quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Genial......

Brasil será 'a grande história' de 2010, diz 'Financial Times'

Um artigo publicado na edição desta terça-feira do jornal Financial Times afirma que "o Brasil é a potência do século 21 a se observar".

Assinado pelo comentarista Michael Skapinker, o artigo compara duas visões antagônicas do país – uma negativa, na qual se sobressaem problemas de violência e desigualdade social, e uma positiva, que ressalta uma economia pujante e plena de recursos naturais.

Sem tomar partido por uma das visões, o comentarista diz que o país será "a grande história do próximo ano".

Os fundamentos de sua avaliação foram apresentados por ele em um recente encontro que reuniu jornalistas de diferentes publicações internacionais.

"O Brasil acabava de passar por uma crise financeira em boa forma. O país estava sentado em uma vasta descoberta de petróleo em alto mar. Havia testemunhado a maior abertura de capital do mercado neste ano – os US$ 8 bilhões colocados em bolsa pelo braço brasileiro do Santander. Seria também a sede de dois dos maiores eventos esportivos do mundo: a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016."

Para Skapinker, o outro lado da moeda seria a violência. "Não pude esconder certa palpitação em relação às desvantagens conhecidas do Brasil", diz ele, citando relatos e notícias de furtos, assaltos à mão armada a sequestros.

"Não vi nada disso", diz o comentarista, que recentemente fez sua primeira visita ao Brasil. "Mas dois dias após minha saída do país, enfrentamentos armados entre gangues rivais no Rio custaram pelo menos 14 vidas, incluindo as de três policiais mortos quando o helicóptero em que estavam foi abatido."

Para o comentarista, "é grande crédito do Brasil que, durante vários dias de encontros e entrevistas no Rio e em São Paulo, ninguém negou que o crime violento é uma realidade no país, e pode ter um sério impacto no seu desenvolvimento".

Já pelo lado positivo, diz Skapinker, "o Brasil é um país com imenso potencial, um povo acolhedor e diverso, excelente comida e diversas empresas de porte mundial".

"Diferentemente da China, o Brasil não tem conflitos étnicos agudos e é uma democracia partidária. Os brasileiros reclamam da corrupção de seus políticos, mas apontam que, ao contrário dos Estados Unidos, os resultados das eleições presidenciais – a próxima é em outubro de 2010 – são anunciados rapidamente."

O comentarista acrescenta que a riqueza petroleira, em um país que produz a maior parte de sua energia de hidrelétricas e etanol, representa um "prospecto intrigante".

"Os brasileiros sabem que o petróleo pode ser uma maldição ou uma bênção. A maneira como empregarem sua nova riqueza determinará se o país se tornará uma força no século 21."

O comentarista encerra o artigo retomando sua idéia inicial. "O Brasil será uma grande história – não apenas no próximo ano mas por muitos anos."

fonte: BBC

Enquanto isso no Chile...

A saga do povo Mapuche pelo direito à terra

 
Assassinatos de jovens indígenas evidenciam a repressão do Estado chileno sobre os povos originários que lutam por reconhecimento e pela recuperação de seus territórios
ancestrais
 
Por Carolina Coral
 
Santiago do Chile – A morte do jovem mapuche Jaime Facundo Mendonza Collio, da comunidade Requem Pillan de Ercilla, em 12 de agosto desse ano, como consequência de um disparo realizado por um policial durante uma manifestação em defesa de terras indígenas, não foi o primeiro caso de assassinato e repressão por parte do Estado chileno contra o povo mapuche. Outras vítimas, como Alex Lemun, em 2002; Juan Collihuin, em 2006, e Mathias Catrileo, em 2008, evidenciam que as mortes não são meros casos isolados, mas sim consequência de problemas que se arrastam por mais de 100 anos entre os povos originários e o governo nacional. Tais problemas
continuam sendo intensificados por atos de violência e pela falta de tolerância em relação às múltiplas etnias que constituem o Chile.
 
Segundo o historiador chileno José Bengoa, a cronologia da história indígena do Chile não é a mesma da história do país. Apesar das semelhanças históricas entre todos os povos indígenas da América Latina, também há particularidades de cada grupo indígena. No caso dos mapuche – povo indígena predominante no Chile e também
existente na Argentina – eles sempre estiveram predispostos a dialogar com o governo chileno. Entretanto, foi o próprio Estado chileno que rompeu com as possibilidades de diálogo, no final do século 19, quando iniciou sua expansão territorial. Além disso, não elaborou nenhuma política de proteção aos indígenas. Pelo contrário, os consideravam como um obstáculo para o desenvolvimento econômico da nação.
 
Foi nesse período de expansão territorial que os mapuche, por meio dos títulos de Merced – instrumento criado pelo governo chileno para se apoderar e controlar terras que não lhe pertenciam - ocorreu um processo abrupto de redução territorial dos povos originários, que permaneceram apenas com 5% das atuais províncias de Arauco, Bibio, Malleco e Cautín. No entanto, mesmo com os títulos em mãos, não se assegurou a permanência dos mapuche em suas terras devido à usurpação das terras por parte dos colonizadores estrangeiros e dos próprios chilenos.
 
Para Bengoa, a origem da pobreza indígena está diretamente ligada a tal redução territorial, pois essas poucas terras se tornaram insuficientes para suprir as necessidades dessa população, impedindo a construção de uma vida digna.
 
Além disso, entre fins do século 19 e princípio do século 20, houve um período denominado como “assimilação forçosa”, caracterizado por políticas estatais dirigidas aos povos indígenas com o objetivo de transformá-los em cidadãos chilenos, com base em um conceito de “identidade nacional homogênea”. Na visão do historiador, esse
projeto foi marcado por uma integração frustrada, porque até hoje os indígenas não estão totalmente inseridos na sociedade chilena.
 
Dissolução de território
Ainda hoje os mapuche vivem sob a ameaça da dissolução do seu território. Os maiores inimigos das terras indígenas são os projetos de investimentos privados, entre elas plantações florestais que afetam diretamente as comunidades.
 
Para Alfredo Segel, editor do informativo Mapuexpres - site de maior acesso com conteúdos sobre os mapuche – “a indústria florestal tem sido uma das atividades símbolos do ultraneoliberalismo do Estado chileno, pois seus proprietários são os empresários considerados mais ricos de toda a América Latina”. Atualmente, há 3 milhões de hectares de monocultura de espécies exóticas como o pinus e o eucalipto, que são como bombas que sugam a água do solo, prejudicando o meio ambiente, além de substituir os bosques nativos, as plantas com propriedades medicinais e a soberania alimentar dessas comunidades.
 
Os investidores da indústria florestal e suas derivações, como a de aquacultura, de criação de gado e da agricultura estão diretamente associados ao mercado financeiro e se dividem em nacionais, multinacionais e transnacionais. De acordo com Roberto Morales, diretor da Escola de Antropologia da Universidade Austral do Chile, taisgrupos também controlam a educação, a saúde, a energia e os meios de comunicação, e são os mesmos que controlam o aparato público estatal a seu favor e ajudam a implantar políticas repressivas que resultaram nas mortes dos jovens mapuche.
 
Carta branca do governo
Na avaliação de Segel, o governo da presidente Michelle Bachelet deu carta branca para uma radical expansão do extrativismo nas terras dos povos originários. No entanto, o modo como esses recursos serão explorados “diz respeito a todos e principalmente às comunidades que fazem parte desse ecossistema”, salienta. Explica, ainda, que a indústria florestal no Chile é representada principalmente por dois grupos econômicos: Matte (CMPC) e Angelini (Copec, Arauco y Celco), os quais controlam aproximadamente 70% do solo utilizado para plantações no país e já superam 7 milhões de dólares de fortuna. Além disso, estão se expandindo para outras regiões como Peru, Equador, Uruguai, Argentina e Brasil.
 
Segundo o advogado José Aylwin, diretor do Observatório Cidadão, e filho do ex-presidente Patrício Aylwin, depois que o Chile ratificou o Convênio 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) “para cada projeto realizado em terras indígenas deveria ser aplicado um processo de consulta adequada a tais povos, como forma de compensação pelos danos e maior participação nos benefícios que estes geram, exatamente como se estabelece no direito internacional”.
 
Aylwin também ressalta que, apesar do histórico de demandas negadas aos povos indígenas, a ratificação desse Convênio - firmado sob pressão de organismos nacionais e internacionais – ajudou a inserir a problemática indígena do país em um cenário internacional, representando um avanço e uma possibilidade de real transformação.
Contudo, “ainda assim são insuficientes, pois as políticas públicas ainda são muitas vezes contraditórias”.
 
Uma das contradições é a própria Constituição chilena, que distingue a propriedade da terra dos elementos que fazem parte dela. Assim, na maioria das vezes, dentro das propriedades indígenas ocorre uma exploração da vegetação e das águas por parte de empresas privadas, gerando um conflito em permanente expansão.

Carolina Coral é jornalista
 
Para ler a reportagem completa e outras matérias confira a edição de outubro da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

O navio afunda devagar...

O Americano deseducado

Paul Krugman“A maior parte do povo, presumo eu, ainda tem em mente, a imagem de uma América como a terra por excelência da formação universitária, única pelo seu contexto de oferta de ensino superior susceptível de servir grande parte da população. Esta ideia costumava, no passado, corresponder à realidade. Mas nos dias de hoje, os jovens norte-americanos que concluem um grau de ensino superior são em número significativamente menor, que aqueles que completam o mesmo tipo de percurso académico em muitos outros países. Na realidade, dispomos de uma taxa percentual de licenciados ligeiramente abaixo da taxa homóloga em vigor em todas as outras economias mais desenvolvidas”.
Paul Krugman* - www.odiario.info



Se se tivesse de explicar o sucesso económico norte-americano através de uma única palavra, essa palavra seria «ensino». No século XIX, os EUA assumiram a orientação do ensino básico universal. Depois, ao passo que as outras nações se acomodavam, a «revolução na escola secundária» no início do século XX elevou-nos até um grau de exigência completamente diferente. E nos anos posteriores à segunda guerra mundial, os EUA consagraram-se na liderança no ensino de nível superior.

Mas tudo isso passava-se, então. A melhoria do ensino norte-americano provinha, incontestavelmente, da melhoria do ensino público – e, a verdade é que ao longo dos últimos trinta anos, as opções políticas têm vindo a ser contaminadas pela ideia peregrina de que qualquer investimento público constitui um desperdício dos dólares dos contribuintes. O ensino, sendo um dos sectores que mais contribuem no orçamento da despesa pública, disso se ressentiu.

Até hoje em dia, os resultados desta negligência com o ensino, têm piorado gradualmente – este é um lento despertar para a erosão da posição dominante estadunidense. Mas a situação está prestes a agravar-se dramaticamente, à medida que a crise económica – com as consequências do exagero ao nível da política de responsabilidade fiscal de Washington que prevê o cuidado excessivo com as pequenas importâncias de dinheiro em contraste com a negligência no que diz respeito às grandes fortunas – obriga a drásticos e sucessivos cortes no ensino.

Sobre essa mesma erosão dir-se-á que tem havido uma onda de vagas sobre ameaças ao predomínio das universidades norte-americanas de elite. Na mesma sequência desse tipo de denúncias, pelo menos a julgar por aquilo de que me consigo aperceber, tem-se referido o nosso declínio relativo à liderança nas iniciativas pioneiras. Os EUA que costumavam estar na frente no que diz respeito ao ensino dos seus jovens, têm, gradualmente, sido ultrapassados por outras das nações mais desenvolvidas.

A maior parte do povo, presumo eu, ainda tem em mente, a imagem de uma América como a terra por excelência da formação universitária, única pelo seu contexto de oferta de ensino superior susceptível de servir grande parte da população. Esta ideia costumava, no passado, corresponder à realidade. Mas nos dias de hoje, os jovens norte-americanos que concluem um grau de ensino superior são em número significativamente menor, que aqueles que completam o mesmo tipo de percurso académico em muitos outros países. Na realidade, dispomos de uma taxa percentual de licenciados ligeiramente abaixo da taxa homóloga em vigor em todas as outras economias mais desenvolvidas.

Mesmo sem as consequências desta crise contemporânea, haveria todos os motivos possíveis e imagináveis para se recear uma descida ainda maior deste tipo de indicadores, nem que fosse somente pelo facto de se terem criado tão difíceis condições para os estudantes com limitações financeiras para se manterem nas instituições de ensino. Nos EUA, com os fracos apoios que a Segurança Social concede e as limitadas ajudas aos estudantes existentes, os jovens acabam por preferir, tal como sucede com os seus homólogos de países como, por exemplo, a França, trabalhar a tempo parcial ao mesmo tempo que vão frequentando as aulas. Não surpreendentemente, dadas as necessidades financeiras prementes, os jovens norte-americanos acabam mesmo por permanecer menos tempo na instituição de ensino ainda antes de terem concluído o curso, para tornarem-se temporariamente trabalhadores a tempo inteiro.

Mas a crise presente criou problemas adicionais ao nosso sistema de ensino, actualmente em ruptura.

Segundo a Agência para as Estatísticas do Trabalho, a economia estadunidense perdeu 273 000 postos de trabalho no mês transacto. Desse total de postos perdidos, 29 000 ocorreram no sector do ensino nacional e distrital, fazendo subir o número total de perdas de trabalho nesse meio, e nos últimos cinco meses, para 143 000. Estes números poderão não soar a muito escandalosos, mas a verdade é que o ensino é uma das áreas em que, em normalidade de circunstâncias, e mesmo numa recessão, nunca pára de crescer. Os mercados até podem encontrar-se em crise, mas nunca haverá motivos para se deixar de ensinar os nosso filhos. Ainda por cima, é precisamente isso que está a acontecer.

Não há dúvidas nenhumas sobre o que está a acontecer : o ensino é essencialmente da responsabilidade do Estado e das autarquias, que, por sua vez, se encontram em graves apuros do ponto de vista fiscal. Uma adequada ajuda federal poderia fazer uma desejada diferença. Mas enquanto que algum tipo de ajuda já foi de facto providenciada, a verdade é que essa mesma ajuda só chegou para colmatar parte das falhas ainda existentes. Tal facto ficou a dever-se, em parte, à insistência de senadores centristas, em Fevereiro passado, em retirar muito dessa mesma ajuda da Lei de Recuperação e Re Investimento Americano, de um incentivo inicialmente previsto nesse projecto de lei.

Como resultado destas políticas, o ensino encontra-se à beira de cortes financeiros ainda mais radicais. E a demissão de professores é só parte desta história muito mal contada. Ainda mais grave, é a forma como estamos a destruir oportunidades.

Por exemplo, o jornal “Crónica do Ensino Superior” noticiou recentemente a situação difícil da comunidade de estudantes de ensino superior privado do estado da Califórnia. Ao longo de sucessivas gerações, estudantes talentosos oriundos de famílias menos afortunadas, serviram-se dessas instituições de ensino como trampolim para ingressarem nas universidades públicas estaduais. Mas face à crise provocada pelo orçamento de estado, estas universidades viram-se forçadas a fechar a porta este ano, às potenciais transferências deste tipo de estudantes. Como corolário lógico deste tipo de decisão, seguir-se-á certamente, uma vida inteira de perdas e danos nas perspectivas de trabalho de muitos dos estudantes afectados – assim como um desperdício gratuito de potencial humano.

Então, o que é que deveria ser feito?

Em primeiro lugar, o Congresso deveria emendar os erros de Fevereiro, assim como fazer aprovar um novo conjunto de ajudas aos governos estaduais. Não há necessidade de se lhe chamar um incentivo, mas esse seria, indiscutivelmente, um meio eficaz para criar ou salvaguardar milhares de postos de trabalho. E seria, simultaneamente, um investimento a longo prazo.

Além disso, há que acordar para a realidade histórica de uma das chaves para o sucesso da nossa nação e que agora anda a ser desperdiçada. O ensino tornou os EUA grandes ; negligenciar o ensino pode fazer inverter esse processo.


* Paul Krugman, economista galadoardo com o Prémio Nobel em 2008 é colaborador habitual do New York Times

Este texto foi publicado no New York Times de 8 de Outubro de 2009

Tradução de João Hinard de Pádua