quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Charlie Parker - Yardbird Suite (1999)


Copiado de: 360Grauss

As histórias que a RBS não conta
A RBS iniciou as comemorações de seus 50 anos com pompa, circunstância e
uma conveniente dose de amnésia. O caderno especial publicado nesta
sexta-feira, no jornal Zero Hora, omite alguns fatos importantes que
marcaram a história e o crescimento do grupo. Mais do que isso, distorce
fatos, em especial aqueles relacionados ao período da ditadura militar.
Como a maioria da grande mídia brasileira, a empresa gaúcha apoiou o
golpe militar que derrubou o governo de João Goulart.

O jornal Zero Hora ocupou o lugar da Última Hora, fechado pelo regime
militar por apoiar Jango. Esse é o batismo de nascimento de ZH. Como
escreveu Eleutério Carpena, em uma edição especial da revista Porém
sobre a RBS, "a mão que balança o berço de ZH é da violência contra o
Estado Democrático de Direito". Três dias depois da publicação do
famigerado Ato Institucional n° 5 (13 de dezembro de 1968), ZH publicou
matéria sobre o assunto afirmando que "o governo federal vem recebendo a
solidariedade e o apoio dos diversos setores da vida nacional".

No dia 1° de setembro de 1969, o jornal publica um editorial intitulado
"A preservação dos ideais", exaltando a "autoridade e a
irreversibilidade da Revolução". A última frase editorial fala por si:
"Os interesses nacionais devem ser preservados a qualquer preço e acima
de tudo". A expansão da empresa se consolidou em 1970, quando foi criada
a sigla RBS, de Rede Brasil Sul, inspirada nas três letras das gigantes
estrangeiras de comunicação CBS, NBC e ABC. A partir das boas relações
estabelecidas com os governos da ditadura militar e da ação articulada
com a Rede Globo, a RBS foi conseguindo novas concessões e
diversificando seus negócios.

Outro fato marcante da história do grupo que não é mencionada no caderno
comemorativo é a ativa participação da empresa no processo de
privatização da telefonia no RS, durante o governo de Antônio Britto,
ex-funcionário da RBS. Aliás, não só no RS. Segundo pesquisa realizada
por Suzy dos Santos (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e
Culturas Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da UFBa e Sérgio
Capparelli (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da
Fabico/UFRGS), a RBS esteve presente em praticamente todos os momentos
do processo de privatização das telecomunicações no país, durante o
governo FHC.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo FHC, Pedro Parente,
assumiria depois um alto cargo na direção da RBS. Aqui no RS, desde o
golpe de 1964, a empresa sempre teve uma relação íntima com os
governantes de plantão. Com uma exceção, o governo Olívio Dutra,
fustigado desde seu primeiro dia e pintado como um monstro que ameaçava
os homens e mulheres de bem do Rio Grande. Esses fatos você não verá
expostos na exposição organizada pela empresa na Usina do Gasômetro
(gentilmente cedida pela administração Fogaça) e em nenhum dos veículos
do grupo que, nos próximos dias, praticará, à máxima potência, a arte do
auto-elogio e da amnésia seletiva


Por:
Por Marco
Weissheimer, do RS
Como se constrói um monopólio

Bia Barbosa

No próximo dia 5 de outubro, vencem as concessões das principais emissoras de TV brasileiras. Entre elas, estão cinco concessões da Rede Globo – em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Minas Gerais. Neste dia, caberá ao Executivo federal, por meio do Ministério das Comunicações e da Casa Civil, aceitar ou não os pedidos de renovação, por mais 15 anos, e submeter sua decisão do Congresso Nacional, que tem a palavra final no processo.
O que pouca gente sabe é que tal procedimento, de tamanha importância para o país – é redundante afirmar o papel político, econômico e social que os meios de comunicação, sobretudo a TV, desempenham em nossa sociedade – será nada mais do que um rito burocrático. Mas, para evitar que a data passe em branco, movimentos sociais e entidades ligadas à luta pela democratização da comunicação planejam promover manifestações e chamar a sociedade para debater o modelo das concessões públicas de radiodifusão. Um modelo que contribuiu de forma decisiva para fazer da Globo o império que ela é hoje.
“O mercado de televisão no Brasil, especificamente, não era oligopolizado até a década de 1970. Chateaubriand tentou até monopolizar, mas a Globo, durante a ditadura militar, atualiza o projeto das elites do setor e do governo no período anterior. Dadas as condições técnicas, ela pôde ocupar um espaço que os Diários Associados do Chatô não podiam sequer sonhar”, esclarece a cientista social da Universidade Federal de Pernambuco Maria Eduarda Rocha. Ela atribui a concentração de capital e produção da Rede Globo à própria construção da indústria cultural no Brasil, que pressupõe centros produzindo para um vasto território.
Maria Eduarda cita ainda como fatores que foram fundamentais para a estruturação da Globo na década de 1960 o famoso acordo com a Time-Life, realizado em 1962, responsável por injetar capital estrangeiro na emissora, algo que ia contra a legislação vigente. “Há um fator mais forte que é a relação entre o empresariado da cultura e governo militar, que era muito orgânica. O governo permaneceu como maior anunciante, o que era um grande instrumento de controle, sendo que a Globo foi a grande captadora de verba publicitária do regime”, sustenta.
Mas não foi só à época da ditadura que o regime de concessões e o Estado favoreceram a Globo. Durante o governo Sarney (1985-1989), o ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães promoveu uma verdadeira farra de distribuição de concessões na área de radiodifusão. Paulino Motter, doutor em Ciências Políticas, na dissertação de mestrado A batalha invisível da Constituinte, mostra que em três anos e meio Sarney distribuiu 1.028 outorgas, aproximadamente 25% delas no mês de setembro de 1988, que antecedeu a promulgação da Constituição. Quase todos os beneficiados foram parlamentares que, direta ou indiretamente, receberam as outorgas em troca de apoio político aos cinco anos de mandato e o regime presidencialista. Motter mostra que, dos 91 constituintes que receberam ao menos uma concessão de rádio ou de televisão, 82 (90,1%) votaram a favor do mandato de cinco anos.
Além de beneficiar a Globo e Sarney, ACM também aproveitou sua estada no governo federal para incrementar sua influência na área da comunicação na Bahia. A maior parte das concessões das emissoras que integram a Rede Bahia são dessa época. Antônio Carlos Magalhães Júnior é o presidente da Rede Bahia. Em 1987, a TV Bahia, do grupo, se tornou afiliada da Rede Globo, desbancando a TV Aratu, que retransmitia o sinal da emissora da família Marinho havia 18 anos.



Estratégias existenciais



Gabriel Perissé


Pensemos no mundo como um tabuleiro de xadrez. Isto é reduzi-lo bastante, certamente, mas serve como metáfora, como alegoria, como símbolo.

No jogo da vida temos adversários. Não podemos ser tão pacifistas a ponto de negá-los. Há quem lute contra nós, mesmo que estejamos dispostos a dar a outra face até as últimas conseqüências.

Temos adversários, com quem vamos jogar o jogo da vida. Mesmo que com muito fair play, com muita elegância e educação, movemos nossas peças e não queremos levar xeque-mate. E queremos dar xeque-mate. Refletindo melhor, mais vale um jogo assumido do que, covardemente, puxar o tapete daqueles que, covardemente, quereriam puxar o nosso.

Contudo, o nosso mais perigoso adversário não é o outro, não é o vizinho, não é o patrão, não é o concorrente, não é o candidato do outro partido. Jogando com as brancas, ou com as pretas, estou eu mesmo diante de mim. Eu sou o meu próprio e mais insidioso adversário.

Diariamente, os lances da vida representam tomadas de decisão. Decidir é arriscar-se. Certa vez ouvi alguém hesitante perguntar-se: “Será que sou indeciso?” A única forma de romper com a indecisão é avançar os peões, avançar os cavalos, abrir espaço para os bispos, para a rainha e torres, sair em campo.

O que está em jogo neste jogo? O rei representa os meus valores. Devo defendê-los (com o roque). Defender e conservar é apenas parte da história. Preciso pensar numa estratégia existencial.

Vencer a mim mesmo nesta luta em que valores e antivalores disputam espaço e poder. No tabuleiro da consciência, cada lance cria problemas e soluções. O confronto comigo mesmo é inevitável. O poeta inglês D. H. Lawrence escreveu esses versos: “ [...] tente chegar à verdade. // E a primeira pergunta para si mesmo é: / Quão grande mentiroso eu sou?”.

A honestidade comigo mesmo consiste em descobrir o que eu prefiro, o que pretendo “ganhar” no jogo da vida. Afinal, o que decido fazer quando não há nada a fazer? O que devo desejar quando ninguém me diz o que desejar devo?

A cada dia, sentar-se ao tabuleiro, recomeçar o jogo! Talvez a partida de ontem tenha terminado empatada. Talvez eu tenha sido derrotado pela preguiça, pelo medo, pela presunção. Mais uma vez é preciso decidir. Vivendo e aprendendo a jogar. Nem sempre ganhando. Nem sempre perdendo...

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor - Web Site: www.perisse.com.br

Felicidade realista



A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo.
Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.
Mário Quintana