quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Brasil carece de um projeto social??

O Brasil precisa de um projeto voltado para o povo
Escrito por Waldemar Rossi   no Correio da Cidadania
 
Dados recentes revelam o quanto faz falta um projeto político-econômico direcionado para atender às necessidades vitais do povo brasileiro.
 
No dia 27 deste mês a imprensa dava conhecimento de que o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) dispõe de 1,5 milhões de hectares de terras que seriam suficientes para assentar nada mais nada menos que 50 mil famílias de trabalhadores sem terras. Seriam módulos de cerca de 30 hectares para cada família (cerca de 16 alqueires paulistas ou 8 alqueires mineiros).
 
Acompanhados dos recursos financeiros e técnicos necessários, teríamos perto de 150 mil pessoas produzindo a alimentação que falta em milhões de lares brasileiros, uma vez que tal produção não estaria à disposição da exportação para os países ricos.
 
Imaginemos se o governo Lula, em vez de liberar para legalização-doação até 1.500 hectares de terras devolutas (portanto sob custódia do governo federal) para latifundiários grileiros, o tivesse feito em favor do povo que delas necessita, quanto teríamos de terras para assentar, não 50 mil, mas cerca de 5 milhões de famílias! E o quanto isto implicaria em produção básica de alimentos!
 
Sem esquecer que Lula prometeu que faria a Reforma Agrária "numa canetada". Além do que estaria contribuindo para o esvaziamento parcial das grandes cidades (tornando a vida urbana menos dolorosa, menos poluída, menos especulativa) e contribuindo para o desenvolvimento do nosso enorme interior, sem falar em tantas e tantas outras vantagens!
 
Defensores dos latifundiários e "amigos" do governo dirão que não há dinheiro para tanto. Pura mentira, e isto bem nos mostra Frei Betto, em seu artigo ‘Declaração de Voto’. Diz, entre outras coisas importantes: "Voto no candidato disposto a mudar a atual política econômica que, em 2008, canalizou R$ 282 bilhões para amortizar dívidas internas e externas e apenas R$ 44,5 bilhões para a saúde. Em termos percentuais foram 30% do orçamento destinados ao mercado financeiro e apenas 5% para a saúde, 3% para a educação, 12% para toda a área social".
 
E o dinheiro para a Reforma Agrária, como estabelece a Constituição e conforme sua promessa?
 
Desde o início do governo Lula, em 2003, que os movimentos e entidades sociais (que o apoiaram) vêm destacando a necessidade de uma verdadeira virada na política econômica nacional. Afirmando que o dinheiro arrecadado através dos impostos e taxas deve ser aplicado para o desenvolvimento dos setores que precisam de incentivo oficial, como a própria Reforma Agrária e as reformas do sistema de Saúde e da Educação públicas; em uma política de construção de moradias populares através dos mutirões; no saneamento básico destinado a todos os municípios (grandes, médios e pequenos); na construção de um sistema de transporte nacional (urbano e interurbano ferroviário, metrô e trens de passageiros e de carga); na preservação do meio-ambiente com a proteção de nossos rios e florestas e na recuperação de nossas matas nativas; em políticas de assistência libertadora das populações carentes; na verdadeira e legítima proteção aos nossos indígenas e populações ribeirinhas; no desenvolvimento das fontes alternativas de energia não poluidoras e não devastadoras e tantos outros setores mais.
 
Enfim, o Brasil tem urgência de um projeto político-econômico que gere desenvolvimento econômico em favor do desenvolvimento social, preocupado com a vida com muita qualidade para todo o povo brasileiro e não para o enriquecimento dos exploradores dos povos.
 
Mas será que teremos algum candidato que estará disposto, se eleito presidente da República, a implementar pra valer tal política? Constatamos, infelizmente, que estamos novamente dentro de um circo organizado pelo capital: o circo eleitoral. Estamos assistindo ao triste retorno da demagogia eleitoreira, dos ataques de candidatos a outros candidatos com acusações de crimes que estiveram engavetados à espera do processo eleitoral, das centenárias e falsas promessas de ajudar o necessitado, às mentiras e meias-verdades...
 
Entretanto, o desejo de se construir um projeto de justiça social para o Brasil não está morto, apesar do ceticismo que toma conta do nosso povo. Ele está vivo nas mentes e ações de milhões de brasileiros que não se submeteram e não se submetem à dominação ideológica do capital e não se tornaram lambe-botas de governantes. E, enquanto este sonho e desejo não estiverem mortos, a esperança estará animando todos e todas de boa vontade, independente de suas crenças particulares.
 
DIA 1º DE MAIO está próximo. É um momento oportuno para que o leitor, se ainda não estiver engajado, se juntar a todos e todas comprometidos com a solidariedade classista; é um bom momento de dizer um sonoro "NÃO" às centrais sindicais que organizam shows para dopar ainda mais as mentes dos nossos trabalhadores, shows financiados com dinheiro de grandes empresas nacionais e internacionais que exploram o mesmo trabalhador.
 
PARTICIPE DAS CELEBRAÇÕES EM MEMÓRIA DOS NOSSOS MÁRTIRES! NÃO DEIXE ESSA PETECA CAIR.
 
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
 

A sobrevivência da Bélgica....

Sobreviverá a Bélgica?

Le Monde

 
Artificialmente criada em 1831 e mais tarde confirmada pelo Tratado de Versalhes para servir de tampão ao expansionismo francês, a Bélgica é cada vez mais um país Estado sem sentido e o espelho de uma outra artificialidade, a actual União Europeia.
“Bye Bye Belgium”, “Este país ainda fará sentido?”: os cabeçalhos dos jornais belgas, sobretudo os francófonos, reflectiam na sexta-feira [dia 23 de Abril] a inquietação da imprensa nacional sobre o futuro do país, no dia a seguir à enésima demissão do governo devida a um conflito sobre os direitos linguísticos dos francófonos que vivem nos arredores flamengos de Bruxelas.
O rei Alberto II, que ainda não aceitou esta demissão, vai prosseguir durante o dia as consultas com o conjunto dos chefes dos partidos. O chefe do Open VLD, o partido dos liberais flamengos, entreabriu a porta a um novo compromisso lançando aos responsáveis dos partidos francófonos um ultimato para quinta-feira, 29 de Abril, data da próxima reunião plenária do Parlamento belga, para encontrar um acordo. Os presidentes dos partidos francófonos declaram-se prontos a reabrir as discussões com o Open VLD mas não aceitam o novo ultimato. «O importante é o acordo e não a data», respondeu a presidente do partido centrista CDH, Joëlle Milquet.
Esta manhã [23 de Abril], os jornais belgas apareceram cheios de inúmeras páginas especiais. O editorial do diário de Bruxelas Le Soir alinha as interrogações: «Ainda fará sentido manter um país em que já não existem homens e mulheres ou sistemas, capazes de fazer compromissos, mesmo que pequenos, indispensáveis para a continuação da Bélgica?» Se assim for, «é preciso passar à frente e assumi-lo», acrescenta.
O diário popular francófono La Dernière Heure profetiza com um “Bye Bye Belgium” com uma indirecta irónica especificando: “Isto não é uma ficção”. Uma referência à partida a uma emissão televisiva belga que, em Dezembro de 2006, suscitou grande emoção anunciando em directo aos telespectadores a declaração da independência dos flamengos da Bélgica.
INQUIETAÇÃO A DUAS SEMANAS DA PRESIDÊNCIA BELGA DA UE
Para La Libre Belgique, é «o golpe de força flamengo» que atrai sobretudo a atenção. A saber, uma tentativa, na quinta-feira [22 de Abril], de todos os partidos flamengos, logo depois da demissão do governo, de impor à Câmara dos deputados a votação de um projecto de lei pondo em causa os direitos linguísticos dos francófonos que vivem na Flandres.
Uma «embrulhada», é o título dado pelo editorialista do diário Open VLD depois desta crise «duma gravidade sem precedentes» e «de que nenhum cidadão estava à espera». Segundo este artigo, «agiu apenas por razões eleitoralistas. Incomodado por um governo em que não está presente, dilacerado por divisões internas, gerido por novatos, o VLD quer conquistar a oposição a toda a pressa, onde poderá recuperar a saúde. Está no seu direito. Mas não tem o direito de fazer refém um país, uma população».
Agarrando num comunicado da agência noticiosa belga, o diário realça também os editoriais dos jornais flamengos, que se mostram menos dramáticos, havendo até alguns que saúdam o golpe táctico do presidente do partido liberal flamengo. De Standaard, o diário flamengo de referência, não se mostra menos inquieto. Vê nos sobressaltos actuais «um claro sinal da impotência da política belga». A Libre Belgique também lista «dez áreas em perigo» entre os quais o orçamento, o futuro das pensões ou ainda o dossier nuclear.
A imprensa belga não é a única a mostrar-se preocupada. Os meios de comunicação estrangeiros também se interrogam sobre esta crise, dez semanas antes da presidência belga da União Europeia. «A queda de coligação belga ameaça a Bélgica quanto ao seu papel de presidente», sublinha The Financial Times, de que a agência belga se faz eco. «Espero que esta questão na Bélgica seja sanada», declarou pelo seu lado o ministro dos negócios estrangeiros espanhol, Miguel Angel Moratinos, sem se mostrar especialmente inquieto quanto às consequências da crise belga para a União Europeia. A presidência espanhola, como é o costume para preparar a passagem do testemunho, «já trabalhou sobre os principais assuntos europeus» com a Bélgica, afirmou.
Finalmente, um economista calculou que esta crise política poderá custar milhões de euros à Bélgica. «Uma nova crise política no nosso país poderá levá-lo à beira do abismo. […] Os mercados financeiros são maníaco-depressivos quanto à dívida do Estado e poderão passar rapidamente duma calma aparente a um pânico generalizado com penalizações de risco de circunstância. Por outras palavras, um país tem o maior interesse em manter-se, na medida do possível, afastado das colunas da imprensa mundial».

Este texto foi publicado pelo diário francês Le Monde de 24 de Abril de 2010.

Tradução de Margarida Ferreira