sábado, 28 de fevereiro de 2009

Email de Heitor Reis - Brasil

Brasil envia 19 mil toneladas de solidariedade a Cuba........ .por quién merece amor!

Beto Almeida, jornalista

O Governo Lula doou a Cuba 19 mil toneladas de arroz para enfrentar os graves problemas causados pela passagem de três furacões que devastaram a ilha em outubro passado, o Ike, o Gustav e o Hannah. Uma expressão de solidariedade deste porte não pode passar sem merecer reflexões amplas, especialmente num momento em que o mundo registra principalmente é movimentação de armas. Enquanto Brasil doa arroz, os EUA seguem com o contínuo abastecimento de armas para Israel.

O carregamento de arroz - o equivalente a 718 caminhões - saiu do porto gaúcho de Rio Grande no dia 10 de Fevereiro e está por aportar em Havana por estes dias, levado por 3 navios cedidos pela Espanha, que, com isto, também participa desta operação de solidariedade a Cuba.

Os furacões também arrasaram o Haiti e Honduras, países que também receberão doações brasileiras, logo a seguir. Houve escassa divulgação sobre esta doação do governo brasileiro, apenas discretos registros na imprensa do sul, mas, no total ela representará 44,4 mil toneladas de arroz. Além disso, serão enviadas aos três países, em um terceiro carregamento ainda sem data prevista, 1.105 toneladas de leite em pó e 4,5 toneladas de sementes de frutas, verduras e legumes, produzidos pela agricultura familiar.

Fidel: como um ataque nuclear

Segundo o Itamaraty , somente no Haiti, as tempestades deixaram pelo menos 800 mortos e 800 mil desabrigados. Em Cuba, foram sete mortes e perdas calculadas em US$ 10 bilhões, com meio milhão de casas danificadas ou destruídas e centenas de milhares de hectares de plantações arrasados. O ex-líder cubano Fidel Castro chegou a comparar as imagens de destruição na ilha às que testemunhou na cidade japonesa de Hiroshima após a detonação da bomba nuclear.

É aqui exatamente onde se faz mais necessária uma reflexão bem atenta sobre o significado desta ajuda, retirada dos estoques públicos geridos pela Companhia Brasileira de Abastecimento e que conta com expressiva produção de responsabilidade da agricultura familiar.

Os jornalistas que acompanham há mais tempo as passagens constantes de furacões sobre o Caribe, podem observar uma diferença sobre o comportamento da sociedade cubana, de sua defesa civil, a unitária e disciplinada mobilização de seu povo. Com toda a lamentável destruição que ocorre, sobretudo em habitações, na agricultura e também no setor elétrico, é possível verificar que o caráter socialista da sociedade cubana permite sim minimização das perdas humanas. Pode-se alegar que em se tratando de furacões é difícil comparar as perdas cubanas, as 7 mortes em Cuba, com os mais de 800 que morreram no Haiti, país que vive um crise humanitária, uma tragédia social densa, além de estar sob a presença de Tropas da ONU, cuja permanência foi solicitada pelo presidente René Preval logo após sua eleição com expressivo apoio popular, superior a 73 por cento dos votos.

O que vale registrar é que em Cuba, diante da ameaça de uma catástrofe natural, todos os instrumentos do estado e da sociedade se mobilizam de modo integrado, sobretudo os meios de comunicação, atuando em sintonia completa com a Defesa Civil, com o intuito de salvar vidas. Lá não há mídia privada que não pode suspender sua programação para difundir diretrizes de evacuação de regiões que serão mais afetadas pelos furacões. Aqui só mudam a programação para explorar o sensacionalismo mórbido como na tragédia da adolescente Eloá, sempre na linha do vale-tudo pela audiência. Quem manda na programação é o departamento comercial. Em Cuba não há mídia privada, salvar vidas é obrigação, é a pauta fundamental.

Assim, com este esforço unitário que inclui órgãos do Estado, as Forças Armadas Revolucionárias, a Defesa Civil, os sindicatos, os meios de comunicação, os Comitês de Defesa da Revolução, o sistema de saúde, é possível em poucas horas evacuar contingentes de um milhão e meio de cubanos. Só isto já é uma façanha, pois estamos falando de mais de 10 por cento da população cubana aproximadamente, que hoje alcança pouco mais de 11 milhões de habitantes. Imaginemos o esforço que deveria ser feito, a magnitude da logística requerida se necessário fosse evacuar, em poucas horas, diante de uma ameaça climática, a 10 por cento do povo brasileiro, ou seja, algo como 19 milhões de seres humanos. Sabemos que sequer conseguimos resolver a contento ainda operações muito mais simples como a da documentação dos cidadãos, a do registro das crianças recém-nascidas, estamos sendo obrigados a dispensar boa parte dos recrutas pela impossibilidade de oferecer-lhe a refeição adequada nos quartéis.

Jornalismo de desintegração

Sim, o Brasil ainda não resolveu muitos problemas de séculos atrás, como diz o próprio presidente Lula, mas foi capaz de ter a sensibilidade social de enviar 19 mil toneladas de solidariedade para a Cuba que tanto merece amor. Seria necessário divulgar muito mais o que está ocorrendo de fato junto com o envio dessas toneladas de arroz-solidário. Era até mesmo necessário que a TV Brasil estivesse nos navios espanhóis que fazem o transporte para contar esta história de integração que caminha, mas que nem é compreendida adequadamente, seja porque a comunicação não opera, seja porque há a atuação do jornalismo da desintegração. Refiro-me aquela certa mídia que afirma que integração é pura retórica itamarateca.

Antes das 19 mil toneladas de arroz solidário, já haviam ido para a Ilha rebelde o braço da Emprapa, da Petrobrás. Multiplicam- se os acordos de cooperação, os volumes de comércio, os laços culturais. Há quem não queira ver.

Sangue brasileiro em solo cubano

Mas, entre Cuba e Brasil os laços de solidariedade - ternura entre os povos - são muito mais antigos, sempre mal divulgados. Lutaram no Exército de Libertação Nacional de José Marti dois brasileiros, dois cariocas. Essas 19 mil toneladas de arroz aportam em solo irrigado pelo sangue de dois brasileiros que atenderam ao chamado revolucionário de Marti para a luta de libertação de Nuestra América. Solo fértil. Lá ficaram, junto com José Marti, também abatido em combate. Já havíamos doado sangue ao povo cubano.

Em outros momentos, brasileiros e cubanos também estiveram de alguma forma juntos, como, por exemplo, na luta de libertação de Angola. Trezentos e cinqüenta mil cidadãos cubanos, homens e mulheres, incluindo a filha do Che, tomaram em armas e foram para Angola lutar contra o exército sul-africano que invadia a terra do poeta Agostinho Neto, que pessoalmente solicitou ajuda a Fidel Castro. A sanguinária democracia dos EUA apoiando o exército do Apartheid de um lado e Cuba lutando ombro a ombro com os angolanos do outro. O Movimento Negro brasileiro não mandou uma aspirina em solidariedade aos angolanos. Na Batalha de Cuito Cuanavale, 1988, os nazis do apartheid da África do Sul foram finalmente derrotados, levando Mandela a declarar: “ a Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid!!!” O Brasil tinha sido o primeiro país a reconhecer a independência da República Popular de Angola, o que levou Henry Kissinger, então secretário de estado dos EUA, a vir ao Brasil para reclamar de Ernesto Geisel , afirmando que o Brasil estava fazendo o jogo dos comunistas, estava junto com Cuba, etc. Geisel respondeu apenas: “a política externa brasileira não está em discussão com o senhor!” Houve um tempo em que chanceleres brasileiros tiravam o sapato diante de ordens desaforadas de qualquer guardinha de alfândega....

Furando bloqueios

Hoje o Brasil envia 19 mil toneladas de arroz para Cuba e dá uma banana para a tal lei Helms-Burton, fura o bloqueio com solidariedade, para lá envia a Embrapa e a Petrobrás. Com o apoio da Espanha de Zapatero. Antes, a Espanha de Aznar, mandava tropas para o Iraque, operava no Golpe de Abril de 2002 contra Chávez...

Por quem merece amor....

Solidariedade não se discute a quem, mas esta é matéria que Cuba pode dar aulas de sobra. Existem hoje profissionais de saúde cubanos em mais de 70 país. Apenas na Venezuela trabalham 23 mil médicos cubanos. No Timor Leste também encontram-se 350 médicos cubanos em missão de solidariedade. O presidente timorense, o jornalista e poeta Ramos-Horta, contou-me que o Embaixador dos EUA tentou pressionar para que Timor rejeitasse a ajuda cubana. Ramos, com a sabedoria humilde dos timorenses, apenas perguntou ao embaixador norte-americano quantos médicos seu país havia enviado para aquela ilha que antes foi um Vietnã Silencioso, dado seu heroísmo e dignidade, escondidos de modo vil pela mídia controlada pela indústria bélica e pela ditadura petroleira internacionais. O gringo vestiu a carapuça. Há mais médicos e professores cubanos em todos os continentes do que profissionais de todos os países ricos de idêntica especialização , somados. Mas, se a continha fosse de soldados.... ....

A Venezuela já foi declarada pela Unesco “Território Livre de Analfabetismo” , e lá estavam os professores e pedagogos cubanos para assegurar esta conquista. Ser livre é ser culto, diz Marti. Da mesma maneira, quando em dezembro último a mesma Unesco - mais acostumada nos últimos tempos a contabilizar a devastação da educação pública no mundo - declarou oficialmente a Bolívia como “Território Livre do Analfabetismo” , lá estavam os professores cubanos, com o seu método de alfabetização “Yo si puedo”, prestando sua solidariedade para tirar o povo boliviano das trevas da ignorância neoliberal.

Doando médicos, professores, pedagogia

Aliás, este método de alfabetização também foi adaptado por pedagogos cubanos para aplicação via rádio no Haiti, em dialeto creolo. A observação é simples: um país que já extirpou a praga do analfabetismo há mais de 48 anos coloca agora seus profissionais a serviço de outros povos buscando soluções para problemas sociais que já não existem mais ali entre cubanos. De certo modo, lá no Haiti brasileiros e cubanos também encontram-se novamente juntos. Seus esforços de algum modo coordenam-se favoravelmente. A integração se dá. Os 500 médicos cubanos que estão no Haiti são, na prática, a espinha dorsal do que resta do serviço de saúde pública daquele país em colapso e o Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro lá está a construir fossas, pavimentar ruas e estradas, obras de saneamento. O tema é provoca polêmicas, inclusive por vários movimentos sociais, mesmo assim é central considerar declaração do Comandante Fidel Castro em 2006: “eu prefiro tropas brasileiras do que mariners dos EUA no Haiti. Revelando a com quê concepção geopolítica, portanto com quê visão estratégica ampla avalia a questão.

Do mesmo modo, cabe registrar que este mesmo método de alfabetização cubano está sendo adaptado e aplicado entre indígenas na nova Zelândia e em inúmeros Assentamentos da Reforma Agrária do MST aqui no Brasil sempre combinando o uso do livro e da televisão, incluindo a participação, no caso brasileiro, de alguns artistas de telenovela, igualmente solidários com os mais necessitados.

Cuba, Katrina e Tusinami

O desastre do furacão Katrina nos Eua foi duplo: a catástrofe natural ceifou muitas vidas, mas foi agravada pela catástrofe da criminosa negligência dos administradores públicos que deixaram a população de Nova Orleans no deus-dará e dizendo-lhes apenas, “virem-se”. Quê diferença da mobilização disciplinada para evacuação de milhões de cidadãos em Cuba em poucas horas!!! Citemos os números: em Cuba, mais de 500 mil residências destruídas, porém, apenas 7 mortes. Uma vida perdida é sempre uma vida perdia, mas o aqui o valor da consciência, da solidariedade, do sentimento coletivo é o eixo central pois nestas evacuações, os médicos de família acompanham seus pacientes, cuidando inclusive que os animais domésticos também sejam evacuados coordenadamente, especialmente pelo efeito emocional positivo que têm sobre as crianças. É o modo como uma sociedade socialista trata seus animais. A solidariedade , por meio de políticas públicas, chega até estes.

Cuba imediatamente ofereceu aos EUA um total de 1200 médicos para cuidar da população flagelada pelo Katrina, ajuda prontamente rejeitada pelo então presidente Bush, mais preocupado em enviar soldados para o Iraque que em receber médicos cubanos. Como é possível que a poucas horas da passagem devastadora do furacão em Nova Orleans haja a oferta de 1200 médicos prontos para embarcar para os EUA? Já estão sempre preparados para ajudar outros povos! E como é possível que o país mais rico do mundo não tenha tido a capacidade, até hoje, de reconstruir o que foi destruído pelo furacão, deixando patente, sobretudo, o desprezo pelas populações negras que perderam suas casas, seus móveis etc.?

Eis aí um aspecto que diferencia fundamentalmente as sociedades: algumas são capazes de cuidar dos seus, mas também cuidar dos mais necessitados, mesmo que estejam em outro país, a civilizada capacidade de oferecer solidariedade. Por isso, é também importante registrar que a Venezuela continua doando para as populações pobres dos EUA óleo combustível a ser usado para a calefação neste período de frio. Sim, é comum a morte por frio entre os pobres nos EUA. E lembrando que em Cuba encontram-se hoje 500 jovens dos EUA, pobres e negros moradores do Harlen, a estudar gratuitamente na Escola Latino-Americana de Medicina.

Até os elefantes se salvaram...

Da mesma forma que no Katrina, também no Tsunami também ficou demonstrado o desprezo pelo salvamento de vidas. Quando os aparelhos eletrônicos dos EUA detectaram os tremores no fundo do mar, imediatamente foi possível calcular seus possíveis efeitos, o maremoto arrasador. Tanto é assim que rapidamente as embaixadas dos EUA na região foram orientadas sobre o que poderia vir. As aeronaves da base naval norte-americana da Ilha de Diego Garcia foram colocadas em área protegida. Sabia-se o que estava por vir em algumas horas. Horas suficientes para serem utilizadas na informação preventiva, mobilizadora, para organizar um operação de evacuação gigantesca. Tanto é que elefantes que percebem os tremores subterrâneos captaram a mensagem da natureza e fugiram para lugar seguro. Os elefantes escaparam!

Mas, a magnífica parafernália de comunicação hoje em mãos da humanidade para integrar bancos, bolsas de valores, esquadras navais, satélites, internet, para operações com capitais especulativos, não foi usada para salvar vidas! Se fosse um colapso bancário, em segundos todos os países do mundo estariam informados. Mas, era um maremoto que estava se formando a partir das súbitas mudanças das placas tectônicas no fundo do mar, não era mudança de capital. Havia o espaço de tempo necessário para salvar vidas se todos os meios de comunicação, os satélites, as rádios e televisões, trabalhassem com o sentido humanitário, com o espírito de missão pública, com a consciência de que se pode sim salvar vidas, como se faz em Cuba quando vêm chegando os furacões. A tecnologia, sem consciência solidária, de nada vale quando se trata de salvar vidas, apenas isto.

Assim, aprendamos todos com esta página de solidariedade que está sendo escrita agora pelo Brasil, coerente com uma política de integração. Militares brasileiros da Aeronautica participaram de operações de salvamento de flagelados quando das devastadoras inundações na Bolívia há alguns meses. Participaram também, recentemente, indicados pelas Farc, mas com a concordância do governo da Colômbia, da operação de resgate humanitário dos reféns coordenada pela Cruz Vermelha nas selvas do país vizinho. Mas, esta página tem muitos antecedentes, sobretudo inúmeras páginas nobres que Cuba já escreveu na história da solidariedade internacional dividindo generosamente seus escassos meios com outros povos mais necessitados.

Assim, o arroz solidário brasileiro vai para quem merece amor, como na canção de Silvio Rodriguez.

Beto Almeida

Diretor de Telesur

Mafiosos da Mídia mostram a cara:


Para eles, a Ditadura foi mesmo branda...

André Lux


Como todo mundo já deve saber, um desses asnos de terno e gravata que se prostituem para o PiG em troca de uns trocados e tapinhas nas costas, chamou na Folha de S. Paulo (panfleto neoliberal do PSDB) de "ditabranda" a Ditadura que destruiu o Brasil por 21 anos e prendeu, torturou e/ou matou centenas de brasileiros - inclusive velhos, mulheres e crianças.

O que dizer de alguém que escreve uma asneira dessas, exceto que se trata de um asno? Humano é que não é. Se bem que chamá-lo de asno é uma ofensa a esse animal irracional, porém pacato e inofensivo.

Tudo bem o sujeito não gostar do regime cubano ou dos presidentes eleitos democraticamente Hugo Chávez e Evo Morales, agora precisa tentar reescrever a história e ofender qualquer pessoa de bom senso inventando um termo grotesco só para agradar o playboy ridículo que lhe paga o salário?

Acho que todo mundo está careca de saber que TODA a imprensa tupiniquim não apenas apoiou, como clamou pelo Golpe Cívico-Militar que derrubou o presidente João Goulart, democraticamente eleito, colocando em seu lugar um bando de milicos babões que, entre outras aberrações, transformaram o Brasil no país mais desigual e corrupto do mundo.

Sim, existiram exceções e muitos jornalistas que trabalhavam para essa imprensa golpista e anti-democrática certamente eram contra o apoio dado à Ditadura pelos donos da mídia. Jornalistas que pagaram caro pela sua rebeldia contra o arbítrio e a covardia, como Vladmir Herzog, morto depois de ser barbaramente torturado pelos cães de guarda do regime apoiado pelos Frias, Mesquitas, Marinhos e outros mafiosos que vendem mentiras que visam atender seus interesses financeiros ou políticos travestidas de "informações".

Hoje, posam de vestais da defesa da democracia e da ética, porém ficaram milionários mamando nas tetas daquele governo de exceção, enquanto centenas de pessoas eram barbaramente torturadas e assassinadas covardemente.

Alguns, mais caras-de-pau, exibem provas de que foram censurados para dizer que nunca foram favoráveis ao regime. Mentira! A Folha, por exemplo, nunca sofreu qualquer tipo de censura. O Estadão, jornal cujos ex-donos lamentam o fim da escravidão até hoje, chegou a ser censurado, mas não por defender a volta da democracia e sim por ter apoiado a ala dos milicos que foi derrotada no golpe-dentro-do-golpe que aconteceu em 1968.

A rede Globo então, nem se fala. Funcionava como porta-voz oficioso da Ditadura e assim permanece até hoje - não ficaria chocado se soubesse que Ali Kamel, o torquemada da central de "jornalismo" da Globo, tem uma foto do general Garrastazu Médici, o carrasco, pendurada em cima da sua cama.

O meu amigo blogueiro Eduardo Guimarães, do Cidadania.com, está organizando mais um protesto em frente ao feudo dos Frias. Eu estarei lá. Confira abaixo a programação e compareça! Precisamos mostrar a esses canalhas desumanos que eles não detém mais o monopólio da palavra e da opinião.

PROTESTO CONTRA A "DITABRANDA" DA FOLHA
DIA: Sábado, 7 de março,
HORÁRIO: às 10 horas da manhã.
LOCAL: Folha de São Paulo, Rua Barão de Limeira, no centro de São Paulo.

Georges Labica


Um dos filósofos marxistas mais talentosos do século XX.

Por Miguel U. Rodrigues. Portugal

- Um Humanista Revolucionário que amava a Palavra, o Pensamento e a Vida

Resumo

Georges Labica faleceu no dia 12 de Fevereiro em Saint Germain en Laye, França. A esse amigo e colaborador de odiario.info, que foi um dos filósofos marxistas mais talentosos e criativos do século XX, dedica Miguel Urbano Rodrigues este artigo.

Foi pelo telefone que falamos pela primeira vez há uns dez anos.

Eu estava em Paris com Henri Alleg e pedira-lhe que encontrasse editor para o livro de uma amiga chilena.

Ele comentou: vais expor o caso a um camarada mais indicado do que eu para isso. Pegou no telefone ligou para Georges Labica, trocaram algumas palavras, e passou-me o aparelho. Eu conhecia dois ou três dos seus livros, admirava-o, mas senti algum acanhamento com a situação. Logo se desvaneceu.

Tive a estranha sensação de falar com alguém muito próximo, pelo tom de quase intimidade que imprimiu ao nosso breve diálogo. Foi o prólogo de uma futura amizade que não parou de crescer.

Georges visitou o Alentejo pela primeira vez em 2004. Chegou para participar no I Encontro Civilização ou Barbárie, em Serpa.

A velha cidade da Margem Esquerda do Guadiana produziu nele um efeito de deslumbramento.

As muralhas medievais, as ruelas tortuosas, o casario branco, a transparência do céu azul, a vastidão silenciosa dos montados, a atmosfera humana, fascinaram-no.

Nadya, a sua mulher, uma Kabila que aos setenta anos faz pensar, pela beleza e pela figura, numa princesa das Mil e Uma Noites, sentiu-se também enfeitiçada.

Georges e Nadya gostaram tanto que voltaram. Ele retornou a Serpa para fazer uma conferência e, posteriormente, para intervir no II Encontro Civilização ou Barbárie.

- Sabes – confidenciou uma tarde, sorvendo com vagar um café no pátio da residencial onde estava hospedado – sentir-me numa cidade governada há três décadas por comunistas, onde a fraternidade nos envolve de manhã à noite, mergulha-me num mundo sonhado cujas portas não fomos capazes de abrir. Os comunistas do teu Alentejo fazem-me regressar à juventude, quando acreditávamos que iríamos transformar rapidamente o mundo e concretizar o projecto de Marx.

As visitas de Georges Labica a Portugal foram ignoradas pela comunicação social caseira com excepção de um pequeno semanário de Beja, o «Alentejo Popular», que o entrevistou.

Essa atitude não surpreende. Os jornais ditos de referência e os e canais de TV portugueses não identificam qualquer interesse noticioso na vinda ao país de um intelectual com a envergadura do autor do “Dicionário Crítico do Marxismo”.

O Filósofo e a Obra

Georges Labica, foi na minha opinião um dos filósofos marxistas mais criativos do século XX.

A sua contribuição como professor e pensador foi importantíssima para que sucessivas gerações – primeiro na Universidade de Argel, depois na Universidade de Nanterre,em Paris – se aprofundassem na compreensão da obra, da mundividência e do projecto do autor de “O Capital”.

Na sua obra vastíssima livros como “O Estatuto Marxista da Filosofia”; “O Paradigma do Grande Hornu-Ensaio sobre a Ideologia»; ”De Marx ao Marxismo»; «Frederick Engels, sábio e revolucionado” e sobretudo o “Dicionário Crítico do Marxismo” são trabalhos fundamentais numa época em que o fim da URSS funcionou como estímulo à capitulação de milhares de intelectuais progressistas e transformou em moda a satanização do marxismo.

Pensador consciente de que a reflexão sobre o homem e a transformação da vida exigem a abertura ao universal, Labica adquiriu desde a juventude uma cultura humanista que lhe permitiu escrever sobre acontecimentos e personalidades muito diferentes que intervieram, por vezes decisivamente, no movimento da história, influenciando-lhe o rumo. Estão nesse caso ensaios sobre Ibn Kaldhoun, as Teses de Marx sobre Feuerbach, Lenin, Robespierre, Labriola e outros.

Essa faceta da sua personalidade ajuda a compreender a trajectória do pensador para o qual a participação militante nas lutas sociais do seu tempo era complemento indispensável do trabalho criador do filósofo.

Não se limita como outros à reflexão sobre a obra de Marx. Ao aplicar o marxismo à compreensão do mundo contemporâneo, ao utilizar o método do mestre para o entendimento de fracassos na transição do capitalismo para o socialismo, e para a análise do presente, inova, revela uma poderosa criatividade.

O fim da sua actividade docente permitiu-lhe intensificar as colaborações em revistas e outros media progressistas e participar com mais frequência em Congressos e Seminários Internacionais promovidos por partidos e movimentos revolucionários. Correu então muito pelo mundo, da Europa à Africa, de Havana ao Médio Oriente.

O Revolucionário

Foi nessa fase da sua vida que cimentamos a amizade que nos unia.

Comunista desde a juventude, afastara-se do PCF por não se rever mais num Partido que, participando no governo da gauche plurielle, avalizara uma política neoliberal tão reaccionária que – recordava – privatizara mais empresas do que, juntos, os governos de direita de Balladur e Juppé.

“Deixei o Partido ouvi-lhe desabafar um dia – para continuar comunista!”

Respeitado inclusive pelos inimigos, Labica conseguia com frequência nas suas intervenções em Encontros Internacionais, transmitir mensagens ideológicas de grande rigor teórico que findavam em apelos à acção revolucionária.

Conheci poucos comunistas como ele com os quais me tenha sentido tão plenamente identificado nos terrenos da ideologia e da praxis.

Fez do eticismo na política, como na vida quotidiana, uma exigência permanente. Essa fidelidade difícil a princípios e valores revolucionários criou-lhe ao longo da vida embaraços e antipatias mesmo entre camaradas. Era um marxista incómodo.

Como comunista não calava críticas aos mais altos dirigentes revolucionários quando as tinha por necessárias. Era incompatível com todas as modalidades de populismo e com opções tácticas que envolviam concessões ideológicas. Recordava a opinião de Lenin para o qual o taticismo era uma forma de oportunismo.

Mais de uma vez o vi permanecer sentado em actos públicos em que a quase totalidade dos presentes aclamava com entusiasmo um líder carismático cujo discurso resvalara para a demagogia.

O Humanista

Georges Labica desenvolvera um grande afecto pela América Latina. Falava com fluência o castelhano, conhecia bem a história atormentada do período colonial e a história das revoluções do século XX no Continente, desde a mexicana à venezuelana, e obviamente a cubana. Essa intimidade com o passado, remoto ou recente, de sociedades tão diferentes das europeias permitia-lhe um contacto directo com as pessoas nas cidades e nos meios rurais.

Coincidimos mais de uma vez em Caracas e no México. Esses encontros eram extremamente gratificantes para mim e minha companheira pela amizade que nos ligava a Georges e a Nadya.

Não esqueci uma manhã em Coyocan, na Cidade do México, quando visitámos a Casa de Frida Kahlo e Diego Rivera que todos admirávamos e, depois, aquela onde viveu e foi assassinado Trotsky.

Horas como essas abriam portas para intermináveis conversas posteriores sobre a bela e inquietante aventura do Homem empurrado hoje para o abismo por um sistema de poder monstruoso, que ameaça a própria continuidade da vida na Terra.

No Palácio Nacional, implantado na gigantesca Praça do Zocalo, a contemplação dos frescos de Rivera, como maravilhoso painel da história terrível e maravilhosa do seu povo, convidam, quase obrigam, a uma meditação serena e enriquecedora sobre a vida, as grandezas e misérias do homem, a sua caminhada para um futuro insondável, e os seus medos, impotência e insignificância.

Conversar com Georges ajudava a transformar o conhecimento em cultura num processo de assimilação difícil de compreender e explicar.

E difícil porque ele foi também um pensador que amou com paixão a palavra. Poderia ter sido como outros, um filósofo grande e um revolucionário íntegro e ético e um mau escritor. Mas Georges Labica, ao lançar pontes harmoniosas entre as ideias e a linguagem que as expressa, criou e dominou um estilo que fez dele um grande escritor. Ao ler alguns ensaios do seu último livro, A Teoria da Violência, recordo os grandes clássicos franceses do século XVIII, porque a forma e a essência do pensamento se fundem harmoniosamente, inseparáveis.

No final de um almoço, no seu apartamento de Saint Germain en Laye, onde quadros e objetos de arte conduzem o visitante a imaginar a caminhada de Georges pelas estradas do mundo, Nadya fez uma confidência de que guardo memória:

- Quando o vi pela primeira vez numa aula, no liceu onde ele era professor, eu era uma jovem da Kabilia que saía da adolescência. Mas pensei “este jovem vai ser o homem da minha vida”. E foi. Estamos casados há meio século e amo-o como nos anos da juventude.

Por mim, falo da amizade que cresceu com a admiração.

Aprendi com o rodar do tempo que o sentimento da amizade é muito diversificado. Incluo o que me ligava a Georges Labica entre os menos comuns.

Ele tinha o poder de transmitir confiança quando me escrevia, manifestando apreço pelos meus modestos escritos e identificação com posições e ideias que eu assumira.

É reconfortante a certeza de que a obra e o exemplo de Georges Labica vão sobreviver ao seu desaparecimento físico.

Vila Nova de Gaia,16 de Fevereiro de 2009

O original deste artigo encontra-se em www. odiario.info

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A transformação autoritária de Israel



Por Sharon Weill e Valentina Azarov (tradução Victor Barone)
Publicado originalmente no site Eletronic Intifada

Uma das principais questões levantadas durante o recente conflito na Faixa de Gaza – além do considerável número de denúncias de violações das leis humanitárias internacionais, que não trataremos neste artigo – diz respeito ao funcionamento da lei em Israel nos casos relacionados à liberdade de expressão, opinião e acesso a informação. O Estado fez tudo que estava ao seu alcance (e além dele) para silenciar as vozes que se opuseram as políticas de governo e a recente operação militar na Faixa de Gaza.

Estes eventos foram componentes primordiais no processo que levou ao resultado das eleições para o parlamento israelense, onde um partido, o Yisrael Beiteinu, cujo líder defende uma agenda racista e autoritária, tornou-se a terceira força política no País. As políticas de Estado, que serão examinadas neste artigo – o banimento dos protestos, as restrições à liberdade de expressão e a desqualificação dos partidos árabes – são parte da transformação de Israel em um regime autoritário baseado na segregação.

O banimento dos protestos

Durante as operações militares em Gaza, manifestantes pacifistas se defrontaram com a brutalidade da polícia e do exército. De acordo com relatórios de 12 de janeiro de 2009, de autoria do jornal Haaretz, e de 2 de janeiro de 2009, de autoria da organização de direitos humanos Adalah, em 230 protestos, 801 manifestantes foram presos, 277 deles crianças ou adolescentes. O motivo das prisões: “perturbação da paz”, “acenar com bandeias palestinas”, e “ferir o moral da nação”.

Em 7 de fevereiro de 2009, 225 pessoas permaneciam detidas, incluindo 89 crianças e adolescentes; 114 pessoas foram levadas a julgamento. Outras foram interrogadas pelos serviços de segurança e alertadas a não tomar parte de outras manifestações; alguns foram mantidos em prisão domiciliar e proibidos de entrar em certas cidades.

A grande maioria destes presos era composta por palestinos com cidadania israelense. Palestinos, israelenses e manifestantes de outros países participaram de protestos pacíficos na Cijordânia e foram violentamente reprimidos pelo exército israelense, inclusive à bala. Estes confrontos causaram a morte de quatro palestinos em Nilin, Qalqiliya e Sawad, além de inúmeros feridos.

A liberdade de expressão e de manifestação e as liberdades pessoais foram sistematicamente violadas pelo Estado.

Violação da liberdade de imprensa

Jornalistas israelenses têm sido proibidos de entrar na Faixa de Gaza nos últimos dois anos. Amira Hass e Shlomi Eldar, dois conhecidos jornalistas que entraram em Gaza antes da ofensiva, foram imediatamente presos e reenviados para Israel. Jornalistas estrangeiros também tiveram acesso negado à região desde o início de novembro de 2008, devido à interrupção do cessar fogo com o Hamas e o fechamento dos pontos de passagem entre Israel e a Faixa de Gaza.

A Foreign Press Association fez uma petição à Suprema Corte de Israel em 24 de novembro de 2008 solicitando livre acesso a região. A petição deixava claro que os repórteres eximiriam Israel de qualquer responsabilidade pela sua segurança ao adentrarem a Faixa de Gaza.

A primeira reação surgiu apenas em 31 de dezembro de 2008, após jornalistas terem pedido pressa na decisão devido ao início da operação militar israelense na Faixa de Gaza. O exército permitiria que oito jornalistas adentrassem a zona do conflito.

No dia 2 de janeiro de 2009 a justiça israelense se pronunciou:

... a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, como o direito do público a informação, mantêm-se inalterados, mesmo em tempos de guerra, e em um período como este têm uma importância especial; no entanto, estes direitos não são absolutos e diante das circunstâncias têm de ser equilibrados diante do risco para vidas humanas como resultado da abertura de pontos de passagem entre Israel e a Faixa de Gaza”.

A corte, inequivocamente, endossou a proposta do Estado de liberar o acesso a apenas oito jornalistas estrangeiros, quando a passagem se tornasse possível para fins humanitários e esta entrada teria que ser coordenada junto às autoridades competentes com um dia de antecedência á data de entrada requerida pelos jornalistas.

Além disso, a corte endossou a posição do Estado de que os procedimentos estariam “sujeitos a mudanças de acordo com as circunstâncias. No entanto, esperamos que sejam tomadas todas as medidas necessárias, de acordo com os procedimentos estabelecidos e em consideração aos direitos e interesses representados pelos peticionários”.

Um dia depois, a operação terrestre em Gaza teve início. O Estado usou este fato como um fator de mudança nas condições expressas pela justiça, impossibilitando a entrada dos jornalistas na Faixa. Assim, a obrigação de viabilizar a entrada dos jornalistas, que havia sido acordada um dia antes, nunca foi implementada pelo exército israelense.

Em 20 de Janeiro de 2009, após o fim da operação, o Estado se predispôs a garantir o acesso dos jornalistas. Ainda assim, a Foreign Press Association protocolou outra petição requerendo acesso total dos jornalistas, como havia feito em novembro de 2008, pois não estava satisfeita com uma mera declaração de intenção por parte do Estado. No curso dos dias Israel concordou em permitir o acesso, mas apenas para jornalistas estrangeiros.

O Estado violou a primeira decisão?

Na sua segunda decisão, a corte afirmou que não iria julgar a violação de sua decisão anterior por parte do Estado, uma vez que a questão não seria relevante ao caso em questão. O Estado, por sua vez, também alegou que não houve violação da primeira decisão, uma vez que todas as restrições foram impostas apenas por razões de segurança.

Os peticionários não pediram que o Estado fosse confrontado pela corte. Eles ainda não tinham a informação - publicada um dia após a segunda petição ter sido feita pelo jornal Haaretz – revelada por uma carta do Ministério da Defesa endereçada ao assessor jurídico do Gabinete do primeiro-ministro, segundo a qual as condições de segurança não eram impedimentos para a entrada de jornalistas na Faixa de Gaza e que o bloqueio ao acesso dos jornalistas foi mantido por motivo de relações públicas. A questão da segurança teria sido uma desculpa.

Na carta, o conselheiro jurídico do Ministério da Defesa alertava que se o gabinete do primeiro-ministro continuasse a bloquear o acesso dos jornalistas, o Estado poderia se ver em confronto com a corte. Deve-se notar que o Estado israelense nunca negou a existência desta carta ou seu conteúdo (O artigo foi originalmente publicado em hebreu no dia 21 de janeiro de 2009 na edição impressa do Haaretz. Uma tradução parcial foi publicada na edição online do jornal).

Banindo partidos árabes das eleições israelenses

A repressão sobre a minoria palestina em Israel é uma reminiscência da história sócio-política do poder militar israelense e das suas políticas de limpeza étnica. Para destacar apenas um dos muitos problemas representados pela estrutura do autoritário sistema jurídico do país seria necessário lançar uma luz sobre sua própria natureza discriminatória, que visa a erosão da identidade dos palestinos que vivem dentro das fronteiras de Israel, através da proibição da bandeira palestina e da sistemática negação dos direitos à propriedade por parte de palestinos em Israel.

Em 12 de Janeiro de 2009, a Comissão Eleitoral Central (CEC) do parlamento israelense desqualificou a candidatura dos dois partidos árabes - United Arab List-Ta'al e Balad (ou Aliança Democrática Nacional (NDA) - que representam mais de 160 mil eleitores israelenses. Estes partidos se viram proibidos de disputar as eleições para o Knesset (Parlamento), a ser realizada em 10 de Fevereiro de 2009. A desqualificação foi seguida de uma denúncia apresentada ao CEC por Avigdor Lieberman, chefe do partido da extrema-direita Yisrael Beiteinu.

De acordo com a secção 7A da Lei Básica de Israel, o Knesset permite a desqualificação de um partido quando seus objetivos ou os de seus candidatos envolvem: (i) a destruição do Estado de Israel como um Estado judeu e democrático, (ii) incitamento racismo, ou (iii) apoio a um estado inimigo ou de uma organização terrorista durante um conflito. Além disso, a lei foi recentemente alterada para incluir todos aqueles que visitaram um país inimigo nos últimos sete anos antes da apresentação da sua candidatura, como se tais ações pudessem ser vistas como suporte a um conflito armado contra Israel.

A moção de desqualificação foi proposta por partidos de direita e defendidos por uma maioria dos membros da comissão, incluindo membros do partido Kadima e os trabalhistas. Vários membros da CEC equipararam o apoio dos partidos árabes aos palestinos residentes na Faixa de Gaza durante as recentes incursões, ao apoio ao terrorismo. A maior preocupação dos membros da Comissão foi a intenção destes partidos em alterar a definição da constituição de Israel de um Estado "judeu e democrático" para um Estado “democrático de todos os seus cidadãos.".

A Adalah, uma organização não governamental dedicada a proteger os direitos dos palestinos em Israel, submeteu uma petição legal contra a decisão do Knesset.

A principal alegação foi de que a decisão fere os direitos dos candidatos serem eleitos e que impede o direito constitucional dos cidadãos votarem nestes partidos para elegerem seus representantes para o Knesset. Além disso, a ONG alegou que maioria dos membros do CEC levou em conta argumentos irrelevantes, negligenciando a legislação e a jurisprudência existentes. As plataformas destes partidos já haviam sido avaliadas e aprovadas por uma extensa banca de juízes nas eleições anteriores e desde então não houve nenhuma mudança na sua agenda política.

A ONG Adalah salientou que os debates na CEC foram violentos e descontrolados, não permitindo um encaminhamento construtivo sobre a questão e isolando uma das partes. A situação ficou tão fora de controle que Eliezer Rivlin, presidente da Comissão de Justiça declarou: "tendo em conta a situação que foi criada, eu decidi não votar" (Ata dos debates de 12 de Janeiro de 2009, p. 60).

Os representantes das partes não tiveram a oportunidade de apresentar seus argumentos e foram várias vezes interrompidos (ver págs. 20-25 da ata). No curto período de tempo que foi concedido a MK Ahmed Tibi, líder da United Arab List (UALAMC), ele declarou claramente que "os partidos árabes se opõe a uma política e não a um país" e confirmou que as suas agendas políticas buscam uma solução comum para que os dois povos possam "viver em conjunto e não morrer juntos" (pp 31-33 da ata).

Assim, a decisão tomada pela CEC foi tendenciosa e baseada em informações incompletas, colhidas muitas vezes da mídia. Mesmo que as alegações feitas pelos que pediram a desqualificação dos partidos árabes fossem verdadeiras, ainda assim não constituiriam motivo suficiente para esta desqualificação. No entanto, uma maioria esmagadora aprovou a medida: 21 votaram a favor da inelegibilidade do UALAMC, sete membros votaram contra e dois abstiveram, 26 membros votaram a favor da retirada da NDA, três membros votaram contra e um absteve-se.

Em 21 de Janeiro de 2009 o Supremo Tribunal de Israel, com uma bancada de nove juízes, aceitou por unanimidade a petição que invalidou a decisão da CEC e reintegrou o direito de ambos os partidos disputarem a eleição para o Knesset.

Caminhando para um regime autoritário

Uma vez que o Estado comece a dificultar a criação e desenvolvimento de uma opinião pública; uma vez que a mídia é silenciada ou transforma-se em uma ferramenta de propaganda; uma vez que manifestações e partidos políticos são colocados na clandestinidade por se oporem ao governo, a sociedade passa a se transformar lenta mas inexoravelmente, movendo-se ao largo dos regimes democráticos rumo ao autoritarismo.

Os alegados crimes de Guerra cometidos pelo exército israelense na Faixa de Gaza, as violações de direitos básicos de cidadãos israelenses e o resultado das eleições de 2009 são exemplos desta transformação. O que ocorreu nos dois meses que antecederam as eleições em Israel explica, em certo ponto, o voto de muitos israelenses que fizeram de um partido racista a terceira força política em Israel.

O partido de Avigdor Lieberman advoga o banimento dos partidos árabes que clamam por um “Estado democrático para todos os cidadãos” e a repressão do que vê como “traição” por parte dos cidadãos árabes em Israel. De acordo com seu site, o Yisrael Beiteinu reivindica um “patriotismo incondicional” e exige que os cidadãos “afirmem sua lealdade ao Estado e estejam prontos a servir ao exército ou ao Serviço Nacional para poderem se tornar elegíveis para qualquer benefício estatal”.

O partido declara em sua plataforma a intenção de fazer de Israel um Estado puramente judeu e, ao mesmo tempo, “aumentar a Presença Judia em Yehuda, Shomron, (Cijordânia em outras palavras), Golan (Colinas de Golas, território sírio ocupado) e Jerusalém Leste, assim como trabalhar para a separação entre Gaza e Cijordânia".

De acordo com o site do partido, "Idealmente, o lobo habitará com o carneiro, mas nós não vivemos tempos ideais. A história tem mostrado que há um perigoso potencial para a eclosão de conflitos em regiões habitadas por povos que professam religiões diferentes. ...Membros desta minoria (árabe) tendem a servir como agentes terroristas sob o comando da Autoridade Palestina. Muitos já tornaram pública sua falta de lealdade para com o Estado. Esta situação pode levar ao colapso de Israel como um Estado Judeu e democrático e, talvez, como entidade coesa. Além disso, em nossa opinião, a única solução possível é a troca de territórios e de população, com o objetivo de separar as nações judia e árabe respectivamente”.

Lieberman tem feito incitações racistas contra palestinos com nacionalidade israelense. Em uma recente coletiva de imprensa organizada pelo seu partido em Haifa, impediu a participação de jornalistas árabes. Como o Haaretz noticiou em 6 de fevereiro, durante recente visita a escolas no norte de Israel, Lieberman foi saudado com gritos de “morte aos árabes” e propostas de “revocar a nacionalidade israelense dos árabes”. O Haaretz revelou também que Lieberman foi seguidor do movimento Kahane Kach, de extrema-direita, banido em 1988.

Idéias que já foram consideradas extremamente racistas para serem legitimamente expressas são agora parte do discurso político em Israel, enquanto outras opiniões são silenciadas. Trata-se de um sério sinal de que a situação em Israel lembra mais e mais a era do apartheid na África do Sul.

Sharon Weill is a PhD candidate in International Humanitarian Law, University of Geneva, Research Assistant with the Rule of Law in Armed Conflicts project and lecturer in IHL. Valentina Azarov is a Legal Researcher with HaMoked - Center for the defence of the individual and author with the International Law Observer and the Alternative Information Center.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Till Brönner - Oceana (2006)






Músicas:

01. Bumpin' ( music by Wes Montgomery)
02. Love Theme From Chinatown
03. In My Secret Life (feat. Carla Bruni)
04. The Peacocks
05. I'm So Lonesome I Could Cry (feat. Madeleine Peyroux)
06. Subrosa
07. Pra Dizer Adeus (feat. Luciana Souza)
08. It Never Entered My Mind
09. River Man (vocal Till Bronner)
10. Danny Boy
11. A Distant Episode
12. Tarde
13. You Won't Forget Me

Till Bronner (trumpet)
Dean Parks (guitar)
Gary Foster (alto saxophone)
Jim Cox (piano)
Larry Goldings (Hammond b-3 organ)
David Piltch (bass guitar)
Jay Bellerose (drums)

Créditos: Rogerio

O Capitalismo em crise...

Refeitório para americanos carentes: público crescente


'Fome Zero made in USA' dá US$ 6 por dia para 31 milhões


Uma notícia no diário argentino Clarín conta como vivem os 31 milhões de cidadãos americanos que recebem cupons de alimentação para viver. Um jornalista da Louisiana (o estado mais pobre do país) faz a experiência, tentando viver com US$ 6 (R$ 14) por dia. O plano de socorro de Barack Obama amplia em 13% os gastos com esses cupons, na previsão de que a crise e o desemprego aumentarão sua clientela. Veja a íntegra.


Refeitório para americanos carentes: público crescente

É o lado obscuro da vida em um dos países mais do mundo. Nos Estados Unidos, quem depende dos cupons de alimentação oferecidos pelo "Papai Estado" não recebe mais que um punhado de dólares. Mas a maior crise económica das últimas décadas faz o número necessitados aumentar rapidamente. Nunca houve tantos americanos vivendo desses cupons. E a tendência é aumentar.


Jornalista conta experiência em site


A lista de alimentos Sean Callebs assemelha-se à de uma dieta para emagracer. "Uma porção de cereal, uma banana, uma xícara de chá.. e faltam quatro longas horas até almoço", ele lamenta.


Em uma experiência que tem tido grande impacto sobre a audiência, este jornalista da CNN resolveu experimentar na própria carne como se pode viver de cupons de alimentação. Ou não. Suas experiências são relatadas em um blog.


Faz um mês que ele tenta viver gastando até US$ 6 por dia. Já chegou quase no fim. Mas este repórter da Louisiana queixara-se em seu blog de permanentes ataques da fome. Poucas vezes você pode comprar frutas e legumes frescos, conta.


Fome à americana


Embora provisoriamente, Callebs experimenta a sina de um em cada dez americanos. Em setembro passado, 31 milhões de pessoas no país compravam alimentos com os cupons.


"Eles são os números mais elevados de todos os tempos", disse Ellen Vollinger, diretor de Frac, uma organização de Washington de pressão contra a fome.


"Muitos americanos já não sabem onde arrumarão sua próxima refeição", destaca ela. O aumento do desemprego faz com que a procura de cupons aumente constantemente, mas as carências não terminam aí: cada vez mais pessoas, mesmo tendo um emprego, dependem dos "Food Stamps".


Muita gente tem até mais de um emprego, mas a renda não basta. "Muitas famílias pulam refeições para pagar o aluguel", disse Ellen. "Pais deixam de comer para que fique alguma coisa para os filhos e às vezes até crianças passam fome, nos Estados Unidos. É uma vergonha."


O estigma do cupom


Os cupons de alimentação começaram a ser distribuídos durante a 2ª Guerra Mundial. Hoje, o governo já não distribui cupons papel, mas por meio de um cartão eletrônico, que fornece em média US$ 100 por pessoa.


Desde 2008, o Ministério da Agricultura evita usar o termo cupom de alimentação. O título oficial agoora é "Programa de ajuda para suplementar a nutrição".


Mas o plano ainda tem um estigma. "Aqueles que precisam muitas vezes se recusam a pedir ajuda", diz a agente social Srindhi Vijaykumar, da organização DC Hunger Solutions, que promove os cupons nas ruas de Washington. É especialmente difícil chegar até os aposentados, imigrantes e famílias operárias, diz ela.


Quem usa os cupons é confrontado com algumas dificuldades no supermercado. O carentes têm em média US$ 3 por dia para fazer compras. Por isso muitas vezes são obrigados a fazer cortar alimentos.


"As pessoas só compram o que é barato, não é perecível e enche a barriga", diz Vijaykumar. O crédito mensal normalmente é consumido em duas ou três semanas. "Muitas famílias vão então para os sopões", disse Ellen Vollinger.


Obama aumenta verba do programa


Não poucos depositam as suas esperanças no novo governo de Barack Obama. O plano de socorro económico de US$ 787 bilhões, lançado na semana passada pelo chefe da Casa Branca, permitirá um aumento de 13% na verba para os cupons de alimentação.


No entanto, Ellen estima que a fome vai aumentar nos EUA. "Esta recessão certamente não será breve."


A crise também atingiu duramente a classe média. De acordo com dados do Departamento do Comércio, o seu consumo caiu novamente em dezembro, pelo sexto mês consecutivo, enquanto a taxa de poupança subiu 2,9% no fim de 2008.
Annie Moncada, 63 anos, confessa que comprava coisas "desnecessárias". Mas agora seu cupom está guardado. "Agora eu ponho na panela mais carne moída e menos bifes e também economizo mais eletricidade", diz. Tal como ela, milhares de famílias cortam gastos, passeios, idas a restaurantes ou ao cabeleireiro. O fim da crise parece longe.

Fonte: Clarín; intertítulos do Vermelho

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Enquanto isso na Bolívia....

Morales denuncia infiltração da CIA em petrolífera boliviana


Photo

LA PAZ (Reuters) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou nesta terça-feira uma infiltração da agência norte-americana de inteligência, a CIA, na petrolífera estatal boliviana YPFB, com o suposto propósito de fracassar a nacionalização do setor de hidrocarbonetos iniciada em 2006.

Morales sugeriu que um recente escândalo de corrupção que provocou a saída do presdiente da YPFB e a prisão de seu companheiro de partido Santos Ramírez têm ligação com a infiltração, no entanto evitou defender o ex-funcionário.

"Está totalmente confirmada uma infiltração (na YPFB) de agentes externos, agentes da CIA", disse Morales em um programa na região cocaleira de Chapare.

Morales disse que "talvez seja assim que o império opera para tentar fracassar políticas que vamos levando adiante".

Ele assegurou estar preparado para enfretar "mais intenções de desestabilização após tentarem armar um golpe no ano passado para me tirar do Palácio do Governo".

O presidente boliviano informou como principal fonte da denúncia de infiltração um ex-capitão da polícia local, Rodrigo Carrasco, que se identificou como um agente da CIA que chegou de maneira inesperada no ano passado à gerência de comercialização da YPFB com um diploma falso de engenheiro.

Carrasco foi exonerado do cargo no início de fevereiro, acusado de prejudicar uma investigação pelas mesmas acusações de corrupção que afetaram Ramírez, um dos fundadores do Movimento al Socialismo, partido do governo.

(Reportagem de Carlos Alberto Quiroga)

Outubro, obra do genial Eisenstein - 1925

Oktyabr, Sergei M. Eisenstein.


Sinopse

Terceiro longa-metragem de Eisenstein, que ele fez para comemorar os dez dias de Revolução Soviética, em 1917, durante os quais os bolchevistas derrubaram o governo Kerensky. Outra obra máxima de Eisenstein. Aqui ele usa, de forma impressionante, métodos experimentais e sofisticados de montagem, baseada no choque entre imagens para comunicar idéias abstratas, e o conceito das massas como herói. Filme obrigatório aos amantes da sétima arte, pleno de criatividade e forte apelo político social.


Informações do Arquivo

Formato: Rmvb.
Tamanho: 600 Mb.
Duração: 95 Min.
Legendas: Português - BR.
Créditos: F.A.R.R.A.-Shadows V.

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senha para descompactação dos arquivos:
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Informações do Filme

Direção: Sergei Eisenstein e Grigory Alexandrov.
Roteiro: Sergei Eisenstein e Grigory Alexandrov.
Música: Edmund Meisel.
Fotográfia: Vladimir Nilsen, Vladimir Popov, Eduard Tisse.
Direção de Arte: Vasili Kovrigin.
Elenco: Vladimir Popov, Boris Livanov, Eduard Tisse, Nikandrof, Layaschenko, N. Podvoisky.





Sobre Gaza....

Israel no mau caminho




Luiz Eça

Na verdade, o resultado das eleições não alterou o caminho que Israel vem seguindo. Apenas deixou-o mais explícito. A ultra-extrema-direita vitoriosa tem os mesmos objetivos dos últimos governos, só que não os camufla com falsas declarações favoráveis a um acordo de paz e à independência da Palestina.

Desde a criação de Israel, a grande preocupação da população do país tem sido com a segurança, que seria ameaçada pelos seus vizinhos, inconformados com a expulsão manu militari dos primitivos habitantes árabes da Palestina. O modo escolhido para garanti-la foi manter forças armadas muito superiores às dos inimigos, prontas para esmagar qualquer ataque, limitado que fosse, gerando terror e desestimulando futuras ações hostis.

Assim, contando com a decisiva colaboração dos Estados Unidos, o exército israelense travou 4 guerras vitoriosas contra os países árabes, entre 1948 e 1973. Depois dessa última, o Egito, o mais forte deles, passou para o lado americano e fez as pazes com Israel, inclusive estabelecendo completas relações diplomáticas. Os demais países do bloco antijudaico eram militarmente fracos e não tinham condições de empreender novas guerras. Quem continuou lutando foi a OLP (Organização pela Libertação da Palestina), entidade que unia movimentos islâmicos de diversas linhas de atuação: desde ataques a objetivos militares até ações terroristas.

De acordo com sua política agressiva, Israel reprimiu duramente todas as ações rotuladas como ameaças à segurança nacional. Chegou a invadir e a ocupar o Líbano – onde viviam em favelões a maioria dos palestinos desalojados – em 1978 e 1982, devastando o país e fazendo milhares de prisioneiros e vítimas civis. Somente na invasão de 1982 foram mortos 20.000 civis palestinos e libaneses.

Mais recentemente, em 1993, por pressão da opinião pública mundial, o governo de Tel Aviv concordou em assinar os acordos de Oslo, nos quais, pela primeira vez, admitia a criação de uma Palestina árabe independente, cujos limites seriam definidos posteriormente com base na resolução da ONU, que mandava Israel sair dos territórios ocupados na guerra de 1967 e voltar às fronteiras anteriores. Também em Oslo, parte da Cisjordânia ganhou "autonomia administrativa" (em certas questões), passando a ser gerida pela chamada "Autoridade Palestina".

De Oslo para cá, houve muitas tentativas de negociação, todas elas rompidas por atentados terroristas dos movimentos árabes mais radicais – impacientes com a lentidão das negociações - ou, na maioria dos casos, pelas próprias forças armadas de Israel. De acordo com sua doutrina de "assassinatos seletivos", elas se arrogaram o direito de matar, especialmente via mísseis lançados por aviões, aqueles que sua espionagem acusasse de terrorismo. Sem direito de defesa ou julgamento, uma aberração nos tempos de hoje, centenas dessas pessoas foram assim executadas. E, o que é mais grave, os vizinhos e transeuntes próximos dos alvos acabaram também assassinatos sem culpa alguma.

E Israel seguiu promovendo novas invasões. Primeiro da Cisjordânia, desrespeitando a "Autoridade Palestina", cujos edifícios públicos (inclusive a polícia) e equipamentos de infra-estrutura foram alvos preferenciais dos mísseis e bombas dos judeus. Devido a conflitos com o Hizbollah na fronteira do Líbano, seu exército e força aérea lançaram-se contra o país, danificando pesadamente sua infra-estrutura, reduzindo a escombros aldeias inteiras e matando cerca de 1.000 pessoas, quase todas civis. Mais recentemente, fizeram o mesmo em Gaza, agora com requintes de barbaridade tipo Gengis Khan. Bombardearam escolas, hospitais, depósitos de alimentos, instalações da ONU e prédios repletos de famílias de refugiados, sob o pretexto de enfraquecer o insubmisso Hamas.

Na verdade, Israel nunca aceitou a idéia de um país palestino livre. Pelo contrário: procurou sempre dificultar sua viabilização, permitindo e mesmo estimulando a fundação de novos assentamentos judaicos, contra proibições da ONU e compromissos firmados internacionalmente.

Hoje, 60 anos depois da fundação de Israel, a política de garantir segurança pelo uso da força bruta fracassou. Os judeus estão conscientes de que, a qualquer momento, o Hamas voltará a lançar foguetes e os movimentos islâmicos mais exaltados lançarão atentados terroristas. O Hizbollah, na fronteira do Líbano, continua forte e pronto a novas incursões guerrilheiras. Na área internacional, Israel perdeu um importantíssimo aliado, a Turquia, que condenou veementemente o massacre de Gaza, tendo o primeiro-ministro Erdogan brigado em pleno plenário de Davos com Shimon Peres, presidente de Israel. Some-se a isso a progressiva deterioração da imagem de Israel, hoje visto universalmente como país que não respeita o Direito Internacional e não tem escrúpulos em praticar ações desumanas e brutais contra populações civis.

Apesar disso tudo, Israel continua no "mau caminho". Acaba de eleger o parlamento mais direitista e agressivo de sua história. Basta dizer que todos os deputados pacifistas eleitos (árabes, esquerdistas e liberais) somaram apenas 8% dos votos.

A postura alienante do eleitorado, favorável a uma política de força provadamente errada, pode ser creditada à manipulação da opinião pública pelo "partido da guerra", formado pelas forças armadas, a indústria de armas e certos grupos políticos religiosos, tendo como porta-vozes líderes políticos de direita.

Com sua imagem fortalecida pelos triunfos nas guerras dos primeiros 25 anos do país, os militares conseguiram posição hegemônica na política israelense – haja vista o grande número deles que já foram primeiros-ministros: Rabin, Barak, Netanyahu, Sharon e Begin, sem contar os muitos que exerceram e exercem altos cargos na administração. Eles são estreitamente ligados à indústria de armas, cujos lucros sobem nesse clima de estado de guerra permanente. Frise-se que os interesses econômicos envolvidos não são de desprezar, pois Israel é hoje o quarto maior exportador de armas do mundo, constituindo-se a indústria do setor num poderoso grupo de pressão. A terceira força que integra o partido da guerra é o rabinato político. Adeptos da vinculação do Estado a conceitos pretensamente religiosos, eles podem ser comparados aos mais furiosos e reacionários membros do clero radical islâmico.

As citações abaixo falam por si: "Há uma proibição bíblica de entregar um único milímetro da terra de Israel (Palestina) aos gentios" (livros do rabino Shlomo Aviner); "Quando você mostra compaixão por um cruel inimigo, você está sendo cruel para os soldados puros e honestos" (citação do rabino Avinet, em publicação do alto rabinato do exército de Israel distribuída aos soldados em Gaza); "Soldados de Israel: poupem suas vidas e as de seus amigos, não se preocupando com uma população (palestinos) que nos cerca e fere" (alunos do rabi Yitzhak Ginsburg, autor de artigo enaltecendo Baruch Goldstein, assassino de árabes desarmados em Hebron).

Além dos grupos de pressão claramente comprometidos com a "política de força", existem em Israel intelectuais de renome, jornalistas, estudantes e políticos que defendem caminhos diferentes. Eles acreditam que agora é um bom momento para procurar um entendimento com os palestinos, inclusive o Hamas. Afinal, esse movimento ganhou as últimas eleições democraticamente, é seu representante legítimo.

Evidentemente, os problemas são difíceis de serem superados. O que fazer com os assentamentos na Palestina, onde vivem 400 mil judeus? Como atender aos 700 mil refugiados palestinos? E Jerusalém, poderá ser dividida entre os dois países?

Esses temas são os mesmos que vêm sendo discutidos sem êxito, desde os acordos de Oslo. Agora poderá ser diferente, desde que os judeus renunciem aos "assassinatos coletivos" e a novos assentamentos. E os árabes aos atentados e ao lançamento de foguetes. Com Obama, os Estados Unidos poderão ser mediadores imparciais, inclusive, exercendo pressões que eventualmente sejam necessárias, sobre ambos os lados.

Mas a perspectiva atual é sombria. Com a ultra-extrema-direita no poder, acabaram-se os subterfúgios. Netanyahu já afirmou que não existe problema da Palestina. Ele nem pensa em retirar-se da Cisjordânia ou acabar com um único assentamento. Quanto ao Hamas, voltando a lançar foguetes, será atacado com toda energia, até sua destruição final. Custe o que custar. Ao povo palestino, é claro.

Para Netanyahu, problema mesmo é o Irã. A possibilidade de Teerã vir a ter uma bomba atômica seria inaceitável. O país dos aiatolás passou a ser um fantasma a ser exorcizado a ferro e fogo, especialmente depois que o populista Ahmadinejad ameaçou varrer Israel do mapa. Não importa ele ter esclarecido que falara figuradamente; que o Irã não pretendia atacar Israel, cujo regime racista afundaria por si só.

Pela doutrina militarista israelense, a segurança do país fica ameaçada pela simples existência de um inimigo poderoso. No caso presente, o programa nuclear militar dos iranianos não é fato comprovado, mas ainda que o fosse eles contariam com uma ou duas bombas atômicas somente daqui a alguns anos. Mesmo trabalhando a toda, nunca teriam o suficiente para enfrentar as 200 bombas de Israel, somadas às milhares do seu protetor e fiel aliado, Estados Unidos.

A "ameaça atômica" de Teerã não passa de mais um pretexto para manter Israel militarizado, com apoio do povo - temente por sua segurança. E a indústria bélica faturando horrores.

Como se sabe, o soi disant centrista Olmert pediu licença a Bush para bombardear o Irã. Bush negou, para evitar o envolvimento americano em uma aventura guerreira com potencial de muitas mortes de "our boys" e prejuízos à combalida imagem dos republicanos. Olmert obedeceu. Será que o agressivo Netanyahu fará por menos?

Luiz Eça é jornalista.