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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ato de desagravo a Pedro Ruas tem presença de governador do RS


Governador Tarso Genro manifestou apoio a Pedro Ruas: "sempre lutou contra a corrupção" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Igor Natusch no Sul21

O ato de desagravo ao vereador Pedro Ruas (PSol), condenado por calúnia no último dia 4, contou com a presença ilustre do chefe do Executivo Estadual. O governador do RS, Tarso Genro, esteve presente na solenidade desta segunda-feira (11) e ofereceu seu apoio ao parlamentar de Porto Alegre, que sofre processo movido por Carlos Crusius, ex-marido da ex-governadora Yeda Crusius. “Nossa posição não é de discutir a decisão do Poder Judiciário, mas sim de fazer uma manifestação política de apoio a quem sempre lutou contra a corrupção”, disse o governador.
Tarso Genro ofereceu-se para prestar testemunho a favor de Pedro Ruas no recurso extraordinário que o parlamentar pretende levar ao Supremo Tribunal Federal, contestando a decisão do Tribunal de Justiça do RS. “Algumas posições do Judiciário causam grande estranhamento aos que prezam a liberdade de opinião”, acentuou o governador gaúcho. “Queremos deixar pública nossa preocupação com a efetividade dos direitos democráticos”.
Em conversa com o Sul21, logo após o ato, Pedro Ruas admitiu que a presença do governador reforça sua posição na luta contra o mau uso da máquina pública. “Desde o governador Tarso até a Carmen, militante do PSol de Cachoeirinha que mora com sete filhos em uma casinha de madeira, todos vieram participar do que acaba sendo um grande ato contra a corrupção”, comemorou. “Todos estamos juntos nessa luta, porque temos consciência de que a corrupção acaba causando a miséria de muitas pessoas”.
A manifestação, ocorrida no plenário da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, reuniu integrantes de vários partidos. Entre as personalidades políticas presentes, estavam o presidente da Assembleia Legislativa do RS, Adão Villaverde; o presidente estadual do PT, Raul Pont; a deputada estadual Juliana Brizola (PDT); o ex-governador e presidente de honra do PT-RS, Olívio Dutra; o deputado Raul Carrion (PCdoB); a secretária de Administração do RS, Stela Farias; o vereador Airto Ferronato (PSB); e o tradicionalista Nico Fagundes.
Manifestações de Pedro Ruas expressaram "a vontade de milhões", segundo Olívio Dutra | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Olívio Dutra: “povo exige luta contra roubalheira”

Segundo o ex-governador Olívio Dutra, a atitude do vereador Pedro Ruas, que contestou publicamente Carlos Crusius durante programas de televisão, foi um ato “da maior dignidade” e expressou “a vontade de milhões”. “A população nos pede o combate contra a corrupção, a arrogância, a petulância de quem está no poder. Exige que não haja contemporização na luta contra a roubalheira”, discursou, entre aplausos.
“O vereador Pedro Ruas não está sendo acusado de mentir, e sim de difundir a verdade”, reforçou o deputado estadual Raul Carrion (PCdoB), que levou mensagens de apoio da comunista Manuela D’Ávila, que não pôde comparecer ao evento. “A imunidade parlamentar é uma garantia para a democracia. Se dizer a verdade é criminoso, então estamos juntos contigo nesse crime”.
A fala de Raul Carrion faz referência direta às circunstâncias que envolvem a condenação de Pedro Ruas. A guerra na Justiça começou quando, em manifestações transmitidas em debates de televisão, Ruas acusou Carlos Crusius de participação direta em um suposto esquema de desvio de recursos de campanha durante a corrida eleitoral pelo Piratini, em 2006. Processado por difamação, o vereador foi absolvido em primeira instância, com base na sua imunidade parlamentar.
Pedro Ruas: "não me processaram por calúnia porque sabem que eu nunca menti" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A decisão de segunda instância, anunciada na semana passada, entendeu que as manifestações de Pedro Ruas, por dizerem respeito a questão de esfera estadual, iam além dos limites da imunidade parlamentar, estritamente municipal no caso do vereador. Além disso, ao ser transmitida pela televisão, a fala de Ruas teria chegado a todo o RS, indo além da esfera onde a imunidade seria válida. A condenação foi de três meses de prisão, transformadas em multa pelo fato de Pedro Ruas ser réu primário. No entanto, a disposição do vereador é de não pagar nem um centavo desse dinheiro.
“Me processaram por difamação, e não por calúnia”, acentuou Pedro Ruas, lembrando que a difamação independe da veracidade do fato imputado à suposta vítima. “Por que não me processaram por calúnia também? Ora, porque sabem que eu nunca menti”. O vereador jurou, em nome de sua família, que o processo não mudará sua postura de combate à corrupção. “Não vou recuar em nada, nem um milímetro que seja. Se mudar, vai ser para melhor, me tornando ainda mais combativo”, garantiu.
Agora, a decisão sobre o caso vai para o Supremo Tribunal Federal. “O ato de hoje não foi um ato contra o Judiciário”, frisou Pedro Ruas. “Respeito muito essa decisão, muitas vezes tivemos vitórias muito importantes na Justiça. Decisão da justiça a gente aceita, cumpre, mas também recorre quando se sente injustiçado. É o que eu vou fazer. É meu direito, como cidadão, de recorrer desta decisão”.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A crítica para além do voto: ilusões perigosas

Israel Dutra  
Jornal Brasil de FatoAs eleições terminaram com o previsível: venceu Dilma, candidata da situação.  Dentro da esquerda, diferentes posturas nas eleições levarão a diferentes posturas ante o novo governo.
O MST é, sem lugar a dúvidas, um dos principais movimentos sociais no país. Sua combatividade, capacidade de articulação e presença nacional o colocam como um dos principais atores de qualquer mapa político e social. Em suma, o MST é um patrimônio para a esquerda brasileira.  Ao redor do MST, agrupam-se dinâmicos setores: Via campesina, movimentos rurais e comunitários, pastorais ecumênicas e ativistas da esquerda católica, bem como núcleos urbanos e juvenis , intelectuais com ativa participação acadêmica e universitária. O jornal Brasil de Fato é a expressão política da convergência destes setores. O jBF dá unidade política em sua linha editorial. No segundo turno das eleições presidenciais, foi através do jBF que a direção do MST anunciou a sua orientação política.
Neste caso, nossa crítica se direciona ao apoio à Dilma. Não se trata apenas do voto. Sabemos que um voto é tático. Não se questiona o voto Dilma, muitos setores, o fizeram, sem semear ilusões. A decisão do PSOL, aprovada pela  sua executiva, dialogava com esses setores, como se verifica em artigo de Pedro Fuentes, secretário de relações internacionais do PSOL: "A resolução reconhece que os governos de Dilma e Serra terão posturas contrárias aos trabalhadores e ao povo. Por esta razão, Plínio de Arruda Sampaio já declarou que votará nulo, e um grande setor do partido seguirá esse caminho. Mas, também compreende que os candidatos não expressam exatamente a mesma coisa, sobretudo em sua relação com os movimentos de massas. Por isso, levando em conta o diálogo estabelecido pelo PSOL com um setor de massas que ainda acredita em Dilma, foi resolvido o veto a Serra" . Uma coisa é votar. Outra, bem diferente, é depositar confiança no governo eleito.
O mais grave foram os motivos que levaram a esta postura explicitada pelo jBF. Tais motivos, somando-se a forma como se apresentou este apoio militante, geram um precedente complicado, uma sinalização perigosa.
Uma posição grave, que geraria a ruptura de um dos principais articulistas até então deste setor, o jornalista Arbex Jr. Em carta aberta, Arbex fez o seguinte diagnóstico:" A situação agora é qualitativamente nova. O jornal Brasil de Fato transformou-se num planfletão lulista, e isso marca - na minha opinião, obviamente - reflexo de um processo de desmantelamento histórico do MST e de ruptura de uma boa parte da esquerda com sua própria história e princípios éticos. Trata-se de uma debandada tão grande e imunda que permite, entre outras coisas, que lideranças da "esquerda" declarem sem ruborizar o seu apoio ao agronegócio, à aliança com os neocompanheiros José Sarney e Michel Temer e o acobertamento cúmplice e conivente de manobras sórdidas nos corredores palacianos."
A posição  do jBF é sustentada com base a um provérbio chinês. Segundo o Editorial do nº 398 "como ensina a velha sabedoria chinesa, quem não sabe contra quem luta, jamais poderá vencer". Eis a questão. Como enfrentar os desafios do novo governo? Contra quem e pelo que lutamos? Para orientar um roteiro de debate que encare tais problemas candentes, temos que identificar onde está o "núcleo" da posição do MST/Brasil de Fato. Tal postura, que pode acabar como correia de transmissão do Planalto, se sustentava em três pilares : a identificação de Serra com o fascismo, a polarização programática no segundo turno e a possibilidade de um "retrocesso".
Os riscos são altos. Por conta disso, a polêmica se faz mais do que necessária.
Três hipóteses equivocadas
O editorial do jBF apostou suas fichas nas três hipóteses.
Hipótese um: Serra é fascista. Durante todo o segundo turno, o jornal retratou, com alta dose de sensacionalismo, o candidato do PSDB como expressão orgânica do fascismo no Brasil. Chegando a afirmar[  Editorial n° 399] que a campanha de Serra orbitava no eixo da extrema direita, conduzido por "membros do comitê de campanha do candidato da aliança DEM-Tucanos- TFP-CCC-Integralistas-Monarquistas,."  Que Serra é de direita, apoiado em setores conservadores, isso é óbvio. É um exagero, porém, construir um sinal de igual entre o programa, o partido, a trajetória de Serra e a extrema direita. Se Serra fosse fascista, certamente, com 45% dos votos, representaria um perigo de golpe imediato para as instituições. Os "setores populares" deveriam, assim, encabeçar uma campanha para que Dilma pudesse assumir, constitucionalmente, o governo.  Nada mais falso. Utilizando iniciativas pontuais, de setores marginais do conservadorismo, declarações do vice Índio da Costa, o jBF engrossou a fileira dos órgãos lulistas que invertiam a realidade. Serra representa interesses da burguesia, sobretudo paulistana, e da grande mídia. Seu partido é o carro chefe da oposição de direita, mas, passa longe de uma caracterização de fascista. O fato de setores fundamentalistas religiosos e organizações mais à direita votarem Serra não transformam os tucanos num partido fascista. Dilma era apoiada pelo PP, de Bolsonaro e outros resquícios da ditadura. Seria leviano acusá-la de fascista por conta de seu pragmatismo. Levantar o cadáver do fascismo, como forma de promover a campanha Dilma nas camadas mais à esquerda foi um golpe baixo orquestrado pelo petismo, lamentavelmente tendo no jBF sua linha auxiliar.
Hipótese dois: a polarização, no segundo turno, levaria Dilma à esquerda. Segundo este raciocínio, a contragosto da direção do PT, a candidata iria se aproximar de seus "aliados verdadeiros", numa campanha muito mais politizada e "programática". O que se viu no mês de outubro  foi uma realidade distante da paisagem idealista pintada pelos articulistas do jornal. As duas principais pautas do segundo turno foram o aborto e o caso da "Bolinha de papel". Incrível. A grande polarização esperada se resumiu a estes dois elementos. Dilma se apressou em dissociar-se da luta pela descriminalização do aborto, frustrando expectativas em relação à causa feminista. Nem havia ganho a eleição, a primeira mulher presidente já sacrificava uma pauta histórica, que vem recebendo apoio em vários lugares do mundo. Noutro caso de incoerência, Dilma contestou as privatizações tucana s, mas, sequer tocou nas privatizações lulistas. Nenhuma palavra sobre a Vale do Rio Doce e sobre o limite da propriedade agrária, acreditem, as duas principais pautas que os setores referenciados no jBF construíram nos últimos dois anos. A suposta esquerdização de Dilma se esvaiu ao longo do segundo turno.
Hipótese três: no caso de uma vitória tucana, assistiríamos um retrocesso, nas relações com os movimentos sociais e no âmbito da política internacional. Este argumento era  o que, de fato, tinha mais sentido. A política externa brasileira teve méritos nos últimos anos. Contudo,  o discurso de que o Brasil iria mergulhar numa "noite política",  com o novo governo se alinhando diretamente a Colômbia é frágil.  O Chile transitou de um governo social-liberal para um governo conservador e não se verificou grandes sobressaltos. Em relação aos movimentos sociais e criminalização da pobreza, o que dizer dos governos Paes/Cabral com sua política de "choque de ordem".?
Ou ainda, como os camponeses do Pará enxergam o governo Ana Júlia, vanguarda na repressão aos movimentos sociais e populares?
Uma política externa mais independente, operada pelo governo Lula, não pode custar o apoio dos movimentos sociais a um projeto comprometido com o grande capital.
O que se pode esperar do novo governo?
A principal tarefa da esquerda socialista no presente momento é explicar para os milhões que votaram em Dilma com expectativas de melhorias em sua vida, o que pode esperar do novo governo. A propaganda governamental, a novidade de uma mulher assumir a presidência da república leva a uma euforia. O Brasil de Lula, o Brasil de Dilma, da copa de 2014 vai, finalmente, "andar para frente"?
Para responder a esta dúvida, precisamos olhar os aliados e propostas do governo. O bloco PT/PMDB/PSB e aliados governa  15 estados, com ampla maioria nas duas Câmaras. A popularidade de Lula é recorde.  O Brasil, aproveitando da crise econômica mundial, com uma política de expansão de mercados, optou por firmar seu perfil social-liberal. Ou seja, uma visão mais estatista, subordinando países menores da América Latina. Com essa operação, em estreita aliança com construtoras, empreiteiras e outros grandes capitalistas, o Estado brasileiro ajudou a "aquecer" a economia. O maior investimento em assistência social foi utilizado para credencia a imagem de "popular". Este modelo potencializou como nunca o lucro dos bancos, do agronegócio e dos setores produtivos e rentistas do capital. Para o jBF, Serra era o candidato dos "ricos" e Dilma, das "demandas populares". Pensando na agenda do novo governo, concluímos, tragicamente, que tal imagem é falsa. Apesar de celebrar uma derrota da "direita"- o que é verdade, do ponto de vista dos partidos tradicionais da oposição direitista, DEM e PSDB- teremos um receituário amargo.
O governo Dilma terá que lidar com temas como a Terceira reforma da previdência, fator previdenciário, reforma agrária, verbas para a educação pública, descriminalização do aborto, abertura dos arquivos da ditadura militar. Suas primeiras declarações caminham no sentido da continuidade do modelo lulista. Dizemos, este é o governo dos latifundiários, do agronegócio, e do grande capital. É o governo de confiança das confederações industriais, das burocracias sindicais. Este não é nosso governo.
A independência é uma questão central
CUT, UNE, Força Sindical já mostraram de que lado vão estar . Cabe ao MST pensar como se localizar. Quando Lula venceu a eleição de 2002, setores levantaram a consigna de "governo em disputa". Os acontecimentos posteriores, como a votação de reformas anti-povo, alianças pragmática, escândalos de corrupção, expulsão dos radicais do PT, ampliação à direita da coalizão de governo sepultaram esta tese. Será que ela vai reaparecer, mesmo que surrada?
Se Lula, com uma popularidade gigantesca não "ousou" realizar as reformas populares e enfrentar  o "pólo atrasado" do governo, porque Dilma o faria.
O jBF, que apresenta o balanço do segundo turno, segue identificando Dilma e o novo governo como algo mais avançado do que Lula:" A presidenta eleita assegurou, durante a campanha, que a reserva petrolífera do pré-sal pertence ao povo brasileiro e a riqueza gerada será utilizada para erradicar a miséria e em investimentos nas áreas sociais da saúde, educação e saneamento básico.(Editorial  do nº 401)".A melhor forma de acompanhar as expectativas que o movimento de massas tem em Dilma é mantendo a independência das organizações, como sindicatos, associações, diretórios, federações entre outros movimentos sociais.
O dirigente mais importante do MST, João Pedro Stédile afirmou que o próximo governo pode ir mais à esquerda, prolongando a tese da polarização do segundo turno. Stédile, antes cedo que tarde, vai encontrar uma encruzilhada: qual o preço político que está disposto a pagar para sustentar as medidas do governo Dilma?
O jBF  indica uma rota de apoio inicial à Dilma(Ed.401):"A presidenta Dilma Rousseff, cumprindo sua promessa eleitoral, terá uma oportunidade histórica para derrotar esses setores entreguistas das nossas riquezas e assegurar ao povo brasileiro o pagamento de uma dívida social que perdura há cinco séculos."
A questão da unidade
O período de experiência é sempre contraditório. Os tempos em política se encontram e desencontram. O antídoto para os desencontros é a unidade em torno da luta, concreta, sensível, imediata. E é a unidade que devemos propor entre os setores populares. Uma ampla unidade em torno de pontos concretos: por exemplo, existe uma forte pressão da burguesia e do Banco Mundial para a realização de uma nova reforma na previdência. A chamada terceira reforma poderá vir a cortar ainda mais direitos, bem como aumentar a idade mínima para a aposentadoria. Qual a política mais correta para enfrentar este problema?
O que farão os setores vinculados ao jBF, os deputados eleitos com votos nos assentamentos, dirigidos por setores do MST? A esquerda social, os jovens que impulsionam coletivos de apoio a reforma agrária, a vanguarda lutadora?
Para além da abstração, temos exemplos concretos do que está por vir. O exemplo da França, lutando contra a reforma previdenciária deve ser uma referência, independente do partido que governa. A classe trabalhadora francesa, em unidade com a juventude, está nos dando inúmeras lições.
Outros temas concretos vão levar a choques com o governo: a postura em relação ao agronegócio, a polêmica sobre a Usina de Belo Monte, o desmatamento da Amazônia.
De nossa parte, com modéstia, fazemos um chamado à unir forças na oposição de esquerda, ainda minoritária, mas com espaço para crescimento. Os eleitores de Marina Silva, das candidaturas da esquerda, mesmo aqueles que votaram em Dilma com toda desconfiança. São esses setores que podem vir a compor um bloco alternativo, na política e  na sociedade brasileira. Este desafio é do PSOL e do conjunto da esquerda. Não sucumbir. As pressões serão enormes. Nossas responsabilidades também. Para concluir no terreno do orientalismo, resgatado pelos camaradas do MST/Brasil de Fato podemos recordar outro provérbio chinês: "Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida."

Israel Dutra é professor de sociologia e membro do Diretório Nacional do PSOL

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Oito gaúchos estão cotados para compor o ministério de Dilma


Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Felipe Prestes no Sul21

A presidente eleita Dilma Rousseff (PT) promete anunciar a composição de seu ministério até o dia 15 de dezembro. Nesta semana, a petista começa a montar, junto com a equipe de transição, o quebra-cabeça que envolve os pleitos de cada partido da base aliada e os critérios técnicos para a escolha dos nomes. Oito gaúchos estão cotados para compor o primeiro escalão. Três deles fazem parte do governo Lula e podem permanecer: o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, o presidente da Petrobras Biocombustíveis, Miguel Rossetto, ambos do PT; e o ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB).
Também circulam nos bastidores os nomes dos deputados federais Mendes Ribeiro Filho (PMDB), Maria do Rosário (PT), Manuela D’Ávila (PCdoB) e do ex-governador Olívio Dutra (PT). Os quatro negam estarem pleiteando o posto de ministro. O deputado federal Beto Albuquerque (PSB) vai na direção oposta: garante que está lutando por um lugar no ministério.
Convidado por Tarso Genro para ocupar a Secretaria de Infraestrutura do RS, o socialista afirma que, ainda antes do convite, já pleiteava um ministério em um provável governo Dilma. Ele esclarece também que vai buscar este espaço dentro das instâncias partidárias do PSB, não em interlocução direta com integrantes da transição. “Quando o Tarso me convidou para compor o governo estadual eu lhe manifestei que disputaria o espaço nacional que coubesse ao PSB”, diz Beto Albuquerque.
O deputado federal reeleito afirma que a possibilidade de participar do governo não fica restrita às áreas de infraestrutura e transportes (Beto já foi secretário dos Transportes no governo Olívio, sendo inclusive colega de Dilma Rousseff, que era secretária de Minas e Energia). Ele aponta como prováveis “concorrentes” dentro do PSB o presidente do PSB paulista Márcio França e o ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes, que participou com sucesso da coordenação de campanha de Dilma.
Divulgação
Foto: Divulgação

As perspectivas para Beto Albuquerque são boas, porque o PSB, que hoje ocupa dois cargos de primeiro escalão – a Secretaria Especial dos Portos e o Ministério de Ciência e Tecnologia – saiu fortalecido da última eleição. Em 2011, será o partido da base aliada com mais governadores. O PSB também aumentou sua bancada no Congresso. “Há imposição pelo resultado das urnas de que o PSB aumente seu espaço no governo”, diz Beto Albuquerque. “O PSB ganha peso político após a última eleição”, concorda o petista João Motta, futuro secretário de Planejamento do Governo Tarso.
Beto ressalta, contudo, que o PSB não teve qualquer conversa oficial com Dilma Rousseff. Não houve, portanto, uma definição sobre quantos e quais ministérios o partido deve ocupar. Além disso, acredita que os nomes indicados pelo PSB também dependerão de uma anuência da presidente eleita. “Depende da presidente, da disposição dela”.

Indefinições

Dilma Rousseff começou apenas nesta semana a definir os critérios para a escolha dos ministros. “Dilma tomou conhecimento de tudo ontem (16). O Dutra, que estava comandando a transição passou para ela. Eles devem estar montando o quebra-cabeça hoje (17)”, diz o prefeito de São Leopoldo Ary Vanazzi, que participou da coordenação de campanha de Dilma no estado.
O próprio PT ainda não definiu quem indicará para o governo e que espaço pretende ocupar no primeiro escalão, discussão que será realizada nesta quinta-feira (18), em reunião da Executiva nacional. O presidente nacional do partido, José Eduardo Dutra, deve esclarecer aos membros da Executiva do PT quais os critérios definidos pela transição para a composição do governo.
No Rio Grande do Sul, o PT também não tem nenhuma definição sobre indicações que poderá fazer ao futuro governo federal. O presidente estadual do partido Raul Pont explica que haverá uma reunião da Executiva estadual partido na segunda-feira (22) na qual o partido pode decidir por indicar nomes que achar adequados para ocupar ministérios e também cargos do governo federal no RS.
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Maria do Rosário/ Divulgação

Por ora, petistas acreditam na permanência de Guilherme Cassel e Miguel Rossetto, e também lembram o nome da deputada federal Maria do Rosário, que poderia ocupar a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Raul Pont, que faz parte da mesma corrente interna que Cassel (a Democracia Socialista), afirma que o ministro do Desenvolvimento Agrário tem manifestado interesse em deixar o ministério, mas, contraditoriamente, crê que Cassel pode permanecer no MDA. “Ele tem dito que não tem interesse em continuar, mas acredito que, se houver o convite para permanecer, ele pode aceitar”.

Sem pretensão por cargos

Correntes do PT já se articulam para que o ministério seja ocupado por Olívio Dutra, se Cassel deixar o cargo. O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, afirma que “tem um grupo do PT que o está bancando para o lugar do Cassel”. Coincidência ou não, Vanazzi faz parte da mesma corrente de Olívio Dutra, a Articulação de Esquerda.
Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

O ex-governador, por sua vez, garante que não luta para ser ministro. Olívio Dutra diz que apenas viu na imprensa que seu nome circulava como possível ministro e que não autorizou ninguém a postular a ocupação deste posto. Também garante que conversas sobre ocupação de ministérios não estão na sua agenda. “Não autorizei ninguém a fazer qualquer postulação em meu nome. Não pleiteio ser ministro e não tenho tido conversas sobre esse assunto. Apenas vi na imprensa”.
Maria do Rosário, por sua vez, demonstra certo constrangimento em falar sobre a possível indicação para o cargo de ministro. A parlamentar aparenta preocupação em mostrar que não está querendo forçar a barra para fazer parte do primeiro escalão de governo, mas também demonstra o desejo de estar em um ministério: “Estas coisas quanto mais a gente fala, menores são as chances de acontecer”, diz.
Rosário garante que não tem a pretensão de ser ministra, mas que aceitaria fazer parte do governo caso convidada. “Se me convidarem eu vou, mas se não continuarei lutando para defender o governo”, ressalta. Ela lembra que é natural cogitarem seu nome, porque tem sido veiculada a notícia de que Dilma deverá aumentar a participação feminina na Esplanada dos Ministérios, mas garante que “não há nada de objetivo” em torno de sua participação. A deputada atribui a circulação de seu nome à generosidade de correligionários. “Alguns generosos amigos e companheiros lembram do meu nome”.

Nada de oficial

O nome do deputado federal Mendes Ribeiro Filho (PMDB) está altamente cotado para ocupar um ministério. Mendes bateu pé com a maior parte das lideranças de seu partido no estado e comandou com afinco a campanha pró-Dilma entre peemedebistas gaúchos. O parlamentar tem boa relação com o vice-presidente eleito Michel Temer.
Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

A favor de Mendes também pesa o fato de que o deputado federal Eliseu Padilha ficou como primeiro suplente para 2011 e depende do ingresso de Mendes em um ministério para que Padilha permaneça no Congresso. Padilha tem bom trânsito com o PMDB nacional, com Temer e com os senadores José Sarney e Renan Calheiros. O parlamentar tem trabalhado para que se concretize a indicação de Mendes.
Uma pessoa próxima a Temer confirma que o nome de Mendes Ribeiro Filho tem sido citado em conversas da cúpula peemedebista e é considerado qualificado para compor o ministério. Ressalta, contudo, que o PMDB ainda não definiu indicação de nomes. Explica também que o PMDB ainda não conversou sobre que pasta Mendes poderia ocupar, porque isso dependerá da sinalização da presidente Dilma Rousseff, indicando quais pastas poderão ser ocupadas pelo partido.
Mendes Ribeiro Filho reconhece que seu nome tem sido “muito falado”. “Pessoas comentam, os colegas de bancada comentam. Isto muito me honra”. Mas ressalva que não tem trabalhado para ocupar cargo de ministro. “Eu apenas ouço”, garante. O deputado evita falar sobre que pasta poderia ocupar. “Não posso falar sobre o que não existe”.
O colega de partido de Mendes, Nelson Jobim é um dos ministros mais cotados para permanecer. Seu nome é defendido inclusive pelo presidente Lula e a pasta da Defesa não desperta grande cobiça dos partidos aliados.

Esporte difícil

Outro nome especulado é o da deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B) reeleita com mais de 480 mil votos. Diz-se que a comunista poderia chefiar o Ministério do Esporte, que já é comandado por um colega de partido de Manuela, Orlando Silva. A favor de Manuela, além da expressiva votação, pesa o fato de ser coordenadora da Frente Parlamentar do Esporte.
Entretanto, a intenção do PCdoB é manter Orlando Silva no ministério. A pasta tem ganhado cada vez mais visibilidade com a proximidade da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Não é interesse do partido mexer em time que está ganhando. O nome de Manuela deve ganhar força se o PCdoB conseguir mais uma pasta no futuro governo.
Bruno Alencastro/Sul21
Um assessor de Manuela diz que a possibilidade de ela ser ministra é mera especulação. Garante que ela não recebeu convite ou sondagens nem do governo nem do PCdoB. E diz que a própria parlamentar deseja que o Ministério do Esporte permaneça sendo comandado pelo colega de partido Orlando Silva.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A vitória de Dilma Rousseff: uma crítica abaixo e por esquerda

Escrito por Bruno Lima Rocha no Correio da Cidadania  
 
No momento em que escrevo estas palavras, a economista Dilma Rousseff (PT) está matematicamente eleita como primeira mulher presidente do Brasil. A derrota da dobradinha "clássica" PSDB-DEM, José Serra e Índio da Costa, demonstra um novo arranjo político e de parcelas do poder no Brasil. Mas, a eleição da ex-ministra em chefe da Casa Civil não significa necessariamente um avanço por esquerda, longe disso. A coligação de dez legendas, tendo ao deputado federal pelo PMDB quercista de São Paulo Michel Temer como vice, representa por si só a ampla margem de negociação e desistência de perspectivas históricas do reformismo radical dos anos 80. E agora?
 
Para além do óbvio, analisando a vitoriosa composição de aliança política e de classes
 
O pensamento socializante brasileiro tem algumas constatações relevantes, para as quais aporto meu grão de areia nesta reflexão. Temos duas novidades neste pleito, duas dentre várias. Elegeu-se uma ex-guerrilheira e mulher (estando separada em sua vida conjugal) para chefiar o Poder Executivo da 5ª economia do mundo e o país líder latino-americano do G-20. Não é coisa de pouca monta. Ou não seria. Esta mesma operadora política, com grande capacidade de execução de agenda, viu-se obrigada (ou se obrigou dado o volume de compromissos) a abandonar temas de convicção consensual no que resta das esquerdas com perfil militante no Brasil. Em termos de reivindicação imediata, o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, peça esta que Lula não assinara, traçaria um senso comum daqueles que entendem – ainda que por dentro do aparelho de Estado - como prioridade a divisão de recursos e de poder. Pois bem, esta mesma peça consensual e imediata, foi refutada, negada, afastada, retirada de pauta, por parte da candidata. Na ponta do problema, o tema do aborto, entrando pela porta dos fundos através dos factóides políticos e dos poderes de veto do obscurantismo nacional.
 
Não ficou por aí. A aliança da legenda de Luiz Inácio teve a "sabedoria" eleitoral de costurar com aqueles que serviram, em sua própria iniciação da vida política, de objeto de ódio na figura do inimigo visível. Sei que é chato, mas é inevitável lembrar o apoio dos oligarcas como Sarney, Jucá, Calheiros, Geddel & Cia ou o reforço de opinião de operadores pró-ditadura como o ex-ministro Delfim Netto ou o ex-reitor da Universidade Mackenzie do CCC, Cláudio Lembo; de agentes econômicos como os líderes do mercado financeiro, materializado nos bancos (FEBRABAN), na indústria automobilística (ANFAVEA), das transnacionais e mega-conglomerados nacionais de telecomunicações (SINDITELEBRASIL) capitaneados no Brasil pela Telefônica de Espanha e na fusão absurda que dera na BROi e após na compra de uma parte da nova super-empresa por parte da Portugal Telecom (PT). Não parou por aí.
 
Na mídia, frente de batalha prioritária no embate político-eleitoral, abriu-se uma cunha entre os líderes do oligopólio nacional das comunicações. Se por um lado as famílias, Marinho (Globo), Mesquita (Estado de SP), Frias (Folha de SP) e Civitta (Abril-Naspers), de outro, grupos do porte da Rede Record, do portal Terra (Telefônica de Espanha), da estirpe da Carta Capital, no alinhamento recente do Grupo Três (Alzogaray, cujo veículo líder é a revista Istoé) e na posição rachada do empresariado dos radiodifusores entre a ABERT (liderada pela Globo), e a ABRA (liderada pela Rede Bandeirantes, da família Saad). Ressalto este aspecto, pois a luta política migrara para o espaço midiático (que de público pouco ou nada tem) e a coligação governista sabiamente (espertamente, pragmaticamente) optou pela solução Getúlio Vargas encontrando o seu – no caso, os seus – Samuel Weiner. Poderíamos seguir narrando as composições com agentes econômicos líderes dos respectivos oligopólios do capitalismo operando e existente no Brasil, mas basta com ressaltar o perfil agro-exportador do Brasil e a relação mais que promíscua entre o Ministério da Agricultura e o latifúndio.
 
Para além do sectarismo, porque estamos piores organizados?
 
O que me assusta é o lado de cá do balcão. Lula deixa o poder conseguindo uma proeza paradoxal. Seria leviano dizer que os brasileiros e brasileiras vivem em condições piores do que a oito anos atrás. Não seria correto. Ao mesmo tempo, seria tão ou mais leviano afirmar que as forças sociais, muitas delas ainda tributárias do mesmo processo de reivindicações e protagonismo de luta popular dos anos 80, a mesma matriz do PT e seu líder histórico, estão mais organizadas. Nossas entidades e movimentos populares estão piores organizados, mobilizam menos, milita-se menos, há um distanciamento muito maior entre dirigentes e bases, não têm uma entidade que seja transversal para os movimentos (como uma central ou confederação sindical mais à esquerda e livre das práticas do viciado aparelhismo e disputa sectária de correntes) e o próprio MST perde sua capacidade de liderança da luta popular uma vez que se esvai em posições tênues, abrandadas, e terminando por ir a reboque da União e do melhorismo. Para quem julga ser isto exagero deste analista, sugiro que leiam os embates na interna do jornal Brasil de Fato ou simplesmente converse com a militância detentora de algum nível de responsabilidade.
 
Eleitoralmente, e esta não é a opção militante deste que escreve, os índices foram pífios. PSOL, PSTU, PCO e PCB não são a mesma coisa, tem diferenças de origens políticas (ressaltando-se este último) e tampouco representam alguma forma de consenso da esquerda que ainda crê na via eleitoral. Seus resultados sequer passam de 1% das intenções de voto e o escrutínio não veio acompanhado de um avançar de lutas sociais a ser galvanizada através da participação nas regras da democracia de tipo liberal e representativo. É difícil crescer eleitoralmente em conjunturas de pouca ou nenhuma mobilização e onde a tensão social está ausente da política.
 
Já da parte das organizações políticas que não optam pela via eleitoral por dentro do sistema – sendo esta a opção deste analista - o que se vê é uma grande chance de crescimento qualitativo, desde que seja explícito um projeto político para o curtíssimo e curto prazos (2 e 4 anos, respectivamente). Será necessária uma maturidade de outro tipo, quando as minorias ativas têm de compreender que a sensação popular é que suas vidas melhoraram, e ao mesmo tempo, os projetos de poder de transformação profunda estão mais distantes do que estavam no final dos anos ‘80 e, como um todo, o movimento popular brasileiro está muito mais confuso do que estava na segunda metade dos anos ’90, em pleno auge do neoliberalismo e da Era FHC.
 
Trata-se de um paradoxo de difícil compreensão para quem tem pressa – e é difícil fazer política apressadamente. De um lado a massificação reivindicativa se complica, uma vez que a sociedade como um todo (incluindo os setores de classe tradicionalmente organizados) está mais desorganizada, fragmentada e dispersa. De outro, o romper com as práticas viciadas e o manifestar de uma cultura política distinta pode e vem atraindo significativamente militantes com trajetória ilibada e que não concordam com as vias do legalismo-reformista (como a ilusão de fazer política radical através do Judiciário e do Ministério Público) e menos ainda com o compartilhamento de postos de poder tanto com inimigos históricos (como a leva de Arenistas presentes nos oito anos de Lula) e menos ainda com o espaço enorme dado e garantido a setores pelegos oriundos do sistema corporativo (como a Força Sindical, a CGTB e a recalcitrante UGT). O racha sindical que leva a construir a CTB é declaradamente uma peleia por recursos derivados da legalização das centrais sindicais e reflete também uma aproximação – em função de clivagem eleitoral – de PC do B e PSB. Romper com estas práticas é algo muito factível. A luta sindical abre um oceano de perspectivas de crescimento com qualidade da militância recrutada e é possível fazer desta uma via que dê oxigênio para as agrupações mais à esquerda e programaticamente distantes das urnas.
 
Apontando conclusões
 
É duro admitir que a guerrilheira que caiu de pé e não cantou sob tortura, resistindo com dignidade aos suplícios da Operação Bandeirantes e da estrutura do DOI-CODI do II Exército em São Paulo, não representa sequer um projeto reformista. É mais duro ainda admitir que esta mesma pessoa, uma mulher, representa de por si uma quebra de paradigma. E, por fim, o mais duro de tudo é perceber a forma como se governou nos últimos oito anos e quanto esta prática política está distante da tensão social necessária para aumentar os níveis de organização popular para poder, de fato, acumular forças rumo a um câmbio profundo. Lula tem mais de 80% de aprovação e isto não implica (e nem poderia implicar) uma guinada à esquerda do povo brasileiro. Repito, é hora de refletir e buscar a consistência através de um crescimento qualitativo, rompendo com a cultura política viciada e dirigista.
 
Entender este momento e fazer política para ele é uma atitude construtiva. É diferente de afirmar que o melhorismo da coligação de centro-esquerda é idêntico à histeria de tipo udenista da coligação de centro-direita. Afirmar isso seria leviano e absurdo. Os projetos que chegaram ao segundo turno não são idênticos. Mas, mesmo que através de Dilma as políticas sociais permaneçam, é preciso ter a firmeza e a maturidade para assumir que há governos de turno que melhoram a vida das maiorias e não constroem projetos de poder para estas mesmas maiorias serem donas de seus destinos. Este é o caso brasileiro e continuará sendo nos próximos quatro anos.
 
Se o objetivo determina o método segundo as condicionalidades, os sessenta dias restantes do ano servem para gerar a reflexão necessária a respeito das condições de existência e expansão da proposta que visa organizar desde abaixo, acumulando forças – através da luta popular em sua forma direta - no sentido da radicalização da democracia através de sua forma direta e participativa, socializando recursos e poder entre as maiorias. Há muito trabalho pela frente.
 
Bruno Lima Rocha é doutor e mestre em Ciência Política pela UFRGS e jornalista graduado na UFRJ; é docente de comunicação social e pesquisador 1 da Unisinos, vinculado ao Grupo Cepos/PPG Com; concentra seus trabalhos analíticos no portal Estratégia & Análise, do qual é o editor.
 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Não é o que parece

Em um primeiro momento a vitória de Dilma pode parecer acachapante, considerando-se, inclusive, que é a terceira seguida da coligação do PT sobre a do PSDB em três eleições presidenciais. Pode parecer, ainda, que o Lulismo, em seu auge, desarticula o PSDB e o deixa em condições debilitadas para sequer ameaçar a maioria governamental no Congresso. O pragmatismo submeteu a discussão política a um segundo plano e os gênios da comunicação foram bem sucedidos ao embalar o produto de acordo com a avidez do consumidor em continuar com a festa do crescimento.
Embora tenhamos que reconhecer os méritos de Lula e a perseverança de Dilma, o quadro político que se revela no pós-eleição não é tão róseo quanto possa parecer.
Dilma é eleita com um pouco mais de 41% dos votos totais e somando-se abstenções, votos brancos e nulos temos quase 27% de eleitores que, não se entusiasmando com as opções, viraram as costas para os postulantes. Somando-se este contingente aos eleitores de Serra, temos a segunda e óbvia conclusão: Dilma foi eleita por uma minoria de eleitores. Lula, do alto de seus 83% de aprovação, só conseguiu transferir 50% de sua popularidade a sua pupila, agora presidente eleita.
Não digo isso para minimizar o extraordinário feito de Dilma que, do quase anonimato, tornou-se a primeira mulher eleita presidente do Brasil, o que não é pouca coisa. Digo porque a intenção afirmada em seu primeiro discurso pós resultado das urnas, é e precisa ser levado a sério. Quando diz que estenderá as mãos àqueles que não caminharam com ela, longe de ser um gesto generoso, é um gesto necessário e fundamental para a sobrevivência deste novo futuro governo.
Não são poucas as equações politicas a serem resolvidas. A oposição à presidente eleita liderará os estados com os maiores colégios eleitorais do pais, com mais de 52% dos eleitores. O “corredor oposicionista” vai de Santa Catarina ao Pará, presente nos Estados mais cosmopolitas ( com excessão do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro) com maior população urbana e com intensa atividade agrícola e industrial. Embora com ampla maioria no Congresso, a gestão federativa não apresenta o mesmo conforto que as casas legislativas prometem. Prometem?
Aí vem o outro desafio: até onde vai a coligação liderada pelo PT nessas eleições?
O PMDB caracteriza-se como a fina flor do fisiologismo. Sempre foi governo não importando a coloração partidária do representante máximo da nação. No entanto, dessa vez, teve um importantíssimo papel para que os resultados apurados nas urnas fossem tão favoráveis à Dilma. A obediência quase cerimonial dos seus líderes às vontades do presidente e, claro, vice-versa, apontam agora uma expectativa muito além do discreto e palaciano conchavo. A expectativa do PMDB é a de dividir o governo em igualdade de condições e não deixará de explicitar a contabilidade acima para pressionar o governo Dilma pelo maior número de cargos-chave possíveis. O atual vice-presidente eleito já declarou que seus apaniguados estão cheios de “vontade de colaborar” e que ela não deve ser relativizada. Agora, não deixa de ser ironico que o PT, no auge de sua performance, passe a dever ao que há de pior na politica fisiológica o sucesso de seu futuro governo. Ora, são as armadilhas mortais que a lógica eleitoral impõe ( impõe?). A fraternidade exibida na campanha poderá adquirir nuances fraticídas no exercício do poder. Não dá para se esquecer dos recorrentes episódios envolvendo e originados nos Correios, não é mesmo?
Outro ponto cantado em prosa e verso e que em breve poderá, inclusive, habitar o que há de melhor na literatura de cordel, é o papel do Lula em um próximo governo. Lula é uma destas lideranças raras que não precisa de institucionalidades para se afirmar. Onde ele estiver, da sacada de seu apartamento em São Bernardo aos salões áulicos de Brasília, Lula sempre carregará o mistério dos oráculos. Persistirá a expectativa nacional de perscrutar através de seus olhos as sendas que nos levarão ao futuro promissor. Será ele o discreto e sábio conselheiro que tornará Dilma uma ponderada, eficiente e estratégica liderança? Ou Dilma, no ofício de construir pontes para viabilizar seu governo encontrará nele seu principal desarticulador? Não, é claro, pela falta da persistente dedicação que continuará a conferir à sua criatura, mas pela dificuldade de transferir o intransferível e tomar para sí o que não lhe cabe mais. Se assim fizer, a discípula do maior mestre politico que a democracia brasileira jamais produziu, acabará por se constituir em um arremedo a assombrar-se pelos salões do Planalto, frente a frente com os fantasmas da incompetência politica.
Assim, com uma votação que expressa menos da metade da vontade nacional; com uma oposição desarticulada nacionalmente mas fortemente entrincheirada nos estados; com uma coligação eleitoral que mal disfarça a ansiedade frente a partilha do botim; com a sombra persistente do carisma mítico e legendária de Lula, Dilma inicia sua caminhada rumo ao exercício da presidência. Este que será, provavelmente, o último mandato da geração de lideranças forjadas na luta contra a ditadura e que, embora artífices da redemocratização, ainda não conseguiram nos conduzir à modernidade democrática à altura das necessidades que o Brasil exige neste séc. XXI.
Desejo muita luz à nossa presidente eleita Dilma. Mas desejo ainda, mais fervorosamente, que o discurso proferido após a vitória, guie seus atos, fortaleça suas ações e que ela se torne, orgulhosamente, a primeira presidente mulher de todos os brasileiros.

Ricardo Young

Ricardo Young é empresário, graduado em Administração de Empresas pela FGV, presidente do Conselho Deliberativo do Yázigi Internexus; foi presidente da Associação Brasileira de Franquias (ABF). Foi presidente do Instituto Ethos; conselheiro das organizações Global Reporting Initiative (GRI) em Amsterdam, Holanda, Accountability, em Londres (Inglaterra) e Grupo de Zurich (Suiça).

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os derrotados da eleição

A guerra acabou. Dilma Rousseff é presidente do Brasil. Para chegar até aqui, teve que enfrentar uma das batalhas mais violentas da história da República. E venceu.
Derrotou não só seu adversário, José Serra, mas também um exército implacável, cruel e muito poderoso: os principais grupos de comunicação do país. Estes são os grandes derrotados nesse dia de glória para a democracia.
Os milhões de votos recebidos pela candidata petista são a prova gigantesca de que os brasileiros nunca mais se deixarão ser manipulados. Nem permitirão ser tratados como gente ignorante. O povo, definitivamente, não é bobo.
Durante meses, houve um bombardeio incessante de manchetes, chamadas, apelos, boatos e factoides. Um massacre impiedoso, orquestrado. Em fiapos de verdade, urdiram uma rede de mentiras e preconceitos.
Não bastou ser atacada durante o horário eleitoral gratuito. Isso faz parte do jogo. Infame foi ser fustigada diariamente pela propaganda política voluntária dos barões da mídia.
Dilma Rousseff e milhões de brasileiros enfrentaram o maior jornal do país, a Folha de S.Paulo. E a maior emissora de TV, a Globo. A revista de maior tiragem, a Veja. Nessa tropa de choque incansável também perfilam os jornais O Estado de S.Paulo e O Globo. Turma da pesada.
Nos próximos dias, sempre às 10h e às 16h, vamos usar este espaço para detalhar a forma como esses derrotados agiram do alto de seus palanques. Como pisotearam a liberdade de imprensa.
Cada um com seus soldados. Ou capangas. Tanto poder para quê? Tanta arrogância, fulminada pela força das urnas. Os que escrevem e entrevistam e ditam editoriais ficaram mudos. Quem manda, senhores do universo, é quem lê, quem ouve, quem vê. Os vitoriosos. Deste Brasil.

 Marco Antonio Araújo

domingo, 31 de outubro de 2010

HOJE É O DIA!!!



VOTE COM ORGULHO

Hoje, a esperança progressista de todo o mundo dirige seu olhar para o Brasil. Dois projetos de futuro confrontam-se aqui numa síntese dos antagonismos históricos realçados pela crise econômica mundial. Trata-se de decidir a quem pertence o destino da sociedade e do desenvolvimento no século XXI: ao escrutínio da cidadania organizada e ativa –que não restringe sua participação ao momento do voto-- ou à supremacia das finanças desreguladas, cujos impulsos irracionais, mais uma vez evidenciados nesta crise, esfarelam ciclicamente não apenas a riqueza fictícia, mas os direitos que sustentam a convivência compartilhada e, cada vez mais, os recursos que formam as bases da vida na Terra. A América Latina representa hoje a fronteira do mundo onde o embate entre essas duas lógicas evolui de forma cada vez mais nítida e veloz a favor das forças populares. A eleição brasileira representa sem dúvida o grande guarda-chuva político que influenciará decisivasmente o passo seguinte da história regional . As diferentes concepções de desenvolvimento e de estratégia internacional ficaram claramente demarcadas ao longo da campanha que desemboca agora na urna eletrônica. Por isso, hoje, vote 13, vote com orgulho, vote pelo Brasil. Mas também pelo futuro de uma América Latina mais justa e solidária.

O QUE ESTÁ EM JOGO HOJE NAS URNAS?

O aborto ou os 70 bilhões de barris do pré-sal; uns seis trilhões de dólares; o maior impulso industrializante do país desde Vargas? Quais valores estão em jogo, esses, confirmados hoje nos 15 bilhões de barris, só no poço de Libra, ou os da água benta falsa de Serra? Se prevalecer o modelo tucano de exploração, o pré-sal vira remessa de lucros e exportação de óleo bruto nas mãos das petroleiras internacionais. Perde-se seu efeito multiplicador numa cadeia de suprimento industrial da ordem de 55 mil itens, desde plataformas e navios, a válvulas, aço e parafusos. Porém mais que isso, perder-se-ia a chance histórica deste país eliminar a miséria e abrir uma avenida de ampla convergência de oportunidades e direitos para as gerações do presente e do futuro. Qual é a discussão mais relevante? É essa, por isso não sai no Jornal.
(Carta Maior; 31-10)

O dia decisivo. E a paz do dever cumprido



Brizola Neto no TIJOLACO

Chegamos ao dia decisivo.
Foram meses que ensinaram muito a todos nós.
Creio que o primeiro ensinamento foi algo que todos partilhamos: do mais humilde dos brasileiros ao próprio presidente Lula.
O de que não existe caminho para justiça social no Brasil que não passe pelo desenvolvimento econômico e pela afirmação de nossa soberania como nação.
Acho que todos entendemos que, reescrevendo a frase que ficou famosa nos tempos do “milagre econômico” da ditadura, o bolo só cresce se for mais bem dividido e só é mais bem dividido quando cresce.
Progresso econômico e progresso social são duas faces inseparáveis de um Brasil que quer e precisa crescer.
De fato, basta examinar todos os indicadores econômicos e sociais para que se veja que o governo Lula disparou em realizações e em popularidade no seu segundo mandato, ao assumir claramente sua natureza nacional e popular, deixando à beira do caminho aqueles que defendiam, embora com menos ferocidade, as mesmas regras neoliberais que marcaram o governo FHC.
Numa palavra, foi finalmente o governo Lula quem retomou a linha de afirmação nacional, econômica e social que marcou a vida brasileira nas décadas de 30, 40, 50 e até mesmo na década de 60, pois o progresso desse país tinha uma força inercial que nem mesmo a ditadura militar, embora com seus componentes entreguistas, conseguiu romper de imediato.
A década final do regime autoritário, marcada pela estagnação,  foi sucedida primeiro pela nulidade de Sarney, o energúmeno, e depois, pelo neoliberalismo privatista se afirmou com a nova ditadura: a do pensamento único.
Em 1995, com Fernando Henrique Cardoso, o viés subalterno que passou a comandar a vida brasileiro sentiu-se seguro ao ponto de rasgar o véu da hipocrisia e declarar que sua missão era sepultar definitivamente o que chamaram de Era Vargas, significando com isso o seu desejo de alienar todas as riquezas desta nação e conformar o Brasil a uma condição colonial.
Mas manter o Brasil como colônia, embora o venham conseguindo há cinco séculos, é algo que não se consegue se há liberdade.
Um grande e maravilhoso país, com um grande e generosa população só pode ser pequeno se nos aceitarmos assim, se nos desprezarmos como povo e como nação. Se vivermos na tristeza e no silêncio.
Foi por isso que suprimiram a liberdade em 64. Foi por isso que a deformaram, com o poder midiático, na eleição de Collor e, depois, com a ideia de que a história dos conflitos pela afirmação das nações era passado e a globalização e o mercado eram fenômenos divinos e invencíveis.
Daí nos vem o segundo ensinamento: se a liberdade de imprensa sempre foi uma ferramenta da rebeldia generosa e da decência humana, o direito à comunicação, que a engloba, é ainda maior: é o fundamento da liberdade e da democracia.
Controlá-lo, desde os tempos em que os livros dependiam do imprimatur dos senhores dos feudos terrestres e celestiais, sempre foi a chave do poder.
É verdade que os meios tecnológicos, pouco a pouco, foram eliminando estes “privilégios de impressão”, culminando nesta maravilhosa ferramenta que é a internet.
Mas um a um, o poder sempre procurou se apoderar deles e desvirtuar o seu sentido libertário, fazendo dele não apenas o que deve também ser, diversão e entretenimento, mas diversionismo e entorpecimento.
E, sejamos realistas, os espaços que abrimos aqui, na internet, ainda são pequenos e pouco significativos perto das estruturas de manipulação e mentira que dominam e que, também aqui, conseguem montar.
Um governo popular, no Brasil, tem de encarar a democratização da comunicação como a espinha dorsal de sua sobrevivência política.
Porque os inimigos de um Brasil popular contam com quase toda a comunicação, com suas máquinas de produzir mentiras, de distorcer verdades e de deformar consciências.
Outro dia, num evento na Carta Capital exortou os políticos a não terem medo da grande imprensa.
Concordo com ele, mas é preciso que o Governo também não a tema, como vem sendo tristemente verdadeiro há décadas.
Procurei praticar aqui, tanto quanto pude, este conselho.
Este pequeno espaço, que começamos a abrir há menos de um ano e meio, modestamente, procurou não ter este medo, nem viver em função de vantagens, poder ou sucesso eleitoral.Nunca, apesar dos conselhos para que o fizesse, deixei de lado as grandes lutas para cair no terreno estéril e falso da promessa, da cooptação, da formação de grupos de interesse.
Hoje, no dia em que se encerra uma etapa importante da luta histórica de nosso povo, o corpo está extenuado, mas a consciência serena.
Este mês, 1,2 milhão de acessos ao Tijolaço e , sobretudo, os mais de 15 mil comentários postados desde 1º de outubro mostram que este se tornou um lugar de encontro, para dividir ideias, angústias, revoltas e paixões.
Para dividirmos o que somos de verdade, pois é o que somos de verdade o melhor que podemos dar uns aos outros.
A minha gratidão a todos os que colaboraram neste processo, lendo, criticando, sugerindo, me dando até uns “foras” de vez em quando.
Carregar este sobrenome e escrever sob um título que identifica a luta de um grande homem é um enorme peso para alguém tão pequeno.
Mas se cada um de nós, nas nossas pequenas forças, pudermos, cada um, conduzir um grão de areia, é certo que juntos podemos fazer uma montanha.
A minha gratidão e reconhecimento a todos, e que o destino sorria a este povo tão sofrido.
Viva o povo brasileiro, razão de ser do Brasil!
PS. Em cumprimento da legislação eleitoral, não farei postagens mencionando candidatos  hoje, dia das aleições, até o fechamento das urnas. A tela de Di Cavalcanti que encima este post, chamada “Mulheres Protestando”, diz tudo

sábado, 30 de outubro de 2010

IstoÉ: as mamatas da família de Paulo Preto no governo Serra



À medida que são esmiuçados os passos de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, nos subterrâneos do governo tucano, vão ficando cada vez mais claras as relações comprometedoras do ex-diretor do Dersa com as empreiteiras responsáveis pelas principais obras de São Paulo.
Em agosto, quando trouxe a denúncia formulada por dirigentes do PSDB do sumiço de pelo menos R$ 4 milhões dos cofres da campanha de José Serra à Presidência, IstoÉ revelou que a maior parte da dinheirama fora arrecadada junto a grandes empreiteiras responsáveis pela construção do rodoanel.

Agora é descoberto um elo ainda mais forte entre o engenheiro e as construtoras da obra, considerada uma das vitrines do governo tucano em São Paulo. A empresa Peso Positivo Transportes Comércio e Locações Ltda., de propriedade da mãe e do genro do ex-diretor do Dersa, prestou serviços para as obras do lote 1 do trecho sul do rodoanel por um período de, pelo menos, três meses no ano de 2009.

A informação foi confirmada à IstoÉ pela Andrade Gutierrez/Galvão, do consórcio de empreiteiras contratado pela obra. Os serviços consistiram no fornecimento de guindastes para o transporte e a elevação de cargas.

“A empresa Peso Positivo, assim como outros fornecedores prestadores de serviços do consórcio, é contratada sempre de acordo com a legislação em vigor. A decisão de contratar prestadores de serviços é exclusivamente técnica”, alega a Andrade Gutierrez.

Arquivos da Junta Comercial de São Paulo mostram que a Peso Positivo foi criada em 30 de julho de 2003, com capital social de R$ 100 mil. Os sócios são Maria Orminda Vieira de Souza, mãe de Paulo Preto, 85 anos, e o empresário Fernando Cremonini, casado com Tatiana Arana Souza, filha do ex-diretor do Dersa, que trabalha no cerimonial do Palácio dos Bandeirantes, a sede do governo de São Paulo, e que já prestara serviços para a administração de José Serra à frente da Prefeitura de São Paulo.

Tantas coincidências fizeram o PT pedir à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo que investigasse as relações da Peso Positivo com o rodoanel. “É uma relação incestuosa que existe entre Paulo Preto, sua filha e José Serra”, afirmou o líder do PT na Assembleia, Antônio Mentor.

A confirmação da ligação entre as empreiteiras do rodoanel e a Peso Positivo, obtida por IstoÉ, mostra que as suspeitas tinham fundamento. E também derruba de maneira cabal a versão de Cremonini, apresentada na última semana em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. Segundo ele, a empresa “nunca teve clientes” na construção civil. “Meus maiores clientes são a Petrobras e a Votorantim Metais”, afirmou o empresário. “A única coisa que o Paulo me deu nestes anos todos foi a mão da filha e uma bicicleta.”

O íntimo relacionamento de Paulo Preto com as empreiteiras do rodoanel não se restringe ao negócio envolvendo uma empresa de familiares. Na última semana, denúncia da Folha de S.Paulo revelou que Paulo Preto, um dia após assumir a diretoria do Dersa, assinou uma alteração contratual na obra. Essa mudança permitiu às empreiteiras fazer alterações no projeto do rodoanel e até utilizar materiais mais baratos.

No acordo assinado por Paulo Preto em maio de 2007 ficou definido que, em vez de ganharem de acordo com a quantidade, tipo de serviço ou material usado na obra, as empreiteiras receberiam um “preço fechado” no valor de R$ 2,5 bilhões. Para quem conhece os meandros do mundo da construção civil, a impressão que fica ao analisar as mudanças é de que o diretor do Dersa preferiu privilegiar as empreiteiras, em detrimento da qualidade do empreendimento e da boa gestão do dinheiro do contribuinte.

A iniciativa de Paulo Preto também tinha outro propósito: o de adequar o andamento da obra ao timing eleitoral. É que o acordo teve como contrapartida das empreiteiras a garantia de acelerar a construção do trecho sul para entregá-lo até abril deste ano, quando José Serra (PSDB) saiu do governo para se candidatar.

O cronograma foi cumprido a contento. Agora, as empreiteiras apresentam um fatura extra de R$ 180 milhões. Essa espécie de taxa de urgência soma-se, portanto, aos adicionais de R$ 300 milhões já pagos em 2009.

As suspeitas sobre a maneira como Paulo Vieira de Souza atuava no Dersa extrapolam os limites geográficos da cidade de São Paulo. Recaem também sobre a fase III das obras de ligação das rodovias Carvalho Pinto e Presidente Dutra, no município de São José dos Campos.

Desde que assumiu a diretoria de engenharia do Dersa, ele assinou dois aditivos sobre o convênio de R$ 84 milhões. Um desses aditivos previu a “implantação da marginal Capuava”, que nunca foi entregue. Onde foi parar o R$ 1,1 milhão, relativo à execução desse trecho, ninguém sabe dizer.

“O dinheiro simplesmente desapareceu”, acusa o vereador de São José dos Campos Wagner Balieiro (PT). “Tive uma reunião com os diretores do Dersa e ninguém conseguiu me explicar por que a marginal não foi executada, embora o dinheiro tenha sido pago”, afirma Balieiro.


Fonte: IstoÉ via Patria Latina

Essa é a capa da nova VEJA!

Andre Lux no TUDO EM CIMA

A revista VEJA, expoente máximo do panfletarismo nazi-fascista tupiniquim, jogou a toalha.

Toda a blogosfera estava em alerta máximo esperando qual seria a nova jogada da famiglia Civita e seus capachos amestrados para tentar detonar a candidata da esquerda progressista e ajudar Zé Serra a se eleger o primeiro faraó do Brasil.

Mas, que nada. A VEJA deu chabu e resolveu atacar, a apenas um dia da eleição, o presidente mais popular da história! Tentam até igualar Lula ao "terrível ditador" Fidel Castro só porque ambos, pasmem, já usaram óculos escuros e tiraram fotos! Ou seja, essa é uma jogada ridícula que vai fazer efeito apenas na classe média ignara que consome esse lixo e tem ódio do Lula, da Dilma e de qualquer coisa que cheire a esquerda.

Inacreditável. Chamei minha esposa para ver a capa da nova VEJA e olha a resposta dela:

- Hahahahahaha! Foi você que fez?

Preciso dizer algo mais?

Mas, lembrem-se: eleição só acaba quando as urnas são abertas e contabilizadas. Por isso, nada de salto alto! Vamos continuar nas ruas pedindo votos para Dilma e na net fazendo nosssa guerrilha virtual contra a sujeira do PSDB.

Domingo está chegando... Vamos fazer a nossa parte para ajudar o Brasil continuar crescendo com distribuição de renda e justiça social!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

De céticos e cínicos


Emir Sader no Carta Maior



Algumas vozes espalham o ceticismo na imprensa, nas universidades, de repente passam do ceticismo ao cinismo, já não importa nada, tudo é ruim, cambalache, tudo é igual, o mundo vai para o pior dos mundos possíveis.

Foi uma atitude que foi amadurecendo ao longo das ultimas décadas, passou-se a achar que o século XX foi um século muito ruim para a humanidade, o pior dos séculos, etc. Uma atitude de melancolia, de desencanto, de desânimo, de abandono da luta, traduzida no ceticismo, na crítica, que se alastra para jovens gerações, precocemente envelhecidas.

Todos os governos, todos os partidos, todos os processos traem, decepcionam, se corrompem. O socialismo teria dado em totalitarismo – e se soma nisso à direita. Os sindicalistas só querem defender seus interesses. A esquerda e a direita são iguais, etc., etc.

Como as teorias parecem ser maravilhosas e as práticas concretas, não, preferem ficar com as teorias – se possível, misturando um pouco de Nietzsche, de Foucault, de Tocqueville. Pronto, o pessimismo está constituído como visão trágica do mundo.

Encontra-se lugar na velha imprensa para escrever, contanto que não se critique a própria velha imprensa, e se concentre em criticar a esquerda – a URSS, Cuba, a Venezuela, Lula, o PT. Terminam fortalecendo o desinteresse pela política, fortalecendo a direita e desalentando os jovens, enquanto ainda mantêm seu prestígio com eles. Depois de um certo momento já se confundem diretamente com a direita.

O ceticismo pode ser liberal, certamente não é marxista. O marxismo parte da realidade concreta, mas sempre na perspectiva da sua transformação. Esse pessimismo, somado ao catastrofismo, fortalece o mundo tal qual ele é, promove a impotência diante da realidade.

Uma análise dialética da realidade supõe a apreensão das contradições que articulam o concreto, desembocando em linhas de ações e não na perplexidade, na impotência, na passividade, na melancolia e no ceticismo.

No momento em que o povo brasileiro, no seu conjunto, pela primeira vez, começa a melhorar substancialmente suas condições de vida e o expressa em um apoio como nenhum governo teve, é triste ver uma parte da intelectualidade de costas para o povo, melancolicamente continuando a pregar que tudo está muito ruim, pior do que antes, brigando com a realidade, em um isolamento total em relação ao povo e ao pais realmente existente.

O otimismo, por si só, não é revolucionário, mas todos os grandes líderes revolucionários foram e são otimistas, porque acreditam sempre nas possibilidades de transformação revolucionária da realidade. Enquanto o ceticismo leva à inação e, muitas vezes, até mesmo ao cinismo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Uma coisa estranha aconteceu na noite passada em Natal

por Miguel Nicolelis*, especial para o Viomundo

Desde que cheguei ao Brasil, há duas semanas, eu vinha sentindo uma sensação muito estranha. Como se fora acometido por um ataque contínuo da famosa ilusão, conhecida popularmente como déjà vu, eu passei esses últimos 15 dias tendo a impressão de nunca ter saído de casa, lá na pacata Chapel Hill, Carolina do Norte, Estados Unidos.
Mas como isso poderia ser verdade? Durante esse tempo todo eu claramente estava ou São Paulo ou em Natal. Todo mundo ao meu redor falava português, não inglês. Todo mundo era gentil. A comida tinha gosto, as pessoas sorriam na rua. No aeroporto, por exemplo, não precisava abrir a mala de mão, tirar computador, tirar sapato, tirar o cinto, ou entrar no scan de corpo todo para provar que eu não era um terrorista.  Ainda assim, com todas essas provas evidentes de que eu estava no Brasil e não nos EUA, até no jogo do Palmeiras, no meio da imortal “porcada”, a sensação era a mesma: eu não saí da América do Norte! Mesmo quando faltou luz na Arena de Barueri durante o jogo, porque nem a 25 km da capital paulista a Eletropaulo consegue garantir o suprimento de energia elétrica para um prélio vital do time do coração do ex-governador do estado (aparentemente ninguém vai muito com a cara dele na Eletropaulo. Nada a ver com o Palmeiras), eu consegui me sentir à vontade.
Custou-me muito a descobrir o que se sucedia.
Porém, ontem à noite, durante o debate dos candidatos a Presidência da República na Rede Record, uma verdadeira revelação me veio à mente. De repente, numa epifania, como poucas que tive na vida, tudo ficou muito claro. Tudo evidente. Não havia nada de errado com meus sentidos, nem com a minha mente. Havia, sim, todo um contexto que fez com que o meu cérebro de meia idade revivesse anos de experiências traumatizantes na América do Norte.
Pois ali na minha frente, na TV, não estava o candidato José Serra, do PSDB, o “partido do salário mais defasado do Brasil”, como gostam de frisar os sofridos professores da rede pública de ensino paulistana, mas sim uma encarnação perfeita, mesmo que caricata, de um verdadeiro George Bush tropical. Para os que estão confusos, eu me explico de imediato. Orientado por um marqueteiro que, se não é americano nato, provavelmente fez um bom estágio na “máquina de moer carne de candidatos” em que se transformou a indústria de marketing político americano, o candidato Serra tem utilizado todos os truques da bíblia Republicana. Como estudante aplicado que ainda não se graduou (fato corriqueiro na sua biografia), ele está pronto para realizar uns “exames difíceis” e ser aceito para uma pós-graduação em aniquilação de caracteres em alguma universidade de Nova Iorque.
Ao ouvir e ver o candidato, ao longo dessas duas semanas e no debate de ontem à noite, eu pude identificar facilmente todos os truques e estratégias patenteados pelo partido Republicano Americano. Pasmem vocês, nos últimos anos, essa mensagem rasa de ódio, preconceito, racismo, coberta por camadas recentes de fé e devoção cristã, tem sido prontamente empacotada e distribuída para o consumo do pobre povo daquela nação, pela mídia oficial que gravita ao seu redor.
Para quem, como eu, vive há  22 anos nos EUA, não resta mais nenhuma dúvida. Quem quer que tenha definido a estratégia da campanha do candidato Serra decidiu importar para a disputa presidencial brasileira tanto a estratégia vergonhosa e peçonhenta da “vitória a qualquer custo”, como toda a truculência e assalto à verdade que têm caracterizado as últimas eleições nos Estados Unidos.  Apelando invariavelmente para o que há de mais sórdido na natureza humana, nessa abordagem de marketing político nem os fatos, nem os dados ou as estatísticas, muito menos a verdade ou a realidade importam. O objetivo é simplesmente paralisar o candidato adversário e causar consternação geral no eleitorado, através de um bombardeio incessante de denúncias (verdadeiras ou não, não faz diferença), meias calúnias, ou difamações, mesmo que elas sejam as mais absurdas possíveis.
Assim, de repente, Obama não era mais americano, mas um agente queniano obcecado em transformar a nação americana numa república islâmica. Como lá, aqui Dilma Rousseff agora é chamada de búlgara, em correntes de emails clandestinos. Como os EUA de Bill Clinton, apesar de o país ter experimentado o maior boom econômico em recente memória, foi vendido ao povo americano como estando em petição de miséria pelo então candidato de primeira viagem George Bush.
Aqui, o Brasil de Lula, que desfruta do melhor momento de toda a sua história, provavelmente desde o período em que os últimos dinossauros deixaram suas pegadas no que é hoje o município de Sousa, na Paraíba, passa a ser vendido como um país em estado de caos perpétuo, algo alarmante mesmo. Ao distorcer a verdade, os fatos, os números e, num último capítulo de manipulação extremada, a própria percepção da realidade, através do pronto e voluntário reforço  do bombardeio midiático, que simplesmente repete o trololó do candidato (para usar o seu vernáculo favorito), sem crítica, sem análise, sem um pingo de honestidade jornalística, busca-se, como nos EUA de George Bush e do partido Republicano, vender o branco como preto, a comédia como farsa.
Não interessa que 26 milhões de brasileiros tenham saído da miséria. Nem que pela primeira vez na nossa história tenhamos a chance de remover o substantivo masculino “pobre” dos dicionários da língua portuguesa. Não faz a menor diferença que 15 milhões de novos empregos tenham sido criados nos últimos anos. Ou que, pela primeira vez desde que se tem notícia, o Brasil seja respeitado por toda a comunidade internacional. Para o candidato da oposição esse número insignificante de empregos é, na sua realidade marciana, fruto apenas de uma maior fiscalização que empurrou com a barriga do livro de multas 10 milhões de pessoas para o emprego formal desde o governo do imperador FHC.
Nada, nem a realidade, é  capaz de impressionar os fariseus e arautos que estão sempre prontos a denegrir o sucesso desse país de mulatos, imigrantes e gente que trabalha e batalha incansavelmente para sobreviver ao preconceito, ao racismo, à indiferença e à arrogância daqueles que foram rejeitados pelas urnas e vencidos por um mero torneiro mecânico que virou pop star da política internacional. Nada vai conseguir remover o gosto amargo desse agora já fato histórico,  que atormenta, como a dor de um membro fantasma, o ego daqueles que nunca acreditaram ser o povo brasileiro capaz de construir uma nação digna, justa e democrática com o seu próprio esforço. Como George Bush ao Norte, o seu clone do hemisfério sul não governa para o povo, nem dele busca a sua inspiração. A sua busca pelo poder serve a outros interesses; o maior deles, justiça seja feita, não é escuso, somente irrelevante, visto tratar-se apenas do arquivo morto da sua vaidade, o maior dos defeitos humanos, já dizia dona Lygia, minha santa avó anarquista. Para esse candidato, basta-lhe poder adicionar no currículo uma linha que dirá: Presidente do Brasil (de tanto a tanto). Vaidade é assim, contenta-se com pouco, desde que esse pouco venha embalado num gigantesco espelho.
Voltando à estratégia americana de ganhar eleições, numa segunda fase, caso o oponente sobreviva ao primeiro assalto, apela-se para outra arma infalível: a evidente falta de valores cristãos do oponente, manifestada pela sua explícita aquiescência para com o aborto; sua libertinagem sexual e falta de valores morais, invariavelmente associada à defesa do fantasma que assombra a tradição, família e propriedade da direita histérica, representado pela tão difamada quanto legítima aprovação da união civil de casais homossexuais. Nesse rolo compressor implacável, pois o que vale é a vitória, custe o que custar, pouco importa ao George Bush tupiniquim que milhares de mulheres humildes e abandonadas morram todos os anos, pelos hospitais e prontos-socorros desse Brasil afora, vítimas de infecções horrendas, causadas por abortos clandestinos.
George Bush, tanto o original quanto o genérico dos trópicos, provavelmente conhece muitas mulheres do seu meio que, por contingências e vicissitudes da vida, foram forçadas a abortos em clínicas bem equipadas, conduzidas por profissionais altamente especializados, regiamente pagos para tal prática. Nenhum dos dois George Bushes, porém, jamais deu um plantão no pronto-socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo e testemunhou, com os próprios olhos e lágrimas, a morte de uma adolescente, vítima de septicemia generalizada, causada por um aborto ilegal, cometido por algum carniceiro que se passou por médico e salvador.
Alguns amigos de longa data, que também vivem no exterior, andam espantados com o grau de violência, mentiras e fraudes morais dessa campanha eleitoral brasileira. Alguns usam termos como crime lesa pátria para descrever as ações do candidato do Brasil que não deu certo, seus aliados e a grande mídia.
Poucos se surpreenderam, porém, com o fato de que até o atentado da bolinha de papel foi transformado em evento digno de investigação no maior telejornal do hemisfério sul (ou seria da zona sul do Rio de Janeiro? Não sei bem). No caso em questão, como nos EUA, a dita grande imprensa que circunda a candidatura do George Bush tupiniquim acusa o Presidente da República de não se comportar com apropriado decoro presidencial, ao tirar um bom sarro e trazer à tona, com bom humor, a melhor metáfora futebolística que poderia descrever a farsa. Sejamos honestos, a completa fabricação, desmascarada em verso, prosa e análise de vídeo, quadro a quadro, por um brilhante professor de jornalismo digital gaúcho.
Curiosamente, a mesma imprensa e seus arautos colunistas não tecem um único comentário sobre a gravidade do fato de ter um pretendente ao cargo máximo da República ter aceitado participar de uma clara e explicita fabricação. Ou será que esse detalhe não merece algumas mal traçadas linhas da imprensa? Caso ainda estivéssemos no meio de uma campanha tipicamente brasileira, o já internacionalmente famoso “atentado da bolinha de papel” seria motivo das mais variadas chacotas e piadas de botequim. Mas como estamos vivendo dentro de um verdadeiro clone das campanhas americanas, querem criminalizar até a bolinha de papel. Se a moda pega, só eu conheço pelo menos uns dez médicos brasileiros, extremamente famosos, antigos colegas de Colégio Bandeirantes e da Faculdade de Medicina da USP, que logo poderiam estar respondendo a processos por crimes hediondos, haja vista terem sido eles famosos terroristas do passado, que se valiam, não de uma, mas de uma verdadeira enxurrada, dessas armas de destruição em massa (de pulgas) para atingir professores menos avisados, que ousavam dar de costas para tais criminosos sem alma .
Valha-me Nossa Senhora da Aparecida — certamente o nosso George Bush tupiniquim aprovaria esse meu apelo aos céus –, nós, brasileiros, não merecemos ser a próxima vítima do entulho ético do marketing eleitoral americano. Nós merecemos algo muito melhor.  Pode parecer paranoia de neurocientista exilado, mas nos EUA eu testemunhei como os arautos dessa forma de fazer política, representado pelo George Bush original e seus asseclas,  conseguiram vender, com grande sucesso e fanfarra, uma guerra injustificável, que causou a morte de mais de 50 mil americanos e centenas de milhares de civis iraquianos inocentes.
Tudo começou com uma eleição roubada, decidida pela Corte Suprema. Tudo começou com uma campanha eleitoral baseada em falsas premissas e mentiras deslavadas. A seguir, o açodamento vergonhoso do medo paranóico, instilado numa população em choque, com a devida colaboração de uma mídia condescendente e vendida, foi suficiente para levar a maior potência do mundo a duas guerras imorais que culminaram, ironicamente, no maior terremoto econômico desde a quebra da bolsa de 1929.
Hoje os mesmos Republicanos que levaram o país a essas guerras irracionais e ao fundo do poço financeiro acusam o Presidente Obama de ser o responsável direto de todos os flagelos que assolam a sociedade americana, como o desemprego maciço, a perda das pensões e aposentadorias, a queda vertiginosa do valor dos imóveis e a completa insegurança sobre o que o futuro pode trazer, que surgiram como conseqüência imediata das duas catastróficas gestões de George Bush filho.
Enquanto no Brasil criam-se 200 mil empregos pro mês, nos EUA perdem-se 200 mil empregos a cada 30 dias. Confrontado com números como esses, muitos dos meus vizinhos em Chapel Hill adorariam receber um passaporte brasileiro ou mesmo um visto de trabalho temporário e mudar-se para esse nosso paraíso tropical. Eles sabem pelo menos isto: o mundo está mudando rapidamente e, logo, logo, no andar dessa carruagem, o verdadeiro primeiro mundo vai estar aqui, sob a luz do Cruzeiro do Sul!
Fica, pois, aqui o alerta de um brasileiro que testemunhou os eventos da recente história política americana em loco. Hoje é a farsa do atentado da bolinha de papel. Parece inofensivo. Motivo de pilhéria. Eu, como gato escaldado, que já viu esse filme repulsivo mais de uma vez, não ficaria tão tranqüilo, nem baixaria a guarda. Quem fabrica um atentado, quem se apega ou apela para questões de foro íntimo, como a crença religiosa (ou sua inexistência), como plataforma de campanha hoje, é o mesmo que, se eleito, se sentirá livre para pregar peças maiores, omitir fatos de maior relevância e governar sem a preocupação de dar satisfações aqueles que, iludidos, cometeram o deslize histórico de cair no mais terrível de todos os contos do vigário, aquele que nega a própria realidade que nos cerca.
Aliás, ocorre-me um último pensamento. A única forma do ex-presidente (Imperador?) Fernando Henrique Cardoso demonstrar que o seu governo não foi o maior desastre político-econômico, testemunhado por todo o continente americano, seria compará-lo, taco a taco, à catastrófica gestão de George Bush filho. Sendo assim, talvez o candidato Serra tenha raciocinado que, como a sua probabilidade de vitória era realmente baixa,  em último caso, ele poderia demonstrar a todo o Brasil quão melhor o governo FHC teria sido do que uma eventual presidência do George Bush genérico do hemisfério sul. Vão-se os anéis, sobram os dedos. Perdido por perdido, vamos salvar pelo menos um amigo. Se tal ato de solidariedade foi tramado dentro dos circuitos neurais do cérebro do candidato da oposição (truco!), só me restaria elogiá-lo por este repente de humildade e espírito cristão.
Ciente, num raro momento de contrição, de que algumas das minhas teorias possam ter causado um leve incômodo, ou mesmo, talvez, um passageiro mal-estar ao candidato, eu ousaria esticar um pouco do meu crédito junto a esse grande novo porta-voz do cristianismo e fazer um pequeno pedido, de cunho pessoal, formulado por um torcedor palmeirense anônimo, ao candidato da oposição. O pedido, mais do que singelo, seria o seguinte:
Candidato, será  que dá pro senhor pedir pro governador Goldman ou pro futuro governador Dr. Alckmin para eles não desligarem a luz da Arena Barueri na semana que vem? Como o senhor sabe, o nosso Verdão disputa uma vaguinha na semifinal da Copa Sulamericana e, aqui entre nós, não fica bem outro apagão ser mostrado para todo esse Brazilzão, iluminado pelo Luz para Todos, do Lula. Afinal de contas, se ocorrer outro vexame como esse, o povão vai começar a falar que se o senhor não consegue nem garantir a luz do estádio pro seu time do coração jogar, como é que pode ter a pretensão de prometer que vai ter luz para todo o resto desse país enorme? Depois, o senhor vem aqui e pergunta por que eu vou votar na Dilma? Parece abestalhado, sô!

* Miguel Nicolelis é um  dos mais importantes neurocientistas do mundo. É professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e criador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, (RN). Em 2008, foi indicado ao Prêmio Nobel de Medicina.