sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Soja transgênica: tudo contra

Autorizar soja transgênica só pode trazer prejuízo ao Brasil. Contas mirabolantes e dados confusos: este é o balanço da argumentação favorável à liberação do produto no Brasil. Nada autoriza a pensar que ela seja mais produtiva ou econômica do que a soja tradiiconal.

O jornal "O Estado de São Paulo" publicou há algumas semanas, com grande destaque, matéria onde afirmava que o Brasil perdeu 26 bilhões de reais desde 1996 por não ter liberado a produção comercial de transgênicos já a partir daquele ano. A matéria está baseada em estudo da empresa de consultoria econômica Céleres, de Minas Gerais, e causou total incredulidade a quem acompanha o tema, pois nem os propagandistas mais ferrenhos ousaram, até então, afirmar cifras tão gigantescas.

O estudo não só foi amplamente divulgado pela mídia como valeu aos seus autores convites para exporem seus resultados em palestras no Congresso Nacional, transformando-se em importante argumento na campanha em curso para pressionar o governo do presidente Lula a acelerar as liberações de cultivos comerciais dos transgênicos, atropelando as avaliações de impacto ambiental e de riscos para a saúde dos consumidores.

A análise detalhada das informações apresentadas no estudo, entretanto, mostra a sua inconsistência e a leviandade de se dar publicidade a tais argumentos. Se esta é a base sobre a qual se apóia a pressão para a liberação dos transgênicos é melhor, definitivamente, não liberá-los.

O cálculo das alegadas "perdas" indicadas pela Céleres tem como premissa básica que os produtos transgênicos têm custo de produção mais baixo que os convencionais e aplica este princípio à produção de soja, milho e algodão, quer resistentes ao herbicida glifosato ou tendo um poder tóxico capaz de matar lagartas (e outras espécies não-alvo).

Dos três produtos, a soja resistente ao glifosato, conhecida como soja RR, da multinacional Monsanto, é o único produto transgênico cultivado no Brasil desde 1996 sendo, portanto, o único sobre o qual é possível avaliar os resultados práticos a partir de dados empíricos e não de especulações. Por esta razão vamos analisar apenas as afirmações da Céleres sobre as "perdas" derivadas da não liberação da soja RR em 1996, que eles dizem ser da ordem de 4,6 bilhões de dólares.

Em primeiro lugar, o estudo diz que a produtividade das variedades de soja transgênica importadas clandestinamente da Argentina e reproduzidas nas propriedades dos agricultores é "elevada, o que potencializou a vantagem quantitativa da semente geneticamente modificada".

Esta linguagem enrolada parece indicar que a produtividade foi mais alta do que nas variedades convencionais o que não se verificou em nenhum lugar do mundo. Os únicos testes comparativos de que se tem notícia no Brasil foram realizados pela Fundacep, do Rio Grande do Sul. Em todos os testes de campo, tanto as sementes de variedades transgênicas produzidas ilegalmente como as fornecidas pelas empresas tiveram resultados piores do que os das variedades convencionais, com uma diferença média da ordem de 13%. Os testes realizados nos Estados Unidos confirmam esta verdade com um diferencial de produtividade da ordem de 6,0% em média contra as variedades de soja transgênica no conjunto do país[ii].

Apesar deste comentário sobre a produtividade, o estudo da Céleres não atribui qualquer ganho de produtividade na soja RR quando faz seus cálculos sobre as "perdas". Esta é apenas uma dentre as muitas inconsistências do estudo.

A Céleres cita uma empresa inglesa de consultoria, a PG Economics, como fonte para afirmar que existe redução nos custos de produção da soja RR devido a uma diminuição da ordem de 53% no uso de herbicidas; de 3,06 kg/ha para 1,44 kg/ha. No estudo da PG Economics encontrado no seu site estes números simplesmente não existem. Ao contrário, na página 7 do mesmo se lê: "deve-se notar que em alguns países, como na América do Sul, a adoção da soja RR coincidiu com aumentos no volume de herbicidas empregados em relação aos seus níveis históricos".

Apesar da indicação acima sobre o aumento do uso dos herbicidas na América do Sul a PG Economics afirma que houve uma redução nos custos do uso de herbicidas no Brasil com a entrada da soja RR, redução de 73 dólares por hectare. Esta contradição não é explicada no texto, mas talvez os ingleses não saibam que o Brasil fica na América do Sul. Mas de onde tiraram esse dado?

A PG Economics não fez qualquer pesquisa no Brasil, ao contrário do que aparece no estudo da Céleres. Sua fonte de informação é uma publicação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA. O Gain Report Br4629, de novembro de 2004, apresenta uma tabela comparativa entre os custos de produção da soja transgênica e da soja convencional apenas para a safra 2004/2005 e apenas para a região de Cascavel, no Paraná. Com base em dados tão parciais a consultora inglesa extrapola as supostas economias de 73 dólares por hectare para todo o Brasil e para todo o período de 1996 a 2006.

Mas de onde o USDA tirou o seu dado? A publicação americana cita o Deral, Departamento de Estudos rurais da Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná, mas a tabela em questão simplesmente não existe no site do Deral.

Contas mirabolantes
Para confundir ainda mais o leitor é preciso dizer que o estudo da Céleres apresenta uma tabela onde a economia de custos conseguida com o uso de soja RR é de 35 dólares por hectare, em média, para todo o Brasil de 1996 a 2006, mais uma vez devida a uma redução de 50% na quantidade de herbicidas utilizada. A fonte é uma outra empresa, Arcádia Internacional, de origem belga. Nenhum dos textos obtidos no site da dita empresa, entretanto, permitiu identificar qual a fonte de informação utilizada para esta suposta redução do uso de herbicidas.

A Céleres não teve sequer o cuidado de incluir nas suas contas o custo da tecnologia transgênica, observação que a Arcádia faz na sua tabela. A Monsanto cobra 2% sobre o valor da saca de 60kg de soja entregue pelo agricultor. Hoje a saca tem um valor médio de 25 reais e a parte da Monsanto seria de 50 centavos por saca. Calculando uma produtividade de 50 sacas por hectare, o custo da tecnologia seria de 25 reais por hectare. Este valor é de aproximadamente 12,5 dólares por hectare, ou seja, no balanço entre a suposta economia de 35 dólares no uso de herbicidas e o aumento de custo de 12,5 dólares pelo uso da tecnologia, o resultado é uma redução no custo de produção da ordem de 22,5 dólares apenas, menos do que o mercado está pagando de prêmio de qualidade para a soja não transgênica _ 30 dólares por hectare para uma produtividade de 3000 kg/ha.

Em outras palavras, o que queremos dizer é que o estudo da Céleres não se sustenta porque está baseado no estudo da PG Economics que está baseado no boletim do USDA que está baseado em um estudo atribuído equivocadamente ao Deral e cujos critérios e fontes não podem ser verificados. Por outro lado, a citada tabela da Arcádia Internacional também não dá a fonte dos dados e a Céleres esqueceu de incluir o custo da tecnologia nas suas contas. O que temos aqui são puras especulações de "pesquisadores internacionais" que são citados pelos pesquisadores nacionais como fontes sérias e seguras e, com isso, busca-se impressionar o público leitor.

A notória inconsistência dos dados apresentados é perceptível para qualquer um que esteja familiarizado com o uso de herbicidas na agricultura. A mera idéia de que o dado de uso de herbicidas em um determinado ano possa ser extrapolado para dez anos já é um absurdo total.

O caso dos EUA
Na falta de qualquer estudo minimamente sério sobre a cultura de transgênicos no Brasil, penso que podemos olhar para os estudos realizados nos Estados Unidos e que cobrem quase o mesmo período daquele da consultora inglesa, nove anos desde 1996. Estes estudos, realizados pelo pesquisador norte americano Charles Benbrook usam dados oficiais do governo daquele país e uma metodologia que é apresentada de forma transparente em seus estudos[iii].

O estudo de Benbrook prova que o uso de soja RR nos Estados Unidos desde 1996 fez crescer e não diminuir o consumo de herbicidas em comparação com os cultivos de soja convencional. Trabalhando com médias nacionais, Benbrook mostra que em 1996, o primeiro ano de cultivo de soja RR nos EUA, a redução do uso de herbicidas foi da ordem de 30% enquanto no segundo ano a redução foi de 23% em comparação com a soja convencional. Em 1998, a comparação entre a soja RR e a soja convencional resultou em um consumo de herbicidas 6% maior para a primeira. Deste ano em diante, as diferenças de uso de herbicidas vão ficando cada vez maiores, chegando a soja RR a consumir 86% mais herbicidas do que a convencional no nono ano do cultivo, 2005.

O estudo de Benbrook sobre milho e algodão resistentes a herbicidas segue o mesmo padrão, com 20% e 56% de uso de herbicidas a mais nos produtos transgênicos ao final de nove anos de cultivos.

Como é possível que os dados sejam tão discrepantes? Haverá realmente ou terá havido uma redução no uso de herbicidas pelo emprego de soja transgênica no Brasil? Pelo padrão exposto pelo pesquisador americano é provável que no início tenha havido uma redução de uso que, junto com a maior facilidade na aplicação dos herbicidas, tenha provocado o entusiasmo dos agricultores do Rio Grande do Sul em relação a esta tecnologia. Mas é impossível que os dados econômicos e agronômicos tenham se mantidos neste patamar ótimo entra ano e sai ano desde 1996. Já se fala em resistência das ervas invasoras ao uso do Roundup crescendo no RS há alguns anos. As estatísticas sobre o uso de herbicidas no RS, embora não detalhadas por cultura apontam para um forte crescimento no consumo que coincide com a expansão da área com cultura de soja RR naquele estado.

A hipótese mais provável é que a forte redução nos preços do glifosato, com o fim da patente da Monsanto junto com a súbita queda no valor do real em 1999, tenha mascarado as contas dos agricultores. Com o glifosato até 50% mais barato de um ano para outro, usar mais herbicida não aumentou os custos de produção quando comparados com os anos anteriores. Com o dólar quase dobrando também de um ano para outro, os sojicultores do RS tiveram ganhos tão significativos que certamente lhes pareceu justificar até um uso maior de herbicida para ter mais facilidade no controle de invasoras. Daí a se afirmar que o país perdeu bilhões por não ter usado soja RR mais cedo vai uma leviandade que beira a má fé.

Se as tendências constatadas por Benbrook para os Estados Unidos se confirmam para o Brasil _ e não há porque haver diferenças significativas entre os dois casos _ o "atraso" na regulamentação da soja RR em nosso país representou uma forte economia de custos, de cerca de dois bilhões de dólares, e não uma perda de 4,6 bilhões como especula o estudo da Céleres.

Está na hora de se fazer um estudo a sério sobre os custos de produção da soja RR no Brasil e suspender as operações de marketing com cálculos mirabolantes sem base na realidade após dez anos de produção no Rio Grande do Sul. O estudo da Céleres, assim como o da inglesa PG Economics ou o da belga Arcádia em que o primeiro se baseia, é totalmente inconsistente.


* Jean Marc von der Weid é economista e coordenador da AS-PTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa) aspta@aspta.org.br

Enquanto isso, na Venezuela...

O Bolívar que não fala francês



Luiz Eça


Simon Bolívar não foi apenas o herói da independência da América Latina. El Libertador notabilizou-se como um corajoso reformador social. Filho de uma família nobre da Venezuela, então colônia da Espanha, completou seus estudos em Madri e Paris, onde participou da vida cultural, apaixonando-se pelas idéias democráticas de Rousseau, Montesquieu e Voltaire.

De volta à América, comandou os exércitos revolucionários que combateram os espanhóis durante 5 anos, libertando regiões que são hoje Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela. Eleito presidente do seu país, procurou promover avançadas reformas em favor da população pobre.

Fisicamente, Chávez e Bolívar são totalmente diferentes.

A figura esbelta e elegante do Libertador contrasta com o pesado e canhestro Chávez, com suas roupas mal cortadas e o rosto escuro, denunciando ancestrais indígenas (avó da etnia Pumé). As dessemelhanças continuam nos estilos de oratória. Enquanto Bolívar é sóbrio, fino e erudito, Chávez é destemperado e emocional, não vacila em atacar rudemente quem dele discorda.

Mas, ao eleger Bolívar como modelo e suas idéias como objetivo, Chávez conseguiu uma perfeita identificação. Não é a toa que ele batizou seu movimento de “socialismo bolivariano”.

Ambos adotaram como grande prioridade a defesa dos pobres. Para isso, foi essencial reduzir os privilégios das classes favorecidas e dos interesses estrangeiros. Por isso, Chávez é considerado por muitos o “criador da luta de classes” na Venezuela. E Bolívar recebeu do seu opositor, o general Santander, a acusação de desencadear «uma guerra na qual ganhem os que nada têm, que são muitos, e percamos nós, os que temos, que somos poucos».

Para realizar seu ambicioso programa de reformas sociais, Bolívar exigiu e obteve poderes extraordinários, ferozmente combatidos pelos beneficiários do regime. Foi chamado de “aprendiz de ditador”, “autoritário”, “administrador ineficiente” tanto pelos jornais do país, quanto dos Estados Unidos e da Europa. Exatamente o que acontece com Chávez.

Condena-se como antidemocrática sua posição a favor de reeleições sucessivas, esquecendo-se que Roosevelt, Thatcher e Blair governaram por diversos períodos. O fechamento da RCTV é apontado como prova de que na Venezuela não há liberdade de imprensa. Diz o governo que a emissora de TV mereceu por ter violado a lei ao pregar o golpe de Estado e que cancelar a concessão seria legal, pois o prazo tinha vencido. Legal, mas, talvez, pouco ético. O golpe fracassado aconteceu há 5 anos – nessa ocasião, o governo teria todo direito de pedir o cancelamento da concessão por via judicial. Ficou a idéia de que a ação do governo visou calar uma voz oposicionista.

A explicação prende-se ao desejo de Chávez de evitar o destino de Bolívar que, derrotado pelos políticos e seus poderosos patronos, foi obrigado a renunciar, frustrando seus sonhos de reforma social. Ele conhece a força e a agressividade de seus inimigos. Em 2002, quando emitiu 49 decretos ,dos quais os mais radicais eram uma reforma agrária do tipo da brasileira e a reserva para o Estado de 51% das ações das petrolíferas, os empresários da FEDECAMARAS (a Fiesp deles), aliados à classe média e a alguns sindicatos, promoveram uma greve geral e um “lock-out” – que levaram a economia nacional à bancarrota (a produção de petróleo caiu de 3 milhões de barris diários para 25 mil) -, passeatas com multidões e, por fim, um golpe de Estado, apoiado pelo FMI e pelo governo americano.

Agora que pretende concluir a passagem da Venezuela para o socialismo bolivariano através de 33 alterações constitucionais, Chávez precisa da opinião pública a ser ouvida em plebiscito neste ano. Não poderia permitir que ela fosse influenciada negativamente pela RCTV, uma rede que é tão poderosa quanto a Globo no Brasil.

Urgido por essa mesma necessidade de concretizar de vez o socialismo bolivariano, Chávez obteve do Congresso o direito de legislar sobre uma série de matérias. Alega-se que, com isso, a independência dos 3 Poderes, essencial num regime democrático, foi para o espaço, ainda que temporariamente. É um fato a considerar. Combustível para aqueles que o vêem como “uma ameaça”. Não certamente à Venezuela e a seu povo.

“Contra facti nom sunt argumenta”, diziam os romanos. Veja o que os fatos dizem: com Chávez, a inflação foi de 30% , em 1998, para 7%, previstos para 2007. Entre 2004 e 2006, o país cresceu a uma média de 12% ao ano. Nesse mesmo período, o PIB per capita foi de 4.800 para 7.200 dólares. O salário-mínimo de 286 dólares é o maior da América Latina. A pobreza ainda é alta, mas diminuiu de 43,9% em 1998 para 30,6% em 2006. E o desemprego, que chegava a 15% em 1999, em junho de 2007 atingia apenas 8,3%.

Minimizam-se essas cifras lembrando-se que tudo se deve à alta do petróleo; quando ela acabar... adeus Venezuela. Algo assim aconteceu antes de Chávez. Apesar de, entre 1976 e 1995, o petróleo ter gerado 270 bilhões de dólares, o país tinha entrado em colapso. Na década de 90, o FMI entrou em ação com suas receitas. E os resultados desastrosos habituais. Para evitar essas coisas, Chávez tem usado os rendimentos do petróleo em investimentos, não apenas sociais, mas também na industrialização do país. E com sucesso. A taxa de crescimento industrial foi de -15%, em 2004, para +7% em 2007, o que reduziu a importação de bens de consumo de 37% do total, em 2003, para 24% , em 2007.

Como Bolívar, Chávez propõe uma integração solidária dos países da América Latina. Não fica nas palavras: tem ajudado a resolver problemas da Argentina, Bolívia, Cuba, Nicarágua, Peru e Equador, usando o dinheiro ganho com o petróleo.

Talvez se possa censurar seus excessos verbais como chamar Tony Blair de “fantoche do imperialismo que partilha a cama de Bush” e o Senado brasileiro de “papagaio de Washington”. Montesquieu certamente não aprovaria o que ele fez de sua teoria dos 3 Poderes. E, no caso da RCTV, a liberdade de imprensa na Venezuela sofreu um hiato, embora as demais 118 empresas jornalísticas do país continuem exercendo o direito de atacar o governo. Mas, antes de julgar se Chávez é democrata ou não, convém pesar o que ele tem feito por seu povo. Ken Livingstone, prefeito de Londres, tem sua opinião: “A Venezuela era como uma dessas velhas nações latino-americanas – uma pequena elite de famílias super-ricas que roubavam os recursos nacionais. Chávez está dirigindo uma nova ordem econômica onde, pela primeira vez, há saúde para o povo pobre e o analfabetismo foi erradicado. É encorajador ver um governo empenhado na transformação social e democrática de uma importante nação da América Latina”.

Luiz Eça é jornalista.

Pobre PT!!!!!

Grandalhão indolente



Léo Lince


Quando ainda era “pequeno e insolente”, para usar uma expressão do genial Carlito Maia, o Partido dos Trabalhadores fazia congressos mais animados. Mais criativos e sintonizados com o dinamismo que lhe chegava de uma militância presente no dia-a-dia dos movimentos sociais. Hoje, infelizmente, como instrumento de transformação, que politiza o dinamismo dos conflitos, alimenta a grande política e produz projetos de mudança, o PT acabou. É uma página virada.

O partido, que já atiçou a esperança de milhões e agora se acomoda nas práticas da velhíssima política, opera no contraponto de sua identidade original. Uma lástima. Os petistas que ainda cultuam na memória a antiga identidade do partido - por incrível que pareça eles ainda existem - devem estar se perguntando o que ainda fazem neste palco de perdidas ilusões. Todos sabem que a resolução, positiva, pela anulação do leilão da Vale é um papel sem lastro. O governo é contra e a maioria do partido está no governo. Como no caso da propaganda contra as privatizações no segundo turno da eleição presidencial, são palavras ao vento.

A ética na política e a luta pela mudança no modelo econômico excludente, bandeiras que animaram o petismo na sua fase heróica e polarizaram parcela significativa da cidadania brasileira, já não estão mais ao alcance do PT. Nenhuma resolução de crítica ao modelo econômico que o partido nasceu e cresceu combatendo foi aprovada no congresso. Ninguém pediu a cabeça do Meirelles. O famoso “bloco de esquerda”, que animava os debates na bancada federal, não existe mais. A matriz de pensamento do partido, antes ancorada no dinamismo dos movimentos da sociedade, agora está acoitada na máquina do Estado, onde o continuísmo conservador define as bases da diretriz.

Afastado de sua identidade histórica, desvinculado da base social que lhe fornecia vitalidade, ao partido foi reservado o trabalho sujo de uma “governabilidade” atrelada ao intestino grosso da pequena política. Para que o presidente siga limpo como um “santo de bordel”, tudo que é feio e torto é debitado nas contas do partido. Este, sempre passivo, aceitou a condição de almoxarifado de bodes expiatórios. Basta ver a situação atual da vistosa “cadeia de comando” que ocupou na primeira hora o cerne do governo e que ocupa agora, por decisão do Supremo Tribunal Federal, o banco dos réus.

O PT saiu de si mesmo e agora veste o figurino clássico da velha política conservadora. Desfila desajeitado no descompasso de quem perdeu o rumo da trajetória própria. Resolveu aprender com os antigos adversários. E, como cristão novo, precisa praticar com ênfase redobrada aquilo que sempre combateu. Cospe no prato que comeu e come com apetite voraz no prato que cuspiu. Uma tristeza. Assim como as estrelas mortas, ele ainda maneja raios de luz do que não mais existe como pólo ativo. Conserva, portanto, algum poder de iludir, mas já trocou definitivamente de identidade. A galeria dos partidos da ordem, como diria o genial Carlito Maia, ostenta mais um “grandalhão indolente”.

Léo Lince é sociólogo.

Eterno



Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que
se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata!

Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras. Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber. Difícil é estar preparado para escutar esta resposta, ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade. Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria. Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou “como vai”? Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama. Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá...

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado. Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Copiado de:AmigosDoFreud

O dia em que o Brasil foi invadido

Animação de recortes, que mostra a hipotética invasão do Brasil pelos EUA, com o objetivo de tomar posse dos recursos naturais do país. A elite das forças especiais do exército americano irá liderar a invasão. Só um país será o vencedor.

Animação feita como projeto de conclusão de curso das Faculdades Integradas Barros Melo.