quinta-feira, 24 de junho de 2010

Choro brasileiro....

Meio século no choro
Rosa Minine - No sitio  A Nova Democracia

Paulistano e 'chorão' convicto, o bandolinista Izaías Bueno Almeida ou simplesmente 'Izaías do Bandolim', com mais de 50 anos de carreira, além do trabalho solo, já tocou com muita gente importante da música brasileira, como Paulinho da Viola e Inezita Barroso. Na década de1960, mesmo sendo chamado de 'quadrado' por bossa-novistas, fez parte de uma espécie de grupo de resistência em favor do choro, e com a ajuda de José Ramos Tinhorão, trabalhou para o renascimento do gênero, em uma época em que só se falava em bossa nova, jovem guarda e rock'n roll.


Izaías, ao centro, e seu grupo Izaías e seus chorões
— Sou filho de um músico de banda do interior, que tinha muito conhecimento teórico de música, me ensinando as primeiras lições. Ele queria que eu fosse violinista para poder tocar em uma orquestra sinfônica, ter um emprego seguro, aposentadoria, enfim, pensava em um bom futuro para mim. Mas enveredei para outro lado, e ainda criança me encantei pelo cavaquinho, e o fui explorando — conta Izaías.
— Desta forma descobri que cavaquinho poderia ser afinado para bandolim, então não parei mais. Mas só entrei pelo caminho do choro mesmo quando vi e ouvi Jacob do Bandolim tocando. Já conhecia outros bandolinistas mais antigos, contudo ele me impressionou muito e despertou em mim o desejo de explorar o gênero, pesquisar partituras — continua.
— De imediato, me deparei com a falta de partituras de choro. As que tinham estavam em poder de chorões, que por as considerarem de grande importância, não queriam emprestar. Mas uma das coisas que aprendi a fazer muito bem foi escrever a música após ouvi-la. Então passei a produzir partituras de choro, formando um vasto repertório de tudo aquilo que ouvia — fala.
Em 1957 Izaías foi apresentado por Jacob do Bandolim no programa de televisão Noite dos Choristas.
— Jacob foi o mentor da ideia de se fazer uma roda com os chorões. A partir do programa passei a ser procurado pelas emissoras de televisão, que na época tinham música ao vivo, para participações. Mas logo depois, o choro começou a ser considerado 'passado'. Só falava em bossa nova, que era o principal modismo da época, assim como os axés music e os funks dos tempos atuais — diz.
— É claro que era rica musicalmente. A respeito e acredito que ela veio contribuir de alguma forma para sistema harmônico referenciado no choro hoje. Somente não concordo que ela era, a tal ponto, capaz de suplantar gêneros genuinamente brasileiros, nascidos no meio do povo — explica.
— Contudo ela imperava em todo o país, principalmente no Rio de Janeiro, a ponto de Jacob do Bandolim se deslocar de Jacarepaguá, no Rio, para vir aqui em São Paulo fazer rodas de choro. E queixava-se de que o gênero que a cidade havia descoberto, o choro, estivesse acabando em seu próprio berço — acrescenta.

'Quadrados' com orgulho

Mesmo em meio a chacotas, nos anos de 1970 Izaías participou do Conjunto Atlântico, que animava o importante programa O Choro das Sextas-feiras, na TV Cultura/SP, que trabalhava para reascender as chamas do choro.
— Os bossa-novistas não queriam saber de choro e nos chamavam de 'quadrados'. Mas não abaixamos a cabeça e nem nos ofendemos por isso. Muito pelo contrário, por intermédio do grande amigo José Ramos Tinhorão, que sempre frequentava as rodas de choro, começamos um programa de televisão que foi uma espécie de batalha em prol do choro — lembra.
— Ele permaneceu no ar por quase dez anos, fez o que se propôs e hoje tenho o orgulho de dizer que, juntamente com um grupo de resistentes, colaborei para o renascimento desse gênero tão maravilhoso. E depois dessa árdua batalha, o Brasil inteiro começou a tomar ciência do choro novamente e surgiram as novas rodas e mais chorões — continua.
Mas, para mim ainda não é o ideal, precisamos continuar lutando, com esforço, porque não temos apoio governamental, e não contamos com espaços em televisões e rádios, que continuam interessados nos modismo — acrescenta.
Izaías tem a sua própria roda de choro em São Paulo, e participa de outras que acontecem pela cidade.
— Somos um grupo de resistência em plena atividade. Minha roda acontece todas as sextas feiras, na Rua Capital Federal, 182, alto do Sumaré. E também tem outras, por exemplo, todos os sábados, na parte da manhã, o pessoal se reúne na loja de instrumentos musicais Contemporânea, na Rua General Osório, 45, Centro. Lá, dirigidos pelo Arnaldinho do Cavaco, tocamos e nos alegramos — anuncia.
Com muito talento, Izaías é considerado um dos maiores chorões paulistas em atividade. Fundou seu próprio grupo de choro, o Izaías e seus Chorões, contando com o apoio de seu irmão Israel, chorão que toca violão de 7 cordas.
— Geralmente faço shows com meu grupo. Além do bandolim e do violão de 7 cordas, temos o violão de 6 cordas, cavaquinho e pandeiro. No momento, eu e meu irmão estamos aposentados e podemos nos dedicar inteiramente ao choro — diz Izaías, acrescentando que, assim como o irmão, trabalhou longos anos como contador.
Seu primeiro disco Pé na Cadeira, contendo clássicos de chorões pioneiros, foi lançado em vinil em 1980 e relançado em CD dezenove anos depois. Em 1999 lançou Quem Não Chora Não Ama, com obras de Canhoto da Paraíba, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e outros. Em 2004 lançou Moderna Tradição, misturando clássico e moderno.
— Tenho também O Choro e Sua História, onde, ao lado de meu irmão, toco chorões de todos os tempos. É uma caixinha contendo três CDs, que considero de grande valor. Além disso, gravo muitas participações em discos de outros artistas, por exemplo, o CD Perfil de São Paulo, de Inezita Barroso, mesclando choro e viola — expõe.
— Viajo constantemente pelo Brasil e pelo exterior fazendo shows, e notando o quanto o nosso choro é apreciado. E tenho pensado em gravar mais um disco. Repertório para isso existe — avisa Izaías do bandolim.

Para quem quer contratar Izaías e seus Chorões, o e-mail é: izaias.bueno.almeida@gmail.com

Reflexões do Juremir...

A França em greve geral


Juremir Machado da Silva no correio do povo

Estou chegando de Paris.
A França está em greve geral hoje.
Nada de anormal.
Francês faz greve mesmo. Até na Copa do Mundo.
Mais de dois milhões de pessoas pararam contra o projeto do governo de mudança nas leis de aposentadoria.
O governo quer passar a idade mínima de 60 para 62 anos.
O tempo de contribuição passaria de 37 para 39 anos.
Sentei num bar com quatro sociólogos franceses.
Revisei meus conhecimentos da legislação francesa.
Confirmei tudo o que sabia.
Um francês oficialmente carente pode receber o RMI (o bolsa-família deles) durante a vida inteira.
O valor anda em torno dos 250 euros.
O francês carente vive mal, muito mal, mas tem cobertura de saúde universal, não paga eletricidade e recebe ajuda moradia. E outras mais. Sobrevive. Mas um francês não quer apenas sobreviver.
Os demais franceses têm educação gratuita em todos os níveis para os filhos.
O Estado dá ajudas para quem tem mais de um filho.
Dá até mesmo um cheque férias para ajudar os mais necessitados a sair de casa.
A partir do francês médio, todo mundo tem uma assistência saúde completar, que reembolsa todos os gastos, inclusive os medicamentos.
Aqui é que começa a confusão.
Nem todos os medicamentos existentes podem ser reeembolsados.
Mas todos aqueles que são prescritos pelos médicos são reembolsáveis.
Em outras palavras, saúde e educação por conta do Estado com uma participação dos trabalhadores.
A coisa já foi melhor.
Alguns direitos se perderam.
Para os franceses, o Estado é condomínio formado por todos os cidadãos. Todas as despesas devem ser compartilhadas para que o edifício funcione.
Quem ganha mais, paga mais.
Quem nada ganha, é coberto pelos outros.
Quem perder o emprego depois de 12 meses, recebe um salário-desemprego por, segundo as situações, até 18 meses, em torno de 75% do salário recebido no emprego.
Mesmo quando a direita está no poder, a França é de esquerda, republicana, social-democrata.
É por isso que eu gosto de lá.
E por isso que Luiz Inácio faz sucesso por lá.
O nosso bolsa-família é uma mera e boa cópia do que é praticado em todos os países civilizados da Europa.
Quem critica, o faz por conservadorismo radical ou por má-fé.
Voilà tout.

Desemprego mundial alcança recorde histórico


Desemprego mundial alcança recorde histórico

Informe da Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que há 211 milhões de desempregados hoje no mundo, o maior índice registrado na história. Segundo a ONU, será preciso criar globalmente 470 milhões de novos postos de trabalho nos próximos 10 anos só para manter o nível do crescimento. “As condições do mercado de trabalho seguiram se deteriorando em muitos países e é provável que afetem negativamente a grande parte do progresso obtido durante a década passada na meta de conseguir trabalhos decentes", diz ainda o informe. O artigo é do La Jornada.

O número de desempregados no mundo alcançou um nível histórico, chegando a 211 milhões, enquanto a geração de postos de trabalho estancou há mais de uma década, revelou um informe da Organização das Nações Unidas (ONU). "Hoje, o desemprego no mundo é o maior registrado na história”, expressou nesta quarta o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, na apresentação do informe sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 2010.

“Existem 211 milhões de pessoas sem trabalho e é necessário criar globalmente 470 milhões de novos postos de trabalho nos próximos 10 anos só para manter o passo do crescimento”, acrescentou.

Os objetivos das Metas do Milênio são oito parâmetros de desenvolvimento social que devem ser melhorados de maneira substancial, dos níveis de 1990 a 2015 e cujos progressos serão revisados numa reunião que ocorrerá em setembro próximo na ONU.

O informe comparou que no mundo em desenvolvimento existiam 63 empregos para cada 100 pessoas em 1998, enquanto que, em 2008, se reduziu a 62 e se manteve esse nível durante 2009.

“As condições do mercado de trabalho seguiram se deteriorando em muitos países e é provável que afetem negativamente a grande parte do progresso obtido durante a década passada na meta de conseguir trabalhos decentes”, indicou.

No informe se explicou que a deterioração da economia provocou “uma forte queda na relação emprego/população” e que a produtividade laboral declinou em 2009 em relação ao ano anterior.

Na América Latina a relação entre emprego e população era de 58% em 1998; avançou apenas a 61% em 2008 e voltou a cair a 60% em 2009.

A ONU observou que o emprego vulnerável voltou a subir no último ano, depois de ter registrado um declive na década mais recente. Em 2009, era de 60%, enquanto que um ano anos era de 59% no mundo em desenvolvimento.

Na América Latina o percentual de pessoas auto-empregadas ou que administra negócios familiares aumentou de 31 a 32% entre 2008 e 2009, depois de registrar 35% em 1998. Mesmo assim aumentou na região o que a ONU chama de “trabalhadores pobres”, aqueles que têm um emprego, mas ganham menos de 1,25 dólares por dia. O índice subiu a 8% em 2009, depois de registrar 13% em 1998.

“A tendência positiva de redução do emprego vulnerável foi interrompida pela deterioração das condições do mercado de trabalho causada pela crise financeira”, assentou o informe. No entanto, a ONU destacou alguns avanços na América Latina, como o percentual da população que vive em “situação de miséria”, que foi reduzido de 34% em 1990 para 24% em 2010.

No informe sobressaíram as reduções das taxas de mortalidade materno-infantil e os avanços na igualdade de gênero feitos na América Latina.

Em geral o informe ressaltou que se tem registrado notáveis avanços na redução da pobreza no mundo, embora estes se devam aos progressos realizados na China e na Índia, em especial.

O número de pessoas que subsiste com menos de 1,25 dólares por dia diminuiu de 46% em 1990 a 27% em 2005, e se espera que se reduzam a 15% para o ano de 2015.

Tradução: Katarina Peixoto