quinta-feira, 3 de abril de 2014

Os crimes de abril Juremir Machado da Silva - Correio do Povo | O portal de notícias dos gaúchos

Os crimes de abril

Postado por Juremir em 2 de abril de 2014 - Uncategorized
O primeiro assassinato aconteceu às 3h45 da manhã do dia 2 de abril quando o presidente da Câmara de Deputados, Ranieri Mazzilli, foi empossado na presidência da República com João Goulart ainda em território brasileiro. Assassinato da Constituição. Depois disso, todos os crimes foram cometidos. O jornalista Eurilo Duarte, no livro “Os idos de março e a queda em abril”, organizado e publicado, ainda em 1964, pelo golpista Alberto Dines, então diretor do Jornal do Brasil, não teve como negar: “Dia 3 de abril: calcula-se em 10 mil o número de prisões pela polícia e pelo exército. Entre os presos, o físico Mário Schemberg, professor de Física Nuclear da Universidade de São Paulo”. Mais: “A caravana policial leva tudo, e investigadores são vistos carregando máquinas de escrever, somar, enciclopédias”.
Até Alberto Dines teve de reconhecer: “A primeira lista de prisões foi atroz. As arbitrariedades iniciais, sufocantes. Os mandatos cassados e os expurgos dos dias seguintes foram um choque. A única saída era desprezar Jango, porque fora a sua leviandade, fora a ambição primária dos que o rodeavam as causadoras do expurgo”. Como eram antas os jornalistas conservadores de 1964! Apoiaram a implantação de uma ditadura achando que era a democracia. Carregaram nos braços, no combate à corrupção de esquerda, o rei dos corruptos de direita, o governador de São Paulo Adhemar de Barros, que, dado o golpe, passou a exigir cassações para que a “revolução” pudesse “cumprir o seu objetivo”. Os taipas brincaram com fogo.
Alguns, como Antonio Callado, que se tornaria escritor bajulado, lambuzou-se na lama das suas imagens grotescas: “Jango puxou vários gatilhos. Ao que se sabe, muitos cirurgiões lhe garantiram, através dos anos, que poderia corrigir o defeito que tem na perna esquerda. Mas o horror à ideia de dor física fez com que Jango jamais considerasse a sério o conselho. Talvez por isso tenha cometido seu suicídio indolor na Páscoa”. Um cara que escreve isso é um pulha.
Um medíocre. Era, como hoje, ser moderninho.
Callado, com essa verve, seria, se vivo fosse, colunista da Veja e parceiro dos lacerdinhas.
Ele era capaz de muito pior. Sobre o exílio de Jango no Uruguai: “No mais, o tédio de Dona Maria Teresa, a procurar casa, a levar as crianças à praia, com saudades do Brasil e do carro novo em folha, uma Mercedes verde, tipo esporte, que Jango não tinha querido que ela estreasse, para evitar ostentação. Agora, Dona Maria Teresa, não tem mais o marido Presidente e nem tem o carro (…) Haverá ainda algum futuro político para esse líder de apenas 40 anos? Parece pouco provável (…) E quando, eventualmente, chegar à Presidência da República um homem de esquerda, Jango talvez reapareça como vice”.
A isso se chamava de jornalismo. Alguns sentem saudades desses tempos de suposta profundidade e alta qualidade. O jornalismo brasileiro dos anos 1950 e 1960 era pura ideologia. Não mudou.
Na época, caluniar quase não dava processo. O único jeito de resolver era à bala.
A luta armada no Brasil, resistência das esquerdas à ditadura, começou depois do golpe.
A imprensa, apoiando os defensores do golpe, tenta alterar essas datas.
Pegar em armas contra uma ditadura é absolutamente legítimo.