quarta-feira, 11 de maio de 2011

Jerônimo vive!

Escrito por Mário Maestri   no Correio da Cidadania
 
Talvez se deveu à pele escura de ambos ou a terem feito a cavalaria yankee de bobo por longos anos. O certo é que o codinome dado a Bin Laden, quando da operação para assassiná-lo, terminou prestando-lhe uma enorme homenagem – além de registrar o racismo da administração de Barack Hussein Obama II.
 
Em 1851, Goyaałé, Jerônimo, teve sua família massacrada pelo exército estadunidense. A seguir, por vinte anos, protagonizou resistência heróica, criativa e legendária à ocupação das terras apaches. Em 1886, após render-se com os poucos e últimos seguidores, viveu o resto da vida como semi-prisioneiro, ditando a um funcionário estadunidense um fulgurante relato de sua vida.  
Osama bin Mohammed bin Awad bin Laden foi filho de uma das mais ricas famílias sauditas. Integralista fervoroso, partiu em jihad contra a revolução socialista, laica e democrática afegã, no que foi apoiado pelos Estados Unidos. A vitória das forças integralistas sustidas pela Arábia Saudita, pelo Paquistão e, sobretudo, pelos grandes Estados imperialistas originou o reinado talibã na região.
 
Principalmente desde os anos 1950, o fundamentalismo foi apoiado pelo grande capital mundial, com destaque para a Inglaterra e os Estados Unidos, na luta contra o pan-nacionalismo e o socialismo árabe. A partir de 1989, com a dissolução da URSS e reconversão capitalista dos Estados socialistas, o integralismo acolheu fortemente os anseios confusos de libertação nacional e social de vastas populações muçulmanas.
 
Com o fim da primeira guerra do Afeganistão, Bin Laden envolveu-se com grupos que se esforçavam para ocupar o vazio político-ideológico árabe e muçulmano, propondo ordem assentada no integralismo. Estranhos e refratários a qualquer visão social de mundo, esses grupos orientaram-se para a luta terrorista, despreocupados, opostos e incapazes de impulsionar a organização popular, sobretudo independente.
 
Ao financiar os ataques às embaixadas USA na África, em 1998, ao navio de guerra estadunidense em 2000 e, acima de tudo, ao reivindicar politicamente o ataque às Torres Gêmeas, em 2001, Bin Laden tornou-se o mais célebre terrorista e a grande justificativa imperialista para a "guerra ao terror" que impulsionaria a apropriação das grandes reservas petrolíferas. Em 2003, fortalecido junto à população estadunidense pelo ataque terrorista, Bush II lançou seus exércitos na carnificina que conquistaria os campos petrolíferos iraquianos.
 
Após o 11 de setembro de 2001, consagrados pela grande mídia, Bin Laden e sua organização entrariam em crescente eclipse que levaria ao seu assassinato, em mansão fortificada, em 1º de maio, nas proximidades de Abbottabad, praticamente desarmado, cercado quase apenas por familiares. Sobrevivia então devido à quase certa proteção do exército e dos serviços de inteligência paquistaneses.
 
Portanto, uma confusão ofensiva. Jerônimo, o verdadeiro, dormia com o fuzil ao lado e jamais foi surpreendido. Mesmo na derrota, mostrou-se o mais digno braço armado do povo apache na luta contra os seus algozes.
 
Mário Maestri é professor do curso e do programa de pós-graduação em História da UPF.
E-mail: maestri@via-rs.net
 

Há 30 anos, morria Bob Marley, ícone do reggae


Há exatos 30 anos, morria Bob Marley. Considerado o expoente mais alto do reggae, ele tinha apenas 36 anos de idade quando faleceu, vítima de um câncer detectado quatro anos antes. Deixou a vida para assumir na história o papel de ícone.


Três décadas após a sua morte, o "rei do reggae" continua a ser recordado um pouco por todo o mundo, sendo uma constante fonte de inspiração para dezenas de novos artistas. Músicas como No Woman No Cry, Could You Be Loved ou I Shot The Sheriff hoje fazem parte de um repertório coletivo da música internacional.

Poucos gêneros musicais dispõem de uma figura central, tão próxima quanto possível da unanimidade, como acontece com o reggae. Bob Marley foi coroado nesse feudo, como o foram Elvis Presley no rock e Michael Jackson no pop.

Acontece que nem todo aquele que se considera roqueiro gosta do som pioneiro e antiquado do rei do rock; e no pop, onde a infidelidade e a amnésia são gerais, Jackson passou uma década no ostracismo e só foi recuperado graças à tradicional necrofilia da indústria fonográfica.

Com Marley é diferente: ele pode não se o favorito de todos, mas é quase onipresente nas coleções de fãs, no repertório de bandas não-autorais e no setlist de festas que se dedicam ao gênero jamaicano.

Para além do gênio musical, sua figura, com enormes dreadlocks e um charuto de marijuana (erva de uso religioso pelos rastafaris) sempre na ponta dos dedos, se tornou quase tão forte quanto a do médico revolucionário Che Guevara e sua boina estrelada, o popstar pacifista John Lennon e seus óculos de aros redondinhos e superguitarrista Jimi Hendrix e seu instrumento canhoto.

O mais conhecido rosto do movimento espiritual Rastafari, defensor de uma mensagem de paz, liberdade e emancipação, denunciador da pobreza, da repressão e da realidade social da Jamaica, Marley deixou, em vida, 14 álbuns – 12 de estúdio e dois ao vivo –, bem como um legado no reggae que permanece sólido até hoje, com mais de 200 milhões de discos vendidos.

Legend”, lançado originalmente em 1984, continua a ser o álbum mais vendido da história do reggae. Já “Exodus” (1977) foi eleito pela revista Time como um dos melhores álbuns do século 20.

Último registro

A saúde abalada o fez parar os shows, encerrando abruptamente a turnê do disco Uprising (1980), em 23 de setembro de 1980, no palco do Stanley Theatre, em Pittsburgh (Pensilvânia, EUA). É justamente o registro em áudio desta última performance em palco o primeiro produto escolhido pela gravadora da família Marley, Tuff Gong, para marcar a efeméride das três décadas de morte do jamaicano mais famoso do planeta.

Live Forever surge como mais um ótimo registro do carisma de Bob Marley nos palcos. Se apresenta agora como principal rival do clássico Live (1975), seu primeiro disco ao vivo lançado no auge do estouro mundial, num momento em que quase todo mundo do pop estava gravando reggae naqueles anos, até ícones roqueiros como Rolling Stones e Bob Dylan.

Além da ótima performance do protagonista, o som da maior parte do CD é fiel às qualidades dos Wailers como banda, com grande destaque para os irmãos Carlton e Aston ‘Family Man’ Barrett, que formavam o alicerce rítmico absolutamente poderoso e infalível com sua bateria e baixo, onde nem o uso de tantans eletrônicos que na época tinham virado febre na disco-music e new-wave, tiram o brilho. Marley brinca com as divisões de outro hit de sua lavra, Is This Love, que encerra a parte de ótimo som do registro.

O repertório é bem equilibrado entre temas de guerrilha, mensagens positivas, hinos de fé no rastafarianismo, flertes com a africanidade e canções românticas

Herança

Mas nem só de álbuns é feito o legado de Marley. Com 11 filhos legítimos e mais uns três a usar o seu sobrenome (embora não reconhecidos pela família), seria de esperar que algum iria fazer carreira na música. Não foi um, foram vários.

David ‘Ziggy’ Marley, atualmente com 42 anos, canta como o pai e passa mensagens de paz através das letras das suas músicas. Tem um extenso repertório que vem desde 1985 e já ganhou cinco Grammy Awards. É ativista e líder de uma ONG.

Damian ‘Jr. Gong’ Marley, de 33 anos, é o filho mais novo de Bob. Já ganhou três Grammys. Stephen, 38 anos, faz parte da banda do irmão mais velho, Ziggy, e foi produtor dos três álbuns solo de Damian. Da banda – os Melody Makers – fazem também parte Cedella e Sharon, duas das filhas de Bob.

Julian Marley, 36 anos, também é músico. Tem três álbuns editados. Ky-Mani andou uns tempos dividido entre o futebol e a música, acabando por se render à arte. O seu som, para além de reggae, tem base no hip-hop e sons mais urbanos.

Conexão Brasil

Bob Marley esteve no Brasil uma única vez, em março de 1980. No Rio de Janeiro, ele jogou uma partida de futebol ao lado de Chico Buarque, Toquinho, Moraes Moreira e o craque tricampeão Paulo César. Mas, se infelizmente não passou pela Bahia, vale lembrar que dois artistas da terra já estavam antenados ao jamaicano. Em 1971, no exílio em Londres, Caetano Veloso foi o primeiro brasileiro a citar o reggae em Nine out of Ten, do disco Transa.

Oito anos depois, Gilberto Gil lançou Não Chore Mais, versão para No Woman No Cry, de Bob, que virou um hino da anistia no Brasil. “Bob foi um dos grandes intérpretes dessa consciência de exclusão, de desigualdade”, lembra Gil, que em 2002 gravou Kaya N'Gan Daya, com músicas de Bob. “Foi o último artista a quem dediquei atenção profunda. Hoje ainda é das coisas que mais gosto de ouvir”.

Com agências

Quanto a Azaléia recebeu em isenções fiscais no RS?



 Marco Aurélio Weissheimer no rsurgente

O deputado Raul Pont (PT) criticou hoje a versão adotada por setores da oposição sobre o fechamento da unidade da Azaleia, em Parobé. Para ele, a empresa sai do Estado em busca de outro lugar, com mais vantagens fiscais e onde sindicatos não sejam tão atuantes e os salários sejam mais baixos. “A busca do lucro é o princípio do capitalismo. A decisão da empresa reflete esta concepção”, e reflete seu total descomprometimento com os trabalhadores e com o Estado que durantes anos lhe concedeu grandes benefícios fiscais”, afirmou.



Pont responsabilizou a guerra fiscal pela transferência de fábricas para outros estados, lembrando que a Azaléia chegou a ser beneficiada, durante o governo Britto, com mais de R$ 50 milhões do Fundopem. “Esta forma de fazer política industrial gera verdadeiros leilões das finanças públicas em benefício de empresas privadas”, criticou. Para o parlamentar, uma evidência clara de que a empresa não está em crise, são seus investimentos em unidades no exterior. Bem como, não vale o orgumento dos juros e do cambio que é o mesmo no Rio Grande o no Nordeste.



Raul Pont observou ainda que a renúncia fiscal no Rio Grande do Sul equivale a 30% da arrecadação potencial de ICMS. “São isenções concedidas com pouca ou nenhuma contrapartida e sem segurança de permanência da empresa no estado após a fruição dos benefícios”. Ele defendeu a aprovação de um projeto de lei, de sua autoria, que confere transparência à concessão de benefícios fiscais.



O deputado Giovani Feltes (PMDB) reconheceu que a Azaléia recebeu incentivos fiscais no governo Brito, mas observou que foram os governos militares os que mais concederam estes benefícios ao setor calçadista. Ele concordou que parte do problema vivido pela indústria calçadista pode ser explicado pela subvalorização do Yuan e pela entrada de calçados chineses através da triangulação comercial, que burla as barreiras impostas pelo governo brasileiro.



O governador Tarso Genro classificou como “irresponsável” a forma como a indústria anunciou a desativação da unidade em Parobé, sem aviso formal ou qualquer tipo de negociação com o Estado. “Não fomos comunicados sobre a decisão da empresa, que recebeu benefícios fiscais homéricos do povo gaúcho. Aliás, o único comunicado foi o aviso-prévio dado aos empregados demitidos”, declarou. O chefe do Executivo gaúcho anunciou que encomendará uma pesquisa para saber quanto a empresa ganhou em benefícios fiscais nos últimos anos e prometeu se empenhar para que os trabalhadores demitidos encontrem rapidamente outros empregos.



A Azaléia justificou o fechamento da última unidade gaúcha da empresa e a demissão de 800 funcionários pela “perda de competitividade das exportações brasileiras e pela concorrência com os calçados produzidos fora do país”. A empresa tem hoje 27 fábricas de calçados femininos e esportivos em três complexos industriais do Nordeste, além de uma fábrica na Argentina e outra na Índia. A direção da empresa não anunciou quanto recebeu em isenções fiscais no Rio Grande do Sul nos últimos anos, nem quanto paga para os funcionários de suas unidades no Nordeste, na Argentina e na Índia.