segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Débora Vaz: As escolas de photoshop do Ceará


Do lamentável estado da educação pública no Ceará

por Débora Vaz, em seu blog

Desde a mais tenra idade sempre ouvi falar que as pessoas que escolhem trabalhar com a educação de crianças e jovens são dotadas de uma vocação especial, algo similar ao que é dito sobre os homens que renunciam a uma série de prazeres materiais para abraçar o sacerdócio católico. A meu ver, por trás desse discurso meigo está escondida uma ideologia lamentável: para alguns, quem trabalha na educação pública, área historicamente desprezada em nosso País, merece um salário ínfimo, afinal, é uma pessoa vocacionada, quase mártir, que certamente terá um lugar reservado no paraíso depois de uma vida de sofrimentos e incompreensão não apenas por parte do poder público, como também pela sociedade de modo geral.
Em meio à constante desvalorização da docência pública do Brasil e, em especial, a do Estado do Ceará, professores articulam greves para alertar os governantes e a sociedade civil sobre as dificuldades vividas cotidianamente dentro e fora das salas de aula, sendo a mais grave delas a questão salarial. Por conta de uma extrema má vontade, o governador cearense Cid Gomes continua se recusando a pagar corretamente o piso salarial dos professores da rede pública estadual, além de não querer tentar qualquer acordo com tal categoria, pois, segundo ele, “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado”.
Após essa declaração desastrada vinda de um homem que supostamente deveria governar para o povo, não pude deixar de sentir indignação, revolta e um certo sentimento de impotência, já que tanto a imprensa quanto a maioria esmagadora da Assembleia Legislativa de meu Estado dificilmente contestarão a visão torta do governador. Para eles, detentores do poder nas mais diversas esferas da sociedade cearense, é muito mais interessante voltar os holofotes para as belezas naturais desta terra, enaltecendo as possibilidades de lucro com o turismo (que só serão sentidas em seus bolsos), do que centrar esforços para melhorar a educação básica e dar melhores oportunidades às milhares de crianças pobres que jamais frequentarão uma escola privada. Afinal, quem vai querer uma massa de gente esperta e crítica para derrubar os poderosos?
Sei que o descaso com a educação pública não começou na administração de Cid Gomes nem é exclusividade do meu Estado. O Brasil inteiro padece desse problema. Em 2010, comemoramos a derrocada do tucano Tasso Jereissati, cujo mandato prejudicou bastante a educação cearense. Hoje vemos que tal derrota foi apenas simbólica, pois Cid Gomes, que hoje pertence a um partido dito “socialista”, está apenas reproduzindo os mesmos discursos e práticas de seu antigo preceptor, mesmo dizendo que os vínculos políticos entre eles estão rompidos.
Como é possível ter esperança em um futuro melhor para o nosso Ceará com uma liderança de visão torta como Cid Gomes? É terrível pensar que, com a força que ele tem, poderá eleger um sucessor com grande facilidade. E quem sabe até dizendo que seu governo “beneficiou” a educação pública, mostrando, na propaganda eleitoral, escolas fabricadas no photoshop e atores sorridentes fingindo ser professores.

Fonte: VIOMUNDO

Israel autoriza construção de casas em território considerado palestino



Redação Carta Capital

Às vésperas da votação da ONU sobre a criação de um estado palestino, que deve ocorrer em setembro, o ministro do Interior de Israel, Eli Yishai, aprovou em caráter definitivo, nesta quinta-feira 11, a construção de 1600 casas para colonos em Jerusalém Oriental. O ministério espera aprovar, ao todo, a construção de mais de 2700 casas.
A decisão é criticada pela Autoridade Palestina. De acordo com a BBC, a construção das casas seria para evitar a crise econômica que assola o país, mas vem sendo condenada pela comunidade internacional, pois os assentamentos são considerados ilegais.
Em entrevista à AFP o porta-voz do ministério, Roei Lachmanovich, disse que a construção “não tem nada de político, é apenas econômico”.
A crise em Israel, que vem causando protestos em âmbito nacional desde julho, se intensificou na última semana, tendo o custo elevado de vida como um dos temas centrais. As manifestações, que chegaram a reunir 300 mil em protesto por justiça social, levaram o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a nomear uma comissão para fazer propostas para reformas econômicas.  Na terça-feira 9, a comissão fez sua primeira reunião que terminou sem nenhuma proposta.
Mais de 500 mil israelenses vivem nos colonatos da Cisjordânia, o que inclui Jerusalém Oriental. Considerados assentamentos ilegais pela comunidade internacional, Israel, porém, considera parte do território como bairros judaicos.
Além das 1600 casas com autorização para serem erguidas em Ramat Shlomo, o ministério pretende aprovar mais 2 mil em Givat Hamatos e 700 em Pisgat Zeev.
A ocupação da Cisjordânia por Israel desde 1967 não é reconhecida pela comunidade internacional. No entanto, a aprovação do levantamento dessa casas acontece no mesmo momento em que os palestinos se preparam para levar à Organização da Nações Unidas (ONU) o pedido de reconhecimento do estado palestino, cuja campanha é fortemente combatida por Israel.
A paralisação da construção dos colonatos era uma condição para que os palestinos voltassem a negociar a paz com o governo israelense. Como reação ao anúncio, a ONU apelou para Israel não levar adiante os novos assentamentos. De acordo com reportagem do site de notiícias de Israel, o Haaretz, a ONU considera que esse plano equivaleria a uma ação provocativa para o processo de paz com os palestinos.
“Se confirmada, esta ação provocadora mina os esforços em curso por parte da comunidade internacional sobre as negociações em andamento”, disse Robert Serry, coordenador da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, ao jornal.
ONU, União Europeia, Estados Unidos e Rússia, reconhecidos como o quarteto da diplomacia do Oriente Médio, opuseram-se aos novos assentamentos judeus.

Pileque precoce


Frei Betto * Adital  - Coletivo Desenvolvimento Sustentável

Pesquisas indicam que o perfil preponderante do jovem brasileiro de hoje é, ao contrário da minha geração, conservador, individualista, distante daqueles que, em meados do século XX, queriam mudar o mundo.
Agora, ele se mostra mais preocupado em ter um bom emprego do que motivações ideológicas; menos propenso a riscos e mais apegado à família. A relação com a sociedade é mais virtual que real: fechado em seu quarto, ele nem precisa rezar "venham todos ao meu reino", pois tudo lhe chega através do telefone, da TV, da internet, do MP3.

A cultura consumista a todos nós oferece, em cálice dourado, o elixir da eterna juventude. Os jovens não querem deixar de ser jovens; adultos e idosos insistem em imitar os jovens. E o principal fator de afirmação é a autoimagem, a valorização da estética.

O jovem atual não quer se arriscar; anseia por experimentar. Na falta de motivação religiosa, experiência espiritual e ideologia altruísta, tende a buscar na bebida e na droga a alteração de seu estado de consciência. Sem isso não se sente suficientemente relaxado, loquaz, divertido e ousado.
É óbvio que a mídia dita padrões de comportamento, hábitos de consumo e paradigmas ideológicos. A diferença é que tudo isso chega ao jovem de tal forma bem embalado em papel brilhante e fita colorida, que ele nem percebe o quanto é vulnerável à ditadura do consumismo.

No Brasil, a ingestão de bebidas alcoólicas é legalmente proibida a menores de 18 anos (nos EUA, 21 anos). A fiscalização pouco funciona e o Estado permite a publicidade de cerveja a qualquer hora em rádio e TV -concessões públicas- e o estímulo ao consumo precoce. Inclusive a utilização publicitária de pessoas famosas das áreas de entretenimento, artes e esportes, para suscitar em crianças e jovens reações miméticas de consumo de álcool.

Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) informam que 42% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 12 anos já consumiram bebida alcoólica, e 10% dos jovens de 12 a 17 anos podem ser classificados como dependentes de álcool.

Os adolescentes acreditam que um copo de chope não implica risco à saúde. Talvez. O problema é que, ao se enturmar num bar, ele bebe oito ou dez. Ou apela para o mais barato, no duplo sentido da palavra - custo e efeito: uma garrafa de cachaça ou vodca custa menos que uma rodada de chope e provoca rápido "um barato"...

O Ministério da Saúde já calculou quanto o alcoolismo custa aos cofres públicos? Quanto gasta o INSS com os alcoólicos afastados do trabalho por razões de dependência? De que adiantam as campanhas de prevenção se atletas de renome fazem propaganda de bebida alcoólica?

A publicidade de bebida destilada -cachaça, uísque, vodca- obedece à restrição de horários, regulados pela lei 9.294/1996. Entre 6h e 21h é vetada a publicidade de destilados, embora muitas rádios burlem a proibição. A cerveja, que responde por 70% de todo álcool ingerido no Brasil, é livre de regulamentação. E é por ela que muitos jovens ingressam na dependência química.

Pela lei 9.294, bebida alcoólica é a que possui mais de 13 graus na escala Gay-Lussac. O Congresso Nacional assim determinou pressionado pelos produtores de cerveja e vinho. Normas internacionais consideram que é alcoólica toda bebida com 0,5º GL ou acima.

Todas as demais leis do Brasil -de trânsito, de fabricação etc.- consideram alcoólica toda bebida com mais de 0,5º GL. A cerveja tem cerca de 4,8º GL. Verifique com lupa o rótulo de uma cerveja dita "sem álcool". Com exceção de uma marca, as demais possuem 0,5º GL, ou seja, fazem, com respaldo da lei, propaganda enganosa. Assim, pais desavisados deixam crianças ingerirem a cerveja "sem álcool" e alcoólicos em tratamento são vítimas do mesmo engodo.

O Código de Autorregulamentacao do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) alerta que comerciais de cervejas não devem ser atrativos para o público jovem. O que se vê é o contrário. As peças publicitárias exalam jovialidade, bom humor, espírito de tribo, linguagem própria de jovens, sem que haja nenhum controle.

Vêm aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se permanecer liberado o direito de associar desportistas com bebidas alcoólicas a Lei Seca, com certeza, vai dar água...

Em muitos países, como no Canadá, há regulamentação à publicidade de bebida alcoólica, visando à proteção do público infantil. Lá não se vende bebida alcoólica em supermercados, lojas, padarias e mercearias. Só se permite em bares e restaurantes.

O Free Jazz, festival de música, foi cancelado por ser patrocinado por uma marca de cigarro. O mais badalado camarote do sambódromo exige que se vista a camisa de uma produtora de cerveja. Não existe o alerta: "Se fumar, não dirija". Já no caso da bebida...

O argumento de que regular a publicidade é censura ou fere a liberdade de expressão é mero terrorismo consumista centrado em sobrepor interesses privados ao interesse público, como é o caso da proteção da saúde da população, em especial de nossas crianças e adolescentes.

[Autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros.

Amorim e os EUA


Aos olhos do serviço diplomático dos Estados Unidos, em especial durante a era Bush, a posição independente do Ministério das Relações Exteriores, capitaneado por Celso Amorim, hoje ministro da Defesa, parecia uma constante provocação. Nos telegramas vazados pelo WikiLeaks, o MRE é acusado de dificultar as relações bilaterais por suas “inclinações antiamericanas”, definidas por um ministro “nacionalista” e um secretário-geral “antiamericano virulento” (Samuel Pinheiro Guimarães), e secundado por um “acadêmico esquerdista” (Marco Aurélio Garcia), conselheiro de política externa do presidente Lula.
Leia também:
“Manter a relação político-militar com o Brasil requer atenção permanente e, talvez, mais esforço do que qualquer outra relação bilateral no hemisfério”, desabafava o embaixador John Danilovich, em novembro de 2004.
Foi ele que, numa reunião em março de 2005, tentou convencer Amorim da ameaça “cada vez maior” que a Venezuela representava à região. A resposta “clara” e “seca” do chanceler desapontou o americano: “Nós não vemos Chávez como uma ameaça. Não queremos fazer nada que prejudique nossa relação com ele”. E cortou o assunto.

Comércio: os EUA contavam com o apoio dos militares na licitação dos caças. Foto: Ben Stansall/AFP

O sucessor de Danilovich, Clifford Sobel, teve mais sorte. O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim era interlocutor contumaz do embaixador, a ponto de confidenciar sua irritação com o MRE, em especial com Pinheiro Guimarães. Tornou-se peça vital em uma estratégia diplomática americana que explorava a divisão dentro do governo em proveito próprio, como revelam os telegramas.
Em fevereiro de 2009, já com Obama na Presidência dos Estados Unidos, Sobel enviou uma série de três informes, sugerindo formas de contornar o triunvirato “esquerdista” da política externa brasileira. O jeito, afirma, seria fazer aliança com o setor privado, que tem “habilidade para conseguir aprovar iniciativas junto ao governo” e tentar uma aproximação direta com Lula e outros ministros que poderiam defender a causa americana.
Uma “estratégia testada”, afirma Sobel, citando entre outros exemplos o caso da transferência para o Brasil dos 30 agentes da DEA, a agência americana de combate às drogas, expulsos da Bolívia por Evo Morales no fim de 2008. “Apesar da recusa do MRE de conceder vistos aos agentes, conseguimos realizar a transferência com a ajuda da Polícia Federal, da Presidência da República e de nossas excelentes relações com o ministro da Justiça (Tarso Genro)”, gaba-se.
O segundo telegrama foca os minguados recursos humanos e financeiros do Itamaraty, apresentando-os como oportunidade para os Estados Unidos. Muitos cargos diplomáticos estavam sendo preenchidos por “trainees e terceiros-secretários” por falta de pessoal para as novas embaixadas brasileiras, observa o embaixador americano, acrescentando que seria “crucial influenciar essa nova geração”.
“Os franceses instituíram um programa de intercâmbio diplomático com o Itamaraty em 2008, semelhante ao nosso Transatlantic Diplomatic Fellowship, e agora têm um diplomata trabalhando no Departamento Europeu do Itamaraty. Uma proposta similar seria válida para conseguir um posto que nos permita observar de dentro esse ministério-chave e mostrar como os Estados Unidos executam sua política externa”, sugere.
No terceiro telegrama, Sobel afirma que, embora o MRE continuasse a ser o líder incontestável da política externa brasileira, o crescimento internacional tendia a erodir seu controle. Apesar da falta de hábito das instituições brasileiras em lidar diretamente com governos estrangeiros, alguns ministérios como o do Meio Ambiente e, principalmente, o da Defesa estabeleceram relações diretas com a embaixada norte-americana em Brasília, relata.
Um telegrama enviado em 31 de março de 2009, depois da visita do presidente Obama ao Brasil, dá um exemplo prático da eficiência dessa estratégia. Pedindo sigilo absoluto de fonte, o embaixador conta que Jobim pretendia contribuir com o combate ao narcotráfico na região, possivelmente através do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) criado pela União Sul-Americana de Nações (Unasul). “Ele disse que o CDS poderia ser o canal perfeito para conseguir o engajamento dos militares dos outros países sem passar pelo MRE”, escreve, acrescentando que o então ministro da Defesa estaria disposto a envolver os militares no combate ao tráfico nas fronteiras brasileiras. “O plano de Jobim sinaliza um grande passo, uma vez que o assunto é altamente sensível internamente, no governo, e para o público brasileiro”, comenta.
Também durante as tratativas frustradas de compra dos caças, Jobim e os líderes militares agiram longe do Itamaraty, como mostram os cerca de 50 telegramas sobre o tema. Em um deles, Sobel relata a visita da comitiva presidencial à França e comenta, com ironia, as reportagens da imprensa brasileira que afirmam o apoio de Lula, Amorim e Jobim à aquisição dos caças Rafale: “Talvez isso seja mais um marriage blanc do que amour veritable”, diz. E explica: “Nos encontros privados com o embaixador, Jobim minimizou a relação com a França e manifestou um claro desejo de ter acesso à tecnologia americana. O obstáculo é o Ministério das Relações Exteriores”.
Sobel também se reuniu com os comandantes das Forças Armadas para pedir “conselhos” sobre as chances de os caças da Boeing vencerem a concorrência de quase 10 bilhões de reais. Ficou entusiasmado com o resultado: “Os apoiadores mais fortes do Super Hornet (o F-18 americano) são as lideranças militares, em particular o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito”, relata em telegrama de janeiro de 2009.
O embaixador também obteve “uma cópia não oficial” de uma Requisição de Informações da Aeronáutica (passada eletronicamente para Washington), que “permite planejar os próximos passos para os Estados Unidos vencerem a negociação”. Além de garantir que o preço não seria o principal critério da escolha, o documento informa que a Embraer, “principal beneficiária de qualquer transferência de tecnologia”, consideraria “desejável a oportunidade de estabelecer uma parceria com a Boeing”, principalmente se houvesse “a intenção de oferecer uma cooperação adicional na área da aviação comercial”.
À luz dos telegramas do WikiLeaks, o relatório apresentado em janeiro de 2010 pela FAB ao ministro Jobim, colocando a aeronave sueca como melhor opção, exatamente por causa dos custos, traz novas indagações. O Rafale francês foi classificado em terceiro lugar, atrás dos caças americanos, esse sim apontado como o de melhor tecnologia. Mas não era o preço que importava, não é?

Indigentes: Quantos atingirão essa condição nos Estados Unidos?



Kelly Thomas, de 37 anos, faleceu a 10 de julho, cinco dias após ser golpeado com bengalas elétricas, lanternas, correntes de couro e pontapés por seis agentes de uma patrulha policial na localidade de Fullerton, Califórnia.


Depois desse incidente, Thomas foi enviado a um hospital próximo, mas chegou em estado de coma. Seu rosto revelava múltiplas manchas roxas, arranhões e cortes menores.

Thomas integrava um crescente exército de pessoas nos Estados Unidos que muitos identificam indistintamente como Homeless, sem lar ou deslocados num sistema que degrada diariamente os seres humanos.

Há muitos anos, em 1986, em Nova York, na Rua 42, entre a Primeira e a Segunda Avenidas, leste de Manhattan, sobrevivia à intempérie com o rosto ulcerado pelas frias temperaturas, próximo à sede da ONU, um homem de idade avançada. Vivia da caridade pública.

Esse homem era a imagem pública e a denúncia ante o mundo que ia à ONU de um problema persistente no país que se autoproclamava defensor dos direitos humanos.

Talvez sem sabê-lo, integrava as fileiras de um exército de cerca de 40 mil pessoas que como ele não tinham onde viver nessa metrópole. Túneis, pontes, metrôs e sinistros albergues eram sua moradia, no melhor dos casos.

Quase trinta anos depois a presença dos homeless ou sem lar nos Estados Unidos aumentou. A crise econômica, o desemprego, as drogas, a discriminação, os veteranos de guerra sem ajuda e outros empurram milhões de estadunidenses a esta situação.

Diz-se que no mundo há mais de 500 milhões de homeless. Aí se chega facilmente e muitas vezes não se pode sair, assinalam organizações sociais.

Fontes do Departamento de Moradia e Desenvolvimento Urbano estadunidense assinalam que é difícil saber o número de pessoas no país que vivem essa situação.

Há vários anos, em 2004, alguns cálculos sobre o número de estadunidenses sem teto estabeleciam que eram entre 600 mil e 3,5 milhões, segundo dados da National Coalition for the Homeless (Coalizão Nacional para os SemTeto).

Agora é difícil calcular a quantidade exata pela natureza mesma dos sem moradias. Algumas pessoas passam por esta situação de maneira temporária, algo agravado pelo desemprego próximo aos dois dígitos que hoje mina a economia estadunidense.

Para outras pessoas, em especial quem padece da dependência às drogas ou transtornos mentais, a falta de lar é um problema crônico.

Segundo a Coalizão, nos Estados Unidos existe abundante material que documenta episódios de perseguição a desabrigados por parte de servidores públicos, bem como incidentes vinculados a abusos cometidos pela polícia, de acordo com dados confidenciais.

Outro setor afetado são as vítimas de maltrato. Um estudo realizado pela Ford Foundation sustenta que 50 por cento das mulheres sem teto vivem na rua para escapar de parceiros violentos.

Por outra parte, o efeito da crise hipotecária e financeira que golpeia os estadunidenses também contribui a que muitas famílias, integradas por jovens, se convertam em assíduas dos centros de atenção aos sem teto, apesar de não refletirem o estereótipo dos que estão nesta condição.

Já não se trata de homens solteiros, drogaditos, doentes mentais ou veteranos de guerra. O problema torna-se cada ano mais crônico na medida em que se torna mais curto o ciclo das crises econômicas.

Na atualidade, 10 por cento das pessoas que engrossaram o número dos homeless são famílias: homens e mulheres com bons empregos e crianças em idade escolar, que simplesmente não puderam continuar pagando suas hipotecas.

81 por cento dos desabrigados são mulheres de 25 anos com filhos menores de cinco.

Sem se revelar abrangente, um relatório do Departamento de Moradia e Desenvolvimento Urbano estadunidense, apesar de não se aprofundar nas causas deste desastre, sustenta que enquanto o aumento médio de pessoas sem teto é de 10 por cento, há regiões onde aumentou a mais de 56 por cento em um ano.

Ainda que o governo do presidente Barack Obama tenha destinado 1,5 bilhão de dólares para combater a crise residencial, é provável que sejam afetados como conseqüência dos "ajustes" impostos pelos republicanos aos programas sociais para elevação do teto da dívida e redução do déficit.

Há vários anos, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, anunciou um amplo plano para tentar acabar com os homeless em Manhattan antes de 2010, pois só nas ruas da chamada "Grande Maçã" perambulam mais de 40 mil pessoas sem lar, das quais mais de 16 mil eram crianças.

O quadro é deprimente e reflete outro exemplo para enfeitar a vitrine que Washington trata de ocultar ao mundo.

Da Redação América do Norte da Prensa Latina.

Assentamentos: as dificuldades quase 20 anos depois

A região da Campanha é uma das regiões do Estado que mais abriga assentamentos de trabalhadores rurais.
 
fotos: Francisco Bosco 
Maritza Costa Coitinho no JORNAL MINUANO
MELHORIAS: já foram registradas, mas ainda há muito o que mudar
 

A expressão "assentamento", segundo o site oficial do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), é utilizada para identificar não apenas uma área de terra no âmbito dos processos de Reforma Agrária, destinada à produção agropecuária e ou extrativista, mas também um espaço heterogêneo de grupos sociais constituídos por famílias camponesas, que ganham a terra depois de desapropriada ou adquirida pelos governos federal e ou estadual, com o fim de cumprir as disposições constitucionais e legais relativas à Reforma Agrária. As cidades de Bagé, Candiota, Hulha Negra e Aceguá somam 55 assentamentos, incluindo os federais (criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), conjuntos (Incra e governo estadual), estaduais (governo estadual) e municipais. O primeiro assentamento desta região foi o PA Fazenda São Francisco, em Candiota, criado em 10 de junho de 1992. O local também é chamado de 8 de agosto, em homenagem à data em que os assentados chegaram na área pela primeira vez.
No total, já são 1 755 famílias assentadas na região, conforme a assessoria de imprensa do Incra. Quando o instituto adquire uma área, procede à seleção de famílias entre aquelas cadastradas como candidatas. Quando um lote é abandonado ou retomado, o Incra também seleciona nova família, através dos Editais de Lotes Vagos.
A Cooperativa Regional dos Agricultores Assentados (Cooperal), que agrega assentados de Candiota, Hulha Negra e Aceguá, é uma das experiências consideradas de maior sucesso pelo Incra. Com 1,6 mil associados, a Cooperal possui, atualmente, 626 produtores de leite que produzem 600 mil litros do produto por mês, comercializados para a indústria de lácteos. Assim, esses assentados cumprem uma das determinações exigidas, que é o compromisso de promover uma agroecologia cooperada. A ideia é estimular as famílias a organizar a agroindústria de forma cooperativada, garantindo uma renda mensal aos associados, assegurando preços aos produtos e viabilizando a comercialização da produção.
Na Cooperal, dirigida pelo assentado Dirceu Zanatto, 35 anos, há 13 assentado, já tem 18 anos e garante renda mensal próxima de um salário mínimo para cada participante. "A produção de leite é financeiramente mais segura. Os assentados têm muitas dificuldades e as cooperativas são uma das soluções", avalia. Entre as dificuldades, estão o clima instável, que já trouxe prejuízos de 90% na produção, e a falta de infraestrutura, como água potável, que falta em cerca de 95% dos assentamentos, e estradas. A luz também falta constantemente. "Já chegamos a ficar seis dias sem luz, o que prejudicou a produção", conta ele.
Zanatto, que vive no assentamento Madrugada com a mulher e quatro filhas, diz que, perto do que foi no início, as dificuldades de hoje são mínimas. "Foi tudo muito sofrido, não tínhamos nem luz. Ficamos seis meses sem nada e, aos poucos, foi tudo se ajeitando. Sofríamos muita rejeição da sociedade. Hoje, já nos aceitam mais", comenta ele, falando sobre o preconceito. Outras lembranças ruins, como as crianças estudando embaixo de lonas, também vieram à tona.
Sobre a rejeição inicial, ele diz que hoje está mais tranqüilo. "Somos muito organizados e, hoje, as pessoas nos olham com outros olhos", acrescenta. Perguntado sobre a postura de assentados que vendem ou arrendam suas terras, ele diz que, como em todas as classes, há pessoas que não fazem o trabalho sério. "Mas não é bem assim. A verdade é que muitos vão embora por não se adaptarem ao trabalho e acabam vendendo a terra bem barata só para poder sair", defende ele.
A maioria dos assentados da região vem das Missões. É o caso de Marli Caetano da Silva, que veio de Herval Seco e está assentada há 13 anos. Ela diz que não dá para viver só da renda da comercialização do leite e que, para complementar, o marido vende verduras. "Nossa vida é muito difícil, não temos acesso à saúde e tudo é muito longe. Quando alguém passa mal, tem que procurar um carro para levar", diz ela, mostrando uma cicatriz no joelho, conseqüência de um tombo e que poderia, certamente, ser muito menor se o atendimento fosse mais rápido e eficiente. Marli reclama também que é difícil a conclusão do estudo dos filhos. Dos sete, dois foram até a sexta série e um terceiro concluiu o Ensino Fundamental. Os mais novos, que ainda moram com ela, enfrentam a insistência da mãe para concluir os estudos. "Quero que eles possam ter uma vida melhor", comenta.
 
fotos: Francisco Bosco
TRANSPORTE: muitos se locomovem de carroça
 
 
FRANCISCO BOSCO
REBANHO: produção do leite garante sustento
 
     
FRANCISCO BOSCO
COLETA LEITEIRA: trabalho diário
 
 
FRANCISCO BOSCO
ZANATTO: coordena cooperativa
 
     
FRANCISCO BOSCO
MARLI: elenca dificuldades