sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Os ricos dos EUA já tentaram derrocar seu Presidente


Nelson Lucena.

General Butler

Cada vez que se investiga em profundidade a história negada e oculta dos Estados Unidos qualquer um sente medo; definitivamente há dois Estados Unidos: o primeiro, um país de supostas liberdades onde todo o mundo é boa gente, onde há trabalho e onde tudo é meu amor, é bom lembrar “O American Dream”; e outro país – o verdadeiro- no qual as duzentas ou trezentas famílias ricas dominam e submetem não só ao seu povo senão ao orbe inteiro com a enorme ajuda que se emprestam assim mesmas devido à manipulação mediática das maiorias. Basta lembrar que faz poucos dias em meio da estrepitosa queda de Wall Street, a qual vinha sendo insistentemente anunciada, crack que arrastou a quase todas as bolsas do mundo, menos aquelas que sempre estão em baixa, situação que permitiu que o governo norte-americano, em cumplicidade com governos Europeus e os novos imperialistas Asiáticos como são os chineses, permearam aos donos e diretivos bancários e financeiros, ao auxiliar-lhes com uma soma hiper- super- multimilionária, inventada por Mister Poulson. De tal sorte que, quem sai perdendo por agora são os quem têm poupança e os pequenos devedores de todos esses bancos, quem já começaram a guindar-se da primeira corda que encontram porque estão perdendo suas casas e agora perderam os empregos e as famílias; caso contrário ao dos responsáveis da crise, que estão celebrando em hotéis cinco estrelas em piscinas de champanha sem limite, tal como o resenha a prensa estadunidense.

Mas, vamos um pouquinho atrás, sempre a resposta está na história, já Walter Graciano e outros apressados investigadores, nos provaram que um bom grupo de ricos empresários norte-americanos aliou-se com Hitler para inventar a segunda guerra mundial, pois aos gringos não lhes foi suficiente com a primeira; lá aparecem entre outros nomes os de Prescott Bush (avô de o atual mandatário gringo), fazendo negócios com os nazistas para acabar com a revolução russa; por isso Ingleses, Franceses e Americanos se contiveram tanto para declarar-lhe a guerra a Hitler, pois este lhes voltou, e o resto, ou a melhor parte, já o sabemos. De igual maneira sabemos que o Presidente americano Hoover, tratava com Mussolini, e até o admiravam e apoiavam, com tal que assumisse uma postura anticomunista, de lá o financiamento tanto dos cachorros da guerra americanos, ingleses, franceses e italianos para que “Il ducce” se metesse na Espanha junto com Hitler a desbarrancar a legitima república espanhola eleita democraticamente, e logo este palhaço italiano junto ao “füherer” começasse uma nova guerra que na sobremesa, tal como o antecipou Trotsky, só beneficiaria aos capitalistas, sobretudo aos Americanos. É por ali que aparece o nome do General americano Smedley Butler, o único general com duas medalhas de honra do Congresso, já na Itália, foi quem se negou a render reverência a Mussolini, pelo que foi castigado.

Quem era o general Smedley Butler? Nasceu em West Chester, Pensilvânia, em 1881, filho de duas proeminentes famílias republicanas e quáqueras, já em lista como Suboficial, se incorporou aos marines, e atuou na guerra hispano – norte-americana, na guerra dos boxers na China, no Panamá, nas Filipinas, na Nicarágua, no México, no Haiti, no Porto Rico e na França durante a primeira Guerra Mundial. Fica ativo, mas sem mando, diante de suas críticas contra o sistema militar, lhe correspondia o mando supremo do corpo da marinha, à morte inesperada do comandante dessa força, mas o Presidente Hoover lhe negou seu direito, pelo qual pediu demissão, e em 1931 se parou ao frente de vinte mil veteranos de guerra que exigiam o pronto pagamento de seus bônus de guerra, já que eram desempregados devido à grande depressão e Butler os arengou, pois era muito popular diante da tropa, ao qual o democrático governo norte-americano respondeu com violência e a bala dissolveu aos famintos soldados destruindo-lhes os barracões que construíram para proteger-se do sol.

Mas, não todo fica assim, ante a fome desatada pelo artificioso crack de 1929, tão igual como o de agora, a gente nos Estados Unidos perdeu as casas e granjas com as hipotecas, não tinham água nem comida, os vinte mil soldados que foram humilhados e massacrados pelas tropas em 1931 eram pais de família famintos, esfarrapados, desempregados e sem casas nem futuro, ao igual que suas famílias eram presas de piolhos e carrapatos, se comiam aos cachorros e vagavam de trem em trem. Diante desta situação desoladora, a qual acontecia de igual forma na Europa, sobre todo na Alemanha, as máfias brancas e sionistas inventaram a guerra para que se mataram entre si os famintos americanos e europeus, e eles, os potentados, poder botar a mão nos territórios que ainda conservavam como resquício, as potências sobreviventes da primeira guerra mundial, e de passo buscar mais mercado para seguir expandindo seu poder.

O que sucede é que sem querer salvar por salvar a ninguém, há que esclarecer que uns eram os planos das máfias de Harvard e de Sión, e outros os planos do presidente Franklin D. Roosevelt, o qual traçou o new deal, ou novo trato, o qual incluía ajuda social para o faminto e desempregado, mas, isto pela sua vez lhe soou aos multimilionários americanos a comunismo, e preferiam provar a receita fascista de Mussolini e de Hitler, pelo qual olharam em Roosevelt um inimigo e um comunista, ao igual que dizem agora de Chávez, pelo qual nem curtos nem preguiçosos, acostumados bota no mesmo saco a todo o mundo, planejaram “UM GOLPE DE ESTADO”, mas necessitavam um homem com ascendência sobre a tropa, e este era o Maior General do Corpo de Marines Smedley Butler, a quem lhe mandaram soprar-lhe na orelha ao chefe da legião estrangeira General Mac Guire, quem esteve elogiando Mussolini, Butler escutou a Mac Guire.

Que lhe propôs Mac Guire a Butler? Que como o Presidente Roosevelt estava severamente afetado pela poliomielite, que Butler lhe desse um ultimato, explicando-lhe que necessitava “um secretário geral de Governo”, para aliviar a pesada carga do presidente, propõe-lhe um governo forte de estilo fascista para governar, e sim se negava, então, Butler entraria em Washington com QUINIENTOS MIL HOMENS e até ali chegaria Roosevelt com seu novo trato. O que aconteceu é que não contaram com que Butler era popular com os soldados porque se sentia um a mais de eles e era severo crente e praticante das Leis, pelo que no ano seguinte fez pública a denuncia, o qual foi silenciado deliberadamente pelos meios, ponto que lhe foi advertido com antecipação ao general Butler pelo fanático Mac Guire, quem era um servil de um dos homens mais ricos da América do Norte para esse então, Robert Clark, homem de Wall Street. Entre s conspiradores indicados por Butler estão: Irenee Du Pont – (Pinturas Du – Pont), setor químico industrial, fundador, American Liberty League, definido para executar a tarefa.

Grayson Murphy – Diretor de Goodyear, e grupos de bancos JP Morgan.

William Doyle – O ex-comandante estado da Legião Americana e um conspirador e ator central do golpe.

John Davis – Democrata ex-candidato presidencial e um alto advogado de JP Morgan.

Al Smith – Inimigo político de Roosevelt, ex-governador de Nova York, Codiretor da Liga Ameican Liberty.

John J. Raskob * - Um alto funcionário de Du Pont e um ex-presidente do Partido Democrata.

Robert Clark –Um dos banqueiros mais ricos de Wall Street...

Gerald MacGuire – Vendedor de Clark, ex-comandante da Legião Americana de Coneticut.

O general revelou os detalhes do golpe diante do comitê Mc Cormack- Dickstein do Congresso dos Estados Unidos, que mais tarde se converteria na famosa Casa de América – Um Comitê de Atividades. O Comitê escutou o testemunho de Butler e do jornalista Frances, mas não para chamar a qualquer um dos golpistas e serem interrogados, exceto Mac Guire. De fato, o Comitê branqueou a versão pública de seu informe final, a supressão dos nomes de poderosos homens de negócios cuja reputação se tratou de proteger. A razão mais provável desta resposta é: Wall Street teve uma influencia indevida no Congresso.

Tem aqui as palavras textuais do exímio General Butler diante do comitê do congresso, nomeado para investigar a intromissão do fascismo em Norte-américa, o qual no fim resultou num encobrimento... “Passei trinta e três anos e quatro meses em serviço ativo e durante esse período ocupei a maior parte de meu tempo fazendo de jagunço de luxo para as grandes empresas, Wall Street e os banqueiros. Em definitivo, fui um meliante, um gangster do capitalismo. Ajudei a fazer do México, e especialmente Tampico, um lugar seguro para os interesses da American Oil em 1914. Ajudei a fazer do Haiti e Cuba lugares decentes para que os garotos do National City Bank obtivessem benefícios neles. Ajudei no espólio de media dúzia de repúblicas centro-americanas em beneficio de Wall Street. Ajudei a purificar Nicarágua para o International Banking House dos irmãos Brown entre 1902 e 1912. Levei a luz à República Dominicana para os interesses açucareiros americanos em 1916. Ajudei a fazer Honduras bom para as companhias frutícolas americanas em 1903. Na China em 1927 ajudei para que a Standard Oil fizesse seus negócios sem ser incomodada. A verdade é que refletindo sobre aqueles anos, poderia haver-lhe dado alguns conselhos a Al Capone. O melhor que ele conseguiu foi fazer seus negócios sujos num par de distritos, eu os fiz em três continentes...”

Sendo assim as coisas, porque temos de ver esquisita, alheia, distante,estranha ou inverossímil, a possibilidade de que a mão peluda norte-americana, de que a mesma bala que matou Allende, Sandino, Emilio Zapata, o mesmo Kennedy, o Che, Thomas Sankara, e tanto revolucionário no mundo, não está prestes a cair sobre a cabeça do presidente Chávez, se existe um atalho de meliantes com suficientes recursos e suficientes furadores e covardes, para atacar Chávez e qualquer que se lhes atravesse em seus perversos planos, qual é o problema, qual é a dúvida, pois não deve haver nenhuma, devemos estar pendentes, atentos e defender com todo, incluso a vida para defender este processo de mudanças e o comandante da revolução.

Advogado Nelson Lucena- nelsonjlucena@hotmail.com.

Versão em português: Allisson Gabrielle de América Latina Palavra Viva.

depoimento de uma jornalista séria

Blog da Paula

Fui para casa trocar as sapatilhas por um bom par de tênis. Bloquinho e gravador em mãos, me mandei para o jornal encontrar o fotógrafo e o outro repórter que iam junto cobrir a Marcha dos Sem. Antes de sair, angariei um crachá, que mesmo virado ao contrário deveria servir como forma de evitar que os brigadianos me confundissem com os manifestantes. Manifestação em Porto Alegre, nunca se sabe.
Para a brigada militar gaúcha a palavra manifestação virou sinônimo de baderna. Qualquer agrupamento de pessoas reinvindicando algo já é considerado caso de polícia e tratado a base de tropa de choque para cima. Foi assim quando os professores protestaram por maiores salários no mês passado, foi assim hoje de manhã quando os bancários da agência central do Banrisul se negaram a trabalhar e não mudou muita coisa hoje à tarde, durante a tradicional Marcha dos Sem.
As cerca de 3 mil pessoas que caminhavam pacificamente do centro administrativo até o Palácio Piratini foram acompanhadas por nada menos que 500 PM´S, 120 policiais da guarda especial da Brigada e um helicóptero. A tensão era palpável.
Quando o carro de som ia se dirigir para a frente do palácio a Brigada interviu. Em segundos os soldados do batalhão de choque formaram uma barreira, supostamente por "questão de segurança". O inciso 4 do artigo 5º é claro. Todos tem o direito de se manifestar. Acho que faltou avisar o governo. Nessa hora dei um pé quente e peguei toda a discussão entre a direção da manifestação, o brigadiano que não deixava o carro passar e o deputado Raul Carrion.

– Quem autorizou isso?
– Foi ordem do comando superior.
– Mas vocês tem que respeitar a lei, não a governadora. Isso é inconstitucional!

Bate boca vai, bate boca vem o deputado gritava, "rasgaram a Constituição, rasgaram a Constituição!". Pouco depois, os manifestantes foram tentar furar o bloqueio. De novo, a Brigada usou da "força necessária". "Agora é hora da guerra", comentaram três brigadianos. E a orientação deveria ser essa mesmo, pois não pouparam nem o deputado, que levou uma cacetada no estômago.
Três bombas de efeito moral, algumas balas de borracha e doze manifestantes feridos encaminhados para o HPS depois, o circo estava armado. "Eu não fiz duas faculdades, pós graduação, para ganhar R$ 800,00 e ter que apanhar de Brigadiano!", comentava emocionada uma professora de Pelotas. "Isso é resultado da irresponsabilidade desse governo", protestava Enilson da Silva, um dos feridos.
Atrás do cordão de isolamento e cercado por três fileiras de brigadianos o Coronel Mendes sorria e evitava conversar com repórteres e com os deputados. "Isso é normal em uma manifestação desse porte. A coisa tem que ser pacífica e ordeira, se não a Brigada tem a obrigação e vai intervir."
No meio da história toda, eu olhava chocada os brigadianos com as armas engatilhas e apontadas para a população . Ninguém começou nada. Sem paus. Sem pedras. Quase sem provocações. E mesmo assim a polícia foi para cima. De novo, eu vi. Era quase uma cena de filme. A fumaça das bombas de "efeito moral" ao fundo, a raiva dos dois lados e o fotógrafo gritando para eu sair dali para não me machucar.
Depois de quase uma hora de negociação entre os deputados e a Brigada deixaram o carro de som passar. Mendes, a estrela do show, olhava tudo dos degrais da Catedral, cercado de brigadianos que o impediam até de conversar com a imprensa. Na praça da Matriz o povo gritava "fascista! fascista!".
Que tipo de defesa da ordem é essa que coloca a polícia contra os cidadãos que deveria defender? Não existem mais direitos constitucionais no Rio Grande do Sul?

Na Mauritânia, uma “Guantánamo” européia

Com múltiplas ofertas, Espanha e França aliciam governos africanos para que reprimam, eles mesmos, a migração rumo à Europa. Símbolo da cooptação: na capital de um dos países mais pobres do mundo, uma antiga escola transforma-se em prisão para os que buscavam acesso à banda rica do planeta

Zoé Lamazou - Diplo-Brasil

Com um humor pouco convencional, os moradores de Nouadhibou, cidade portuária da Mauritânia, batizaram alguns de seus bairros com nomes de capitais estrangeiras como Acra, Bagdá e Dubai. Em 2006, quando as autoridades espanholas instalaram lá um centro de detenção para imigrantes clandestinos, a tradição se manteve e a prisão recebeu o apelido de “Guantánamo”.

O local escolhido é estratégico: Nouadhibou fica a apenas 800 quilômetros, em linha reta, da Espanha, via Ilhas Canárias. A forma mais comum de tentar a travessia é em barcos de pesca. Algumas vezes, os imigrantes ainda nem haviam deixado o litoral da Mauritânia quando foram pegos pela guarda costeira local, com o auxílio de oficiais espanhóis. Onde hoje funciona o presídio, existia uma escola. Atrás de muros de concreto muito altos e cercados de grades há um grande pátio de areia, vazio. Nouadhibou faz fronteira com o Saara ocidental. Ao fundo, uma longa construção rosa que antes abrigava estudantes e professores.

Os habitantes da periferia vizinha entram e saem livremente para encher garrafões de água na torneira central. Dois jovens policiais mauritanos fazem a vigia, sem grande preocupação. Nos últimos dias do mês de junho, uma cela foi ocupada. Era uma antiga sala de aula de 8 por 5 metros, agora com camas de campanha amontoadas. Uma dezena de homens amedrontados emerge da penumbra. Quase todos dizem ser malineses. Um deles pergunta ao policial quando será repatriado. “Não podemos esperar mais!”, diz. outro se queixa: “Faz dez dias que estamos aqui!”. “Uma semana”, corrige o guarda. Segundo o presidente do comitê local da Cruz Vermelha, Mohamed Ould Hamada, os detentos não podem ficar mais de 72 horas entre os muros da antiga escola.

Um preso aponta para o seu estômago, demonstrando que tem fome. O mais jovem diz ter 18 anos. Caminha com dificuldade, pois suas pernas estão machucadas. As feridas, ainda em carne viva, podem ser vistas através do curativo feito algumas horas antes por um médico da Cruz Vermelha espanhola.

O policial explica que uma embarcação transportando 76 pessoas afundou. Em um relatório de julho de 2008, a Anistia Internacional criticou o tratamento aos imigrantes clandestinos na Mauritânia, insistindo sobre a arbitrariedade das expulsões coletivas e sobre a situação em “Guantánamo” [1] Para Ahmed Ould Kleibp, presidente da Associação de Proteção do Meio Ambiente e da Ação Humanitária (Apeah), “as condições de detenção são terríveis”.

De outubro de 2006 a junho de 2008, 6.745 pessoas passaram pelo centro de detenção. Em média, 300 por mês, segundo. Em julho último, porém, o número passou de 500

O representante da Cruz Vermelha contesta essas declarações “alarmistas”, mas revela também que os comentários mordazes de seu predecessor lhe custaram o posto. Ould Hamada preocupa-se principalmente com as condições de recondução à fronteira: “Na estrada, de Nouadhibou à fronteira senegalesa, os migrantes não recebem nenhuma assistência”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol prometeu, em visita oficial a Nouadhibou em 8 de julho, que uma delegação de seu ministério, acompanhada por funcionários do ministério do Interior, iria ao centro “para verificar de perto a questão dos direitos humanos”.

De outubro de 2006 a junho de 2008, 6.745 pessoas passaram pelo centro de detenção. Em média são 300 por mês, segundo os números da Cruz Vermelha espanhola. Em julho último, porém, o número de detentos passou de 500.

Desde 2005, ano marcado pela intensificação da repressão, a travessia para a Europa é mais controlada no estreito de Gibraltar, onde apenas 15 quilômetros separam o Marrocos da Espanha. Os enclaves espanhóis no Marrocos, em Ceuta e Melilla tornaram-se quase inacessíveis e praticamente todos os campos informais de migrantes instalados nos arredores dessas cidades desapareceram.

Por isso, as embarcações estão partindo da costa sul do Marrocos, em Tarfaya, Laayoune e Dakhla. Ou até mesmo de Saint-Louis e de Dacar, no Senegal, que ficam a 1.500 quilômetros das Ilhas Canárias. A viagem torna-se ainda mais perigosa porque os barcos que fazem trajetos mais longos pelo mar aberto, para evitar as águas territoriais patrulhadas.

Na metade do caminho entre o oeste da África e o Magreb, Nouadhibou é considerada um ponto de partida privilegiado. As indústrias da pesca e da mineração atraem, desde o início dos anos 1950, a mão-de-obra subsaariana. O trecho mauritano da rodovia transaariana Senegal–Marrocos, concluído em 2004, estimulou ainda mais os movimentos migratórios para o porto.

Em 2006, como reação ao rápido recrudescimento dos desembarques clandestinos, a Espanha reativou um acordo de deportação assinado com a Mauritânia três anos antes: qualquer pessoa suspeita de ter passado pelo solo mauritano para alcançar ilegalmente as Ilhas Canárias seria obrigatoriamente reenviada a Nouadhibou ou a Nouakchott, a capital.

O plano parece não estar funcionando. Na Mauritânia, a idéia fixa sobre segurança é motivo de preocupação para as associações locais. Mas não desencoraja os “clandestinos”

Em abril do mesmo ano, a agência européia Frontex, encarregada do controle das fronteiras externas da União Européia, implantou um sistema de vigilância em Nouadhibou. Duas vedetes – um avião de patrulha e um helicóptero – foram colocadas à disposição das autoridades mauritanas. A cooperação com os países ditos “de origem” ou “de trânsito” dos imigrantes clandestinos é parte essencial das políticas européias adotadas, principalmente, pela França e Espanha. O Pacto Europeu para a Imigração, apresentado em 7 de julho pelo ministro francês da Imigração e da Identidade Nacional, Brice Hortefeux, a seus colegas encarregados da Justiça e dos Assuntos Internos da União Européia, reforça esse tipo de acordo e ressalta o papel central da agência Frontex. “Guantánamo”, na verdade, é apenas uma parte do dispositivo de dissuasão.

Em resposta às recentes críticas da Anistia Internacional, o secretário de estado espanhol encarregado da segurança, Antonio Camacho, observou que “a Espanha não fez, em momento algum, pressão sobre a Mauritânia ou sobre qualquer outro Estado soberano para que reforçassem sua política em matéria de imigração”. Segundo o jornal El País [2], isso não impediu Madrid de entregar, pela quantia simbólica de cem euros, três aviões de patrulha C-212 ao Senegal, à Mauritânia e a Cabo Verde.

O plano parece não estar funcionando. Na Mauritânia, a idéia fixa sobre segurança é motivo de preocupação para as associações locais. Mas não desencoraja os “clandestinos”. “Pelo menos uma embarcação parte toda semana para a Europa e esse é um segredo de polichinelo”, declara Ba Djibril, jornalista de Nouadhibou e secretário-geral da Apeah. “Os imigrantes se instalam aqui para trabalhar, às vezes por um longo período, mas, para eles, a partida para a Europa é uma certeza”, completa.

Armelle Choplin, geógrafa e mestra de conferências da Universidade de Paris-Est, observa que, “nem todos os 20 mil estrangeiros que vivem em Nouadhibou desejam partir. Mas é difícil estabelecer categorias de migrantes. Aquele que acredita apenas passar por Nouadhibou pode muito bem ver-se forçado a se estabelecer ali para sempre, enquanto o estrangeiro que não tem como projeto a travessia para a Europa pode, de repente, decidir tentar a sorte, porque apareceu uma oportunidade”. Claro, agora estamos longe das cinco partidas de imigrantes por noite, observadas pela geógrafa em 2006. Mas, para ela, “o dispositivo de controle implantado pela União Européia opera mais como um filtro do que como um obstáculo”.

Para a maioria, a repressão e os cadáveres não acabam com o sonho. Novos migrantes se dirigem a Nouadhibou: “Dizem que daqui é possível ver as luzes da Europa refletidas na água”

Em Nouadhibou, os relatos de travessias clandestinas são freqüentes. Certamente, existem aqueles que não querem mais ouvir falar da Europa. É o caso de Salimata, comerciante de peixe seco: como outros tantos senegaleses, malineses ou guineanos que vivem em Nouadhibou há anos, ela não tem nenhuma intenção de deixar a Mauritânia. “Meu marido e meu filho de 9 anos morreram no mar. Como eu poderia querer partir? Ele trabalhava no porto. Um dia, um homem veio lhe propor ser capitão e conduzir uma embarcação para a Espanha. Disseram que os espanhóis precisavam de braços para colher frutas. Eu tentei dissuadi-lo, mas ele partiu levando nosso filho único, acreditando que a Cruz Vermelha cuidaria dele, que poderia estudar.”

Para a maioria, a repressão e os cadáveres encontrados no litoral não acabam com o sonho. Há aqueles que fracassaram várias vezes, enganados por atravessadores ou presos pelos guardas. Todavia, basta juntarem novamente a soma necessária para a passagem – que pode chegar a mil euros – para voltarem ao mar. “Eu tentei a travessia duas vezes, com meu bebê de 2 anos. Na primeira vez, nos perdemos no mar. Navegamos por cinco dias e voltamos. Na segunda vez, a guarda costeira marroquina nos pegou”, conta Aissata, uma jovem guineana de 27 anos. Interrogada sobre sua determinação, ela responde, sorrindo: “Vocês sabem, a gente pode escolher entre o sofrimento e a morte”.

É impossível ter a conta exata de quantas pessoas desapareceram no mar. O governo espanhol arrisca a cifra de 67 afogamentos ao longo da costa da Península Ibérica e das Ilhas Canárias em 2007, mas o número de mortos estimado é muito mais elevado. Apesar das tragédias, algumas belas histórias bastam para sustentar o mito da partida fácil. “Aqueles que querem partir se baseiam na experiência dos que chegaram à Espanha, não nos naufrágios ou prisões”, diz Ba Djibril. Novos migrantes se dirigem a Nouadhibou, atraídos por um sonho de força irresistível, como testemunha Salimata: “Dizem que daqui é possível ver as luzes da Europa refletidas na água”.



[1] Mauritanie. ‘Personne ne veut de nous’. Arrestations et expulsions collectives de migrants interdits d’Europe, Londres, 1º de julho de 2008.

[2] “España despliega en África una armada contra los cayucos”, El País, Madri, 17 de julho de 2008.

Soberania alimentar e a agricultura


Atualmente, não mais do que 30 conglomerados transnacionais controlam toda a produção e o comércio agrícola mundial

Em 1960, havia 80 milhões de seres humanos que passavam fome em todo o mundo. Um escândalo! Naquela época, Josué de Castro, que agora completaria 100 anos, marcava posição com suas teses, defendendo que a fome era conseqüência das relações sociais, não resultado de problemas climáticos ou da fertilidade do solo.

O capital, com as suas empresas transnacionais e o seu governo imperial dos Estados Unidos, procurou dar uma resposta ao problema: criou a chamada Revolução Verde. Ela foi uma grande campanha de propaganda para justificar à sociedade que bastava "modernizar" a agricultura, com uso intensivo de máquinas, fertilizantes químicos e venenos. Com isso, a produção aumentaria, e a humanidade acabaria com a fome.

Passaram-se 50 anos, a produtividade física por hectare aumentou muito e a produção total quadruplicou em nível mundial. Mas as empresas transnacionais tomaram conta da agricultura com suas máquinas, venenos e fertilizantes químicos. Ganharam muito dinheiro, acumularam bastante capital e, com isso, houve uma concentração e centralização das empresas. Atualmente, não mais do que 30 conglomerados transnacionais controlam toda a produção e comércio agrícola.

Quais foram os resultados sociais?

Os seres humanos que passam fome aumentaram de 80 milhões para 800 milhões. Só nos últimos dois anos, em função da substituição da produção de alimentos por agrocombustíveis, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), aumentou em mais 80 milhões o número de famintos. Ou seja, agora são 880 milhões.

Nunca a propriedade da terra esteve tão concentrada e houve tantos migrantes camponeses saindo do interior e indo para as metrópoles e mudando de países pobres para a Europa e os Estados Unidos.

Somente neste ano, a Europa prendeu e extraditou 200 mil imigrantes africanos, a maioria camponeses. Há oito milhões de trabalhadores agrícolas mexicanos nos Estados Unidos. Setenta países do Hemisfério Sul não conseguem mais alimentar seus povos e estão totalmente dependentes de importações agrícolas.

Perderam a auto-suficiência alimentar, perderam sua autonomia política e econômica.

O pior é que, em todos os países do mundo, os alimentos chegam aos supermercados cada vez mais envenenados pelo elevado uso de agrotóxicos, provocando enfermidades, alterando a biodiversidade e causando o aquecimento global. Isso acontece porque as empresas transnacionais padronizaram os alimentos para ganhar em escala e lucros. Os alimentos devem ser produzidos de acordo com a natureza, com a energia do habitat.

A comida não pode ser padronizada, uma vez que faz parte de nossa cultura e de nossos hábitos. Diante disso, qual é a saída? O Estado, em nome da sociedade, deve desenvolver políticas públicas para proteger a agricultura, priorizando a produção de alimentos. Cada município, região e povo precisa produzir seus próprios alimentos, que devem ser sadios e para todos. Assim nos ensina toda a história da humanidade. A lógica do comércio e intercâmbio dos alimentos não pode se basear nas regras do livre mercado e no lucro, como pretende impor a OMC.

Por isso, consideramos o alimento um direito de todo ser humano, e não uma mercadoria, como, aliás, já defende a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Cada povo e todos os povos devem ter o direito de produzir seus próprios alimentos. Isso se chama soberania alimentar. Não basta dar cesta básica, dar o peixe. Isso é a segurança alimentar, mas não é soberania alimentar. É preciso que o povo saiba pescar!

No Brasil, com um território e condições edafoclimáticas tão propícias, não temos soberania alimentar. Importamos muitos alimentos, do exterior e entre as regiões do país. Mesmo em nossas "ricas" metrópoles, o povo depende de programas assistenciais do governo para se alimentar. A única forma é fortalecer a produção dos camponeses, dos pequenos e médios agricultores, que demandam muita mão-de-obra e têm conhecimento histórico acumulado.

A chamada agricultura industrial é predadora do ambiente, só produz com agrotóxicos. É insustentável a longo prazo. Por isso, neste 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, as organizações camponesas, movimentos de mulheres, ambientalistas e consumidores faremos manifestações em o todo mundo para denunciar problemas e apresentar propostas para que a humanidade, enfim, resolva o problema da fome no mundo.

Artigo de João Pedro Stedile, economista, integrante da coordenação nacional do MST e da Via Campesina, e Dom Tomás Balduíno, mestre em teologia, bispo emérito da Diocese de Goiás, é conselheiro permanente da CPT (Comissão da Pastoral da Terra), órgão vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Brigada Fashion Week

Kayser lança a linha Brigada Fashion Week. Faça seu pedido:


Nós estivemos lá...

Ontem a tarde, na Marcha dos Sem, em POA-Rs o 17° núcleo do Cpergs-sindicato, de Bagé-Rs, esteve representado por cerca de 100 trabalhadores em educação, e presenciou mais um ato fascista da governadora do Estado, Ieda Cruzius que através de seu "comandante" da Brigada Militar cometeu mais um ato de discriminalização dos movimentos sociais batendo e impedindo que os manifestatantes da Marcha realizassem o tradicional ato, que acontece a 13 anos, defendendo a questão da alimentação saudável, contra a discriminalização dos movimentos sociais e em defesa da escola pública de qualidade.


Mendes e a moral de Ieda
“A única coisa moral do governo Yeda, são estas bombas de efeito moral”. A frase é do professor estadual Glauber Lima, de Santana do Livramento, um dos milhares de manifestantes que participaram da Marcha dos Sem na tarde desta quarta-feira no Centro de Porto Alegre. O professor faz referência às três bombas disparadas pelo Batalhão de Choque da Brigada Militar contra bancários, professores, agricultores e estudantes que por volta das 15h55 min, que se concentravam em frente ao Palácio Piratini para o ato final da Marcha dos Sem. Ganha um final de semana no Presídio Central quem descobrir de onde partiu a ordem para as explosões.

- Fascista! Fascista! – gritavam os trabalhadores ao perceber a presença do Comandante Geral da Brigada Militar, Coronel Paulo Mendes, atrás dos escudos transparentes do Choque. Aproveitando o estrondo das bombas, a PM disparou também diversos tiros de balas de borracha que, segundo os organizadores da Marcha, feriram 17 pessoas, todas encaminhadas ao Hospital de Pronto Socorro.


Às 15h47min, quando as primeiras palavras de ordem já podiam ser ouvidas por quem estava na Praça da Matriz, 300 policiais fortemente armados postaram-se à frente do Palácio Piratini. “Não somos bandidos, somos trabalhadores” gritaram os primeiros manifestantes quando se depararam com o verdadeiro batalhão. “Este governo não consegue calar a boca dos que denunciam sua truculência, o mar de corrupção que o inunda, o desrespeito com que trata o funcionalismo e o equívoco de todas as suas políticas. Não conseguindo silenciar o povo, apela para a violência como assistimos hoje à tarde aqui nesta praça”, manifestou a presidente do CPERS Sindicato, Rejane Oliveira.

O tumulto teve início quando a polícia impediu o caminhão de som da CUT, onde estavam os dirigentes da Marcha, de chegar à frente do Palácio. Contido por um grupo do Batalhão de Choque o veículo ficou parado quase em frente à Catedral Metropolitana. A medida indignou os manifestantes que se aproximaram dos policiais gritando “não, não, não; não à repressão”. Neste momento é que a PM disparou as bombas e os tiros instalando o pânico entre os manifestantes.

Irredutível, o coronel Mendes mantinha a ordem de impedir que o caminhão prosseguisse e só cedeu depois que alguns deputados enfrentaram os escudos do Choque e conseguiram, na marra, conversar pessoalmente com ele. “Fui agredido”, denunciou Raul Carrion, do PCdoB. “Somos deputados, não vamos lhe agredir. O senhor não precisa se esconder atrás dos soldados”, bradava Ronaldo Zulke ladeado por Marisa Formolo, Raul Pont e Dionilso Marcon, todos do PT.

Entre os repórteres que cobriam o episódio, prevaleceu a opinião de que foram os exageros de Mendes os causadores do tumulto. “De novo ele. Se sente uma estrela. Não pode passar em branco sem ser o centro das atenções. Acho que agora cai”, disse uma jornalista. “Deve cair mesmo. Este coronel Mendes não tem condições psicológicas de que comandar o que quer que seja,” concordou a presidente do CPERS.

“Duvido. Ele só sai com ela”, discordou João Carlos Madeira, sindicalista. “Ela”, no caso, é a governadora Yeda para quem, às 16h44min, no momento final da Marcha, os manifestantes mandaram um recado: “Governadora, ou a coisa melhora, ou em março tem greve geral dos servidores públicos”. (Maneco)