Beduínos da Cisjordânia: "Resistiremos"!
Zeina Awad, Al-Jazeera
Zeina Awad, Al-Jazeera
Os beduínos de Umm Al Khayr, pequena aldeia a sudeste de Hebron, são provavelmente a comunidade mais vulnerável de todos os grupos de refugiados palestinos na Cisjordânia. Agora, estão tendo de lutar para conseguir continuar na terra onde vivem há muitas gerações.
Estão em luta judicial contra o exército de Israel, para demonstrar que a terra onde vivem é propriedade legal. Tentam, assim, impedir que passe por ali uma estrada chamada "estrada de patrulha de segurança", já planejada.
Dia 26 de abril, com a colaboração de ativistas israelenses contra a ocupação, os beduínos conseguiram bloquear o avanço da estrada e impedir que invada profundamente suas áreas de moradia. Detiveram os tratores e máquinas de demolição, que já chegam bem perto de suas casas.
Foi uma pequena vitória, mas todos sabem que é vitória apenas temporária.
"Querem construir uma estrada de patrulhamento e segurança, mas querem construí-la à nossa custa", disse a Al-Jazeera Eid al-Hathaleen, de 23 anos, cuja família vive na área que está agora sendo ocupada à força.
"Estão roubando nossa terra, e usam a segurança como pretexto. Não fomos nem avisados: de repente, apareceram as máquinas e começaram a cavar."
As 21 famílias que vivem em Umm Al Khayr fixaram-se lá quando os avós dos que lá vivem hoje tornaram-se refugiados, imediatamente depois da criação do Estado de Israel. Algumas das famílias – como a de Eid – compraram a terra quando a Cisjordânia estava sob governo da Jordânia, antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Pastagens e rebanhos
As porções de terra que foram ocupadas por Israel naquela área correspondiam às principais áreas de pastagens da comunidade, que dependia delas para a sobrevivência de seus rebanhos – que bebiam do poço ali existente – e eram essenciais à sobrevivência da comunidade.
As autoridades israelenses da ocupação proíbem os beduínos de ampliar as casas. Muitas famílias construíram banheiros externos, o que, para os israelenses, seria ilegal.
As famílias começaram a ter porções de terra confiscada em 1970, quando começaram a ser construídas colônias exclusivas para judeus a poucos metros das casas dos beduínos.
A região hoje está quase totalmente ocupada por uma colônia ilegal, Karmel, exclusiva para judeus. São os colonos mais violentos de toda a Cisjordânia, conhecidos por seus frequentes ataques à comunidade beduína, ataques que já são rotina na região: espancamentos, apedrejamento de casas e pessoas e roubo de rebanhos.
Propriedade contestada
Em 2004, as autoridades da ocupação começaram a construir também do lado palestino do muro que cerca Karmel, para expandir a colônia. Agora, Israel começou a construir uma chamada "estrada de patrulhamento" exatamente nessa área de terra dos beduínos.
Israel contesta judicialmente a propriedade da terra. Gayath Nasser, advogado que representa a família de Eid, solicitou à Corte Superior de Justiça israelense que ordene a imediata interrupção dos trabalhos de construção da estrada, até que a questão seja judicialmente decidida.
Mas Nasser diz que a corte está adiando a decisão e, até agora, não há qualquer resposta à ação impetrada pelos beduínos; assim, os trabalhos de construção prosseguem. Para o advogado, nenhuma sentença posterior, mesmo que favorável aos beduínos, conseguirá desfazer o dano já consumado à terra e à propriedade naquela região.
Al Jazeera procurou contato com as autoridades israelenses encarregadas da Cisjordânia, para ouvir o outro lado.
Fomos informados que só o exército estava autorizado a falar sobre o assunto. E o exército recusou-se a dar qualquer tipo de entrevista. Recebemos mensagem por e-mail, na qual se diz que a estrada é indispensável por razões de segurança e que o trabalho está legalmente autorizado.
Nas cortes de justiça
A questão, portanto, está posta em termos dos interesses dos beduínos contra os interesses do exército israelense. Nasser mostrou-nos os títulos de propriedade de al-Hathaleen e o mapa em que se detalham todos os lotes legais – documentos que, espera ele, comprovará que a área onde a estrada está sendo construída é propriedade legal da comunidade beduína. Ainda assim, tem poucas esperanças de que os beduínos consigam impedir a construção da estrada.
"É a justiça de Israel. Teríamos de poder discutir essas questões numa corte internacional", diz ele.
"A autoridade que avalia as ações de Israel na Cisjordânia não pode ser a autoridade do exército israelense de ocupação. A questão teria de ser julgada ou por cortes de justiça na Cisjordânia ou por uma corte internacional de justiça."
Além disso, a terra que está sendo invadida está dentro da "Área C", que constitui quase 60% da Cisjordânia e está toda incluída na área sobre a qual Israel tem controle como poder ocupante.
Eid prevê que a estrada dita "de segurança" estará pronta em poucas semanas. Quando estiver pronta, será fortemente protegida e exclusiva para judeus, mais uma estrada do apartheid. Apesar das dificuldades, os beduínos não desistirão da resistência e da ação judicial.
"Essa é a única terra que é propriedade dos beduínos", diz Eid. "Estamos aqui e ficaremos aqui, mesmo que tenhamos de enfrentar novas demolições e mais violência."
Estão em luta judicial contra o exército de Israel, para demonstrar que a terra onde vivem é propriedade legal. Tentam, assim, impedir que passe por ali uma estrada chamada "estrada de patrulha de segurança", já planejada.
Dia 26 de abril, com a colaboração de ativistas israelenses contra a ocupação, os beduínos conseguiram bloquear o avanço da estrada e impedir que invada profundamente suas áreas de moradia. Detiveram os tratores e máquinas de demolição, que já chegam bem perto de suas casas.
Foi uma pequena vitória, mas todos sabem que é vitória apenas temporária.
"Querem construir uma estrada de patrulhamento e segurança, mas querem construí-la à nossa custa", disse a Al-Jazeera Eid al-Hathaleen, de 23 anos, cuja família vive na área que está agora sendo ocupada à força.
"Estão roubando nossa terra, e usam a segurança como pretexto. Não fomos nem avisados: de repente, apareceram as máquinas e começaram a cavar."
As 21 famílias que vivem em Umm Al Khayr fixaram-se lá quando os avós dos que lá vivem hoje tornaram-se refugiados, imediatamente depois da criação do Estado de Israel. Algumas das famílias – como a de Eid – compraram a terra quando a Cisjordânia estava sob governo da Jordânia, antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Pastagens e rebanhos
As porções de terra que foram ocupadas por Israel naquela área correspondiam às principais áreas de pastagens da comunidade, que dependia delas para a sobrevivência de seus rebanhos – que bebiam do poço ali existente – e eram essenciais à sobrevivência da comunidade.
As autoridades israelenses da ocupação proíbem os beduínos de ampliar as casas. Muitas famílias construíram banheiros externos, o que, para os israelenses, seria ilegal.
As famílias começaram a ter porções de terra confiscada em 1970, quando começaram a ser construídas colônias exclusivas para judeus a poucos metros das casas dos beduínos.
A região hoje está quase totalmente ocupada por uma colônia ilegal, Karmel, exclusiva para judeus. São os colonos mais violentos de toda a Cisjordânia, conhecidos por seus frequentes ataques à comunidade beduína, ataques que já são rotina na região: espancamentos, apedrejamento de casas e pessoas e roubo de rebanhos.
Propriedade contestada
Em 2004, as autoridades da ocupação começaram a construir também do lado palestino do muro que cerca Karmel, para expandir a colônia. Agora, Israel começou a construir uma chamada "estrada de patrulhamento" exatamente nessa área de terra dos beduínos.
Israel contesta judicialmente a propriedade da terra. Gayath Nasser, advogado que representa a família de Eid, solicitou à Corte Superior de Justiça israelense que ordene a imediata interrupção dos trabalhos de construção da estrada, até que a questão seja judicialmente decidida.
Mas Nasser diz que a corte está adiando a decisão e, até agora, não há qualquer resposta à ação impetrada pelos beduínos; assim, os trabalhos de construção prosseguem. Para o advogado, nenhuma sentença posterior, mesmo que favorável aos beduínos, conseguirá desfazer o dano já consumado à terra e à propriedade naquela região.
Al Jazeera procurou contato com as autoridades israelenses encarregadas da Cisjordânia, para ouvir o outro lado.
Fomos informados que só o exército estava autorizado a falar sobre o assunto. E o exército recusou-se a dar qualquer tipo de entrevista. Recebemos mensagem por e-mail, na qual se diz que a estrada é indispensável por razões de segurança e que o trabalho está legalmente autorizado.
Nas cortes de justiça
A questão, portanto, está posta em termos dos interesses dos beduínos contra os interesses do exército israelense. Nasser mostrou-nos os títulos de propriedade de al-Hathaleen e o mapa em que se detalham todos os lotes legais – documentos que, espera ele, comprovará que a área onde a estrada está sendo construída é propriedade legal da comunidade beduína. Ainda assim, tem poucas esperanças de que os beduínos consigam impedir a construção da estrada.
"É a justiça de Israel. Teríamos de poder discutir essas questões numa corte internacional", diz ele.
"A autoridade que avalia as ações de Israel na Cisjordânia não pode ser a autoridade do exército israelense de ocupação. A questão teria de ser julgada ou por cortes de justiça na Cisjordânia ou por uma corte internacional de justiça."
Além disso, a terra que está sendo invadida está dentro da "Área C", que constitui quase 60% da Cisjordânia e está toda incluída na área sobre a qual Israel tem controle como poder ocupante.
Eid prevê que a estrada dita "de segurança" estará pronta em poucas semanas. Quando estiver pronta, será fortemente protegida e exclusiva para judeus, mais uma estrada do apartheid. Apesar das dificuldades, os beduínos não desistirão da resistência e da ação judicial.
"Essa é a única terra que é propriedade dos beduínos", diz Eid. "Estamos aqui e ficaremos aqui, mesmo que tenhamos de enfrentar novas demolições e mais violência."