sexta-feira, 28 de março de 2014

Corrupção, miséria, censura, violência, insegurança, opressão e trabalho infantil na ditadura Juremir Machado da Silva - Correio do Povo | O portal de notícias dos gaúchos

Corrupção, miséria, censura, violência, insegurança, opressão e trabalho infantil na ditadura

Postado por Juremir em 25 de março de 2014 - Uncategorized
Só que não estuda ou age por má-fé e ideologia fala em segurança, ensino de qualidade, empregabilidade total e padrão de vida invejável durante o regime militar. A ditadura foi o sistema do trabalho infantil institucionalizado, da inflação alta, da redução do poder aquisitivo dos mais pobres, da insegurança no emprego, do fim da estabilidade com a criação do FGTS, da violência estatal, da corrupção eleitoral e da retirada de investimentos da saúde e da educação. Os primeiros mensalões aconteceram naqueles dias, com compra de voto e de apoio parlamentar. Segue um trecho de meu livro “Jango, a vida e a morte no exílio” sobre esse quadro desolador> • Uma resolução do Ministério da Justiça crava seu veneno noutro coração, o da imprensa, enfim, acordada: “É vedada a descrição minuciosa do modo de cometimento de delitos”. A ditadura gosta de agenda positiva: censura a divulgação da descoberta de uma carga de drogas no quartel da Barra Mansa. O gaúcho Arnaldo Pietro, ministro do Trabalho, bloqueia, em 1974, as notícias sobre sua fracassada política salarial. Até “gravuras eróticas de Picasso” caem na malha fina do obscurantismo dos censores por obscenas. O consumo de drogas é visto como parte do “variado arsenal do movimento comunista internacional” (…) O deputado de Minas Gerais Francelino Pereira, eleito pela ARENA, comentando as eleições de 1966: “Foi uma vergonha o que ocorreu no último pleito. Nunca se teve notícia de tanta corrupção eleitoral no Estado. A compra de votos foi feita ostensiva e desavergonhadamente”. A porcaria de sempre. (…) Pode-se chamar de Constituição uma carta imposta? Sabe que ela pariu um dos seus artigos mais ironicamente iluminados, a luz do obscurantismo, o lusco-fusco da estupidez: reduziu a idade mínima legal de trabalho para 12 anos. Converteu em princípio constitucional a vil exploração do trabalho infantil. (…) Avaliação do advogado trabalhista José Martins Catharino sobre a instituição do FGTS como um instrumento para “eliminar a segurança no emprego, acumular capital e tornar o Brasil um país mais atraente para o investimento multinacional”. (…) Explicação de Maria Helena Moreira Alves: graças ao FGTS, “os empregadores viram-se liberados para aumentar a rotatividade da mão de obra, mantendo mais baixos os níveis salariais gerais”. (…) “O milagre econômico”, capítulo do livro “Estado e oposição no Brasil”, de Maria Helena Moreira Alves, irmã de Márcio Moreira Alves (…) uma lista acachapante de dados, modesta inflação do período militar, em torno de 20% ao mês; a dívida externa salta de 3,9 bilhões de dólares, em 1968, para 12,5 bilhões em 1973; Mário Henrique Simonsen, pensador do regime, vomita: “A partir de 1964, logramos alcançar razoável estabilidade política”; Maria Helena desmascara: “A política governamental elevou acentuadamente a participação dos membros mais ricos da população na renda global diminuindo a dos 80% mais pobres”; resumo dos êxitos: em 1970, 50,2% dos brasileiros ganhavam menos de um salário mínimo. Em 1972, já eram 52,5%. E 78,8% dos trabalhadores ganhavam até dois salários mínimos. O trabalhador saltou de 12 para 14 horas de trabalho diário para poder comer. Em 1959, precisava-se de 65 horas e cinco minutos de trabalho para comprar a cesta básica fixada pelo decreto de 1938. Em 1963, eram 88 horas. Em 1974, 163 horas e 32 minutos. Evoluímos para 25 milhões de crianças passando fome; uma pesquisa revelava que 60% das crianças entrevistadas trabalhavam mais de 40 horas por semana; a educação pelo trabalho: 18,5% da população entre 10 e 14 anos no batente; efeito pedagógico: 63% das crianças entre 5 e 9 anos de idade, em 1976, fora das escolas. A ditadura revê os orçamentos: o da Saúde passa de 4,29% do total, em 1966, para 0,99% em 1974; o da Educação, despenca de 11,07% para 4,95% no mesmo período. Em contrapartida, os três ministérios militares, ocupados com a Segurança Nacional, abocanham 17,96% dos recursos. A nova ordem é revolucionária: fixa pena de morte, prisão perpétua, banimento, fecha o Congresso, controla os meios de comunicação, prende e arrebenta, não se tolhe jamais, chega ao cume, conforme o general Viana Moog, com o combate a guerrilheiros, “a maior mobilização de tropas do Exército”, 20 mil homens para caçar 69 guerrilheiros do PCdoB no Araguaia. Entre 1977 e 1981, 45 líderes sindicais rurais mortos, 12 mil presos políticos entre 1969 e 1974. Jango teve sorte: nunca escutou certamente a expressão “ditabranda”. Nem a viu em editorial da “Folha de S. Paulo”. Seria um grande desgosto, se tivesse vivido, ler tamanha asneira em pleno século XXI!

Professor dá aula de Venezuela e passa pito na Globo, em plena Globo



Uma aula de Venezuela e um pito na Globo, em plena Globo. Em debate na Globonews, Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da UFABC, explica a crise, derruba o mito da ‘falta de liberdade’ no país vizinho e desnuda a parcialidade da imprensa

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Professor Igor Fuser é doutor em Ciência Política pela USP (Reprodução)
Paulo Donizetti de Souza, RBA
O professor de Relações Internacionais da USP José Augusto Guillon e a apresentadora Mônica Waldvogel, do programa Entre Aspas, da Globonews, chegaram ao limite da gagueira, ontem (18), durante debate a respeito da crise na Venezuela com a participação do professor e jornalista Igor Fuser, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). O debate começa dirigido, ao oferecer como gancho para a discussão a figura de Leopoldo López, o líder oposicionista acusado de instigar a violência nos protestos das últimas semanas, e preso ontem.
Diz a narração de abertura: “Ele é acusado de assassinato, vandalismo e de incitar a violência. Mas o verdadeiro crime de Lopez, se podemos chamar isso de crime, foi convocar uma onda de protesto contra o governo de Nicolás Maduro. Protestos seguidos de confrontos que deixaram quatro mortos e dezenas de feridos”. E segue descrevendo que a violência política decorre da imensa crise no país – inflação, falta de produtos nas prateleiras, criminalidade em alta. Ainda no texto de abertura, na voz de Mônica, o governo é acusado de controlar a economia e a Justiça, pressionar a imprensa e lançar milícias chavistas contra dissidentes. E encerra afirmando que Leopoldo Lopez, na linha de frente, reivindica canais de expressão para os venezuelanos, e abrem-se as aspas para Lopez: “Se os meios de expressão calam, que falem as ruas”.
Do início ao fim do debate, com serenidade e domínio sobre o assunto, Igor Fuser leva a apresentadora e o interlocutor às cordas desde o início. Reconhece as dificuldades políticas do presidente Nicolás Maduro e a divisão da sociedade venezuelana. Mas corrige os críticos, ao enfatizar que o país vive uma democracia, e opinar que a campanha liderada por López é “golpista”, ao ter como mote a derrubada do governo legitimamente eleito com mandato até 2019.
Fuser informa que em dezembro se cristalizou um processo de diálogo entre governo e oposição, então liderada por Henrique Capriles, derrotado nas duas últimas eleições presidenciais por margem muito pequena de votos. E que a disposição ao diálogo levou a direita mais radical a isolá-lo, permitindo a ascensão de figuras como Leopoldo López. Indagado se não seria legítimo as manifestações da ruas pedirem a saída do governo, como foi no Egito ou está sendo na Ucrânia, o professor da UFABC resume que as manifestações na Ucrânia são conduzidas por nazistas, e no Egito a multidão protestava contra uma ditadura. Lembra que na Venezuela houve quatro eleições nos últimos 15 meses, que o chavismo venceu todas no plano federal, mas que as oposições venceram em cidades e estados importantes, governam normalmente e as instituições funcionam, e que a Constituição é cumprida.
Questionado sobre a legitimidade da Constituição – que teria sido sido aprovada apenas por maioria simples – informou que a Carta, depois de passar pelo Parlamento, foi submetida a referendo popular e aprovada por 80% dos venezuelanos – o que inclui, portanto, mais da metade dos que hoje votam na oposição. E à ironia dos debatedores, de que seria paranoia das esquerdas acusar os Estados Unidos de patrocinar uma suposta tentativa de golpe, esclareceu: os Estados Unidos estiveram por trás de tantos golpes da América Latina – na Guatemala nos anos 1950, no Brasil em 1964, no Chile em 1973, na própria Venezuela em 2002 – que não é nenhum absurdo supor que estejam por trás de mais um. E que também não é absurdo, em nenhum país do mundo, expulsar diplomatas que se reúnem com a oposição como se fossem dela integrantes.
O jornalista desmontou também os argumentos de que o país sofre de ausência de liberdade de expressão. Disse que o governo dispõe, de fato, de jornais, canais de rádio e de televisão importantes, mas que dois terços dos veículos de imprensa da Venezuela são controlados por forças oposicionistas. E que o que existe na Venezuela seria, portanto, a possibilidade de contraponto. E Fuser foi ferino no exemplo dos problemas que a ausência de diversidade nos meios de comunicações causam à qualidade da informação: “Sou jornalista de formação e nunca vi nem na Globo nem nos jornais brasileiros uma única notícia positiva sobre a Venezuela. Uma única. A gente pode ter a opinião que a gente quiser sobre a Venezuela, é um país muito complicado. Agora, será que em 15 anos de chavismo naõ aconteceu nada positivo? Eu nunca vi. Não é possível que só mostrem o que é supostamente ruim. Cadê o outro lado? Será que os venezuelanos que votaram no Chávez e no Maduro são tão burros, de votar em governo que só faz coisa errada?”
E fecha aspas! Fecha aspas!

quinta-feira, 27 de março de 2014

Altamiro Borges: Os desafios da comunicação em 2014

Os desafios da comunicação em 2014

Por Luiz Carvalho, Isaías Dalle e William Pedreira, no sítio da CUT:
 
A necessidade de unificar os veículos de comunicação e investir na formação dos comunicadores do movimento sindical não é recente, mas ainda permanecem como desafio, conforme destacaram os debates que abriram o 7º Encontro Nacional Comunicação da CUT (Enacom), nesta quarta-feira (26), em São Paulo.

Durante a mesa que tratou do papel da comunicação nos grandes eventos, o jornalista Leandro Fortes destacou como a internet gerou interatividade e interferiu no modelo em que os monopólios de mídia eram os responsáveis exclusivos pela intermediação da informação.

Para ele, as redes digitais são uma forma de enfrentamento mal utilizadas pelas entidades sindicais por ainda não possuírem organização para fazer o enfrentamento. “Somos fragmentados nessa discussão, estamos muitos bem organizados sindicalmente, mas a comunicação ainda é um problema. Encaramos comunicação ainda como paralela à atividade política, apenas como suporte e não é verdade, é um pilar de qualquer estratégia de sobrevivência. Temos meios, instrumentos e somos muitos. Falta discutir como será feita essa organização”, apontou.

Fortes lembrou que mesmo os governos progressistas eleitos na última década não tiveram coragem de entrar nesse debate e apontou que isso acontecerá apenas se houver pressão.

Entre o lucro e a manipulação

O jornalista avalia que os monopólios de comunicação vivem um sentimento ambíguo: ao mesmo tempo em que tentam suprir a incapacidade da direita em mobilizar e instrumentalizar um sentimento anti-Copa para prejudicar o governo Dilma, eles amenizam a dose para não desvalorizar os patrocinadores.

“Temos que utilizar essa confusão e resgatar a função social da mídia no Brasil. Temos que nos preparar para cobrir a Copa, porque vai deixar legado de infraestrutura, comercial, financeira e de mobilidade. Precisamos resgatar o papel de dar dimensão real dos fatos para as pessoas comuns. Elas leem sobre um país que não existe, não sabem o que acontece na rua deles. Tem bombardeamento de doutrina e não de informação”, disse.

Mas para fazer com que isso seja colocado em prática, Leandro Fortes afirmou que o movimento sindical precisa investir na produção de informação e fugir da mera divulgação da agenda sindical e do "achismo" para fornecer argumentos aos que querem rebater a manipulação.

Esse processo, aponta, depende do investimento em profissionais de comunicação. “É impossível modernizar a comunicação se você não der a prioridade que ela precisa.”

Copa e política

Ainda sobre a Copa do Mundo no Brasil, a secretária de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, acrescentou que um dos legados do torneio no país deve ser discutir o futebol como patrimônio nacional em contraponto ao monopólio na transmissão. “A EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) sequer vai poder mostrar um gol da seleção, caso queira, porque o direito exclusivo de exibição pertence à Globo”, criticou.

Representante do Centro de Estudos Barão de Itararé, Altamiro Borges, apontou que os meios de comunicação tentarão utilizar o discurso da Copa para descontruir a imagem que eles mesmos construíram de gestora competente. “Falam de estádio atrasado, mas na Copa da Alemanha (2002), de 12 estádios para os jogos, sete atrasaram. O gasto foi maior que no Brasil. Recente editorial da Folha exaltou as Olimpíadas no Japão, porque vai alavancar e ajudar a popularizar o País. Por que lá os jogos são importantes, aumenta a auto-estima do povo, alavancagem da economia e por aqui não?”

Para ele, porém, os grandes jogos do ano serão mesmo as eleições, que terá o time da direita reforçado, segundo ele, por um mídia capaz de jogar uma partida mais suja desde a redemocratização. “O papel dos meios de comunicação será pior do que nos outros anos, porque está em jogo a continuidade de um ciclo político. Além da reeleição da Dilma, a quarta derrota presidencial para eles, e a possibilidade da volta do Lula em 2018, os estados onde imperam o tucanato correm risco de mudar de direção. O PSDB pode perder São Paulo após 20 anos, Minas Gerais, Paraná, pode haver mudança na correlação de forças no Rio de Janeiro e Congresso Nacional. Essa eleição não é apenas para presidente e o partido midiático está fazendo cálculo. Eles brigam pela audiência, pela publicidade, mas na política a unidade é de aço. Esses caras vão vir com tudo”, avalia.

Borges explicou que a tática da mídia aliada à direita será tentar criar um clima de pânico na economia e pegar carona nas manifestações que já existem, já que os conservadores são incapazes de mobilizar as ruas.

“Precisamos criar mais polos de contato e intensificar muito a luta de ideias. Esse ano é um ano para coletar assinaturas para projeto de lei iniciativa popular e debater comunicação, porque vai ficar escancarada o papel que a mídia exerce”, afirmou.

Comunicação e luta de classes

O movimento sindical Cutista já reúne as condições materiais, as ferramentas, para desenvolver uma comunicação mais próxima com a juventude. Mas precisa aprender a usá-las.

“Para se comunicar com os jovens, é preciso não subestimá-los”, disse Pablo Capilé, um dos criadores do projeto Fora do Eixo e da Mídia Ninja, protagonistas das mobilizações de junho do ano passado. Capilé foi um dos participantes da mesa realizada à tarde, sobre “Comunicação e Luta de Classes”. “Por vezes os movimentos sociais tradicionais têm preconceitos em relação à juventude, assim como a classe A tem da classe C”, afirmou.

Em primeiro lugar, ele propôs que a CUT e suas entidades filiadas coloquem sua rede à disposição das novas gerações para que se expressem através dos meios e espaços já construídos pela Central. Assim, acredita, pode-se criar um modelo semelhante ao modo de operação do próprio Fora do Eixo, que tem núcleos de comunicação on line espalhados pelo País, descentralizados, porém interligados em uma só rede de distribuição de conteúdo. “Não se deve tentar pautar a juventude, catequizá-la, mas colocar-se à disposição dela”, sugeriu.

Capilé nega que existam pautas “chatas”. “Se nós não nos esforçarmos para ressignificar as pautas, criar novos campos narrativos, aí fica chato mesmo”. Portanto, com criatividade, segundo ele, a juventude vai aderir à pauta da classe trabalhadora. “Inclusive porque essa é a pauta dela, tem tudo a ver com seus anseios”.

Preto Zezé, presidente da CUFA (Central Única de Favelas), outro participante da mesa, propôs que a CUT e seus sindicatos invistam em ações sociais, culturais e assistenciais junto a suas bases. “Não tenham medo de parecer assistencialistas. O mundo do trabalho mudou. A CUT não é um prédio, uma estrutura. A CUT são pessoas. Se o seu representado não puder ser acolhido pela Central e pelos seus sindicatos em seus momentos de convivência e sociabilidade, como poderá acreditar nela politicamente?”, questionou.

Ele sugeriu, por exemplo, a criação de um grande festival de cultura da CUT, abarcando todas as expressões artísticas, para trazer as famílias dos associados e, junto, o próprio associado. “O representado deixa assim de ser um número na planilha do excel e passa a ser um rosto, uma pessoa”, disse.

A CUFA tem na ação social e em projetos culturais suas principais ferramentas para empoderar a população que mora em favelas, em todos os estados do País.

Dogmas e preconceitos

Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular, apresentou diversos dados que mostram a incompreensão e os preconceitos da classe A e B em relação as classes mais baixas. “O preconceito da elite está presente no cotidiano e precisa ser mascarado”, disse.

Meirelles destacou que o aumento do emprego formal - 20 milhões na última década - e a política de aumento real do salário mínimo desencadearam numa série de fatores positivos.

A renda familiar da classe média entre 2002 e 2012, por exemplo, cresceu três vezes mais do que renda da classe alta. “A elite brasileira está incomodada com a democratização do consumo. Espaços que antes eram exclusivos da elite passaram a seres utilizados por pessoas de outras classes”, ressaltou.

Porém, mesmo com estes avanços, permanece a desigualdade social. Metade dos brasileiros possui renda domiciliar per capita de até R$513. Já os 5% mais ricos tem renda domiciliar per capita de R$2.450 . “As pesquisas tem um papel fundamental para entendermos as transformações no País”, disse. “E o movimento sindical que possui uma pauta diversificada precisa aproveitar esta campo de atuação para expandir sua produção de informações e se posicionar diante de temas relevantes para a sociedade e para a classe trabalhadora”, completou.

Opera Mundi - "Guantánamo é uma vergonha não só para os EUA, mas para a humanidade", diz Mujica

"Guantánamo é uma vergonha não só para os EUA, mas para a humanidade", diz Mujica

Como contrapartida para receber os "refugiados" no Uruguai, presidente pediu que Washington liberte os três cubanos que ainda estão presos nos EUA
   
Ao confirmar que o Uruguai abrigará cinco presos da base militar de Guantánamo na qualidade de "refugiados", o presidente José Pepe Mujica disse que a acolhida é uma "questão de direitos humanos". Após aceitar colaborar com Barack Obama, o mandatário assegurou que a polêmica prisão localizada dentro da ilha de Cuba "tem funcionado como uma verdadeira vergonha para a humanidade e muito mais vergonhoso para um país como os Estados Unidos".
"O Uruguai tem sido um país de refúgio. Para nós, é uma questão de princípios", disse Mujica, que, em seus tempos de líder guerrilheiro tupamaro, permaneceu preso pela ditadura uruguaia por 14 anos.
Embora tenha afirmado que não está colaborando por questões financeiras, Mujica pediu como contrapartida que Washington liberte os três presos cubanos que ainda estão sob custódia dos EUA, após terem sido presos, há mais de dez anos, enquanto atuavam como espiões para identificar organizações terroristas anticastristas na Flórida.
“Não fazemos por dinheiro ou conveniência material, mas não temos problema em dizer que pedimos, por favor, ao governo norte-americano que faça o possível, porque esses três prisioneiros cubanos que há muitos anos, muitos anos, estão ali, se busque a maneira de liberá-los. Porque também isso é uma vergonha”
Agência Efe

Cercado de jornalistas, Mujica dá explicações sobre sua decisão conceder abrigo a presos de Guantánamo
"Se quiserem formar um lar e trabalhar, que fiquem no país", explicou, durante seu programa semanal de rádio na emissora local M24 na última quinta-feira (20/03). Segundo Mujica, os cinco presos transferidos teriam que permanecer pelo menos dois anos dentro das fronteiras do país, mas não como uma imposição: "Seria um gesto voluntário deles [presos] para sair dessa situação de vergonha".
O ministro do Interior uruguaio, Eduardo Bonomi, afirmou hoje em uma entrevista para o diário La Republica que o governo já verificou os antecedentes dos prisioneiros e foi comprovado que “não existe risco ou perigo algum que habilite a implementação de cuidados especiais”.  Os prisioneiros seriam de nacionalidade síria e paquistanesa. O ministro também asseverou que Uruguai deverá proteger os futuros refugiados e dar as garantias necessárias que estão previstas nos convênios internacionais.
Herança a Obama
Na entrevista, Mujica ainda defendeu o colega norte-americano, dizendo que Obama herdou o problema de Guantánamo de administrações anteriores.
"Não se deve fazer novela, não há nenhum acordo. É um pedido por uma questão de direitos humanos. Mais de cem pessoas que estão presas há 13 anos. Não viram um juiz, não viram um promotor, e o presidente dos Estados Unidos quer tirar esse problema das costas. O Senado lhe exige 60 coisas, então pediu a um montão de países se podiam dar refúgio a alguns e eu lhe disse que sim", explicou Mujica à imprensa.
Carlos Latuff

Pesquisa indica que médicos violaram código de ética ao participar de torturas em Guantánamo
Em comunicado, a embaixada dos Estados Unidos no Uruguai disse que ainda não há acordo oficial com Montevidéu. Segundo o informe, a Casa Branca segue "consultando vários países da região" para acelerar o fechamento de Guantánamo. O Uruguai foi um dos primeiros procurados "devido a seu papel de liderança do presidente Mujica".
O fechamento da base militar de Guantánamo foi uma das principais bandeiras da corrida presidencial de 2008. Após ser eleito, reafirmou o compromisso de encerrar a prisão. Em abril do ano passado, em meio a uma greve de fome dos detentos — ainda há 155 pessoas sob custódia —, Obama disse que Guantánamo "não é necessária para manter os EUA seguros. É uma ferramenta de recrutamento para extremistas e precisa ser fechada". Um mês depois, a Casa Branca suspendeu a moratória de alguns países para transferir presos ao Iêmen e pediu ao Congresso que diminuísse as restrições.
Reação no Uruguai
A oposição no Uruguai realizou pelas redes sociais várias críticas à decisão do presidente Mujica. Em clima de campanha eleitoral — as eleições gerais estão marcadas para o mês de outubro —, o pré-candidato e senador pelo Partido Colorado, José Amorín Batlle, disse esperar que “Obama e os cinco presos de Guantánamo não tapem a inflação, a insegurança e a educação. Esses são os problemas reais do Uruguai”.
Já o pré-candidato e deputado pelo Partido Nacional Luis Lacalle Pou anunciou que convocará o ministro de Relações Exteriores do país, Luis Almagro, para que dê explicações sobre o tema na Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara dos Deputados.
Sobre as fortes críticas que recebeu da oposição em seu país, Mujica respondeu que não se pode conceber que todos os dias se faça discursos pelos direitos humanos e “quando é necessário desfazer uma problemática dessa natureza fiquemos amarrados no juridiquês”. E reafirmou que “há muito criticamos e seguiremos criticando o império yankee. Mas quando existe um presidente que luta por terminar uma vergonha que é herdada, uma vergonha não somente para seu país, mas para a humanidade, não se deve dar as costas”, asseverou Mujica.

Empresários que apoiaram o golpe construíram grandes fortunas - Portal Vermelho

Empresários que apoiaram o golpe construíram grandes fortunas


Fabio Venturini cita uma série de empresários que se deram muito bem durante a ditadura militar. No golpe dos empresários, “se uma empresa foi beneficiada, a mais beneficiada foi a Globo”.

Por Luiz Carlos Azenha, no Viomundo


 As Organizações Globo conspiraram contra o governo de Jango e sustentaram a ditadura.
 As Organizações Globo conspiraram contra o governo de Jango e sustentaram a ditadura.
Com mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo sobre os empresários e o golpe de 64 e em fase de conclusão do doutorado sobre os empresários e a Constituição de 1988, o professor Fabio Venturini esmiuçou os detalhes de “como a economia nacional foi colocada em função das grandes corporações nacionais, ligadas às corporações internacionais e o Estado funcionando como grande financiador e impulsionador deste desenvolvimento, desviando de forma legalizada — com leis feitas para isso — o dinheiro público para a atividade empresarial privada”. Segundo o pesquisador, é isto o que nos afeta ainda hoje, pois os empresários conseguiram emplacar a continuidade das vantagens na Carta de 88.

Em artigo no site Viomundo, Venturini cita uma série de empresários que se deram muito bem durante a ditadura militar, como o banqueiro Ângelo Calmon de Sá (ligado a Antonio Carlos Magalhães, diga-se) e Paulo Maluf (empresário que foi prefeito biônico, ou seja, sem votos, de São Paulo). Na outra ponta, apenas dois empresários se deram muito mal com o golpe de 64: Mário Wallace Simonsen, um dos maiores exportadores de café, dono da Panair e da TV Excelsior; e Fernando Gasparian. Ambos eram nacionalistas e legalistas. A Excelsior, aliás, foi a única emissora que chamou a “Revolução” dos militares de “golpe” em seu principal telejornal.

Sobre as vantagens dadas aos empresários: além da repressão desarticular o sindicalismo, com intervenções, prisões e cassações, beneficiou grupos como o Ultra, de Henning Albert Boilesen, alargando prazo para pagamento de matéria prima ou recolhimento de impostos, o que equivalia a fazer um empréstimo sem juros, além de outras vantagens. Boilesen, aliás, foi um dos que fizeram caixa para a tortura e compareceu pessoalmente ao Doi-CODI para assistir a sessões de tortura. Foi justiçado por guerrilheiros.

Outros empresários estiveram na mira da resistência, como Octávio Frias de Oliveira, do Grupo Folha, que apoiou o golpe. Frias e seu sócio Carlos Caldeira ficaram com o espólio do jornal que apoiou João Goulart, Última Hora, além de engolir o Notícias Populares e, mais tarde, ficar com parte do que sobrou da Excelsior. Porém, o que motivou o desejo da guerrilha de justiçar Frias foi o fato de que o Grupo Folha emprestou viaturas de distribuição de jornal para campanas da Operação Bandeirante (a Ultragás, do Grupo Ultra, fez o mesmo com seus caminhões de distribuição de gás). Mais tarde, a Folha entregou um de seus jornais, a Folha da Tarde, à repressão.

"Se uma empresa foi beneficiada pela ditadura, a mais beneficiada foi a Globo, porque isso não acabou com a ditadura. Roberto Marinho participou da articulação do golpe, fez doações para o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes, que organizou o golpe). O jornal O Globo deu apoio durante o golpe. Em 65, o presente, a contrapartida foi a concessão dos canais de TV, TV Globo, Canal 4 do Rio de Janeiro e Canal 5 São Paulo", disse Fabio Venturini.

Globo lucrou

Ainda segundo o pesquisador, “na década de 70, porém, a estrutura de telecomunicações era praticamente inexistente no Brasil e foi totalmente montada com dinheiro estatal, possibilitando entre outras coisas ter o primeiro telejornal que abrangesse todo o território nacional, que foi o Jornal Nacional, que só foi possível transmitir nacionalmente por causa da estrutura construída com dinheiro estatal. Do ponto-de-vista empresarial, sem considerar o conteúdo, a Globo foi a que mais lucrou”.

Já que em 1985, no ocaso da ditadura, “Roberto Marinho era o dono da opinião pública”, acrescentou o professor.

Segundo Fabio Venturini, na ditadura imposta a partir de 1964 os militares se inspiraram na ditadura de Getúlio Vargas. Lembra que, naquela ditadura, o governo teve vários problemas para controlar um aliado, o magnata das comunicações, Assis Chateaubriand.

"No golpe de 64 o Assis Chateaubriand já estava doente, o grupo Diários Associados estava em decadência. O Roberto Marinho foi escolhido para substituir Assis Chateaubriand. Tinha o perfil de ser uma pessoa ligada ao poder. Tendo poder, tendo benefício, ele estava lá. A Globo foi pensada como líder de um aparato de comunicação para ser uma espécie de BBC no Brasil. A BBC atende ao interesse público. No Brasil foi montada uma empresa privada, de interesse privado, para ser porta-voz governamental. Se a BBC era para fiscalizar o Estado, a Globo foi montada para evitar a fiscalização do Estado. Tudo isso tem a contrapartida, uma empresa altamente lucrativa, que se tornou uma das maiores do mundo (no ramo)", afirma.

Venturini fala, ainda, em pelo menos dois mistérios ainda não esclarecidos da ditadura: os dois incêndios seguidos na TV Excelsior, em poucos dias, e a lista dos empresários que ingressaram no DOI-CODI para ver sessões de espancamento ou conversar com o comandante daquele centro de torturas, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ele comenta a tese, muito comum na Folha de S. Paulo, de que houve um contragolpe militar para evitar um regime comunista, o que chama de “delírio”.

Venturini também fala do papel de Victor Civita, do Grupo Abril, que “tinha simpatia pela ordem” e usou suas revistas segmentadas para fazer a cabeça de empresários, embora não tenha conspirado. Finalmente, explica a relação dos empresários com as nuances da ditadura pós-golpe. Um perfil liberal, pró-americano, em 64; um perfil ‘desenvolvimentista’, mais nacionalista, a partir de 67/68.

Fonte: Viomundo

Michel Collon: La guerra contra Yugoslavia fue el anuncio de una guerra no declarada contra Rusia – RT

Michel Collon: La guerra contra Yugoslavia fue el anuncio de una guerra no declarada contra Rusia




La guerra de la OTAN contra Yugoslavia, los mecanismos de EE.UU. para tumbar gobiernos no afines y las mentiras que alimentan los medios de Occidente son algunos de los temas que trató el investigador y periodista Michel Collon con RT.
"El objetivo de Occidente era el de destruir Yugoslavia, como un país con una ligación histórica al socialismo, con una gran realidad social para los trabajadores, también un país independiente, líder del movimiento de los Países no Alineados, y un aliado potencial de Rusia para tener salida al Mar Mediterráneo", asegura Collon, en 'Entrevista' de RT.

El investigador explica que el programa era "colonizar Yugoslavia o destruirla si no aceptaba la colonización", algo que fue realizado a través de "pretextos, medidas mediáticas sobre un genocidio, una invasión, etc.", cuando en realidad Occidente, en primer lugar Alemania y después EE.UU., ha organizado grupos terroristas y de extrema derecha en Bosnia y en Croacia apoyando al hipernacionalismo, provocando una guerra muy dura y con mucho sufrimiento para la gente, resaltó.
EE.UU. aplica el mismo plan de Yugoslavia en casi todos los países que se resisten 
Pero lo ocurrido en ese país hace ya 15 años no es un hecho aislado, como señala el periodista belga.

"EE.UU. aplica el mismo plan de Yugoslavia en casi todos los países que se resisten y quieren ser independientes, quizás con gobiernos muy progresistas como en Bolivia, Venezuela, Ecuador o en otros no tan progresistas pero que quieren mantener su independencia". "Los métodos utilizados contra Yugoslavia se exportan todos los días a muchos países", dice Collon.

Los tentáculos de la CIA

"En realidad Yugoslavia no fue vencida por las bombas de la OTAN, fue destruida por una operación encubierta de los servicios de la CIA que construyeron un movimiento que se llamaba 'Otpor', con toda una tradición de marketing muy inteligente ya que, a pesar de ser un movimiento de ultraderechas para abrirle las puertas a las multinacionales, usaba como símbolo un puño, tradicionalmente relacionado con los progresistas", para mostrarse como un movimiento del pueblo y prodemocrático.

En realidad Yugoslavia no fue vencida por las bombas de la OTAN, fue destruida por una operación encubierta de los servicios de la CIA 
Collon afirma que un hombre muy importante en este mecanismo es George Soros, que organiza con su 'Open Society' la "compra de los nuevos líderes". Y se ve en Ucrania, se ve en diversos países, es una "privatización de la CIA para reemplazar los líderes que no le convienen a Occidente con 'empleados' de Occidente", agregó.

"Obama es más peligroso que Bush"

"Bush no fue una gran victoria para el intervencionismo de EE.UU.", afirma el investigador. "No han ganado la guerra en Irak, no han ganado en Afganistán" y, según Collon, fue también objeto de una gran desconfianza internacional. 
"Había que restaurar la imagen de EE.UU.", por eso la idea era poner en el poder a un hombre de raza negra, más joven, con excelente marketing, mejor que Bush, y con discursos magníficos en los que convoca al diálogo. En realidad EE.UU. va a continuar utilizando la violencia, "pero una violencia más disfrazada, es decir, más escondida".

"Obama es más peligroso que Bush porque es más inteligente, es una estrategia más sutil para manipular la opinión y presentarse como un demócrata que quiere la paz. El estilo 'cowboy' de Bush fue naturalmente contraproducente", calificó el periodista.

Obama es más peligroso que Bush porque es más inteligente, es una estrategia más sutil  
La gran estrategia de Washington es "romper el frente Rusia-China-África-América Latina para mantenerse como superpotencia colonial". Como explica Collon, el objetivo fundamental del nuevo colonialismo estadounidense es controlar los recursos por dos razones: en primer lugar, el petróleo y el gas son grandes fuentes de riqueza y, en segundo lugar, hay que impedir que los rivales económicos tengan acceso a esos recursos.

"La guerra de Washington para controlar el petróleo es también contra Europa, contra Japón, contra China para mantener un chantaje sobre el acceso a la energía", acentuó.

Para Collon, la guerra contra Yugoslavia "fue el anuncio de que va a ocurrir una guerra no declarada contra Rusia, porque Yugoslavia era un aliado de Rusia".

La estrategia, continuó, no es atacar a Rusia directamente, sino debilitar a Rusia, encerrarla. Y Europa del Este, Georgia, Ucrania, eso es una fase, y Ucrania es muy importante como socio industrial, en agricultura, y por su posición estratégica para el comercio de hidrocarburos.

"Occidente ve a Ucrania como una nueva colonia a recuperar, una fuente de riqueza y una manera de cercar a Rusia", dijo el investigador, resaltando que "lo terrible es que para realizar este programa se utiliza la violencia de grupos nazis".

"Occidente utiliza a nazis, racistas, antijudíos en Ucrania, utilizan realmente los peores bandidos. Y lo mismo en Libia, han utilizado a Al Qaeda porque era una fuerza necesaria para destruir a Gaddafi, a Libia, que tenía un papel independiente. Lo mismo ocurre en Siria".

Los medios de Occidente no tienen ninguna credibilidad

"En realidad EE.UU y Europa no son democracias realmente porque en nuestros países no hay información correcta, no hay democracia si los ciudadanos no saben lo que pasa realmente", sentenció.

EE.UU y Europa no son democracias "porque para controlar países, quier


Texto completo en: http://actualidad.rt.com/actualidad/view/123542-michel-collon-rt-guerra-rusia-eeuu-ucrania-yugoslavia

quarta-feira, 26 de março de 2014

Segurança, conceito controverso (por Noam Chomsky) « Sul 21 Sul 21

Segurança, conceito controverso (por Noam Chomsky)

Como os EUA arriscam proteção de seus cidadãos, e se isolam internacionalmente, para proteger grandes corporações e poder do Estado
Por Noam Chomsky, no Alternet | Tradução: Antonio Martins para o Outras Palavras
Um princípio orientador da teoria das relações internacionais diz que a maior prioridade do Estado é garantir a segurança. Como estrategista da Guerra Fria, George F. Kennan formulou que os governos são criados “para garantir a ordem e a justiça internas e para assegurar a defesa comum.” A proposição parece plausível, quase evidente, até que um olhar mais atento pergunte: Segurança para quem? Para a população em geral? Para o próprio poder do Estado? Para os setores dominantes na sociedade?
Dependendo do que queremos dizer, a credibilidade do princípio varia de desprezível a muito alta. A segurança do poder do Estado é extremamente alta, como revelam os esforços que os Estados desenvolvem para não serem transparentes a suas próprias populações.
Em uma entrevista na TV alemã, Edward Snowden contou que chegou a seu “ponto de ruptura” ao “ver o diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, negar, sob juramento do Congresso”, a existência de um programa de espionagem interna conduzida pela Agência de Segurança Nacional. Snowden afirmou que “o público tinha o direito de saber desses programas. O público tinha o direito de saber o que o governo está fazendo em seu nome e contra ele”. O mesmo poderia ser dito por Daniel Ellsberg, Chelsea Manning e outras figuras corajosas que atuaram segundo o mesmo princípio democrático.
A posição do governo é bem diferente: o público não tem o direito de saber, porque a segurança seria severamente prejudicada. Existem boas razões para ser cético diante de tal resposta. A primeira é quase totalmente previsível: quando um ato de governo é revelado, o governo, por reflexo, declara motivos de segurança. Em consequência, o resultado é pouca informação.
Uma segunda razão para o ceticismo é a natureza das provas apresentadas. O estudioso de relações internacionais John Mearsheimer escreveu que “o governo Obama, previsivelmente, alegou a princípio que a espionagem da NSA teve um papel fundamental em frustrar 54 planos terroristas contra os Estados Unidos, o que implica que violou a quarta emenda à Constituição por um bom motivo”.
Isso era mentira, no entanto. O general Keith Alexander, diretor da NSA, admitiu ao Congresso que poderia reivindicar apenas um caso bem-sucedido [em que ação terrorista foi frustrada por espionagem]: o que envolveu a captura de um imigrante somali e três comparsas que vivem em San Diego e tentaram enviar 8,5 mil dólares a um grupo terrorista na Somália…
A visão básica por trás desta atitude foi bem expressa pelo cientista político Samuel P. Huntington, de Harvard: “Os arquitetos do poder nos Estados Unidos devem criar uma força que possa ser sentida, mas não se veja. O poder permanece forte quando no escuro; exposto à luz do sol, começa a evaporar”.
Nos Estados Unidos, como em outros lugares, os arquitetos do poder compreendem isso muito bem. Aqueles que trabalharam com a enorme massa de documentos confidenciais na história oficial das Relações Exteriores dos Estados Unidos, por exemplo, dificilmente podem deixar de notar que, muito frequentemente, a principal preocupação não é a segurança nacional, em qualquer sentido, mas a segurança do poder do Estado.
Muitas vezes, a tentativa de manter o sigilo é motivada pela necessidade de garantir a segurança de setores sociais poderosos. Um exemplo são os “acordos de livre comércio”, rotulados de forma errada porque não são sobre o comércio como um todo e sim sobre os direitos dos investidores.
Estes instrumentos são regularmente negociados em segredo, como a atual Parceria Transpacífica (Trans-Pacific Partnership – TPP) mas não totalmente em segredo, é claro. Eles não são segredo para as centenas de lobistas corporativos e advogados que estão escrevendo as disposições detalhadas, cujo impacto foi revelado para o público através do WikiLeaks.
Como o economista Joseph E. Stiglitz concluiu, o Escritório de Representantes do Comércio dos EUA “representa os interesses corporativos”, não os do público: “A probabilidade de que o que emergir das próximas negociações sirva aos interesses dos americanos comuns é baixa; e as perspectivas para os cidadãos comuns em outros países são ainda mais sombrias.”
A segurança das grandes empresas é uma preocupação permanente das políticas governamentais nos EUA – o que sequer surpreende, dado o papel destas empresas na formulação de tais políticas. Em contrapartida, há provas substanciais de que a “segurança nacional” doméstica, no sentido em que o termo deve ser entendido, não é uma alta prioridade para a política do Estado.
Por exemplo, o programa de assassinato mundial por meio de drones do presidente Obama, é, de longe, a maior campanha terrorista do mundo. Mas qual seu resultado? O general Stanley McChrystal, comandante das forças dos EUA e da OTAN no Afeganistão, falou em “matemática insurgente”: para cada pessoa inocente que você matar, você cria dez novos inimigos.
Mas o próprio conceito de “pessoa inocente” diz-nos o quão longe nós estamos da Magna Carta, que estabeleceu o princípio da presunção de inocência – pensado um dia como o fundamento do direito anglo-americano. Hoje, a palavra “culpado” significa “alvo de assassinato por Obama” e “inocente” significa que “aquele a quem ainda não foi atribuído o status de culpado”.
A Brookings Institution acaba de publicar The Thistle and the Drone [“A Flor e o Drone”, em tradução livre], um estudo antropológico altamente elogiado sobre sociedades tribais. Escrito por Akbar Ahmed, tem com o subtítulo “Como a guerra dos EUA contra o terror se tornou uma guerra global contra o Islã Tribal”.
A guerra, Ahmed adverte, pode lrvar algumas tribos “à extinção”, com custos graves para as próprias sociedades, como se vê agora no Afeganistão, Paquistão, Somália e Iêmen. E, ao final, para os norte-americanos.
As culturas tribais, Ahmed aponta, baseiam-se em honra e vingança: “Todo ato de violência nessas sociedades tribais provoca um contra-ataque. Quanto mais duros os ataques contra os homens da tribo, mais cruéis e sangrentos os contra-ataques”.
O terror pode tornar-se um tiro pela culatra. Na revista britânica Foreign Affairs, David Hastings Dunn descreve como os cada vez mais sofisticados drones são uma arma perfeita para grupos terroristas. Drones são baratos, facilmente adquiríveis e “possuem muitas qualidades que, quando combinadas, tornam-se potencialmente o meio ideal para o ataque terrorista no século 21″, explica Dunn.
O senador Adlai Stevenson, referindo-se a seus muitos anos de serviço no Comitê de Inteligência do Senado dos EUA, escreve que “a vigilância cibernética e a coleta de metadados fazem parte da reação contínua ao 11 de Setembro. Os EUA são amplamente percebidos como em guerra contra o Islã, contra os xiitas, bem como os sunitas, no chão, com drones, e por procuração na Palestina, desde o Golfo Pérsico até a Ásia Central. Alemanha e Brasil se ressentem de nossas invasões, e o que elas causaram?”
A resposta é que elas causaram, para os Estados Unidos, uma ameaça crescente e o isolamento internacional.
As ações militares por meio de drones são um dispositivo pelo qual a política do Estado põe em risco a segurança da população com conhecimento de causa. O mesmo é verdadeiro com relação a forças especiais para operações de assassinatos. A invasão do Iraque aumentou acentuadamente o terror no Ocidente, confirmando as previsões da inteligência britânica e americana.
Estes atos de agressão foram, mais uma vez, uma questão que pouco interesse despertou em seus planejadores, orientados por diferentes conceitos de segurança. Mesmo o risco destruição instantânea, através de armas nucleares, nunca foi levado realmente a sério pelas autoridades. Tratarei disso num próximo texto.

terça-feira, 25 de março de 2014

Novas provas apontam incoerência sobre morte de Anísio Teixeira - Portal Vermelho

Novas provas apontam incoerência sobre morte de Anísio Teixeira


A Comissão Nacional da Verdade (CNV) recebeu das mãos do filho de Anísio Teixeira, Carlos Teixeira, documentos levantados pelos familiares do educador e reitor da Universidade de Brasília cassado em 1964 pelo regime militar que apontam incoerências nas investigações apresentadas pela polícia do Rio de Janeiro a respeito das circunstâncias da morte do educador.