quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ainda repercutindo o ranço da "elite branca"...

Boris Casoy, o filho do Brasi!


Paulo Ghiraldelli Jr.

Uma parte da nossa esquerda política imagina que os ricos não são brasileiros. Pensam que eles ainda são os filhos de uma elite que estudou na Europa e que, se o Brasil for mal, irá embora daqui. Imagina que são pessoas completamente por fora da vida cotidiana do Brasil. Essa visão da esquerda pouco ajuda. Enquanto não entendermos que um homem de direita como Boris Casoy é tão “filho do Brasil” quanto Lula, não vamos descrever o Brasil de um modo útil para os nossos propósitos de melhorá-lo. Creio que o vídeo (aqui) que mostra Boris ridicularizando de maneira odiosa os garis, com o qual iniciamos o ano, deveria valer de uma vez por todas para compreendermos algo que, não raro, há vozes que querem negar: “o ódio de classe” permanece entre nós – sim, nós os brasileiros. Deveríamos levar em conta isso, sem medo, ao descrever o Brasil. Quando Ciro Gomes, ao comentar algumas reações às políticas sociais, então vindas de determinados grupos da imprensa, disse que tal coisa era obra “da elite branca”, a reação da direita foi imediata. Um dos elementos mais à direita que temos na imprensa brasileira, Reinaldo de Azevedo, saiu rasgando o verbo. Primeiro, elogiou Patrícia Pillar, atriz mulher de Ciro, para não criar desafetos, e em seguida tratou o político como um bobalhão que teria falado de algo que não existe no Brasil. Ciro teria bebido demais em algum rortianismo, lá nos Estados Unidos, quando então fez curso arrumado por Mangabeira Unger. Voltando de lá mais à esquerda do que foi, estaria inventando divisões que aqui não existiriam. Reinaldo não é um jornalista sofisticado para escrever isso, mas o que disse, no meio de sua pouca cultura, queria transmitir essa idéia. Mas quando ouvimos o que um Boris Casoy diz por detrás das câmeras, não temos como não admitir que Ciro está certo: existe uma “elite branca” no Brasil que sente profundo desprezo para com tudo que é do âmbito popular. Pode ser que vários membros dessa “elite branca” não sejam tão cruéis quanto Casoy. Pode ser, mesmo, que vários dos ricos que estão nessa “elite branca” se sintam desconfortáveis, perante os preceitos cristãos de humildade que dizem adotar, quando escutam isso que ouvimos de Boris Casoy. Todavia, o que Casoy falou é o que se pode ouvir, entre um uísque e outro, nas festas antes organizadas pelo empresariado que amava da Ditadura Militar, e que hoje é feita para angariar fundos para o PSDB, o partido que havia nascido com o propósito de não ser a direita política, mas que, agora, assume esse papel. Não quero de modo algum, com esse artigo, provocar aqueles que, sempre pensando só de modo dual, logo dirão: “ah, mas a esquerda é blá, blá, blá”. Sou um homem de esquerda. Minha condição de filósofo me dá alguns instrumentos para analisar de onde venho. Podem ficar tranqüilos. Aliás, sou uma pessoa que adora a frase de Fernando Henrique Cardoso, quando ele disse, se referindo a ele mesmo por conta de acreditar que sua política econômica, ela própria, já era política social: “não é necessário ser burro para ser de esquerda”. Mas aqui, não quero falar da esquerda. Quero mostrar que gente como Boris Casoy não caiu no Brasil vindo de Plutão. Muito menos estudou na Europa. Gente como Boris Casoy estava no Mackenzie, fazendo curso superior, mais ou menos no tempo em que Lula deveria estar vendendo limão na rua. Isso não transforma o Lula em um bom homem e o Boris em um perverso. Mas isso dá, claramente, razão a Ciro Gomes: há sim uma “elite branca” que não respeita garis, que não os acham gente, e que transferem esse ódio ao Lula, principalmente quando olham para ele e o vêem sendo abraçado por um Sarkozi, na capa do Le Monde. Sarkozi é o presidente da França. E não é de esquerda. Eis então que toda a direita no Brasil comemorou sua eleição. Todavia, Sarkozi aparece abraçado com Lula, sem o preconceito de classe que vários dos próprios brasileiros ainda possuem contra Lula, então, esse fato Lula-Sarkozi, deixa essa “elite branca” despeitada. Ela se pergunta, raivosa: “por que não FHC ou Serra?” Por que aquele “analfabeto”, por que ele, aquele … “gari”? Sim, a fala de Boris é o equivalente dessas frases que eram, até pouco tempo, restritas aos círculos da Ana Maria Braga, Regina Duarte, José Neumanne Pinto e Danusa Leão. Foram esses círculos que fingiram se espantar com o relato de César Benjamim, sobre Lula na prisão. (a história de que Lula teria tentado comer um garoto lá). Fingiram, sim, pois já haviam escutado isso em festinhas e riam disso, tratavam de fazer correr a fofoca, sendo ela verdadeira ou não. Caso queiramos melhorar o Brasil, vamos ter de ver que os brasileiros – muitos – pensam como Boris Casoy. E atenção nisso: não vamos culpá-lo pelos seus cabelos brancos não! Mainardi, na Globo, ainda não tem cabelos brancos e pensa a mesma coisa. Na Band, vocês já viram o tipo de preconceito de classe contra pobres que aparece no CQC? Já viram o menino Danilo Gentili insultando os pobres, jogando comida para eles? Não? Pois saibam que isso ocorreu sim! Esse tipo de humor é necessário? Estamos há duas décadas da “piada” de Chico Anísio contra Lula, dizendo que se Marisa fosse a primeira dama e fosse morar no Planalto, ficaria esgotada ao ver quantas janelas de vidro teria de limpar. Naquela época, a Globo fez Chico Anísio pedir desculpas em artigo na imprensa. E ele pediu! De lá para cá, o que mudou na TV brasileira? Ora, o vídeo de Boris Casoy nos diz que pouca coisa mudou. Que ainda precisamos de muito para evoluirmos. Temos uma longa caminhada pela frente no sentido de educar aquele brasileiro que não consegue entender que o dia que um lixeiro parar, ele, o rico, vai ver todas as moscas botarem ovos no seu ânus, e quando ele acordar, ele terá sido devorado em vida pelos vermes. Estamos ainda precisando de uma forte pedagogia que entre nas escolas de modo a evitar que os brasileiros do futuro sejam os Casoys da vida. As pessoas podem ser de direita, isso não deveria implicar em perder a capacidade de ver na condição social de concidadãos algo que não os desmerece (o bom exemplo não é, enfim, o próprio Sarkozi?). No Brasil, no entanto, a direita política não consegue apresentar um comportamento de brasileiros que gostaríamos que todos nós fôssemos, ou seja, pessoas capazes de ver em cada outro que lhe presta um serviço um homem digno.

Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo.
Espero você no Hora da Coruja, toda terça feira na D+TV http://demaistv.com.br , 19 horas!

Rap palestino.....grupo DAM(eternidade)

Novo filme de Michael Moore...

O caso de amor de Michael Moore com o capitalismo

por Ray O. Light [*]
Capitalismo: Uma história de amor. O novo filme de Michael Moore, "Capitalism: A Love Story" , revela muito do carácter criminoso do actual sistema económico dos EUA. E faz isso no seu habitual estilo popular. Mas o filme também reflecte o facto de que Moore ainda não ultrapassou o seu caso de amor com o capitalismo.

Em "Roger and Me," "Bowling for Columbine" e "Sicko," Moore demonstrou uma vontade real de revelar a cupidez do titãs das companhias automobilísticas dos EUA, a violência que permeia o próprio tecido da sociedade imperialista estado-unidense e a barbárie do seu sistema de cuidados de saúde em comparação aos cuidados de saúde proporcionados no Canadá, Inglaterra, França e, mais espantosamente, Cuba. Igualmente impressionante tem sido a sua capacidade de retratar estes assuntos de uma maneira que o povo dos EUA possa entender e admitir. Como filho de um trabalhador reformado da cidadela histórica da General Motors, Flint, Michigan, Moore tem um sentimento excepcionalmente bom daquilo que culturalmente mantém os trabalhadores dos EUA leais aos seus mestres corporativos. E os seus filmes contêm elementos visuais dramáticos e acontecimentos político-sociais que ajudam a destroçar os nós que unem a população dos EUA ao imperialismo estado-unidense.

Mais uma vez, no novo filme, Moore escolhe alguns exemplos ultrajantes "capitalismo selvagem" nos EUA. Ele destaca, por exemplo, o brilhante esforço do piloto da U.S. Airways, "Sully" Sullenberger, cuja habilidade no comando foi decisiva para salvar as vidas de toda a sua tripulação e passageiros com uma arrojada amaragem no Rio Hudson. O comandante Sullenberger, um orgulhoso sindicalizado, é então mostrado a usar a sua nova fama para testemunhar perante o Congresso como os pilotos de carreira estão a ter o seu treino e o seu pagamento cortado tão drasticamente que está a agravar-se um problema de segurança na indústria das linhas aéreas. Moore apresenta a prova disto, apontando para os mal treinados e mal pagos pilotos cujo avião estraçalhou-se em Buffalo, Nova York, uns poucos meses atrás, enquanto o piloto e o co-piloto estavam preocupados a discutir as suas desgraças financeiras.

Moore chama atenção para o estreito relacionamento que existiu durante alguns anos entre uns poucos juízes da Pennsylvania e a companhia privada que explora o centro de detenção juvenil local, do qual os juízes recebiam subornos. A privatização desta prisão resultou nestes juízes comprados a trancafiar jovens inocentes, durante muitos meses, a fim de manter as instalações cheias e maximizar os lucros da companhia. Que falta de vergonha ao serviço da cupidez!

No filme, Moore desenrola uma fita amarela de cenário do crime em torno do quarteirão da Wall Street onde estão companhias financeiras cúmplices no colapso da economia em 2008, as quais desde então têm sido as beneficiárias de salvamentos de muitos milhares de milhões de dólares do governo dos EUA. Ele tenta efectuar uma "prisão" dos chefes criminosos destas corporações. Também identifica um certo número de políticos democratas e seus nomeados que foram cúmplices dos republicanos de Bush-Cheney neste roubo "à luz do dia" do tesouro nacional dos EUA por conta dos seus patrões bilionários da Wall Street.

Todas estas cenas são intelectualmente instigantes e proporcionam algum "ar fresco" de verdade à população dos EUA anestesiada pelo álcool, pelas drogas receitadas e as de rua e por uma TV estupidificante orientada pelo monopólio capitalista dos mass media.

Ao mesmo tempo, Moore apresenta um certo número de imagens dramáticas e situações os quais mostram alguns sinais de esperança nas iniciativas do povo trabalhador. Ele levanta o facto de que os trabalhadores nos EUA gastam oito, dez ou doze horas do dia sob a ditadura dos seus patrões. E promove a democracia no lugar de trabalho e o êxito de negócios cooperativos dirigidos por trabalhadores. Moore também dá muita atenção à greve com ocupação dos trabalhadores da Republic Windows, de Chicago, em Dezembro de 2008. E é apoiante do seu sindicato pequeno mas democrático, o United Electrical Workers (UE). Destaca que o povo dos EUA, num momento em que a sua raiva com os bancos e as corporações estava no máximo, era simpático para com os grevistas que alcançavam as suas reivindicações em relação a todos os seus benefícios de indemnização estabelecidos contratualmente.

Entretanto, Michael Moore afirma esperar que o seu novo filme, "Capitalismo: Uma história de amor", estimule o povo dos EUA a abolir o capitalismo aqui. E é importante notar que Moore não atinge com seriedade o seu objectivo declarado.

Durante a eleição presidencial de 2004, a nossa organização apelou aos eleitores estado-unidenses a "depositar o seu voto contra os partidos gémeos do imperialismo, Tweedledum e Tweedledee [1] , a efectuar um voto de protesto". Uma das três recomendações alternativas que fazíamos era: "Escreva 'Michael Moore' em homenagem ao seu filme 'Fahrenheit 9/11' que ajudou a educar mais a classe trabalhadora dos EUA e as pessoas das nacionalidades oprimidas acerca da Guerra de Bush do que todos nós da esquerda estado-unidense em conjunto!". Contudo, acrescentámos: "Mas é uma vergonha para ele apoiar Kerry". ("The 2004 U.S. Presidential Election and the Question of Fascism," Ray O' Light Newsletter, September 2004)

Acontece que o endosso de Moore ao multi-milionário John Kerry, o candidato do Partido Democrata, foi mais do que uma fraqueza momentânea ou um incidente político. Pois, mais uma vez, na eleição presidencial de 2008, Moore apoiou o candidato democrata contra o republicano. E desta vez o homem apoiado era de cor, com alguns notáveis feitos educacionais e com uma família negra aparentemente dignificada e saudável. O candidato era também de origens muito mais humildes do que o companheiro de George W. Bush na Yale University e membro da sociedade Skull and Bones, John Kerry. Todos estes atributos pessoais tornaram Barack Obama estimável a Michael Moore.

Agora, com Obama como presidente em exercício e com a persistente defesa de Obama por parte de Moore, como pode ele apelar efectivamente à eliminação do capitalismo nos EUA de hoje? Não pode.

Dentre as imprecisões, omissões e distorções deste filme que o torna um apelo não à eliminação mas sim à continuação do capitalismo, embora de um modo mais razoável, numa forma pacífica, encontra-se o seguinte:

(1) Moore separa a política da economia do sistema capitalista ao invés de reconhecer que o cerne do capitalismo é dialecticamente interligado à política económica. Afirma desejar a eliminação do sistema económico capitalista; mas enterra a lugar pelo poder político que isso implica. Ao invés de reconhecer o papel estratégico da classe trabalhadora na eliminação do capitalismo, através da luta pelo poder dos trabalhadores contra o estado capitalista, o filme de Moore limita o papel da classe trabalhadora à luta por reformas económicas tais como cooperativas de trabalhadores.

(2) Moore distingue a abolição do capitalismo estado-unidense da abolição do Império estado-unidense, em contradição com os ensinamentos de Lenine de que o imperialismo é a última, final e superior etapa do capitalismo. A sua concepção pequeno-burguesa do capitalismo estado-unidense é um regresso aos dias primitivos dos Estados Unidos de dois séculos atrás, ou, ainda mais, aos dias primitivos do novo e ascendente capitalismo na Europa feudal. Ele centra-se inteiramente nos EUA e seu povo, como se a economia do país não estivesse totalmente interligada ao resto da economia capitalista global dirigida pelos EUA. No filme, por exemplo, as guerras imperialistas no Iraque e no Afeganistão não são explicadas como decorrendo da essência do sistema capitalista estado-unidense. Elas são tratadas apenas sob o aspecto de que afectam o povo dos EUA, omitindo o impacto que o sistema capitalista dos EUA tem sobre os trabalhadores e povos oprimidos do Iraque, Afeganistão e tantas outras terras. A expansão da guerra do Regime Obama ao Afeganistão e ao Paquistão é, claro, omitida. Isto é social-chauvinismo.

(3) Moore nunca menciona o papel da União Soviética, cujas tremendas realizações internas durante o período da última Grande Depressão Capitalista, cuja liderança da aliança global que derrotou o fascismo alemão e seus aliados do eixo na Segundo Guerra Mundial e cuja liderança na criação de um campo socialista, apontam o caminho para uma futura humanidade socialista. Ao invés disso, a Alemanha capitalista, o actual estado chinês e uns poucos outros estados capitalistas são arvorados por Moore como modelos de um capitalismo mais eficiente e menos brutal do que os EUA em relação à indústria automobilística, etc. Na verdade, o capitalismo mais civilizado, mais democrático, é o limite da visão de Moore para os EUA. Quando perguntado se é um social-democrata, Moore responde que é pela democracia. (Ele é claramente um social-democrata pelos padrões mundiais. E a sua fuga a esta etiqueta reflecte o seu temor do extremo atraso política da população dos Estados Unidos após décadas de Império americano, isto é, de hegemonia imperialista estado-unidense e a consequente cultura parasita e corrupta da sua sociedade.)

(4) O filme de Moore nunca denuncia Obama e a actual administração democrata. Ele denuncia o facto de que, na actual crise capitalista, políticos democratas bem como republicanos e os conselheiros financeiros a eles associados, incluindo Robert Rubin, Lawrence Summers e Timothy Geithner, têm servido lealmente os corruptos capitalistas da Wall Street que hoje dominam os EUA. Mas Moore omite o facto gritante e crucial de que Obama nomeou estes mesmos serviçais como supervisores da economia dos EUA, causando uma ininterrupta transição capitalista monopolista da desacreditada administração Bush de modo a continuar a "salvar os capitalistas financeiros ao invés de prendê-los!". Uma omissão total!

(5) O que está fora da visão de Moore em relação a Obama está longe de ser pessoal. No fim da entrevista de Moore a The Nation, a entrevistadora Naomi Klein louva Elizabeth Warren, a chefe do comité do Congresso de observação do salvamento, que surge no filme como uma mulher íntegra. Diz Klein: "Ela é até certo ponto o anti-Summers. É o suficiente para dar esperança, saber que ela existe". Resposta de Moore: "Absolutamente. E posso sugerir um candidato presidencial para 2016 ou 2012 se Obama nos decepcionar ? A Marcy Kaptur [congressista de Ohio] e Elizabeth Warren" [ênfase minha]. Portanto Michael Moore, que apoiou John Kerry em 2004 e Barack Obama em 2008, está a anunciar previamente que apoiará o candidato democrata a presidente em 2012 ou 2016 mesmo se Obama trair a confiança do povo. Chega de apelos de Moore à eliminação do sistema capitalista nos EUA!!

No princípio da mesma entrevista, afirma Klein que "a maior parte das pessoas são favoráveis a cuidados de saúde universais, mas elas não podiam agrupar-se por trás desta causa porque ela não estava sobre a mesa". Em resposta, Moore gentilmente critica Obama por optar "por tomar uma meia medida ao invés da medida plena que precisaria acontecer. Tivesse ele tomado a medida plena – a verdadeira, pagador único, cuidados universais de saúde – penso que teria tido milhões a apoiá-lo". Da mesma forma, se Moore não estivesse com meias medidas em relação a Obama e os democratas, o seu desejo declarado de que o filme despertasse e arregimentasse o povo dos EUA para "eliminar o capitalismo" podia ter sido bastante efectivo.

Conclusão: O filme mais recente de Michael Moore, "Capitalismo: Uma história de amor" não é um filme do proletariado revolucionário, ele não organiza a classe trabalhadora e os povos oprimidos dentro do estado multinacional estado-unidense ao combate para acabar com o capitalismo e pelo estabelecimento dos EUA socialista. Contudo, o filme levanta a noção fundamental do carácter "perverso" do sistema capitalista e a ideia de acabar com este sistema. Consequentemente, é uma ferramenta educacional e organizacional válida no combate pela justa para os trabalhadores, pela abolição do sistema capitalista e pelo estabelecimento dos EUA socialista.

Aqueles de nós que desejam sinceramente a eliminação do sistema capitalista dos EUA e do mundo, e querem trabalhar para este fim, têm como responsabilidade utilizar o mais recente filme de Michael Moore, "Capitalismo: Uma história de amor" em favor da causa revolucionária. Como lutamos para ganhar os corações e mentes dos trabalhadores e dos oprimidos pela luta revolucionária para os EUA socialista e um mundo socialista, convidemos os nossos amigos e companheiros de trabalho a ir ao cinema connosco. Discutamos com os trabalhadores e os oprimidos os prós e contras deste filme agitador e educativo. Deste modo, nós, e não Michael Moore, podemos tornar o filme um veículo para a eliminação do sistema capitalista.
[1] Personagens gémeos em Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll.

[*] Adaptação do artigo principal em Ray O' Light Newsletter, #57, "'American Exceptionalism' in the Obama Era".

O original encontra-se em http://www.northstarcompass.org/current.html


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

O chorinho nosso de cada dia....

Princípios do Choro Box 2 (2002)


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Créditos: UmQueTenha




Reflexões de Fidel...

O mundo meio século depois
Fidel Castro Ruz

AO se comemorar, há dois dias, o 51º aniversário do triunfo da Revolução, vieram a minha mente as lembranças daquele 1º de janeiro de 1959. Nenhum de nós nunca fez a peregrina ideia de que, depois de meio século, que passou voando, estaríamos lembrando-o como se fosse ontem. Na reunião na usina açucareira "Oriente", em 28 de dezembro de 1958, com o comandante-em-chefe das forças inimigas, cujas unidades elites foram cercadas e ficaram sem nenhuma saída, ele reconheceu a sua derrota e fez um apelo a nossa generosidade para encontrar uma saída decorosa para o resto de suas forças. Sabia do nosso tratamento humano aos prisioneiros e feridos sem exceção alguma. Aceitou o acordo que lhe propus, embora o advertisse que as operações em andamento continuariam. Mas viajou para a capital e, instigado pela embaixada dos Estados Unidos, promoveu um golpe de Estado. Nós preparávamo-nos para os combates desse dia, 1º de janeiro, quando na madrugada chegou a notícia sobre a fuga do tirano. O Exército Rebelde recebeu ordens de não admitir o cessar-fogo e continuar os combates em todos os fronts. Através da Rádio Rebelde, foram convocados os trabalhadores para uma Greve Geral Revolucionária, apoiada imediatamente por toda a nação. A tentativa golpista foi derrotada e nesse mesmo dia, à tarde, as nossas tropas vitoriosas entraram em Santiago de Cuba. O Che e Camilo receberam instruções de avançarem rapidamente pela estrada, em veículos motorizados com suas aguerridas forças, para La Cabaña e para o Acampamento Militar de Columbia. O exército adversário, atingido em todos os fronts, não podia resistir. O povo revoltado ocupou os centros de repressão e as delegacias. No dia 2, à tarde, acompanhado de uma pequena escolta, reuni-me num estádio de Bayamo com mais de dois mil soldados dos tanques, da artilharia e da infantaria motorizada, aos quais havíamos combatido até o dia anterior. Ainda portavam o seu armamento. Tínhamos ganhado o respeito do adversário com nossos audazes, mas humanitários métodos de guerra irregular. Assim, em apenas quatro dias — depois de 25 meses de guerra, que reiniciamos com alguns fuzis — ao redor de cem mil armas de ar, mar e terra e todo o poder do Estado ficaram nas mãos da Revolução. Em apenas poucas linhas relato o acontecido naqueles dias, há 51 anos. Começou, então, a batalha principal: preservar a independência de Cuba face ao império mais poderoso que tenha existido, e que nosso povo travou com grande dignidade. Hoje, satisfaz-me ver aqueles que, por cima de incríveis obstáculos, sacrifícios e riscos, souberam defender nossa Pátria, e nestes dias, junto aos seus filhos, pais e entes mais queridos, desfrutam da alegria e das glórias de cada ano novo. No entanto, os dias de hoje parecem-se em nada com os de ontem. Vivemos uma época nova que não se parece com nenhuma outra da história. Antes, os povos lutavam e lutam ainda com honra em prol de um mundo melhor e mais justo, mais hoje têm que lutar, além disso, e sem nenhuma alternativa, pela própria sobrevivência da espécie. Não sabemos absolutamente nada se ignoramos isso. Sem dúvida, Cuba é politicamente um dos países mais instruídos do planeta; partiu do mais vergonhoso analfabetismo, e o que é ainda pior: nossos amos ianques e a burguesia associada aos donos estrangeiros eram os proprietários das terras, usinas açucareiras, fábricas produtoras de bens de consumo, armazéns, comércios, eletricidade, telefones, bancos, minas, seguros, cais, bares, hotéis, escritórios, moradias, cinemas, impressoras, revistas, jornais, rádio, da nascente televisão e de tudo aquilo que tivesse um valor considerável. Os ianques, apagadas as ardentes chamas de nossas batalhas pela liberdade, atribuíram-se o direito de pensarem por um povo que tanto lutou por ser dono de sua independência, de suas riquezas e de seu destino. Nada, nem sequer o direito de termos ideias políticas, nos pertencia. Quantos sabíamos ler e escrever? Quantos tínhamos atingido pelo menos a sexta série? Lembro-me disso especialmente um dia como hoje, porque esse era o país que supostamente pertencia aos cubanos. Não menciono outras coisas, porque teria que incluir muitas mais, entre elas, as melhores escolas, os melhores hospitais, as melhores casas, os melhores médicos, os melhores advogados. Quantos tínhamos direito a isso? Quem tinha, salvo alguns, o direito natural e divino de ser administrador e chefe? Nenhum milionário ou pessoa rica, sem exceção, deixava de ser chefe de Partido, senador, representante ou funcionário importante. Essa era a democracia representativa e pura que imperava em nossa Pátria, a não ser que os ianques impusessem, à vontade, tiranos desumanos e cruéis quando mais convinha aos seus interesses para defenderem melhor suas propriedades perante camponeses sem terra e operários com ou sem emprego. Como já ninguém fala sequer disso, atrevo-me a lembrá-lo. Nosso país faz parte de mais de 150 que constituem o Terceiro Mundo, que serão os primeiros, porém não os únicos, a sofrerem as incríveis conseqüências, se a humanidade não toma consciência de maneira clara, certa e muito mais rápida do que imaginamos, da realidade e das conseqüências da mudança climática provocada pelo homem, se não se consegue impedi-la a tempo. Nossos meios de comunicação social dedicaram espaços a descrever os efeitos da mudança climática. Os furacões de crescente intensidade, as secas e outras calamidades naturais, contribuíram também para a educação de nosso povo a respeito do assunto. Um fato singular, a batalha contra o problema climático travada na Cúpula de Copenhague, contribuiu para o conhecimento do iminente perigo. Não se trata de um risco em longo prazo, para o século 22, mas para o 21, nem tampouco é para a segunda metade deste século, mas para as próximas décadas, durante as quais já começaríamos a sofrer as terríveis conseqüências. Também não se trata de uma simples ação contra o império e seus aliados, que nisto como em tudo, tentam impor seus estúpidos e egoístas interesses, mas de uma batalha de opinião mundial que não se pode deixar à espontaneidade nem ao arbítrio da maioria dos seus meios de comunicação. É uma situação, felizmente, conhecida por milhões de pessoas honradas e corajosas no mundo, uma batalha a travar com as massas e no seio das organizações sociais e instituições científicas, culturais, humanitárias e outras de caráter internacional, muito especialmente no seio das Nações Unidas, onde o governo dos Estados Unidos, seus aliados da OTAN e os países mais ricos tentaram desferir, na Dinamarca, um golpe fraudulento e antidemocrático no resto dos países emergentes e pobres do Terceiro Mundo. Em Copenhague, a delegação cubana, que assistiu junto a outras da ALBA e do Terceiro Mundo, viu-se obrigada a travar uma grande luta diante dos incríveis fatos que aconteceram com o discurso do presidente ianque, Barack Obama, e do grupo de Estados mais ricos do planeta, determinados a desfazerem os compromissos vinculantes de Kyoto — onde há mais de 12 anos foi discutido o espinhoso problema — e a fazerem cair o peso dos sacrifícios sobre os países emergentes e os subdesenvolvidos, que são os mais pobres e, ao mesmo tempo, os principais fornecedores de matérias-primas e de recursos não-renováveis do planeta aos mais desenvolvidos e opulentos. Em Copenhague, Obama participou no último dia da Conferência, iniciada em 7 de dezembro. O pior de sua conduta foi que, quando já tinha decidido enviar 30 mil soldados para a chacina do Afeganistão — um país de forte tradição independentista, ao qual nem sequer os ingleses durante seus melhores e mais cruéis tempos puderam submeter — foi a Oslo para receber nada menos que o Prêmio Nobel da Paz. Ele chegou à capital norueguesa em 10 de dezembro, onde proferiu um discurso vazio, demagógico e justificativo. No dia 18, que era a data da última sessão da Cúpula, apareceu em Copenhague, onde pensava permanecer inicialmente apenas oito horas. No dia anterior, chegaram a secretária de Estado e um grupo seleto de seus melhores estrategistas. A primeira coisa que Obama fez foi selecionar um grupo de convidados que teve a honra de acompanhá-lo para proferir um discurso na Cúpula. O primeiro-ministro dinamarquês, que presidia a Cúpula, complacente e bajulador, deu a palavra ao grupo que apenas ultrapassava 15 pessoas. O chefe imperial merecia honras especiais. O seu discurso foi uma mistura de palavras adoçantes temperadas com gestos teatrais, que já cansam quem, como eu, se propus a tarefa de escutá-lo para tentar ser objetivo na apreciação de suas características e intenções políticas. Obama impôs ao seu dócil anfitrião dinamarquês que apenas seus convidados poderiam discursar, embora ele, assim que proferiu seu discurso, "saiu do fórum" pela porta traseira, como duende que foge de um auditório que lhe fez a honra de escutá-lo com interesse. Após terminar a lista autorizada de oradores, um indígena aimara da gema, Evo Morales, presidente da Bolívia, que acabava de ser reeleito com 65% dos votos, exigiu o seu direito de discursar, concedido perante o aplauso da maioria dos assistentes. Em apenas nove minutos, exprimiu profundos e dignos conceitos respondendo às palavras do ausente presidente dos Estados Unidos. A seguir, Hugo Chávez pôs-se em pé e pediu a palavra em nome da República Bolivariana da Venezuela; quem presidia a sessão não teve outra opção que dar-lhe também a palavra, que Chávez utilizou para improvisar um dos mais brilhantes discursos que tenha escutado. Ao concluir, uma martelada pôs fim à insólita sessão. No entanto, o ocupadíssimo Obama e seu séquito não tinham um minuto a perder. Seu grupo tinha elaborado um projeto de Declaração, cheio de ambiguidades, que era a negação do Protocolo de Kyoto. Após sair precipitadamente do plenário, reuniu-se com outros grupos de convidados que não chegavam a 30, negociou em privado e em grupo; insistiu, mencionou cifras milionárias de notas verdes sem respaldo em ouro, que constantemente são desvalorizadas e até ameaçou de abandonar a reunião se não aceitavam suas demandas. O pior foi que se tratou de uma reunião de países muito ricos, para a qual convidaram diversas das mais importantes nações emergentes e duas o três nações pobres, às quais submeteu o documento, como quem propõe: Pega ou larga! Essa declaração confusa, ambígua e contraditória — de cuja discussão não participou para nada a Organização das Nações Unidas —, o primeiro-ministro dinamarquês tentou apresentá-la como Acordo da Cúpula. Já a Cúpula tinha concluído o seu período de sessões, quase todos os chefes de Estado, de Governo e ministros das Relações Exteriores haviam voltado aos seus respectivos países, e às 3h da madrugada, o distinto primeiro-ministro dinamarquês o apresentou ao plenário, onde centenas de sofridos funcionários, que fazia três dias não dormiam, receberam o embaraçoso documento, que deviam analisar em apenas uma hora e decidir sua aprovação. Ali, a reunião tornou-se quente. Os delegados não tiveram tempo nem sequer de lê-lo. Alguns pediram a palavra. O primeiro foi o de Tuvalu, cujas ilhas teriam ficado sob as águas se tivesse sido aprovado esse documento; a seguir, falaram os delegados da Bolívia, da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua. O enfrentamento dialético às 3h da madrugada de 19 de dezembro é digno de passar à história, se a história durasse muito tempo, após a mudança climática. Como em Cuba se sabe boa parte do acontecido, ou aparece nas páginas da web da internet, apenas me limitarei a expor em partes as duas contestações do chanceler cubano, Bruno Rodríguez, dignas de serem anotadas para conhecer os episódios finais da telenovela de Copenhague, e os elementos do último capítulo, que ainda não foram publicados em nosso país. "Senhor presidente (primeiro-ministro da Dinamarca)... O documento que o senhor várias vezes afirmou que não existia, agora apareceu. Todos nós sabemos de versões que circulam de maneira sub-reptícia e que são discutidas em pequenas reuniões secretas, fora das salas em que a comunidade internacional, através de seus representantes, negocia de maneira transparente." "Junto minha voz à dos representantes de Tuvalu, Venezuela e Bolívia. Cuba considera extremamente fraco e inadmissível o texto deste projeto apócrifo…" "O documento que o senhor infelizmente apresenta não faz compromisso algum para reduzir as emissões de gases de efeito estufa." "Conheço as versões anteriores que, através de procedimentos questionáveis e clandestinos, foram também negociadas em reuniões secretas que falavam, pelo menos, da redução de 50% para o ano 2050…" "O documento que o senhor apresenta agora, omite, precisamente, as já magras e insuficientes frases chave que aquela versão continha. Este documento não garante, de maneira nenhuma, a adoção de medidas mínimas que permitam evitar uma gravíssima catástrofe para o planeta e para a espécie humana." "Este documento vergonhoso que o senhor apresenta é também omisso e ambíguo quanto ao compromisso específico de redução de emissões de gases à atmosfera por parte dos países desenvolvidos, responsáveis pelo aquecimento global, devido ao nível histórico e atual de suas emissões, e aos quais cabe fazer reduções consideráveis de maneira imediata. Este documento não contém uma só palavra de compromisso por parte dos países desenvolvidos." "… O seu texto, senhor presidente, é o atestado de óbito do Protocolo de Kyoto, que minha delegação não aceita." "A delegação cubana deseja enfatizar a preeminência do princípio de ‘responsabilidades comuns, porém diferenciadas’, como conceito fundamental do processo futuro de negociações. O seu documento não diz uma só palavra a respeito disso." "A delegação de Cuba reitera seu protesto pelas graves violações de procedimento ocorridas na condução antidemocrática do processo desta conferência, nomeadamente, mediante a utilização de formatos de debate e de negociação arbitrários, excludentes e discriminatórios…" "Senhor presidente, solicito-lhe formalmente que esta declaração seja recolhida no relatório final sobre os trabalhos desta lamentável e vergonhosa 15ª Conferência das Partes." O que ninguém pôde imaginar é que, depois de outro longo recesso e quando já todos pensavam que só faltavam os trâmites formais para concluir a Cúpula, o primeiro-ministro do país-sede, instigado pelos ianques, tentou novamente mostrar o documento como aprovado pela Cúpula, quando nem sequer ficavam chanceleres no plenário. Delegados da Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Cuba, que permaneceram vigilantes até o último instante, frustraram a última manobra em Copenhague. Contudo, o assunto não acabou. Os poderosos não se acostumam, nem admitem resistência. Em 30 de dezembro, a Missão Permanente da Dinamarca nas Nações Unidas, em Nova Iorque, informou cortesmente à nossa Missão nessa cidade que tinha feito apontamentos do Acordo de Copenhague, em 18 de dezembro de 2009, e juntava uma cópia adiantada dessa decisão. Afirmou textualmente: "… o governo da Dinamarca, como presidente da COP15, convida as Partes da Convenção a informarem, por escrito e o antes possível, à Secretaria da UNFCCC, a decisão de se associar ao Acordo de Copenhague." Esta comunicação inesperada motivou a resposta da Missão Permanente de Cuba nas Nações Unidas, na qual "…rejeita taxativamente a intenção de fazer aprovar, por via indireta, um texto que foi alvo de repúdio por parte de várias delegações, não só pela mornidão diante das sérias consequências da mudança climática, mas também por responder exclusivamente aos interesses de um grupo reduzido de Estados." Por sua vez, originou uma carta do vice-primeiro-ministro de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente da República de Cuba, Doutor Fernando González Bermúdez, para o secretário-executivo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, Sr. Yvo de Boer, alguns de cujos parágrafos transcrevemos: "Recebemos com surpresa e preocupação a nota enviada pelo governo da Dinamarca às Missões Permanentes dos Estados-Membros das Nações Unidas em Nova Iorque, fato que o senhor certamente conhece, por meio da qual as partes da Convenção Marco das Nações Unidas foram exortadas a informarem à Secretaria Executiva, por escrito e o mais rápido possível, a decisão de se associarem ao denominado Acordo de Copenhague." "Vemos também com preocupação que o governo da Dinamarca comunica que a Secretaria Executiva da Convenção incluirá no relatório da Conferência das Partes realizada em Copenhague uma lista das Partes que teriam manifestado sua decisão de se associarem ao referido Acordo." "Em opinião da República de Cuba, esta forma de agir constitui uma grosseira e reprovável violação do que foi decidido em Copenhague, onde as Partes, diante da evidente falta de consenso, se limitaram a fazer apontamentos desse documento." "Nada do que foi acertado na 15ª Conferência autoriza o governo da Dinamarca a adotar esta ação e, ainda menos, a Secretaria Executiva a incluir no relatório final uma lista das Partes, para o qual não tem mandato." "Devo comunicar-lhe que o governo da República de Cuba rejeita firmemente esta nova tentativa de legitimar, por via indireta, um documento espúrio e reiterar-lhe que esta forma de agir compromete o resultado das futuras negociações, estabelece um perigoso precedente para os trabalhos da Convenção e prejudica, em particular, o espírito de boa fé com que as delegações deverão prosseguir o processo de negociações no ano próximo", concluiu o vice-primeiro-ministro de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Cuba. Muitos têm certeza, particularmente os movimentos sociais e as pessoas melhor informadas das instituições humanitárias, culturais e científicas, de que o documento promovido pelos Estados Unidos constitui um retrocesso das posições alcançadas por aqueles que fazem o maior esforço para evitar uma catástrofe colossal para nossa espécie. Seria em vão repetir aqui cifras e fatos que demonstram matematicamente isso. Os dados aparecem nas páginas da web da internet e estão ao alcance de um número crescente de pessoas que interessadas no tema. A teoria com que é defendida a adesão ao documento é fraca e representa um retrocesso. Invoca-se a ideia enganosa de que os países ricos contribuiriam com uma mísera quantia de US$30 bilhões em três anos para os países pobres a fim de financiar as despesas do enfrentamento à mudança climática, cifra que poderia aumentar para 100 mil a cada ano em 2020, o que neste gravíssimo problema, equivale a esperar para as calendas gregas. Os especialistas sabem que essas cifras são ridículas e inaceitáveis pelo volume de investimentos de que se precisa. A origem de tais somas é incerta e confusa, por conseguinte elas não comprometem ninguém. Qual é o valor de um dólar? O que significam US$30 bilhões? Todo mundo sabe que, desde Bretton Woods, em 1944, até a ordem presidencial de Nixon em 1971 — dada para deixar cair sobre a economia mundial a despesa do genocídio contra o Vietnã —, o valor de um dólar, em ouro, foi se reduzindo até ser hoje aproximadamente 32 vezes menor que o daquela data; US$30 bilhões significam menos de um bilhão, e 100 mil divididos por 32, equivalem a 3.125, que hoje não dão nem para construir uma refinaria de petróleo de capacidade média. Se os países industrializados cumprissem alguma vez a promessa de contribuir para os que estão em vias de desenvolvimento com 0,7% do PIB — o qual, exceto poucas vezes, nunca fizeram―, a cifra ultrapassaria US$250 bilhões a cada ano. Para salvar os bancos, o governo dos Estados Unidos gastou US$800 bilhões. Quanto estaria disposto a gastar para salvar os 9 bilhões de pessoas que habitarão o planeta em 2050, se antes não ocorrem grandes secas e inundações provocadas pelo mar, devido ao degelo de calotas polares, e pelos grandes volumes de águas gélidas da Groenlândia e da Antártida? Não nos deixemos enganar. O que os Estados Unidos queriam conseguir com suas manobras em Copenhague é dividir o Terceiro Mundo, afastar mais de 150 países subdesenvolvidos da China, da Índia, do Brasil, da África do Sul e de outros, com os quais devemos lutar juntos para defendermos, em Bonn, no México ou em qualquer outra conferência internacional, junto às organizações sociais, científicas e humanitárias, verdadeiros Acordos que beneficiem todos os países e preservem a humanidade de uma catástrofe que pode conduzir à extinção de nossa espécie. O mundo possui cada vez mais informação, mas os políticos têm cada vez menos tempo para pensarem. As nações ricas e seus líderes, incluído o Congresso dos Estados Unidos, parecem estar discutindo quem será o último a desaparecer. Quando Obama terminar as 28 festas com que se propôs celebrar este Natal, se entre elas estiver incluída a dos Reis Magos, talvez Gaspar, Belquior e Baltazar lhe aconselhem o que deve fazer. Gostaria pedir desculpas por me alongar. Não quis dividir em duas partes esta Reflexão. Peço desculpas aos pacientes leitores. Fidel Castro Ruz