quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Expansão do ensino universitário e técnico no Brasil: condição para o desenvolvimento

editorial do Sul21

O lançamento da terceira fase do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação, ocorrido na última segunda feira (22), marca o esforço que o governo brasileiro vem fazendo para modificar o quadro do ensino universitário e da qualificação técnica e científica no país. O Plano prevê a criação de quatro novas universidades, 47 campi federais e 208 Institutos Profissionais e Tecnológicos, distribuídos em municípios de todos os estados da federação, selecionados entre os que se situam nas faixas de até 50 mil e de até 80 mil habitantes.
No Rio Grande do Sul serão implantados dois novos campi universitários, um da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Cachoeira do Sul, no Vale do Jacuí, região Central, e outro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Tramandaí, no Litoral Norte. Serão criados, até 2014, 16 novos Institutos Federais de Ensino Técnico (IFETs), em todas as regiões do estado, e 40 novas Escolas Técnicas Federais, em 38 municípios gaúchos. O número total de matrículas no ensino universitário federal no Rio Grande do Sul chegará a 84 mil e a 44 mil no ensino técnico e tecnológico.
Em todo o Brasil, a meta fixada para 2014 será atingir 1,2 milhão de matrículas nas universidades federais e 600 mil nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Um esforço importante, que colocará o Brasil e sua população em condições mais favoráveis para enfrentar as transformações em curso no mundo contemporâneo. A passagem da era industrial, baseada no petróleo e nos automóveis, para a era da informática, firmada nas tecnologias de comunicação e informação, produzirá um reordenamento na economia mundial e nos países que a lideram. Só aqueles que estiverem preparados para enfrentar os novos desafios colocados, sejam países ou populações, terão condições de ocupar posição de relevo.
Depois de “dormir em berço esplêndido” durante séculos, o Brasil despertou nas últimas décadas e se lança agora ao esforço de recuperar o tempo perdido. Último país das Américas a criar uma universidade e figurando hoje entre os países com menor número de estudantes universitários proporcionalmente à sua população, o Brasil precisa, de fato, ter pressa.
Segundo o Mapa da Educação Superior, produzido pela UNESCO em 2008, enquanto no Brasil apenas 20% dos jovens na faixa dos 18 aos 24 anos frequentavam universidades, no Chile eles somavam 43% e na Argentina chegavam a 61%. Números que não são muito diferentes dos encontrados na França, na Espanha e no Reino Unido, onde o total de estudantes universitários situa-se sempre acima de 50% dos jovens da referida faixa etária.
De acordo com o mesmo estudo da UNESCO, grande parte dos estudantes universitários brasileiros está matriculada em instituições superiores particulares. Apenas 27% deles estão em universidades públicas, colocando o país no último lugar entre os países pesquisados na América Latina e no Caribe quanto à freqüência de instituições superiores públicas. À frente do Brasil situam-se El Salvador (penúltimo lugar), com 34%, o México, com 66%, e a Argentina (primeiro lugar), com 75% dos estudantes universitários na rede pública.
Vem crescendo, no entanto, nos últimos anos, o acesso das classes C e D ao ensino superior no Brasil. Segundo estudo do Instituto Data Popular, realizado com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a classe D ultrapassou, desde 2009, a classe A no número de estudantes nas universidades públicas e privadas brasileiras. Os estudantes das classes C (renda familiar entre  três e dez salários mínimos) e D (renda familiar entre um e três salários mínimos) somados representam 72,4% dos estudantes universitários no país.
O Plano de Expansão da Rede Federal de Educação, agora anunciado, evidencia um redirecionamento significativo na política educacional brasileira. Iniciado no governo Lula, com a retomada da criação de escolas técnicas federais, com a ampliação das vagas e dos cursos nas universidades federais, bem como com a criação do financiamento estudantil público, o redirecionamento agora se aprofunda. O Estado, por meio do governo federal, assume a tarefa de expandir os ensinos universitário, técnico e tecnológico no país, levando-os a todas as regiões e aos seus municípios de pequeno e médio porte – o que facilitará também o acesso da população de baixa renda ao ensino técnico e universitário públicos.
O Brasil se prepara, finalmente, para ingressar no rol das nações desenvolvidas. Fará isto, ao que tudo indica, incorporando cada vez mais o conjunto amplo de sua população às benesses do desenvolvimento econômico, social e cultural. Aliás, é bom que não se esqueça nunca, tomando por base as Nações desenvolvidas, que as possibilidades de desenvolvimento de um país só se tornam plenas quando se tornam plenas também as possibilidades de desenvolvimento das mais amplas parcelas de sua população.

Outra vez campeão: Leandro Damião dá bi da Recopa ao Inter


por Alexandre Alliatti no Globo Esporte

É uma fonte que não seca, é uma rotina que não cansa, é uma história escrita sem ponto final. Ano após ano, desde 2006, o Inter conquista pelo menos um título de nível internacional. O novo integrante da lista é a Recopa Sul-Americana de 2011. Com excelente primeiro tempo de Leandro Damião, autor de dois gols, o time gaúcho bateu o Independiente por 3 a 1 e conquistou o bicampeonato.
Damião sobrou. Chegou a 34 gols na temporada e virou o grande protagonista do título. Kleber, cobrando pênalti sofrido por Jô, fechou o placar depois de o Independiente descontar. No primeiro jogo, na Argentina, o time de Avellaneda havia vencido por 2 a 1.
Assim, o Inter repete a conquista de 2007. Já são oito títulos internacionais desde 2006 - duas Libertadores, um Mundial, uma Sul-Americana, uma Copa Suruga e uma Copa Dubai completam a coleção. O título embala o Inter para o Campeonato Brasileiro. E tem Gre-Nal. Domingo, os colorados encaram seu maior rival no Olímpico.
O futebol certamente não era a preferência de Nietzsche, pensador dos mais pirados (e dos mais geniais), quando ele criou a tese do eterno retorno. Em um resumo simplista, é como se o mundo vivesse um ciclo em repeteco infinito: o passado, o presente e o futuro ocorrendo repetidas vezes, eternamente, sempre com os mesmos fatos. Se não entendeu, peça explicação a um colorado. Ele acorda, todos os dias, com a certeza de que Leandro Damião fará gol.
O Inter vive em um paradoxo de tempo e espaço. Está em eterno retorno por causa de seu camisa 9. O passado de gols dele, o presente de goleador dele, o futuro certamente de matador dele parecem se juntar a cada instante, se repetir a cada dia. Os gols de ontem são os gols de hoje e serão os gols de amanhã - um pouco diferentes uns dos outros, é bem verdade, mas sempre presentes.
Exageros à parte, não foi brincadeira o que o camisa 9 do Inter fez nos primeiros 45 minutos do jogo contra o Independiente. Ele marcou dois gols, quase deixou mais um, quase encerrou a carreira de Gabriel Milito, zagueiro com pompa de Europa, ex-jogador do Barcelona, que vai passar alguns dias se perguntando de onde saiu esse centroavante.
internacional campeão recopa (Foto: AP)Jogadores do Inter comemoram o título da Recopa, após vitória por 3 a 1 no Beira-Rio (Foto: AP)

Cinco minutos separaram os dois gols. No primeiro, aos 20, Damião passou reto por dois marcadores pela ponta direita, especialmente por Milito, avançou área adentro e bateu. De bico. O mesmo jogador que havia feito um gol de bicicleta contra o Flamengo agora marcou de bico. Belo gol.
Aos 30, aconteceu o segundo. A bola viajou até a direção onde estavam Damião e Milito. No corpo, o colorado ganhou a jogada. A bola tocou no chão, subiu e já encontrou a chuteira do centroavante. Foi uma pancada em diagonal. Golaço.
Não foi tudo. Damião deu chapéu em um marcador e saiu fazendo embaixadinhas de cabeça. O Beira-Rio soltou um grito coletivo de prazer estético. O mesmo centroavante quase fez outro. Mandou uma patada cruzada. A bola voltou a encontrar a rede, mas por fora.
Mas havia um porém, um aviso, um recado. Por duas vezes, o Independiente chegou com força no ataque. Poderia ter diminuído, levado o jogo a um placar que renderia prorrogação. O sinal ficaria mais claro no segundo tempo.
 
Susto antes do título

Parecia encaminhado o título. Só parecia. Veio o segundo tempo, e com ele, a galope, veio o susto. Com apenas três minutos do período final, a defesa colorada vazou (o que também passa um sentimento de eterno retorno: acontece sempre), e Maxi Velázquez recebeu dentro da área, acossado apenas por Elton, para mandar chute forte. Muriel não teve muito a fazer. Era o gol do Independiente.
Ficou ruim. E poderia ter ficado ainda pior. Muriel fez defesa muito difícil em pancada de Ferreyra. No rebote, Pérez arrumou o corpo para empatar, mas Kleber cortou na hora certa.
A torcida tentava apoiar. Mas era palpável a tensão no estádio. O Inter se ajeitou em campo e quase ampliou - primeiro com Índio, de cabeça, depois com Dellatorre, parado pelo goleiro Navarro. E aí veio outra má notícia. D’Alessandro sentiu fisgada muscular e teve de ser substituído.
Andrezinho entrou no lugar dele. Jô também foi a campo, na vaga de Dellatorre. O Independiente passou a dar sinais de satisfação com o resultado. E foi punido. O goleiro Navarro fez pênalti em Jô. Kleber partiu para a cobrança. E fez. Era o gol do título.
Aí foi esperar, foi deixar o tempo passar, foi contar os minutos até mais um título. Doce rotina: desde 2006, ano após ano, o Inter conquista pelo menos um troféu estrangeiro. Também é um eterno retorno...
leandro damião e kleber comemoram gol do Internacional sobre o Independiente (Foto: EFE)Heróis da noite: Damião, autor de dois gols, e Kleber, que marcou o terceiro, comemoram juntos (Foto: EFE)