meios normais, quando existe necessariamente o segundo elemento ─ cujo surgimento está ligado a certas condições materiais objetivas (e, se esse segundo elemento não existe, todo o raciocínio está esvaziado de sentido) ─ mesmo que seja disperso e errante, pois é então impossível que não se formem os dois outros, quer dizer, o primeiro, que necessariamente forma o terceiro como sua continuação e seu meio de expressão.

É preciso, para que isso ocorra, que seja formada a convicção inquebrantável de que uma solução determinada dos problemas vitais seja necessária. Sem essa convicção, só se formará o segundo elemento, cuja destruição é a mais fácil por causa de seu pequeno número, mas é necessário que esse segundo elemento, se vier a ser destruído, deixe como herança um fermento que lhe permita de se recompor. E onde esse elemento subsistirá melhor e poderá melhor se formar do que no primeiro e no terceiro elementos, que, evidentemente, tornam-se mais homogêneos com o segundo? A atividade que o segundo elemento consagrará à constituição desse fermento é então fundamental: o critério de julgamento desse segundo elemento deverá ser pesquisado: 1. no que ele realmente faz; 2. no que ele prepara para o caso em que venha a ser destruído. É difícil dizer qual dessas duas atividades é a mais importante. Pois, na luta, deve-se sempre prever o fracasso, e a preparação de seus próprios sucessores é uma atividade tão importante quanto a que se faz para vencer.

A propósito da "vaidade" de partido, pode-se dizer que é pior do que a "vaidade das nações", de que fala Vico. Por quê? Porque uma nação não pode deixar de existir e, no fato dela existir, ela é sempre possível, se for necessário, com um pouco de boa vontade e solicitando os textos, encontrar que sua existência é rica de destino e de significação. Em contrapartida, um partido não pode existir em virtude de uma necessidade interna. Nunca se pode esquecer que na luta entre nações, cada uma delas tem interesse em que a outra seja enfraquecida por lutas internas e que os partidos são precisamente os elementos dessas lutas internas. Para os partidos, então, pode-se sempre se questionar se eles existem por sua própria força, em virtude de uma necessidade interior, ou se, ao contrário, sua existência depende de interesses exteriores (e, de fato, nas polêmicas, esse ponto nunca é esquecido, é até um tema sobre o qual se insiste, o que significa ─ e principalmente quando a resposta é evidente ─ que o ataque atingiu o alvo e deixou dúvidas). Naturalmente, deixar-se dilacerar por essas dúvidas é pura estupidez. Politicamente, a questão só tem uma importância momentânea. Na história do que se chama o princípio das nacionalidades, as intervenções estrangeiras a favor de partidos nacionais que perturbavam a ordem interior de Estados antagonistas são inumeráveis, a ponto de que, quando se fala, por exemplo, da política "oriental" de Cavour[4], coloca-se a questão de saber se se tratava de uma "política", vale dizer, de uma linha de ação permanente, ou de um estratagema momentâneo para enfraquecer a Áustria com vistas a 1859 e 1868. Assim, nos movimentos mazzinianos do início de 1870 (exemplo, o caso Barsanti[5]), via-se a intervenção de Bismarck, que, prevendo a guerra contra a França e o perigo de uma aliança ítalo-francesa, pensava, por meio de conflitos interiores, enfraquecer a Itália. Assim, nos acontecimentos de junho de 1914, alguns viam a intervenção do estado-maior austríaco preparando a guerra que viria. Como se vê, a casuística tem mil aspectos e é preciso ter as idéias claras a esse respeito. Se se admite que, seja quem for, faz-se sempre o jogo de alguém, o importante é procurar, por todos os meios, fazer bem feito seu próprio jogo, quer dizer, vencer nitidamente. De qualquer maneira, é preciso desprezar a "vaidade" de partido e substituir essa vaidade pelos fatos concretos. Quanto àqueles que substituem os fatos concretos pela vaidade, ou fazem a política da vaidade, deve-se supor que simplesmente não sejam sérios. Não é necessário acrescentar que, para os partidos, é preciso evitar até mesmo a aparência "justificada" de que se faça o jogo de alguém, sobretudo se esse alguém é um Estado estrangeiro; que, em seguida, se especule sobre isso, ninguém pode evitar.

[Cadernos do cárcere / Notas sobre Maquiavel, a política e o príncipe moderno / 1932-1933]

Antonio Gramsci (1891-1937)

Notas:

[1] Essa "vaidade" é em Vico a atitude das nações que "sempre tiveram a pretensão de se considerar como as primeiras a ter encontrado as comodidades da vida e a ter conservado suas tradições desde as origens do mundo".

[2] Alusão às tentativas de destruição do partido da classe operária pelo fascismo (por meios que não são "normais"): o problema colocado é o da sobrevivência do partido nas massas e nos quadros.

[3] "O teorema das proporções definidas" é uma nota nos Cadernos sobre a teoria das organizações.

[4] Essa alusão visa a atitude de Cavour e do governo piemontês no conflito entre a França e a Inglaterra, de um lado, e a Rússia , de outro, sobre os negócios orientais, que levaria à guerra da Crimeia. Para evitar que a aliança contra a Rússia não ficasse limitada a França, Inglaterra e Áustria ─ o que teria aproximado as potências ocidentais (França e Inglaterra) do inimigo do Piemonte ─ a política Cavour nos anos 1854-1855 teve por eixo a entrada do Piemonte na aliança (acordo de de 10 de janeiro de 1855). A participação piemontesa na guerra aparece, então, mais do que ditada pela iniciativa imediata dos países (Gênova comerciava com Odessa), por considerações de política internacional, sobretudo anti-austríacas.

[5] Em 24 de maio de 1870, o cabo Pietro Barsanti tenta o assalto a uma caserna em Pavia, à frente de uma quarentena de republicanos, aos gritos de "Viva Roma! Viva A República! Abaixo a Monarquia!". Barsanti foi preso e fuzilado em 27 de agosto de 1870.

Fonte: GRAMSCI, Antonio. Note sul Machiavelli sulla politica e sullo Stato moderno. Editori Riuniti, p.28-31.

Fonte secundária: Gramsci dans le texte. Paris: Editions sociales, 1975, p. 456-461

Tradução: Sergio Granja

Janaina Reis - Choro Novo na Senzala - 2005

Excelente disco este que tira os batuques de nossas raizes, um disco muito lindo, que merece ser ouvido com calma e apreciado pela alma, fica aqui a dica pra voces, por isso, deleitem-se!!!
Saravá!!!
Daniel de Mello e a Música da Minha Gente


CD de estréia da cantora e compositora com participações especiais de Arlindo Cruz, Fafá de Belém, Rildo Hora e Sombrinha.
Janaina Reis lançará seu primeiro CD, comercializado pela Indie Records, no Rio de Janeiro.
Choro Novo Na Senzala foi produzido por Luiz Carlos Torquato Reis, um dos técnicos mais prestigiados da atualidade, e conta com as participações especiais de Arlindo Cruz, Fafá de Belém, Rildo Hora e Sombrinha.
O CD possui quatorze faixas da mais pura música brasileira, numa evocação à quebra dos preconceitos raciais, à responsabilidade social com relação as questões de nossas crianças e sobretudo a um melodioso grito alusivo à liberdade e à paz, compostas por grandes nomes como: Paulo César Pinheiro, Wilson Moreira, Sombrinha, Rubens Gordinho, Arlindo Cruz, Maurição, Acyr Marques, Martinho da Vila, Rita Reis, Ary do Cavaco, Efson, Odibar, Gilson Bernini, Brasil, Bizuca, Marcelo Guimarães, Ramon Russo, Marquinho P.Q.D., Carlito Cavalcante e Genaro da Bahia e arranjadas por Rildo Hora, Misael da Hora, Paulão 7 Cordas, Ramiro Musotto, Luiz Pardal, Adelbert Carneiro e Maestro Leonardo Bruno (arranjos vocais).
Em Abril, convidada pelo sambista Tunico Ferreira, a artista participou de seu show no teatro Rival. Em junho, no mesmo teatro, convidada pelo também sambista Arlindo Cruz, fez participação especial, juntamente com a cantora Fafá de Belém, no “Pagode do Arlindo”.
Janaina Reis traz a música brasileira na alma, e é a magia desta música que deseja levar ao coração de seu povo. Um povo que tem a alegria, a malícia e a sensualidade desse nosso país mestiço e bonito chamado Brasil.Janaina Reis traz a música brasileira na alma, e é a magia desta música que deseja levar ao coração de seu povo. Um povo que tem a alegria, a malícia e a sensualidade desse nosso país mestiço e bonito chamado Brasil.
CHORO NOVO NA SENZALA conta com as participações de grandes músicos brasileiros, como: Cláudio Jorge, Paulão 7 Cordas, Carlinhos 7 Cordas, Misael da Hora, Wanderson Martins, Ivan Machado, Tuca Alves, Dirceu Leite, Paulinho Black, Gordinho, Marcos Esguleba, Tunico Ferreira, Maestro Leonardo Bruno, Ari Bispo, Jurema de Cândia, Patrícia Hora, Ramiro Musotto, Mintcho Garrammone, Luiz Pardal, Adelbert Carneiro, Davi Amorim, Esdras de Souza, Edvaldo Cavalcante, Marcio Jardim, Nazaco Gomes, Kleber Benigno, Daniel Araújo, Nicinha e Suelene.

Fonte: Palco Mp3

Download: Janaina Reis - Choro Novo na Senzala - 2005