sexta-feira, 18 de março de 2011

Celso Amorim: EUA querem resolver tudo com "atitude de caubói"


 Celso Amorim
Ex-ministro afirma ser "muito velho" para se sentir frustrado com negativa dos Estados Unidos em torno do programa nuclear iraniano e lembra que Mubarak era modelo para Casa Branca

O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, revela que acreditava que os Estados Unidos aceitariam o acordo costurado por Brasil e Turquia em relação ao programa nuclear do Irã. Ele confessa, no entanto, não ter sentido frustração quando a negociação foi rejeitada por Washington.

“Estou muito velho para poder ter um momento em que digo que não esperava de jeito nenhum”, afirmou o ex-chanceler durante conversa com a reportagem da Rede Brasil Atual, na quinta-feira (17), dois dias antes da chegada de Barack Obama ao país. “Os pontos essenciais que o presidente Obama tinha posto em carta para nós estavam atendidos. Dava para sentar à mesa. Uma vez sentando à mesa começavam a resolver (os problemas).”

Em maio do ano passado, Amorim e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiram convencer o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a aceitar as exigências apresentadas pelos Estados Unidos em relação ao programa nuclear. Uma carta enviada antes da reunião por Obama ao Brasil não deixa dúvidas de que os negociadores atenderam aos pontos fundamentais demandados pela Casa Branca, entre os quais figurava o enriquecimento de urânio promovido em território iraniano.

Quando o acordo com Ahmadinejad foi anunciado, Obama e a chefe do Departamento de Estado, Hillary Clinton, rejeitaram o resultado e trabalharam pela imposição de novas sanções contra os iranianos. A suspeita lançada no ar pelas nações mais ricas do mundo era se a nação asiática queria processar o minério para produzir energia ou para fabricar armas nucleares.

Um dia depois do sucesso brasileiro na conversa, uma proposta foi enviada ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para atingir bancos e empresas da nação asiática. Dias depois, a ONU aprovou as medidas, o que levou Lula a afirmar que a decisão era uma “birra” de um pai que precisa distribuir palmadas a qualquer custo.

“A realidade do mundo não é uma realidade só. Você não se dá só com as pessoas que são iguais a você, tem que conviver e tem que tentar resolver. A gente precisa conversar com nossos adversários, conversar com nossos inimigos”, ressalta Amorim.

O ex-ministro considera comprovada a ideia de que a falta de diálogo nas relações internacionais só dá resultados ruins. "Os Estados Unidos têm historicamente como inimigo na região o Irã. Aí faz uma guerra no Iraque, que era um país mais distante do Irã. Hoje, o país com maior influência no Iraque não são os Estados Unidos, é o Irã. Porque os Estados Unidos acham que resolvem tudo numa atitude de caubói.”

Amorim acredita que o acordo costurado pelo Brasil não teria sido um favor para o Irã, mas para as nações ocidentais. “Para a liderança iraniana, ficar mais isolado legitima mais uma atitude radical”, afirmou. “Falando com o Irã não fizemos ameaças, mas advertimos, e advertimos não para o que iríamos fazer, mas para o que iria acontecer. E isso ajudou a aceitarem um acordo que não estavam aceitando.”

O ex-chanceler acredita que as mudanças na ordem mundial levam à formação de um quadro no qual a voz dos países emergentes não poderá ser ignorada. Ele pondera que o fato de Brasil, África do Sul e Índia não falarem “de cima para baixo” é um fator que facilita as negociações e defende que o Itamaraty tenha um papel importante na solução da crise nos países árabes.

"Hoje em dia, todos falam que (o líder egípcio Hosni) Mubarak era um ditador, mas para Israel e para Washington era um líder árabe moderado, era o modelo. Não vou discutir se era ou não era. O povo egípcio disse o que pensava sobre ele, e é isso o que interessa”, alfineta.

Fonte: Rede Brasil Atual

Governo federal quer 85% dos municípios com rádio comunitária


Do blog Patria Latina

O governo federal pretende criar condições para que 85% dos municípios de todas as regiões do país tenham rádios comunitárias. A intenção é, entre outras ações, facilitar o processo de outorga a entidades interessadas nesse tipo de serviço. Com esse objetivo, foi lançado nesta quinta-feira (17) o Plano Nacional de Outorgas para Radiodifusão Comunitária.
A previsão é que, em 2011, 431 municípios sejam beneficiados com a publicação de 11 editais. O primeiro deles sairá na primeira quinzena de abril e o último, em novembro.

O Ministério das Comunicações estima que haja cerca de 1,5 mil rádios comunitárias aguardando outorga para operar em 1.268 cidades. Há, ainda, 13 cidades que nunca foram contempladas com esse tipo de emissora. Atualmente existem mais de 4,2 mil rádios comunitárias em todo o país.

"Não há emissoras de rádio comunitária em mais de 2 mil cidades, após 13 anos de vigência da lei para o setor", disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, durante a coletiva de imprensa destinada a anunciar o lançamento do plano.

Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff em diversos momentos manifestou que as outorgas para rádios comunitárias estão entre as prioridades do Ministério das Comunicações. "Se bem-sucedido, esse plano permitirá que 85% dos municípios sejam contemplados", disse o ministro.

Calendário de publicações
O governo pretende divulgar com antecedência um calendário com as datas dos avisos de habilitação e as localidades que serão contempladas. Dessa forma, os interessados em operar o serviço poderão se planejar, evitando atrasos e a necessidade de prorrogação dos prazos dos avisos.

"Como não havia periodicidade definida, recebíamos muitas reclamações sobre a falta de divulgação. Com o anúncio antecipado, vamos evitar a prorrogação dos prazos, o que atrasaria ainda mais todo o processo", afirmou Paulo Bernardo.

Critérios
Alguns critérios foram estabelecidos pelo governo para a escolha das cidades que serão beneficiadas pelos 11 editais previstos para 2011. A universalização dessas rádios atenderá de forma concomitante todas as macrorregiões do país, priorizando as cidades onde entidades já manifestaram interesse em explorar o serviço e as que já estão incluídas no Plano Básico de Frequências. O governo pretende contemplar antes as cidades mais populosas.

Paulo Bernardo enfatizou que a fiscalização de todas as rádios continuará sendo feita na forma prevista na legislação, mas que mudanças poderão ocorrer por meio de marco regulatório ou por projeto de lei.

"Começamos um processo de revisão da norma que trata dos critérios para outorga a fim de identificar necessidades de modificação, a partir da avaliação que estamos fazendo das sugestões apresentadas por representantes das comunidades", disse o ministro. "Na região Norte, por exemplo, reclamam que a potência máxima prevista pela lei é baixa para atender pequenas populações situadas em localidades distantes".

A potência máxima padrão permitida para os transmissores de rádios comunitárias é 25 watts. Isso permite uma cobertura em um raio de 1 km de distância. A distância mínima permitida entre as rádios é 4 km.