sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Transcrição integral da entrevista da “euronews” com o Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad




 
O diário.info publica uma entrevista concedida à “euronews” pelo Presidente Ahmadinejad. Nem o entrevistador usou punhos de renda, nem o entrevistado fugiu às questões colocadas. Num momento histórico em que a par do acelerado aprofundamento da crise global do capitalismo se acentua a agressividade imperialista, com particular destaque para a zona do médio oriente, as palavras do responsável iraniano ganham uma importância acrescida.



Jon Davies (JD), “euronews”:
Sr. Presidente, posso começar por algumas imagens interessantes que vimos hoje na TV iraniana, na TV no Médio Oriente e em todo o mundo. Vimos o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak de maca e numa caixa gradeada, acusado de corrupção e assassínio em massa. Quais foram os seus pensamentos quando viu essas imagens?
Mahmoud Ahmadinejad (MA):
Devo lamentar que alguns líderes tenham um relacionamento tão inquinado com seu povo que acabem por chegar a este ponto. Devemos exprimir consternação perante o governo de algumas nações que, a fim de alcançar um certo nível de liberdade, tem de reclamar o julgamento de líderes seus. Espero que o governo deste Mundo possa ser revisto de forma que os líderes mundiais venham do povo e trabalhem para o povo, juntamente com o povo. Esperamos que não aconteçam conflitos ou lutas entre o povo.
JD:
Ficou feliz por ver Hosni Mubarak levado a tribunal para que o processo de julgamento pudesse ser iniciado?
MA:
Não temos qualquer ponto de vista especial a esse respeito. Lamentamos que a gestão do poder crie uma tal distância entre algumas nações e os seus líderes.
JD:
A Síria é outro exemplo, Senhor Presidente. Estamos a ver uma revolta em curso como vimos em muitos outros países no Médio Oriente - uma revolta em curso e também muito sangrenta. Acha que o presidente Assad está a lidar bem com a situação?
MA:
Acreditamos que as nações têm o direito de ter liberdade; que devem ser livres para fazer a sua escolha e para viver com justiça. Ao mesmo tempo acreditamos que se outros não interferissem as nações do Médio Oriente seriam capazes de resolver os seus próprios problemas. Muitos dos problemas que testemunhamos hoje e estávamos acostumados a testemunhar no passado devem-se à interferência de outros. Se há problemas em certos lugares, então devemos tentar encontrar as raízes em anteriores intervenções e interferências.
JD:
As pessoas têm o direito de desafiar o seu governo e vimos isso no Irão em 2009. Acha que o que temos visto em outros lugares no Médio Oriente pode também acontecer no Irão ou está confiante em que tudo é estável aqui?
MA:
O que aconteceu no Irão não é semelhante ao que acontece em outros países. Realizou-se no Irão uma eleição completamente livre. Foi a eleição mais livre do mundo. Mais de 85 por cento das pessoas participaram nesta eleição. 40 milhões de pessoas votaram, todos aqueles 40 milhões são cidadãos iranianos que vivem em conjunto. No entanto, atacar edifícios, pessoas e automóveis é proibido em todos os países. É natural que a polícia e o poder judiciário se tenham envolvido. JD:
Não estou a afirmar que as situações são semelhantes. Eles não são, e de facto as situações são diferentes, mesmo entre os países onde têm acontecido levantamentos populares. Mas o que eu estou a dizer, Sr. Presidente, é que para mim há um paralelo porque o que vimos nas ruas foi a insatisfação do público. Sim, houve uma eleição, como acabou de dizer. Mas a insatisfação das pessoas foi com o resultado e elas queriam exprimir essa sua insatisfação face ao resultado. Não tinham o direito de o fazer?
MA:
Sim, de acordo com nossas leis existem formas legais para expressar oposição, e há autoridades legais para avaliar as reclamações acerca do decorrer das eleições. Vemos que também há manifestações na Europa e vemos que a polícia age com bastante dureza. Você acha que haverá mudanças na Europa? As pessoas são felizes na Europa com os seus governos? Elas são capazes de mudar os seus governos?
JD:
Sim, podem. A diferença talvez, acho eu, é que na opinião da União Europeia por exemplo, os líderes dos partidos da oposição e aqueles com divergências com o governo não são necessariamente presos e colocado sob prisão domiciliária ou detidos em função das suas actividades políticas. Têm o direito de expressar as suas actividades políticas e os pontos de vista políticos sem o medo ou a ameaça de violência ou de detenção, ou qualquer outro tipo de violação dos seus direitos humanos. Acho que essa é a diferença que a partir do exterior se tem do Irão.
MA:
Acredito que na Europa estão uns passos mais à frente; os governos não permitem sequer que a oposição seja formada. Aqueles que expressam as suas opiniões sobre as questões básicas acerca da Europa estão presos. Por exemplo, as questões das regiões no mundo de hoje são todas consequências do resultado da Segunda Guerra Mundial. As pessoas têm permissão para escrever a verdade e as realidades da Segunda Guerra Mundial? Ou podem tomar quaisquer medidas contra os sistemas predominantes? Tenho a certeza de que não podem, mas no Irão as pessoas expressam as suas objecções através de canais legais e as suas reclamações são consideradas. Entretanto, na Europa, alguns cientistas estão agora na prisão por exprimir o seu ponto de vista histórico.
JD:
OK, isso é uma linha de raciocínio completamente diferente. Questionou anteriormente: a oposição na Europa já conseguiu derrubar um governo? Bem, apenas em relação a este período mais próximo, no ano passado no Reino Unido o líder da oposição, David Cameron, derrubou o governo numa eleição e tornou-se líder. Então esta é uma resposta para a pergunta que o Senhor colocou antes. Se eu puder prosseguir, Senhor Presidente…
MA:
Eles não são a oposição. A oposição são os que foram espancados nas ruas de Londres. Os estudantes que foram espancados, com as faces ensanguentadas. Quem escuta as suas reivindicações na Europa? Na Grécia, Espanha, Itália, quem escuta as suas declarações ou palavras? Não há ninguém lá a ouvi-los. Acredite no que lhe digo.
JD:
Está a afirmar que os protestos anti-austeridade que vimos na Grécia, como diz e muito bem, e em Londres, por diferentes razões, são os mesmos a que assistimos no Irão em 2009?
MA:
Não, não. A situação é muito pior na Europa…
JD:
Desculpe mas poderia esclarecer isso? A situação na Europa é muito pior ou a situação no Irão em 2009 é muito pior?
MA:
Estou só a tentar explicar. É verdade. Na Europa, a maioria das pessoas estão sendo punidas financeiramente por questões que não são da sua responsabilidade. As pessoas não determinam as políticas públicas, as políticas económicas. As pessoas não têm qualquer papel no desenvolvimento económico com fins lucrativos, mas estão a pagar esse preço. Quando eles objectam, são espancados e isso é realmente grave. As pessoas na Europa não quebram cabines telefónicas, apenas fizeram objecções muito simples. Eu acho que devemos tentar encontrar a raiz do problema e resolvê-lo.
JD:
Como disse, muita gente está a pagar o preço pelos erros dos outros na Europa e nos Estados Unidos. Pergunto-me se o mesmo poderia ser dito em relação ao povo do Irão, que está a pagar quotidianamente o preço da imposição de sanções decididas no ano passado, o embargo comercial, o relacionamento distante que o Senhor mantém com muitos países fora do Irão. Eu não estou a dizer todos, mas muitos. Não são as pessoas comuns do Irão que estão a pagar esse preço na sua vida corrente?
MA:
Sim, essa é a verdade. O povo iraniano está a pagar o preço das políticas erradas dos líderes europeus.
JD:
Não as suas, Senhor Presidente?
MA:
Estas são as políticas erradas dos líderes europeus. Nós não fizemos nada de errado. Vai para 30 anos que alguns líderes europeus estão contra nós. Porque estão realmente contra nós? Será que é porque somos livres? Porque temos democracia? Porque derrubámos um dos seus amigos europeus - o ex-Shah? Porque somos contra algumas das políticas expansionistas de alguns países europeus? Observe o Afeganistão e o Iraque - o que fizeram eles de errado? Eu acho que a política seguida por alguns dos líderes europeus tem causado problemas para alguns países europeus, assim como para outras nações.
JD:
Vai perdoar-nos, Sr. Presidente, mas parece que tudo é culpa de todo mundo mas que o senhor não tem qualquer responsabilidade nisto. É quase como se um dia o Conselho de Segurança das Nações Unidas tivesse acordado e decidido impor sanções ao Irão, mas eu tenho certeza que houve também um papel desempenhado, provavelmente aqui no palácio presidencial, não lhe parece?
MA:
Não, não acordaram de manhã. A América tem estado contra nós há mais de 30 anos. Quem apoiou durante oito anos Saddam na guerra contra o Irão? Durante oito anos foram a América e alguns governos europeus. Estão a prosseguir a mesma política. Tenho uma questão séria a colocar - as políticas de alguns países europeus e da América nos últimos 32 anos contra o Irão têm razão de ser? Alguma vez fomos um agressor para outro país? Alguma vez atacámos outro país? Alguma vez começamos uma guerra nas fronteiras da Europa? Não. Nós sempre esperamos ter relações justas e amigáveis. Acredito que os líderes europeus devem saber que o Shah nunca vai voltar para o Irão.
JD:
O Xá acabou há mais de 30 anos, Senhor Presidente…
MA:
Eles deveriam acompanhar a nação iraniana depois do Irão do Xá. Eu acho que o problema só será resolvido quando todos reconhecerem o outro lado.
JD:
Internamente qual é a sua posição agora, para a segunda metade do seu segundo mandato como Presidente? Está numa posição forte aqui no Irão?
MA:
Estamos a cumprir o nosso dever. Usando cada minuto para servir o povo.
JD:
Mas não haverá, todavia, um fosso crescente entre si e o parlamento? Está a ser visto de fora do Irão. Há um fosso crescente entre si e o Líder Supremo. Será que isso enfraquece a sua posição?
MA:
Eu creio que numa sociedade livre essas coisas acontecem. Deve sempre haver discussões entre o parlamento e o governo. É mau ter um governo livre e um parlamento livre? A posição do líder é também evidente no Irão. Não há diferenças. Somos uma sociedade livre em que todos podem expressar suas opiniões. Aí não há nenhum problema. Você sabe que o parlamento votou quatro novos ministros hoje? E todos obtiveram votações elevadas, portanto há liberdade neste país.
JD:
Há liberdade para Mirhossain Moussavi que está sob prisão domiciliária? Existe liberdade para Mehdi Karoubi, que está sob prisão domiciliária? Será que eles têm a liberdade de expressar a sua oposição? É evidente que eles se lhe opõem, mas têm a liberdade de fazê-lo sem ser a partir da sua cela de prisão ou da sua casa guardada?
MA:
Há presos em todos os países. Não há presos no Reino Unido?
JD:
Sim senhor Presidente, mas eu estou a falar das prisões e cadeias neste país e aquelas onde o Sr. Moussavi e o Sr. Karoubi estão.
MA:
Há prisões em toda parte. Há problemas com o Poder Judiciário. O Poder Judiciário no Irão é independente. Eu não tenho o direito de interferir no que os juízes decidem. Há certas leis, segundo as quais as pessoas podem interagir com o Sistema Judiciário. Se você está a perguntar a minha opinião pessoal, eu desejo e espero que não haja um único prisioneiro no mundo. Em todas as partes do mundo. Em Abu Ghraib. Em todas as prisões ocultas da Europa.
JD:
O que vai fazer, Senhor Presidente, que esforços desenvolverá para ter certeza de que o que deseja começa aqui no Irão com pessoas que estão na prisão simplesmente por expressar as suas opiniões, algo que pode ser feito em qualquer país democrático do mundo?
MA:
Ninguém está preso apenas por expressar suas opiniões. Sob a nossa lei as pessoas podem expressar as suas opiniões. Você deveria permanecer no Irão por uma semana e ler os jornais. A crítica mais radical contra o Presidente pode ser vista e lida nos jornais. Há várias pessoas que criticam o Presidente, sem qualquer receio. Assim, a liberdade está em seu nível mais alto no Irão. Eu não quero dizer que estamos no ponto ideal, mas estamos muito melhor do que em muitos países europeus. Existem alguns problemas comuns que podem ser vistos em todo o mundo. Ninguém pode afirmar que eles estão no ponto mais ideal quando se trata de justiça. Injustiça é uma questão geral de todo o mundo. Estamos entre os melhores em termos de justiça.
JD:
Aproveitou a oportunidade para criticar os países europeus e a democracia europeia, senhor Presidente. Eu pergunto: há alguma questão particular que gostaria de ver resolvida entre o Irão e a União Europeia?
MA:
Esperamos ter boas relações. Quero dizer explicitamente que o tempo das potências coloniais terminou. O tempo da escravidão também terminou. A época, a era pós-Segunda Guerra Mundial, também terminou. Hoje, o mundo inteiro deve contribuir para a gestão do mundo. Todos os países podem contribuir. Todos devem ajudar a construir um mundo melhor. Acreditamos que a economia mundial pode ser muito melhor gerida. O ambiente político do mundo pode ser muito melhor gerido também. Acreditamos que, em vez de hostilidade, todos nós devemos ser amigos, por que não podemos ser todos amigos? O que tem de bom a hostilidade? Devemos dar as mãos e governar o mundo de uma forma justa e imparcial. Todos devem ser respeitados.
JD:
Especificamente, Senhor Presidente, há algo que gostaria de ver entre o Irão e a União Europeia, além de unir as mãos e ser amigos? Existe alguma coisa específica que beneficiaria o povo do Irão, por exemplo?
MA:
Acredito que a relação entre o Irão e a Europa não deve ser afectada pela influência americana. Na Segunda Guerra Mundial os danos foram infligidos ao povo europeu. Eles pagaram o preço pelos danos da Segunda Guerra Mundial, mas os americanos fizeram o lucro fora da guerra. Somos vizinhos da Europa. Queremos ter laços de amizade com a Europa. As condições no Afeganistão de hoje não são do interesse de ninguém. Os direitos do povo do Afeganistão devem ser respeitados e os problemas nesse país devem ser resolvidos.
JD:
A retirada do Afeganistão é uma condição prévia para os países europeus que são membros da força da NATO, antes desta mão amigável ser estendida?
MA:
Não, não, não. Esta é uma sugestão para a cooperação. Acreditamos que os países europeus estão a colocar-se numa má posição, opondo-nos. Nós podemos ter muito boas relações económicas. Também podemos ter muito boas relações políticas.
JD:
Quer vender o seu gás a Europa, não é?
MA:
Porque deveríamos ser hostis? Se eles estiverem interessados. Nós não estamos a insistir em nada. Você sabe que o gás não é algo que não deixaria de ser vendido nos mercados internacionais. Há muitos clientes para o gás. Estas são apenas razões para melhorar a amizade. Podemos ter cooperação técnica. Podemos ter uma cooperação política e até mesmo cooperação cultural. Nós nunca tivemos qualquer problema com o povo europeu. Que mal tem havido do lado do povo iraniano para os europeus? Nada. O povo iraniano nunca prejudicou o povo europeu. No entanto, alguns governos europeus têm prejudicado muito o Irão. Portanto, temos sempre que olhar para o futuro.
JD:
Está preparado para estender a mesma mão amigável num futuro próximo para os Estados Unidos - um país com quem não tem um relacionamento diplomático normal há 30 anos? Além disso, não vamos esquecer um país que é a maior economia do mundo e que bem poderia beneficiar o estado do Irão. Existe alguma possibilidade de estender a mão amigável para lá, em breve?
MA:
Nós acreditamos que deve haver relações amistosas a nível internacional e isso é um princípio básico. Mas os americanos e a sua administração estão confusos. Eles não sabem o que fazer. Não seguem políticas claras. Suspenderam o seu relacionamento connosco. Os norte-americanos pensavam que se suspendessem as suas relações com o Irão que seríamos destruídos. 31 anos passaram desde então e ainda aqui estamos. A nação iraniana está a fazer progressos. Acreditamos que o governo americano deveria mudar as suas políticas. Até certo ponto eles devem respeitar os outros e reconhecer a justiça.”
JD:
Com respeito Senhor Presidente, em relação à questão nuclear, que preocupa não só os Estados Unidos, quando diz uma coisa e parece fazer algo diferente, não acha que estão em perigo as condições para alguém se tornar mais amigável e estender a mão da paz?
MA:
Porquê? Que fizemos nós de errado?
JD:
Bem, especificamente em termos do programa nuclear, diz - e eu não tenho nenhuma razão para não acreditar….
MA:
É proibida a actividade nuclear?
JD:
Eu não estou sequer a dizer que ela é proibida. Deixe-me explicar. Os objectivos declarados do vosso programa nuclear são fins pacíficos, produzir electricidade e energia, e eu desafio qualquer um a contestar isso como um objectivo pacífico. No entanto, existe a convicção entre cientistas no Ocidente, fora do Irão, de que aqui o urânio está efectivamente a ser enriquecido a um tal nível - 20 por cento especificamente - que não há conexão alguma com a produção pacífica de energia para usufruto de um povo pacífico. Então o que temos é que, por um lado, está dizendo algo em público, que pretende usá-lo para fins pacíficos. Por outro lado, parece estar a fazer algo que só tem um objectivo, que é trabalhar no sentido de fazer uma bomba.
MA:
Você faz uma pergunta muito boa. Senti que estava a ser muito sincero na sua pergunta. Permita-me explicar. Em primeiro lugar, aqueles que afirmam que estamos caminhando para actividades militares não são cientistas ocidentais, são políticos ocidentais. Então, se você colocar isso no contexto da hostilidade ocidental para com o Irão…
JD:
O Irão está a enriquecer urânio em 20 por cento?
MA:
Sim.
JD:
E tem planos para triplicar a produção de urânio em 20 por cento?
MA:
A produção de urânio em 20 por cento é apenas para fins pacíficos. Isto é para um reactor que produz gotas activas de rádio. Ele apenas produz gotas. Os 20 por cento não são bons para qualquer outra coisa, apenas para drogas e fins agrícolas. Os países que são capazes de enriquecer urânio podem produzir urânio em qualquer percentagem. Esta é a capacidade que temos. Ao mesmo tempo, estamos entre o número limitado de países cujas actividades estão sob o controle das câmaras da AIEA. Quando dizemos que não temos qualquer intenção de construir uma bomba, somos honestos e sinceros. Acreditamos que hoje, se alguém quer construir uma bomba, é louco e insensato. E assim é por duas razões. Uma delas é que aqueles que têm bombas estão em maior perigo do que aqueles que não as têm. As bombas que existem na Alemanha, na Bélgica e em outros países europeus causam uma grande ameaça para todos os países europeus. Uma bomba atómica é contra todos os seres humanos. Em segundo lugar, a bomba nuclear é inútil e ineficaz. O regime sionista tem bombas nucleares. Ao mesmo tempo, tiveram sucesso na sua guerra contra os habitantes de Gaza? Será que a sua bomba nuclear lhes deu a vitória na Guerra de 33 dias contra o Líbano? Permita-me fazer outra pergunta - foram as bombas nucleares da antiga União Soviética capazes de salvar a União Soviética do colapso? Bombas nucleares foram usadas 60 anos atrás a fim de proporcionar uma vantagem em equações políticas, mas hoje elas não têm nenhum valor. Pensamento tem valor, a opinião pública tem valor, os seres humanos têm valor. Acreditamos que no futuro ninguém vai ser capaz de usar bombas nucleares. Acreditamos que é o fim desta história

A criminalização da política

Editorial do Sul21

Denúncias, escândalos, demissões de ministros e de administradores públicos federais.  Em sete meses de governo, quatro ministros foram substituídos, sendo que dois deles por suspeitas de corrupção em suas pastas. A grande imprensa dá destaque, explora os acontecimentos e o público vibra.
De um lado, a atual presidenta, pintada como uma “técnica” competente e quase “apolítica” é incensada. De outro, os políticos em geral, os partidos e quase tudo que diz respeito à própria política é desprezado, quase aviltado.
Não há dúvida de que a imprensa e, sobretudo, a cidadania têm todo o direito de exercer seu poder de fiscalização e seu direito de indignação. Os casos de corrupção devem ser denunciados e apurados e, quando comprovadas as fraudes e os desmandos, punidos os responsáveis.
Não se pode confundir, entretanto, maus políticos e más práticas políticas com os políticos em geral e com a política em sentido amplo. Não bastam técnicos para gerir a sociedade e o Estado. Não bastam conhecimentos específicos, já que os interesses em jogo são diversificados e contraditórios. É por meio do jogo de forças políticas e de forma democrática que se estabelecem prioridades e se definem os objetivos que interessam à maioria.
Ataca a política é atacar a própria possibilidade do entendimento social. É fortalecer o autoritarismo e a violência como formas de resolução de conflitos e de mediação de interesses. Tal postura só serve aos que buscam fazer sobrepor seus objetivos aos dos demais, negando a diversidade dos interesses e a necessidade da negociação. Estes vendem sempre a idéia de que a política e os políticos são desnecessários, já que haveria um conhecimento técnico isento e suficiente para definir as necessidades de todos e o bem estar geral.
Esta é a concepção que parte da imprensa brasileira está se dedicando a difundir no momento. Sob a máscara da moralidade pública, promove enxurradas de denúncias, supervaloriza ações policiais e, sobretudo, cria a sensação de que a atual presidente é uma figura alheia ao mundo da política. Horrorizada com as práticas que grassam no meio político, Dilma Rousseff estaria se dedicando a efetuar uma faxina geral nos ministérios e órgãos públicos, defenestando políticos e isolando partidos.
Com isto, sob a aparência de valorizar a presidente e de prestigiar suas ações, criam-se condições para o seu isolamento político e para a oposição às suas ações. Ninguém governa sem apoio parlamentar, sobretudo em um regime presidencialista como o brasileiro. Dilma terá, sim, que realizar faxinas sistemáticas, sempre que irregularidades forem detectadas. Jamais poderá transformar a devassa, no entanto, em postura permanente de governo.
Cansada da impunidade que grassa há séculos no país, a população se entusiasma com as punições, aposta no endurecimento presidencial e talvez torça, inclusive, pela adoção de posturas que impliquem no total afastamento dos políticos da gestão do Estado. Para muitos, o banimento da política seria o único meio possível para o estabelecimento da moralidade pública. Comportando-se tal como máfias e/ou como mafiosos, muitos partidos e muitos políticos têm justificado tais entendimentos.
Sem menosprezar a política, sem abandonar o diálogo permanente com sua base de apoio e também com a oposição, o governo Dilma precisa demarcar seu espaço e firmar sua identidade. Tornar claro, por atos e procedimentos, como já vem fazendo, que não compactua e não compactuará com falcatruas, mas que também não transige e não transigirá no respeito à democracia e no cumprimento das regras do jogo político.
Tanto deverão ser punidas as práticas de apropriação do Estado por minorias organizadas quanto deverão ser valorizados os políticos e a política como agentes e como espaço de resolução de divergências e de negociação de interesses e necessidades dos diferentes segmentos e setores da sociedade. Sempre que ocorreu, no mundo, a ausência de qualquer um destes elementos, verificou-se a imposição da vontade de uma parcela sobre as demais e o que triunfou foi o autoritarismo.

Os que menos pagam impostos são os que mais reclamam, diz Pochmann na fundação do IJF



O que se arrecada, como se arrecada e como se gasta. Esse foi o tópico abordado por todos os palestrantes e pelas pessoas que se manifestaram no ato de fundação do Instituto Justiça Fiscal, ontem à noite(8/8), no auditório da AJURIS, em Porto Alegre/RS.
O professor Antonio David Cattanir em sua palestra chamou a atenção para a importância da criação desse instrumento que ora se coloca à disposição da sociedade. Segundo ele, o IJF poderá desempenhar um papel crucial na mobilização e na agregação de ideais e esforços até recentemente dispersos e isolados. “As iniciativas de instituições clássicas da democracia representativa como é o caso dos partidos e sindicatos são indispensáveis, mas insuficientes”, salientou ele.
“Novas formas de mobilização cívica se expressam em ongs, associações e movimentos esparsos. A promoção do civismo fiscal não será fácil, mas indispensável para a construção de uma sociedade mais justa e solidária”, concluiu.
Cattani frisou em seu discurso que o Brasil é um país que possui características de um país riquíssimo: geografia favorável, recursos naturais abundantes, população laboriosa com diversificada cultura e honrados valores humanos; por outro lado, segundo ele, o Brasil sempre foi um país paupérimo em termos de justiça, equidade e solidariedade na construção do bem comum. “Em termos coletivos, a sociedade está ordenada em iníquas hierarquias que definem profundas desigualdades socieconômicas”, disse.
Segundo ele, pobreza extrema e riqueza extrema convivem há séculos e tanto a Sociologia como a História e a Ciência Política apontam para a permanência de várias condições desfavoráveis à construção de uma socialmente mais equilibrada.
O presidente do IPEA, Márcio Pochmann, por sua vez, ressaltou a má distribuição da carga tributária: quem ganha dois salários mínimos compromete um deles em tributação.
Segundo ele, os que menos impostos pagam são os que mais reclamam, citando como exemplo o impostômetro que aproveita o desconhecimento da população e é usado justamente a favor dos que menos pagam tributos.
Pochmann chamou a atenção para o fato de que o tema da tributação deve estar presente no programa de combate à miséria e que é necessária uma reorganização do sistema tributário fiscal.
Muitas pessoas, segundo ele, chamam de esmola ações como o bolsa família, por exemplo, mas que essas iniciativas são formas também de devolver um pouco à população que mais compromete sua renda com a tributação.
O Instituto Justiça Fiscal vai enfrentar, segundo ele, o grande desafio do convencimento da realidade em que estamos vivendo. “O IJF pode se transformar num instrumento de aprimoramento da democracia e através do diálogo e do esclarecimento contribuir para a construção de uma sociedade superior”.
No ato de fundação do IJF foi aprovado o Estatuto de criação do Instituto e foi eleito um Conselho Constitutivo e uma Diretoria Executiva provisória, que terá seis meses para convocar a eleição da próxima diretoria.
O presidente eleito, Dão Real Pereira dos Santos disse que “O Instituto Justiça Fiscal se propõe não apenas a discutir e debater as questões relacionadas com o sistema fiscal, mas também promover a articulação com os movimentos sociais para implementação de propostas que apontem no sentido de construir um Estado mais justo e que tenha condições de prover vida digna a todos”.
Participaram do evento, compondo a mesa de abertura, o presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Adão Villaverde, o presidente do Tribunal de Contas do Estado Conselherio Cezar Miola, o diretor da Escola Superior da Magistratura da Ajuris, Dr. Ricardo Pippi Schimdt e o Dr. Claudio Matinewski, representando o presidente da Ajuris. Prestigiaram também o evento de fundação do Instituto, o deputado Raul Pont, diversas lideranças sindicais e representantes de entidades representativas