O cantor uruguaio Daniel Viglietti denunciou que a Suprema Corte de Justiça do Uruguai (SCJ) deu “um tipo de golpe de Estado jurídico” que pretende liquidar com os processos contra os criminosos da ditadura (1973 – 1985). Viglietti afirmou que a SCJ busca impedir que sejam julgados os “que torturaram, assassinaram e sequestraram”.
“Se, por um lado, o estado escavou a terra para encontrar os corpos, é preciso continuar escavando a sociedade para encontrar os responsáveis por tudo isso”, afirmou o cantor e compositor de 73 anos de idade à Prensa Latina.
Nesta sexta-feira (22), a Suprema Corte emitiu uma sentença considerando inconstitucional a lei aprovada em 2011 que permitia a investigação de crimes ocorridos durante a ditadura, antes abrigados sob a lei da anistia, aprovada em 1986. A decisão ganhou o apoio da direita e foi condenada pelo governo esquerdista.
Para o vice-presidente da coalizão governista Frente Ampla, Juan Castillho, a decisão foi “uma barbaridade”. “O recado que está sendo dado às vítimas e a suas famílias é aterrorizante”, lamentou o político. O partido do presidente José Mujica emitiu um comunicado na segunda-feira (25) afirmando que “a maioria da SCJ é responsável pela manutenção da impunidade”. O PVP, outro partido que integra a Frente Ampla, afirmou que irá denunciar a SCJ à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A oposição direitista criticou o posicionamento do governo após a decisão: “Não respeitam o povo quanto vota, nem os juízes quando ditam sentença; acreditam estar por cima da Constituição”, escreveu o senador Ope Pasquet, do Partido Colorado, no Twitter.
O porta-voz da SCJ, Raúl Oxandabart, afirmou que “o destino de cada um dos procedimentos ou julgamentos sobre os crimes da ditadura dependem do juiz da causa, e nisso a SCJ não pode intervir”. Segundo o El País, a decisão determina que causas judiciais abertas nas quais não há militares processados por crimes na ditadura devem ser arquivadas. As causas nos quais já há processados, no entanto, poderão continuar a ser investigadas.
| Foto: Victor Farinelli/Opera Mundi
Protesto
Nesta segunda-feira (25), milhares de uruguaios, entre eles o escritor Eduardo Galeano, protestaram contra a decisão e exigiram o fim da impunidade pelos crimes da ditadura. Os manifestantes, convocados pela Frente Ampla e por várias organizações de defesa dos direitos humanos, se concentraram na Praça Cagancha, em frente à sede da SCJ. Ao redor da Coluna da Paz, monumento simbólico da Plaza Cagancha, em Montevidéu, havia pouco mais de 25 mil uruguaios em protesto. Após cinco minutos de silêncio, vieram os aplausos, abraços, lágrimas e o hino do país.
Terminada a parte protocolar do ato, os gritos passaram a ser variados, e direcionados a um dos flancos da praça, onde está o prédio da Suprema Corte de Justiça do Uruguai. Foi de lá que saiu, na última sexta-feira (22/02), a decisão que motivou o evento.
O tribunal de justiça do país declarou inconstitucionais os dois artigos centrais da chamada Lei de Interpretação, aprovada pelo Congresso do país em 2011, e que anulava os efeitos da Lei de Caducidade (similar à Lei de Anistia no Brasil), pela qual se determina a prescrição dos crimes da ditadura uruguaia (1973-1985).
A Cagancha, ontem | Foto: Victor Farinelli/Opera Mundi
Com informações da Radil Del Sur, Opera Mundi, Terra e O Globo
Leitores me garantem que nossa
ditadura foi um sucesso. Admito. Que linda ditadura tivemos! Dizem que
se podia dormir de noite e sair à rua sem medo. Salvo os resistentes ao
regime, que eram torturados ou mortos. Mas, explicam-me, a culpa era
deles. Quando Nelson Rockfeller visitou o Brasil, em 1969, seis mil
“baderneiros” foram “preventivamente detidos” só no Rio de Janeiro.
Liberdade, liberdade! Como gosto de números, vou compartilhar alguns
aqui, tirados de um dos capítulos mais consistentes que já li,
intitulado “O milagre econômico”, do livro, “Estado e oposição no
Brasil”, de Maria Helena Moreira Alves. É de arrepiar, o nosso êxito.
A inflação do período militar foi
modesta, em torno de 20% ao mês. A dívida externa pulou de 3,9 bilhões
de dólares, em 1968, para 12,5 bilhões em 1973. A turma dos camarotes
rurais adorava, pois as exportações eram subsidiadas. Mário Henrique
Simonsen, um dos intelectuais orgânicos do regime, soltou esta pérola
aos porcos: “A partir de 1964, logramos alcançar razoável estabilidade
política”. Uau! Tem cada charlatão neste mundo de Deus. Maria Helena
Moreira Alves resume: “A política governamental elevou acentuadamente a
participação dos membros mais ricos da população na renda global
diminuindo a dos 80% mais pobres”. Sem dúvida, um mecanismo eficiente de
redistribuição de renda. Para cima. Os números dão uma surra de
realidade. Que sucesso. Em 1970, 50,2% dos brasileiros ganhavam menos de
um salário mínimo. Em 1972, já eram 52,5%. Que milagre! Apenas 78,8%
dos trabalhadores ganhavam até dois salários mínimos. Uma proporção, com
certeza, pequena. Um decreto de 1938 estabeleceu o que o salário mínimo
devia comprar.
Nossa bela ditadura alterou esses
dados. Passamos de 12 para 14 horas de trabalho diário para poder comer.
Em 1959, um trabalhador precisava de 65 horas e cinco minutos de
trabalho para comprar a cesta básica fixada pelo decreto de 1938. Em
1963, eram 88 horas. Em 1974, 163 horas e 32 minutos. Nenhuma democracia
faria melhor. Saltamos para 25 milhões de crianças passando fome. Uma
pesquisa revelou que 60% das crianças entrevistadas trabalhava mais de
40 horas por semana. Chamava-se isso de educação pelo trabalho: 18,5% da
população entre 10 e 14 anos de idade trabalhava. O efeito pedagógico
foi espetacular: 63% das crianças entre 5 e 9 anos de idade, em 1976,
fora das escolas. Nunca mais se foi tão longe. Era difícil um país nos
bater em analfabetismo ou semianalfabetismo. Tudo isso pela segurança
nacional.
A ditadura também mudou a composição
dos orçamentos. Uma extraordinária revolução. O da Saúde passou de
4,29% do total, em 1966, para 0,99% em 1974. O da Educação despencou de
11,07% para 4,95% no mesmo período. Em compensação, os três ministérios
militares, muito mais úteis à nação, abocanhavam 17,96% dos recursos.
Fixamos pena de morte, prisão perpétua, banimento, fechamos o Congresso,
controlamos os meios de comunicação, prendemos e arrebentamos,
montamos, segundo o general Viana Moog, “a maior mobilização de tropas
do Exército”, 20 mil homens para caçar 69 guerrilheiros do PCdoB no
Araguaia. Entre 1977 e 1981, foram mortos apenas 45 líderes sindicais
rurais. Tivemos míseros 12 mil presos políticos entre 1969 e 1974. Uma
ditadura realmente admirável. Tão admirável que conseguiu se
autoanistiar. Nenhum torturador foi julgado ou punido. Que êxito!
Documentos ultrassecretos provam que a ditadura brasileira chegou a exportar técnicas de tortura à militares da região
The National Security Archive/Reprodução
O Brasil pode ter tido um papel mais importante que os EUA nas ditaduras latino-americanas, embora a articulação estreita entre Brasília e Washington para perseguir militantes de esquerda nos anos 60 e 70 seja ainda quase desconhecida para a história oficial.
A missão de desvendar os meandros dessa cooperação e o verdadeiro papel que militares e civis brasileiros desempenharam em ditaduras como as do Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia caberá à recém-instaurada Comissão da Verdade, diz o pesquisador norte-americano Peter Kornbluh em entrevista ao Opera Mundi.
[O ditador brasileiro Emílio Garrastazu Médici e o presidente dos EUA Richard Nixon]
Segundo Kornbluh – que esteve em maio em Brasília para reunir-se com membros da Comissão –, existem papéis ultrassecretos que provam que o Brasil exportou técnicas de tortura para os países vizinhos, além de fornecer respaldo político, ajuda financeira e suporte material para ditadores militares da região.
Documentos secretos obtidos pela organização de Kornbluh em agosto de 2009 revelam a cooperação estreita entre Nixon e Médici. Num dos memorandos revelados, o presidente norte-americano diz a seu colega brasileiro: "espero que possamos ter uma colaboração estreita, uma vez que há muitas coisas que o Brasil pode fazer, como país sul-americano, e nós, dos EUA, não podemos. A relação entre ambos era tão importante, diz a análise feita na época pela National Secutiry Archives, que ambos estabeleceram um canal privilegiado de contato, "como forma de manter a comunicação direta sem usar os canais diplomáticos formais".
Médici tinha como canal seu assessor direto, o chanceler Gibson Barbosa, mas "para assuntos extremamente privados e delicados", indicou o coronel Manso Netto. Do lado norte-americano, o contato era Henry Kissinger, conselheiro e confidente de Nixon. Toda a comunicação estabelecida por meio desse canal secreto permanece desconhecida.
Kornbluh começou a lidar com arquivos secretos na década de 60, quando investigou papéis do governo norte-americano sobre a crise dos mísseis em Cuba. Na época, a então União Soviética transportou para a ilha mísseis capazes de alcançar o território dos EUA em plena Guerra Fria. Kornbluh também mergulhou em arquivos do episódio que ficou conhecido como Irã Contras quando, em 1986, durante o mandato do então presidente Ronal Regan, figurões da CIA foram flagrados traficando armas para o Teerã, mesmo com o regime sob embargo. Ele publicou dois livros sobre o tema, além de um terceiro, mais tarde, sobre a ditadura no Chile, que recebeu do jornal americano Los Angeles Times a classificação de “livro do ano” de 1998.
O pesquisador norte-americano é figurinha fácil em programas de reportagem investigativa como o 60 Minutes, da rede CBS, e congêneres da CNN. Sua informações e análises sobre o papel dos EUA são conhecidas, mas o envolvimento com os arquivos brasileiros será algo novo, que pode revelar detalhes ainda desconhecidos – e desagradáveis – sobre o real papel brasileiro na história latino-americana.
Acusação direta
Em maio, o Opera Mundipublicou reportagem especial na qual fontes brasileiras e chilenas acusam a Embaixada do Brasil em Santiago do Chile de ter sediado as reuniões prévias ao golpe liderado pelo general Augusto Pinochet, além de ter facilitado o envio da primeira linha de crédito à ditadura chilena por empresários brasileiros, no valor US$ 100 milhões.
Arquivo pessoal
Peter Kornbluh: relutância das fontes militares brasileiras em liberar papéis é obstáculo para Comissão da Verdade do país
“O único brasileiro presente na noite em que a Junta Militar chilena prestou juramento, no dia 11 de setembro (dia do golpe), foi o então embaixador do Brasil no Chile (Antonio Castro do Alcântara Canto), em cuja residência foram feitas as reuniões-chave para que Pinochet se juntasse ao golpe", disse a jornalista e escritora chilena Mónica Gonzalez, autora do livro La Conjura – Os Mil e Um Dias do Golpe.
"Empresários de São Paulo financiaram o grupo de ultra-direita Patria y Libertad que perpetrou atividades terroristas para desestabilizar o governo [de Salvador] Allende. Torturadores brasileiros vieram ao Chile após o golpe para ensinar técnicas de tortura, interrogar e levar de volta ao Brasil ativistas brasileiros exilados no Chile", completou um dos assessores diretos de Allende, o atual diretor do PNUD (Programa da ONU para o Desenvolvimento), Heraldo Muñoz.
Para Kornbluh, declarações como as de Mónica e Muñoz podem ser provadas por documentos ainda desconhecidos. O pesquisador é um grande conhecedor do poder de certos papéis empoeirados. Em 1998, quando o democrata Bill Clinton era presidente, ele conseguiu a liberação de 24 mil documentos secretos da CIA, do Departamento de Defesa, do Departamento de Estado, do Conselho de Segurança Nacional e do FBI sobre a participação dos EUA no golpe de 11 de setembro de 1973, no Chile. Pouco tempo depois, Kornbluh aplicou o mesmo modelo de busca para o caso argentino, onde conseguiu acesso a mais de 5 mil informações até então reservadas da ditadura militar.
“A ironia poética do envolvimento dos EUA na América Latina é que isso criou um rico acervo que pôde ser usado para revelar quais violações dos direitos humanos foram cometidas no passado e quem as cometeu. Esperamos conseguir informações semelhantes no Brasil nos próximos meses”, disse.
Jogo duro
Kornbluh diz que um dos obstáculos ao trabalho da Comissão da Verdade no Brasil ainda é a relutância das fontes militares em liberar papéis, por exemplo, sobre a Guerrilha do Araguaia – movimento de resistência armada à ditadura que foi aniquilado pelo Exército Brasileiro em seguidas investidas, entre 1972 e 1975, na região norte.
Roberto Stuckert Filho/PR
Presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de instalação da Comissão Nacional da Verdade, no Palácio do Planalto, em Brasília
Os documentos relativos à operação nunca foram revelados pelos militares, mesmo depois da condenação do Estado brasileiro pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em dezembro de 2010, pela “detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas, entre membros do Partido Comunista do Brasil e camponeses da região” do Araguaia. Eles dizem que os papéis foram todos destruídos.
Kornbluh diz que o argumento é comum e já foi usado em outras ditaduras da região. "Na Guatemala, a Comissão transformou num assunto o fato de os militares negarem informações, esconderem documentos. A publicidade disso fez com que alguns militares guatemaltecos dessem passos significantes adiante, liberando mais documentos sobre o papel do alto comando nas atrocidades massivas”, conta. “A Comissão de Verdade do Brasil deveria ser agressiva na busca por registros militares e, se os militares não cooperarem, deveria então estar preparada para dar publicidade geral, responsabilizando os que obstruírem os registros desta história negra.”
A sugestão foi, aparentemente, feita por Kornbluh aos membros da Comissão da Verdade no Brasil, embora o pesquisador tenha se negado a dar detalhes sobre o encontro realizado em Brasília, em junho.
Definitivamente
a mídia continua tratando seus leitores como idiotas.
Insiste
em criar slogans usurpadores para catequizar os incautos.
De
um lado temos o Ocidente Cristão “tolerante e democrático”.
De
outro o Oriente muçulmano“intolerante
e fundamentalista”.
O
Ocidente é representado por Estados Unidos e Europa.
O
Oriente por Iraque, Líbia e Afeganistão ( não por coincidência nações
invadidas, ocupadas e saqueadas”).
E a
estes três últimos querem acrescentar a Síria e Iran e em quem mais eles
estiverem cobiçando.
Enfim,
de um lado temos os “tolerantes cristãos” e de outro os “fundamentalistas muçulmanos”.
Mas
espera aí.
O
Iraque de Saddam Hussein tinha como vice-presidente um cristão.
Em
que país cristão há algum vice-presidente muçulmano?
No
Afeganistão dos Talibãshavia uma
Mesquita de Maria.
Alguém
conhece alguma igreja ou templo no Ocidente democrático de nome Muhamad?
Isso,
claro, para ficar na superfície do texto.
Alguém
pode dizer quando o Iraque, a Líbia, o Afeganistão, a Síria ou Iran invadiram o
Ocidente Cristão?
Não
preciso perguntar quantas vezes o Ocidente cristão invadiu aqueles países.
Qualquer
leitor minimamente ilustrado sabeque o Ocidente Cristão fez e ( e continua fazendo) de sua razão a
invasão, ocupação e saque de nações.
E
não precisa ir longe.
A
nossa maltratada America é um excelente exemplo.
Claro
também que posso citar a África e a Ásia.
Agora
falemos de Israel que, segundo seus psicopatas dirigentes, estaria ameaçado
pelo muçulmano Iran.
Porque
um dirigente iraniano “teria ameaçado os judeus de extinção”.
O
interessante é que no Iran vivem mais de 35 mil judeus que vivem de acordo com
os preceitos da religião judaica.
E
jamais foram perseguidos ou maltratados.
Mas
falemos de Israel, lamentavelmente, um posto militar euro-ocidental a serviço
dos Estados Unidos.
Como
os “judeus” foram parar ali?
Fugindo
dos cristãos ocidentais.
Que
jamais cessaram de persegui-los.
Basta
consultar menos a mídia e mais a História para verificar essa verdade.
Foram
os ocidentais cristãos que perseguirame maltrataram os judeus durante séculos.
Ao
contrario dos muçulmanos, que sempre os abrigaram.
A
lista é longa, longuíssima, mas esse é um simples blog e não uma defesa de
tese.
Mas
se você tiver algum tempo consulte a História e veja como Ocidente Cristão
manipula vergonhosamente os fatos.
E
veja quem é o fundamentalista.
E
como a mídia trata os seus leitores como idiotas.
Depende
apenas de você.
E
abaixo você ouve Moshe Habusha, acompanhado por Ariel Cohen, cantando em árabe Ya Jarat Al Wadi, do egípcio Mohamad
Abel-Wahab. Ressalte-se que Moshe possui um conjunto musical especializado em canções
clássicas árabes. Muitas delas ele verteu para o hebraico. Eu o considero um dos
melhores interpretes de musica árabe em todo o Oriente Médio.
Nascidos
na Argentina na década de 1990 para denunciar os agentes da ditadura
civil-militar responsável por um saldo de 30 mil mortos e desaparecidos
no período, os escrachos criaram condenação social e abriram caminho
para a abertura dos processos judiciais contra militares e civis
envolvidos na repressão
(Ação da Frente de Escracho Popular, no dia 7 de abril em São
Paulo, denuncia o legista Harry Shibata, que assinava laudos falsos para
encobrir torturas)
Na manhã de 25 de março de 2006, quem passava pela Avenida Cabildo,
número 639, no bairro portenho de Belgrano, via a parte externa de um
prédio residencial, precisamente na altura do sexto andar, manchado de
tinta vermelha, além de placas e pichações na rua. “Aqui vive um
genocida”, diziam algumas das mensagens. Nesse endereço vivia Jorge
Rafael Videla, um dos líderes da Junta Militar que tomou o poder por
meio de um golpe de Estado em 24 de março de 1976.
Quem tivesse passado no dia anterior teria visto 15 mil pessoas em uma
manifestação diante da casa do repressor, na ocasião em prisão
domiciliar (hoje cumpre a pena em um presídio). Tratava-se de um
escracho, como ficou conhecido na Argentina e no Uruguai um determinado
tipo de mobilização em que se evidencia publicamente um fato condenável
em relação a uma pessoa ou lugar.
As semelhanças com os atos realizados por jovens brasileiros nos meses
de março e abril não são meras coincidências. No comunicado da
organização Levante Popular da Juventude, que organizou seis escrachos a
repressores brasileiros em seis cidades simultaneamente, no dia 26 de
março, é feita referência à experiência do país vizinho e à chilena,
onde esse tipo de mobilização recebe o nome de “funa”.
Há consenso, porém, que o escracho nasceu na Argentina. “É uma
ferramenta de luta que criamos em determinado período de nossa
história”, conta Julio Avicento, da Hijos (sigla em espanhol para Filhos
e Filhas pela Identidade, Justiça e contra o Esquecimento e o Silêncio,
que forma a palavra “filhos”), da cidade de La Plata, organização à
qual se atribui a criação do escracho.
O período a que se refere Avicento é a década de 1990, quando vigoravam
as chamadas “leis de impunidade”. Após o fim da ditadura civil-militar,
em um contexto de denúncias feitas pelas organizações de direitos
humanos, crise econômica e desmoralização em razão da derrota na Guerra
das Malvinas, os integrantes das juntas militares que chefiaram o país
entre 1976 e 1983 foram julgados, em 1985. O resultado foi a condenação
de Videla e Emilio Eduardo Massera à prisão perpétua, e de outros três
chefes da Junta a penas menores. Outros quatro foram absolvidos.
Nova geração e impunidade
A Argentina era então governada por Raúl Alfonsín, que depois do
Julgamento às Juntas sancionou duas leis: Ponto Final e Obediência
Devida. Juntas, concediam anistia a todos os outros militares e
policiais com a justificativa de que haviam cumprido ordens de seus
superiores. Portanto, estes já haviam sido julgados e o assunto estava
encerrado. Para completar, em 1990 o então presidente Carlos Menem
concedeu um indulto aos condenados, colocando em liberdade os chefes
militares.
Para Julio Avicento, nesse momento houve um ponto de inflexão em que
essas leis passaram a ser questionadas pelas quatro gerações de
lutadores: as mães, pioneiras na luta contra a impunidade; as avós, que
questionavam o paradeiro de seus netos (a ditadura civil-militar
argentina roubou cerca de 500 filhos de desaparecidos); a própria
geração dos desaparecidos, representada pelos sobreviventes; e os
filhos, que nessa época estavam entre a adolescência e a vida adulta.
Em um contexto de impunidade total, no qual era impossível avançar
judicialmente, a organização Hijos passou a sugerir a possibilidade de
um avanço em outro tipo de condenação. “O caminho era a condenação
social, já que não se podia contar com a Justiça, cúmplice do genocídio.
Quanto mais a sociedade condena, mais fácil é romper a impunidade,
inclusive judicialmente”, resume Agustín Cetrangolo, também militante da
Hijos, na capital Buenos Aires. De fato, foi o que ocorreu no país. Em
2003, Néstor Kirchner derrubou as leis, o que permitiu o início do
julgamento judicial de vários repressores. “Quase todos os processados
ou julgados foram escrachados antes”, conta Cetrangolo.
Julio Avicento revela que diversas organizações participavam do
escracho, não apenas a Hijos. “Usávamos as chamadas ‘mesas de
escrachos’, nas quais participavam distintas organizações; havia muitas
tarefas para dividir e muito a aprender durante o caminho”, lembra. O
militante explica que um trabalho prévio ao escracho era feito, não só
de investigação para comprovar a participação do repressor, mas também
com os vizinhos. “Passávamos casa por casa conversando, explicávamos que
íamos fazer uma atividade, entregávamos um texto explicando o porquê”,
explica. A chamada “mesa de escracho” era geralmente feita em um centro
cultural ou na sede de alguma organização, que cedia o espaço. Os
militantes faziam então um diálogo com o bairro e com as organizações a
partir do eixo da denúncia aos repressores.
A lógica não era necessariamente gerar a surpresa e um incômodo no
repressor no momento do escracho, mas instalar um desconforto permanente
por meio do trabalho com os vizinhos. “Queríamos que as pessoas se
recusassem a entrar no elevador com eles, que o padeiro do bairro se
recusasse a vender pão. Dizíamos: se não vai para a cadeia, que sua casa
seja uma cadeia. Que na rua sejam repudiados pela sociedade.”
Filhos da luta
As organizações que aderiam ao escracho a um genocida (na Argentina,
alguns juízes afirmam que os crimes de lesa-humanidade cometidos na
ditadura se deram dentro de um plano sistemático de extermínio, que pode
ser classificado como genocídio) não eram apenas formadas por
familiares. A Hijos, por exemplo, é aberta à participação de toda a
sociedade. Explica Avicento: “Não sou filho de desaparecido, mas há
quatorze anos milito no âmbito dos direitos humanos, conheci muitos
companheiros [filhos e parentes] e me envolvi. O rico dessa luta é que
toda a sociedade pode se envolver”. Não somente pode, como deve. “Toda a
sociedade foi vítima do terrorismo de Estado, todos sofreram com o
terror e o medo”, completa.
Agustín Cetrangolo é filho de Sergio Cetrangolo, desaparecido em 1978. A
mãe, também presa e torturada, é da geração de sobreviventes. “Não
entendemos que a reparação é apenas com os familiares, mas deve-se
reparar toda uma sociedade”, defende. “Na Hijos dizemos que todos somos
filhos da mesma história. Seria um erro dizer que o genocídio pretendeu
apenas exterminar as organizações políticas e seus militantes. A
violência do genocídio extrapola isso. Se entendemos que toda a
sociedade foi vítima desse terrorismo de Estado, por que não podemos
organizar qualquer setor para lutar contra isso?”, completa.
Para Julio Avicento, quem usa o argumento de que os jovens de hoje não
“têm nada a ver” com a repressão “esconde na verdade uma posição que
procura manter a impunidade em relação aos repressores”. Os militantes
também lembram que o aparato repressivo da ditadura persiste até hoje,
com os casos de assassinatos de jovens pela polícia ou a perseguição e
espionagem dos movimentos sociais. Também por isso os escrachos
continuam sendo usados. “O escracho transcendeu a Hijos, para além do
que entendíamos como escracho. Em 2001, por exemplo, escrachou-se tudo,
bancos, McDonald’s”, recorda Cetrangolo.
O
site IG publica, nesta quarta-feira (2), matéria sobre o lançamento do
livro de delegado do DOPS Cláudio Guerra com revelações bombásticas
sobre a tortura, incineração de corpos de prisioneiros políticos e
assassinatos cometidos pelas forças de repressão durante o regime
militar brasileiro. Confira:
“Militantes de esquerda foram incinerados em usina de açúcar”
Delegado revela em livro que viraram cinzas os corpos de David
Capistrano, Ana Rosa Kucinski e outros oito opositores da ditadura
Ele lançou bombas por todo o país e participou, em 1981 no Rio de
Janeiro, do atentado contra o show do 1º de Maio no Pavilhão do
Riocentro. Esteve envolvido no assassinato de aproximadamente uma
centena de pessoas durante a ditadura militar. Trata-se de um delegado
capixaba que herdou os subordinados do delegado paulista Sérgio Paranhos
Fleury nas forças de resistência violenta à redemocratização do Brasil.
Apesar disso, o nome de Cláudio Guerra nunca esteve em listas de
entidades de defesa dos direitos humanos. Mas com o lançamento do livro
“Memórias de uma guerra suja”, que acaba de ser editado, esse
ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) entrará
para a história como um dos principais terroristas de direita que já
existiu no País.
Mais do que esse novo personagem, o depoimento recolhido pelos
jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, ao longo dos últimos dois
anos, traz revelações bombásticas sobre alguns dos acontecimentos mais
marcantes das décadas de 70 e 80.
Revelações sobre o próprio caso do Riocentro; o assassinato do
jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982; a morte do delegado
Fleury; a aproximação entre o crime organizado e setores militares na
luta para manter a repressão; e dos nomes de alguns dos financiadores
privados das ações do terrorismo de Estado que se estabeleceu naquele
período.
A reportagem do iG teve acesso ao livro, editado pela Topbooks. O relato
de Cláudio Guerra é impressionante. Tão detalhado e objetivo que tem
tudo para se tornar um dos roteiros de trabalho da Comissão da verdade,
criada para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988,
período que inclui a ditadura militar (1964-1988).
David Capistrano, Massena, Kucinski e outros incinerados
Cláudio Guerra conta, por exemplo, como incinerou os corpos de dez
presos políticos numa usina de açúcar do norte Estado do Rio de Janeiro.
Corpos que nunca mais serão encontrados – conforme ele testemunha – de
militantes de esquerda que foram torturados barbaramente.
“Em determinado momento da guerra contra os adversários do regime
passamos a discutir o que fazer com os corpos dos eliminados na luta
clandestina. Estávamos no final de 1973. Precisávamos ter um plano.
Embora a imprensa estivesse sob censura, havia resistência interna e no
exterior contra os atos clandestinos, a tortura e as mortes.”
Os dez presos incinerados
João Batista e Joaquim Pires Cerveira > presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury.
Ana Rosa Kucinsk e Wilson Silva > “A mulher apresentava marcas de
mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente, e o
jovem não tinha as unhas da mão direita”.
David Capistrano (“lhe haviam arrancado a mão direita”) , João Massena
Mello, José Roman e Luiz Ignácio Maranhão Filho > Dirigentes
históricos do PCB.
Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho > Militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML).
O delegado lembrou do ex-vice-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro,
proprietário da usina de açúcar Cambahyba, localizada no município de
Campos, a quem ele fornecia armas regularmente para combater os
sem-terra da região. Heli Ribeiro, segundo conta, “faria o que fosse
preciso para evitar que o comunismo tomasse o poder no Brasil”.
Cláudio Guerra revelou a amizade com o dono da usina para seus
superiores: o coronel da cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira,
que trabalhava para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o
comandante da Marinha Antônio Vieira, que atuava no Centro de
Informações da Marinha (Cenimar).
Afirma que levou, então, os dois comandantes até a fazenda:
“O local foi aprovado. O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano.”
“A usina passou, em contrapartida, a receber benefícios dos militares
pelos bons serviços prestados. Era um período de dificuldade econômica e
os usineiros da região estavam pendurados em dívidas. Mas o pessoal da
Cambahyba, não. Eles tinham acesso fácil a financiamentos e outros
benefícios que o Estado poderia prestar.”
Do porão para o púlpito
Cláudio Guerra foi um dos policiais mais poderosos dos anos 70 e início
dos anos 80. Circulava no eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais-Espírito Santo
com a desenvoltura de uma autoridade anônima consciente de seu poder de
destruição humana. Hoje é um pastor evangélico que passa boa parte das
manhãs de domingo estudando hebraico, e grande parte de seu tempo
estudando a Bíblia. Também desenvolve atividades sociais sob a
supervisão da Justiça, já que ainda cumpre pena de prisão, recolhido
numa instituição para idosos. E vive pedindo por suas ovelhas: o
tratamento difícil para alguma criança, uma cirurgia de emergência, um
olhar mais técnico sobre um promissor jovem atleta de sua comunidade.
Ex-policial experiente, ele sabe que sua vida sofrerá graves mudanças a
partir da divulgação das informações constantes em Memórias de uma
Guerra Suja.
O site memoriasdeumaguerrasuja.com.br
apresenta o livro, os autores e o protagonista, além de indicar
personagens da comunidade de informações, cemitérios clandestinos e
desaparecidos políticos.
Músicas e flores marcaram no 25 de abril de 1974 aquela que ficou conhecida como a Revolução dos Cravos.
Às 23h do dia 24, o locutor das
Emissoras Associadas anunciou a canção “E depois do Adeus”. Era a senha
para o décimo Grupo de Comando tomar a RádioClube Portugal (RCP). E a
meia-noite e meia, a Rádio Renascença tocou “Grandola, vila morena,
terra da fraternidade, o povo é quem mais ordena dentro de ti, ó
cidade”! Era a senha para as demais ações militares que vieram a seguir:
ocupação da Central Telefônica, dos ministérios, da Rádio e Televisão
Portuguesa (RTP).
Quando o sol já brilhava, os capitães de
abril tomaram o Banco de Portugal e logo chegaram ao Quartel do Carmo,
onde se refugiara Marcello Caetano, primeiro-ministro que sucedeu o
arquifascista general Antônio de Oliveira Salazar. Caía quase meio
século (48 anos) de ferrenha ditadura.
Não houve resistência. Os tanques
passearam pelas ruas até os pontos estratégicos que deveriam ser
ocupados. Até paravam nos sinais vermelhos e o povo, que se aglomerou
para apoiar e aplaudir, distribuía flores com os soldados, os famosos
cravos que enfeitaram os fuzis e se tornaram símbolo do movimento
revolucionário. O 25 de abril não entusiasmou apenas o povo português,
mas as forças populares do mundo inteiro. No Brasil, por vivermos ainda
uma ditadura militar do mesmo quilate da portuguesa, e pela ligação
histórica Brasil-Portugal, ele foi saudado com muito entusiasmo. Chico
Buarque, com sua música denunciadora e profética, escreveu: “Sei que
estás em festa, pá! Fico contente e enquanto estou ausente, guarda um
cravo para mim” (Tanto Mar).
Mas para entendermos o levante vitorioso
de abril e os fatos que ocorreram a seguir precisamos recuar bastante
no tempo. Paciência, que na história humana nada acontece por acaso.
De dominado a dominador
Portugal formou-se provavelmente na
Idade do Bronze (2.000 a.C.- 8.000 a.C.), quando povos de origens
diversas, em fluxo migratório, pararam diante do mar na Península
Ibérica e se miscigenaram. Depois vieram as invasões, sucessivamente dos
romanos, bárbaros e muçulmanos.
Não há uma data que marque a
independência do território português e sua constituição enquanto nação
soberana. Foi um processo que se deu a partir do século XII. Há
historiadores que identificam como momento decisivo as batalhas de
1383/1385, que tiveram ampla participação popular e derrotaram
definitivamente os exércitos de Castela (Espanha).
Os portugueses desenvolveram no litoral
intensa atividade pesqueira e aprenderam muito bem a arte da navegação.
Já em 1415, realizou-se a 1ª expedição ao norte da África, conquistando
Ceuta, porta de entrada para uma região rica em cereais. A busca de
novas terras é vista como forma de solucionar os graves problemas
econômicos que atingem o país: desorganização da sociedade rural,
domínio da burguesia comercial, expansão da economia europeia e de seu
mercado consumidor. Para o povo português, representava também a oportunidade de emigrar para conseguir riqueza em outras terras.
Em 1448, as expedições chegaram à Índia,
firmando Portugal como potência naval e comercial. Portugal, entretanto
,não investiu os lucros obtidos no desenvolvimento industrial,
tornando-se um entreposto comercial da Europa e constituiu-se enquanto
império periférico, mantendo uma relação de dependência com o seu
principal cliente, a Inglaterra. Quando se consolida a Revolução
Francesa e a França passa a disputar com os ingleses a supremacia no
continente europeu, Portugal está inteiramente alinhado com a
Inglaterra, com quem mantém intenso comércio com base na produção
agrícola brasileira.
O declínio do império
Em 1807, as tropas francesas
(napoleônicas) invadem Portugal e a Corte se refugiou no Brasil, vivendo
o império português a sua 1ª grande crise.
Com a derrota de Napoleão (1814),
Portugal passou a ser governado por uma Junta de Governadores que
recebia instruções do Rio. A Corte permaneceu no Brasil até 1820 quando
se deu a revolução do Porto, que reduziu os poderes do rei,
estabelecendo uma monarquia constitucional, e exigiu o retorno do Dom
João VI.
A emancipação do Brasil (1822) destruiu
os pilares do comércio português. Para compensar as perdas, o império
volta-se para suas colônias na África.
Com escassa industrialização e extrema
dependência dos mercados externos a crise se agrava a cada dia. Incapaz
de solucioná-las, a monarquia abre espaço para a articulação
republicana, que unia setores médios (intelectualidade, militares) e
setores das massas urbanas.
A república foi proclamada em 5 de
outubro de 1910, por meio de um golpe de Estado, desencadeado a partir
de um atentado que vitimou o rei, D. Carlos e o príncipe Luís Felipe,
herdeiro do trono.
A era republicana começa com a
disseminação das greves operárias contra o alto custo de vida e os
baixos salários. O novo regime respondeu com uma lei de greve patronal e
com repressão ao movimento. A classe operária foi posta à margem da
vida republicana, uma vez que sua proclamação fora obra das elites,
fazendo apenas circular o governo entre frações das classes dominantes. A
primeira república durou até 1926, quando um golpe militar pôs fim à
instabilidade política.
Em 1928, o Governo do general Carmona
convidou para pôr ordem na economia um professor da Universidade de
Coimbra, Antônio Oliveira Salazar. Este acabou assumindo a chefia do
Estado. Com a implantação de rigorosa ortodoxia econômica e implacável
repressão política, o salazarismo unificou as classes dominantes e impôs
uma ditadura de quase meio século (48 anos).
A relação da ditadura salazarista com as
Forças Armadas nunca foi tranqüila, especialmente após a Reforma
Militar de 1937, que subordinou a instituição militar ao chefe do
executivo (Salazar). Várias conjuras militares aconteceram e foram
derrotadas nos anos 50 e 60.
No meio popular, a luta se desenvolvia
em rigorosa clandestinidade. A repressão dizimou centenas de quadros do
Partido Comunista Português (PCP) e de outras organizações de esquerda.
A queda do salazarismo começou na África
com a derrocada do que restava do império colonial português. A
exploração econômica já não compensava mais os custos sempre crescentes
que o Estado português tinha de fazer para enfrentaras guerrilhas de
libertação nacional que impunham cada vez mais derrotas ao império,
especialmente em Moçambique, Angola, e Guiné-Bissau. Em 24 de setembro
de 1973, foi proclamada a independência da Guiné, com o reconhecimento
diplomático de 86 países, fato que demonstrou o isolamento da ditadura
colonialista portuguesa, a essa altura já condenada pela ONU.
A relação deficitária entre a metrópole e
as colônias africanas aguçou a crise econômica interna e a insatisfação
popular com o regime e o colonialismo, identificados como responsáveis
pelo desemprego, os baixos salários e o esvaziamento do campo. Apesar da
ditadura, os trabalhadores não deixaram de lutar e se organizar,
criando as comissões clandestinas nos locais de trabalho e intervindo
também nos sindicatos oficiais. No seio das Forças Armadas, o
descontentamento crescia diante da redução dos gastos, a contabilização
de milhares de soldados mortos no continente africano e a certeza que se
instalava entre os oficiais de que seria impossível uma vitória
militar.
O falecimento de Salazar em 1968, substituído por Marcello Caetano, ex-reitor da Universidade de Lisboa, não alterou o quadro.
A década de 1970 se inicia com o impulso
das lutas operárias, especialmente a partir da 1ª metade de 1973. Daí,
até abril de 1974, mais de cem mil trabalhadores participaram de greves
nos centros industriais, nas grandes, pequenas e médias empresas e nas
zonas agrícolas de Alentejo e Ribatejo. Numerosos sindicatos se
libertaram de direções pelegas, havia um movimento em ascensão, que
preparava um grande ato público para o 1º de maio em Lisboa e outros
centros do país, marcando uma jornada de lutas por melhores salários,
contra a carestia, mas também por liberdades democráticas,contra as
guerras coloniais, por independência e paz. Por seu lado, o governo
fascista articulava uma operação preventiva que no dia 30 de abril
levaria para a prisão ativistas sindicais e populares. Não teve tempo.
Os capitães de abril
Em 9 de setembro de 1973, numa chácara
nos arredores de Évora, nasceu o Movimento dos Capitães ou Movimento das
Forças Armadas (MFA), que propunha o fim do colonialismo e a
democratização da sociedade portuguesa.
Setores mais conservadores das Forças
Armadas planejaram tomar a bandeira dos capitães. Para isso, o general
Antônio Spínola lança o livro Portugal e o Futuro em que defende a
independência progressiva das colônias e sua união em uma “comunidade
lusíada”, com a realização de eleições democráticas.
Os dois grupos acabam se compondo. Isto
garantiu, por um lado, a neutralidade do alto oficialato, permitindo uma
ação incruenta, mas por outro, exigiu concessões no programa político,
como explicou o major Otelo Saraiva de Carvalho: “O General (Spínola)
travava o movimento de abril; os oficiais do movimento acertaram o
programa com o general porque precisavam dele. Então foram feitas muitas
concessões. O programa não saiu como queríamos” (JB, 11/10/74)
Avanços e Recuos
A ação militar vitoriosa de 25 de abril
não foi articulada com o movimento de massas, mas incorporou em parte
seus anseios. Por isso, foi defendida e apoiada, como relatamos no
início, e mais ainda, no Dia do Trabalho. “Foi o maior dos maios. Só
possível por causa de abril. Ali estiveram quase um milhão de
portugueses, sem contar com as muitas centenas de milhares que estiveram
no Porto, Braga, Aveiro, Coimbra, Santarém, Barreiro, Alentejo e outras
centenas de localidades… A palavra de ordem era “O povo, unido, jamais
será vencido”. As exigências eram o fim da guerra colonial, a
restauração das liberdades democráticas e a justiça social”.
O primeiro Governo Provisório,
pós-abril, contemplou todas as forças, sendo palco de disputas e
contradições, mas tomou medidas importantes: congelamento de preços dos
bens de primeira necessidade, instituição do salário mínimo nacional,
reconhecimento do direito de greve e associação. Depois de uma tentativa
de golpe direitista em 11 de março de 1975, Spínola renunciou à
presidência e Vasco Gonçalves assumiu a chefiado Conselho de Ministros.
A esquerda assume o comando da
Revolução. O novo governo toma medidas que implicam profundas mudanças
econômico-sociais: estatização dos bancos e setores estratégicos da
economia como energia, telecomunicações e transporte, além da construção
civil, regulamentação do mercado, realização da reforma agrária no
Alentejo e no Ribatejo.
O patronato promove sabotagens,
desorganiza a atividade econômica, enquanto o Movimento Operário, apesar
de não se desmobilizar, reduz o número de greves. Isso ocorre, segundo
Álvaro Cunhal, secretário Geral do Partido Comunista Português (PCP), em
razão da “elevada consciência política da classe operária e dos demais
trabalhadores”.
Enquanto isso, no interior das Forças
Armadas, a direita se articula. Um grupo de oficiais elabora o documento
dos nove em que condena o radicalismo. Em 2 de setembro de 1975, uma
assembleia do MFA define que a presença de Vasco Gonçalves no governo é
incompatível com a coesão das Forças Armadas. Vasco é demitido.
Em 25 de novembro de 1975, um grupo de
pára-quedistas se subleva, num episódio que nunca foi devidamente
esclarecido. Adireita caracterizou-o como insurreição de esquerda para
tomar o poder. Mas a esquerda define-o como manobra da direita para
justificar a direitização do regime. O fato é que o 25 de novembro
marcou a exclusão da esquerda do MFA. Oficiais e soldados considerados
radicais foram expulsos, licenciados, presos e transferidos para a
reserva.
Em 26 de fevereiro de 1976, eliminado a
componente radical da revolução, novo acordo MFA- partidos políticos pôs
Portugal na senda da democracia burguesa. Aos poucos, as conquistas da
revolução dos Cravos foram eliminadas e o país integrou-se como sócio
menor à União Europeia, sob a dependência dos monopólios capitalistas.
A ferrenha censura proibiu a música de
Chico Buarque em homenagem à Revolução de Abril em 1974. Quando foi
liberada na vigência da “abertura lenta, gradual e segura”, ele teve que
refazer a letra que se imortalizou: “já murcharam tua festa, pá, mas
certamente esqueceram uma semente nalgum canto do jardim.”
O diplomata italiano Enrico Calamai foi um herói
silencioso que atuou no Consulado em Buenos Aires durante a ditadura,
quando arriscou sua vida e sua carreira para facilitar a fuga de
centenas de dissidentes políticos e partidários que pegaram em armas
contra o experimento neonazista dos generais argentinos. Em conversa com
a Carta Maior, em Roma, Calamai fala sobre a Operação Condor, sobre o
envolvimento de diplomatas e da ditadura brasileira em assassinatos e
sobre a cumplicidade do Vaticano com a ditadura argentina.
Roma - Se a Itália fosse uma Meca do
cinema político como o era nos anos 60 e 70, seguramente os estúdios
romanos de Cinecittá teriam filmado algo parecido à Lista de Schindler,
aquela produção de Hollywood sobre um magnata alemão que resgatou cerca
de mil judeus condenados a morrer em Auschwitz. O protagonista do filme
que nunca se realizou seria o diplomata italiano Enrico Calamai, um
herói silencioso que atuou no Consulado em Buenos Aires durante a
ditadura, quando arriscou sua vida e sua carreira para facilitar a fuga
de centenas de dissidentes políticos e partidários que pegaram em armas
contra o experimento neonazista dos generais argentinos.
"Nunca
me detive a contar as pessoas que passaram pelo Consulado. Em um
programa da RAI (TV italiana) disseram que foram mais de 400,
sinceramente não sei se esse número é correto, não sei quantos receberam
nossa ajuda para poder sair com vida da Argentina".
A biografia
de Calamai é a de um diplomata incomum no outono portenho de 1976 quando
a chegada ao poder do general Videla era bem acolhida pela maioria das
embaixadas ocidentais e comemorada secretamente pela do Brasil, como
consta na intensa comunicação gerada pelo então embaixador João Batista
Pinheiro.
DESAFIANDO A OPERAÇÃO CONDOR
"Nós sabíamos
que a Operação Condor estava atuando, ainda não a conhecíamos por esse
nome, mas tínhamos notícias de que os militares brasileiros e argentinos
estavam articulados para deter quem fugia da matança em Buenos Aires,
por isso decidi viajar com dois ítalo-argentinos, Piero Carmelutti e
Santiago Camarda, até o Rio de Janeiro. Era arriscado que fossem
sozinhos. Foi no carnaval de 1977".
“Estes rapazes estiveram um
tempo ocultos no Consulado, um deles tinha uma destreza artesanal para
falsificar documentos e confeccionou uns que de autênticos tinham apenas
as fotos”.
“Fez isso com meu auxílio, utilizando alguns
carimbos que lhe facilitei, era um método não formal de fazer
documentação para sair do país, não tínhamos apoio institucional,
fizemos tudo às costas da Embaixada, que não me apoiava nisto”.
“Também
não obtive apoio de um funcionário da Alitalia a quem propus que
fizesse vista grossa e nos desse passagens diretas até Roma, o que ele
recusou, escandalizando-se. Finalmente conseguimos as passagens diretas,
graças ao representante da Varig na Argentina, um ítalo-brasileiro
robusto e cordial".
"Nossa premissa era evitar que fossem
interrogados no Rio, porque ali possivelmente havia gente do aparato de
inteligência militar, e minha função era estar junto a eles para fazer
valer minha condição de diplomata denunciando um eventual sequestro,
como ocorreria em 1980 com o ítalo-argentino Domingo Campiglia,
capturado precisamente no Rio de Janeiro" conta Calamai, com o rigor
próprio de um historiador.
"Eles não podiam permanecer em Buenos
Aires, mas por sua vez tinham que atravessar o cerco da Operação Condor
no Rio, a única forma para que chegassem com vida à Itália".
A
resistência à ditadura havia sido fraturada militarmente em 1977, ano de
intenso intercâmbio entre os serviços de inteligência dos ditadores
Ernesto Geisel e Jorge Videla.
Documentos a que Carta Maior teve
acesso, datados daquele ano, confirmam a prioridade dada por Brasília à
localização e detenção de "elementos Montoneros e do ERP (Exército
Revolucionário do Povo)", para serem entregues à Buenos Aires.
Os
aparelhos repressivos trabalhavam em notável sintonia. Tanto que as
agências de inteligência brasileiras recebiam informações sobre as
atividades da resistência argentina na Itália.
Dentro da
documentação até agora secreta, obtida por Carta Maior, consta um dossiê
do Estado Maior do Exército brasileiro, originado na Itália em junho de
1978, intitulado como “Movimento Peronista Montonero no exterior,
Acionar, Contatos, Conexões com Grupos Terroristas, Antecedentes”.
CONSPIRAÇÃO DIPLOMATICA
As
centenas de argentinos que escaparam do genocídio graças ao trabalho de
Calamai não lhe valeram muito para obter uma promoção em sua carreira
diplomática, dado que após haver trabalhado cinco anos na Argentina, um
destino considerado de relativa importância, foi enviado a outro
considerado irrelevante: o Nepal.
Diferente foi a sorte do
embaixador brasileiro João Batista Pinheiro que, após seus bons ofícios
diante da Junta Militar portenha, foi promovido a chefe da missão
diplomática em Washington.
Pouco depois da derrubada do governo
civil argentino, Pinheiro trabalhou para que Geisel enviasse, em abril
de 1977, um representante a Buenos Aires, um gesto crucial para Videla,
que temia sofrer o isolamento diplomático do qual padecia seu colega
chileno Augusto Pinochet.
"Até agora não se estudou a fundo como
atuaram os serviços diplomáticos em geral frente à ditadura", afirma
Calamai durante a conversa com a Carta Maior em Roma.
E amplia:
"não digo só pela Itália, me refiro à maioria dos países ocidentais, que
foram completamente omissos ante as violações dos direitos humanos na
Argentina".
Como nos pactos mafiosos, o grosso dos diplomáticos
instalados em Buenos Aires, salvo os da embaixada do México, onde o
ex-presidente democrático Héctor Cámpora recebeu refúgio durante anos,
optou por omitir-se.
"Direta ou indiretamente, as principais
embaixadas, inclusive aqui as da Itália, e acho lógico que também a do
Brasil, embora não tenho informação concreta, foram informadas de que
viria o golpe de Estado".
"Estes avisos sobre a eminente
derrubada do governo civil eram também uma forma de advertir que não
aceitariam que as embaixadas recebessem refugiados, como havia feito
nossa embaixada e outras depois do golpe do Chile. E quase todos os
países que receberam o aviso dos militares argentinos, pelo visto,
entenderam o recado e o aceitaram".
"Agora, com o passar do
tempo, compreendo que em torno da Operação Condor havia uma colaboração
estreita das embaixadas e dos militares argentinos, e das embaixadas e
seus próprios agregados militares. A diplomacia é algo muito próximo ao
poder, e o foi durante as ditaduras, os diplomatas sabem que se se
opuserem ao poder serão ou marginalizados, ou eliminados. Nessa época
isto era um risco real".
SANTA CUMPLICIDADE
Antes da
entrevista, Calamai nos mostra o Antico Café do Brasile, a poucos metros
de sua casa: "antes de ser papa, João Paulo II, quando era seminarista,
vinha habitualmente a este café, é um lugar simples, como podem ver".
As
exéquias de João Paulo I, antecessor do papa polaco que frequentava o
bairro de Calamai, foram um pretexto para estreitar as relações entre o
Vaticano e Videla, que foi um dos chefes de Estado convidados. As
gestões para a viagem de Videla e seu encontro com o então primeiro
ministro italiano, foram realizadas pela loja maçônica Propaganda Due
(P2), segundo consta em um livro lançado este ano na Universidade Roma
Três.
"A loja P2 se movia como um poder oculto e gozava de uma
notável influência no serviço exterior italiano e no Vaticano, e um de
seus principais homens, Licio Gelli, mantinha boas relações na Igreja".
"O
Vaticano esteve muito próximo do regime argentino, não só porque
coincidia com seu anticomunismo, mas porque contribuía na decisão de
Roma de terminar com a teologia da liberação na América Latina. Dizia-se
que o núncio apostólico jogava tênis com o almirante (Emilio) Massera",
um dos membros da Junta, a quem correspondia o controle do Ministério
do Exterior argentino.
"Mas também é preciso lembrar que os
motivos ideológicos que levaram o Vaticano a apoiar os militares eram
tão importantes como os interesses econômicos de empresas ligadas à
Igreja que estavam radicadas na Argentina".
Estas razões
contribuem para explicar, segundo Calamai, porque o Estado do Vaticano
omitiu-se durante anos em denunciar o genocídio argentino e negou ajuda
aos familiares dos desaparecidos e prisioneiros.
"Existem muitas
coisas que escaparam da minha memória, mas o que lembro é que, quando
falava com diplomatas de outros países sobre as violações dos direitos
humanos, praticamente todo mundo dizia que ninguém ia à Nunciatura
porque não os recebiam".
Um grupo de estudantes, professores, artistas, jornalistas e de outras
categorias de trabalhadores promove um ato público nesta quarta-feira
(11), às 18 horas, em Bagé, para homenagear a memória dos desaparecidos,
torturados e mortos pela ditadura militar. O grupo se reunirá na praça
de esportes e dali seguirá até o Clube Comercial, na avenida 7 de
setembro, onde será realizado o ato. A escolha do dia, hora e local não é
casual. Nesta mesma quarta, às 19h, será lançado no Clube Comercial o
livro “Médici, a verdadeira história”, de autoria dos coronéis reformados Claudio Heráclito Souto e Amadeu Deiro Gonzalez.
“Vamos romper o silêncio que paira sobre esta cidade e mostrar aos
saudosistas da ditadura que a população de Bagé NÃO tem orgulho dos
tempos do Médici, o governo mais nebuloso da história do Brasil! Nosso
ato é pacífico, sensibilizador e formativo. Todos que quiserem somar
nessa manifestação ou procurar esclarecimentos podem nos encontrar
durante a manifestação” dizem os organizadores.
Contra a visão da história apresentada pelos militares aposentados,
os manifestantes pretendem chamar a atenção para a memória dos presos
políticos, dos desaparecidos e mortos pela ditadura do Médici. Além
disso, querem “chamar a atenção da população bageense, que convive
silenciosamente com esse câncer histórico, para a importância da
abertura dos arquivos da ditadura e pelo julgamento dos torturadores”.
“A abertura dos arquivos da ditadura corresponde a um direito que as
pessoas têm de saberem do paradeiro de seus familiares, aqueles que se
opuseram ao regime militar em defesa da justiça e da liberdade”,
acrescentam.
Cinco jovens do Rio de Janeiro que protestaram contra a comemoração
do golpe de 1964 feita por militares da reserva no dia 29 de março estão
sendo ameaçados e tendo suas vidas expostas. O site A Verdade Sufocada, mantido pelo coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante
Ustra, publicou fotos com o nome de cinco manifestantes e os locais
onde eles trabalham. A ira da caserna recaiu com mais força sobre Luiz
Felipe Garcez, que foi flagrado numa fotografia cuspindo no
coronel-aviador Juarez Gomes enquanto ele deixava o Clube Militar no Rio
de Janeiro.
O site de Ustra, ex-comandante do DOI-CODI de São Paulo e torturador
reconhecido pela Justiça, informa o e-mail e os perfis no Twitter e no
Facebook de Luiz Felipe. Os dados se espalharam por sites e blogs
mantidos por militares, que estão postando diversas ameaças aos cinco
jovens pela internet.
No blog
do coronel da reserva Lício Maciel – que participou da repressão à
Guerrilha do Araguaia – há um vídeo de 3 minutos, que já foi retirado do
YouTube, com o título de “maloqueiros alucinados”, em referência aos
manifestantes. Os jovens são tratados o tempo inteiro como criminosos e
agressores de idosos e os militares fazem questão de expor informações
sobre eles.
No post que exibe o vídeo, o comentário de um sujeito identificado
como Eduardo Cruz demonstra que a vida desses cinco jovens –
especialmente a de Luiz Felipe – foi investigada. “Após um levantamento
preliminar, obtive algumas informações importantes sobre o covarde que
agrediu aquele senhor idoso no dia 29. O nome completo do meliante é
Luiz Felipe Monteiro Garcez, vulgarmente conhecido como Pato, estudante
do curso de Produção Cultural do IFRJ (Instituto Federal do Rio de
Janeiro) desde 2010. Tem 25 anos de idade, frequenta o Diretório
Estadual do PT no Rio de Janeiro e não trabalha”, escreveu o
comentarista, que fornece informações dos empregos que o jovem já teve.
Eduardo Cruz vai além em seu comentário no blog de Lício Maciel. Ele
dá informações sobre a família de Luiz Felipe e ainda faz juízo de valor
sobre sua criação. O comentarista cita o nome da “namoradinha” de Luiz
Felipe, informa que ele tem uma filha, publica o nome dos pais do jovem e
ainda comenta que eles “visivelmente falharam na educação do moleque”.
Site
mantido por Carlos Alberto Brilhante Ustra instiga militares a
procurarem informações sobre jovens que participaram do protesto | Foto:
Brasil247
Eduardo Cruz finaliza o comentário dizendo que “por enquanto é isso” e
assegurando que irá prosseguir com a “averiguação” e que voltará “em
breve com informações sobre os outros agressores presentes naquele
episódio”.
Nesse mesmo post do blog do coronel Lício Maciel há um link para uma
pasta no site de compartilhamentos 4Shared com informações sobre a vida
de Luiz Felipe Garcez. São exibidas fotos dele, de sua mulher e até de sua filha. Uma das imagens mostra o jovem com a filha recém-nascida no colo, com as devidas identificações.
“Não podemos nos permitir ter medo”, diz jovem ameaçado
Em conversa por telefone com o Sul21, Luiz Felipe
Garcez conta que já recebeu mais de 150 ameaças por Facebook e por
e-mail. Ele assegura que o vídeo feito com informações sobre sua vida,
de seus amigos e de sua família – que chegou a ter mais de 11 mil
acessos até ser retirado do ar – foi produzido por um jovem “infiltrado”
no protesto do dia 29 de março e diz que vai entrar
com processos judiciais contra as pessoas que estão expondo sua vida.
“Estamos tomando medidas preventivas, documentando as ameaças e vamos
entrar com um processo por incitação ao ódio. Não podemos ter medo,
senão vão entender que esse tipo de intimidação funciona”, comenta.
Pasta criada em site de compartilhamento exibe fotos e informações de Luiz Felipe e da sua família | Arte: Ramiro Furquim/Sul21
Ele acredita que os ataques venham de grupos organizados de extrema
direita – com a presença ou não de militares. “São grupos organizados
politicamente que podem ter militares da ativa. Mas não é a instituição
Exército que está nos atacando, são fascistas que se organizam
internamente”, explica.
Luiz Felipe garante que continuará denunciando os abusos e não se
intimidará com as ameaças. “Sabemos que é isso que eles fazem, não
podemos esperar nenhum tipo de reação diferente. São filhotes de uma
ditadura que matou, perseguiu e torturou, ainda tem muita gente que
acredita nisso. Muitos dos que eles mataram deram a vida para que
pudéssemos estar hoje protestando. Não podemos nos permitir ter medo”,
defende.
Outro manifestante exposto por Ustra, Rodrigo Mondego, também conversou por telefone com o Sul21
e disse que também vem sofrendo ameaças. “Se identificam como militares
e nos ameaçam de morte. Entramos em contato com o ouvidor da Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência da República, com a Defensoria
Pública do Rio de Janeiro, com a OAB-RJ e vamos conversar também com
Ministério Público Federal”, avisa.
Rodrigo explica que o principal objetivo é retirar a exposição de
seus dados e dos seus amigos dos sites dos militares. “Podemos ver que
vários blogs de militares nos citam, basta colocar nossos nomes no
Google”, lamenta.
Ele acredita que há policiais da PM do Rio de Janeiro atuando para
ajudar na apuração de informações sobre sua vida e a dos outros jovens
expostos. E lembra que havia diversos agentes disfarçados da P2 – o
setor de investigações da Polícia Militar carioca – durante a
manifestação contra a comemoração do golpe no dia 29 de março. “Eles são
organizados e muita gente simpatiza com a lógica da ditadura. As
ameaças são virtuais, mas vindo de onde estão vindo, tememos que se
transformem em realidade”, considera.
Rodrigo diz que está tomando precauções quanto à sua segurança e
admite que as ameaças afetam o seu cotidiano. “A tortura psicológica
está funcionando”, desabafa.
Dentre as centenas de pessoas que participaram do protesto no dia 29
de março, apenas cinco jovens foram expostos por Ustra. Rodrigo Mondego
acredita que foram escolhidos por estarem envolvidos na organização do
ato, além de serem todos amigos de Luiz Felipe Garcez. Além disso, todos
militam na juventude do PT do Rio de Janeiro.
Empobrecimento no Leste multiplica casos de tráfico de mulheres, levando violência até a países onde profissão foi regulamentada, como Holanda
Por Antonio Barbosa Filho*, de Amsterdã para o PASSA PALAVRAS
Em pelo menos nove países da Europa a prostituição é legalizada, e as profissionais do sexo têm direitos trabalhistas, tratamento
médico preventivo e proteção contra a exploração por gigolôs. Nem
sempre tudo que está nas leis é obedecido, mas o fato é que em países
como a Holanda a criminalidade que cerca a prostituição em outras partes
do mundo é bastante reduzida.
A relativa tranquilidade do chamado Red Light District
(Bairro da Luz Vermelha), onde encontram-se dezenas de bordéis e
centenas das famosas vitrinas onde as prostitutas se exibem e tentam
atrair seus clientes, está sendo abalada nos últimos dois anos pela
crise econômica que atinge a Europa. Segundo as autoridades, aumenta a
presença do crime organizado no tráfico de mulheres que buscam fugir dos
países mais pobres (especialmente os da antiga União Soviética, como
Moldova, Ucrânia, Belorússia, Romênia, Bulgária, República Tcheca e
outros). Trazidas para os países mais adiantados, como a Holanda,
Alemanha, Bélgica, Inglaterra e França, além da Escandinávia, muitas
delas são escravizadas através de dívidas que são obrigadas a assumir,
ou da violência pura e simples. Muitas vezes, elas passam antes por um
“estágio” em países intermediários como a Macedônia (parte da antiga
Iugoslávia), onde sofrem torturas e humilhações para ficarem “dóceis”
aos seus “donos”.
É impossível verificar os números envolvidos no tráfico de mulheres e
nas redes de prostituição, mas a polícia calcula que entre 200 mil e
400 mil mulheres e garotas sejam retiradas anualmente dos países do
Leste, e pelo menos a metade delas acaba sendo prostituída no Oeste – um
quarto iria para os Estados Unidos. Organizações de direitos humanos e
combate à escravidão lutam para que as polícias dos vários países ajam,
mas a corrupção neste setor é grande. O chefe de polícia encarregado de
combater este crime em Velesta, na Moldova, Vitalie Curarari, por
exemplo, chega a culpar as próprias mulheres: “Cinquenta por cento de
nossas mulheres vão para o estrangeiro procurar outros homens e depois
voltam apenas para se divorciarem de seus maridos”… Ele também culpa a
imprensa por fazer “sensacionalismo” ao denunciar as máfias do tráfico
humano e as crueldades praticadas contra mulheres prostituídas.
A situação econômica influencia na prostituição de várias maneiras.
Em primeiro lugar, força mulheres dos países pobres a aceitarem convites ou atenderem a anúncios oferecendo empregos
em países distantes. Há casos, por exemplo, de jovens que pensavam
estar embarcando para um emprego de garçonete na Itália, mas depois de
entregarem seus passaportes ao “agente de empregos” foram embarcadas
para outros países, presas nos fundos de prostíbulos, espancadas e
obrigadas a praticarem serviços sexuais sob ameaça e em troca de comida.
Também muitas jovens estudantes nas principais cidades de toda a
Europa, diante dos elevados preços das escolas (os governos cortam
gastos com Educação como parte de seus “ajustes fiscais e
orçamentários”), dos aluguéis e demais despesas, acabam recorrendo à
prostituição através de agências de acompanhantes. Este trabalho lhes
permite horários flexíveis, boa remuneração, e visitas a hotéis e
restaurantes que uma estudantes jamais poderia frequentar.
Já no Bairro da Luz Vermelha, em Amsterdã, as prostitutas reclamam
que o volume de clientes tem diminuído, e que eles passaram a pechinchar
muito mais pelos serviços. Fora desta área organizada e mais protegida,
há muitas mulheres se prostituindo por valores mínimos, como no Theemsweg,
uma área do tamanho de um campo de futebol, onde a Prefeitura instalou
vários pontos de ônibus. As mulheres se abrigam neles, e os carros as
apanham para uma relação rápida, dentro dos automóveis mesmo. Um
policial nos informa que ali 70% das mulheres estão no país ilegalmente,
e a maioria veio dos países do Leste europeu.
Tudo isso vem preocupando as autoridades holandesas, que legalizaram a
prostituição no ano 2000 para evitar a superexploração, a prostituição
de menores, a violência dos gigolôs, e a disseminação das drogas neste
meio. A legalização funcionou razoavelmente por vários anos, mas nada
fica imune diante da grave crise do capitalismo que atinge profissionais
de todas as áreas – inclusive as que comercializam o sexo.
* Antonio Barbosa Filho é jornalista e escritor, autor de A Bolívia de Evo Morales e A Imprensa x Lula – golpe ou sangramento? (All Print Editora). Em viagem pela Europa, acompanha as consequências da crise financeira pós-2008 e da onda corte de direitos sociais (‘políticas de austeridade’) iniciada em 2010
Deflagrado há 48 anos e encerrado há 27, o Golpe Civil-Militar de 1964
continua suscitando divergências no Brasil. Como todos os golpes e todas
as ditaduras no mundo, teve seguidores e adversários e, ainda hoje,
continua tendo defensores e detratores acerbos. Nesta semana, quando
transcorre mais um de seus aniversários, têm ocorrido manifestações em
diferentes lugares do país, umas comemorando seus feitos, outras os
deplorando. Este jornal se coloca entre os que os deploram e registra
aqui sua posição de modo claro.
Os anos de 1960 e 1970 foram um período de acirramentos das tensões
políticas internacionais, com a guerra-fria chegando ao seu auge. A
partir do muro de Berlim, EUA e URSS dividiam o mundo e o disputavam,
perfilando nações e populações sob os rótulos da democracia liberal e do
comunismo marxista. Dois grandes sistemas de organização social,
econômica e política estavam em confronto aberto, ainda que não se
estabelecesse um litígio armado direto entre as nações que se colocavam
como líderes de suas expansões e campeãs de suas defesas.
Na impossibilidade do confronto direto das duas novas grandes potências,
pois o equilíbrio de forças então existente fazia com que elas se
temessem mutuamente e se armassem desesperadamente, os embates foram
transferidos para a periferia do sistema mundial, no então chamado
Terceiro Mundo: América Latina, Sul da Europa, Oriente Médio, Ásia e
África. Ditaduras se estabeleceram em todos os continentes,
principalmente nos países mais pobres e/ou nos social e economicamente
mais desiguais.
Eram tempos também de efervescência, com os avanços social-democráticos e
dos direitos civis dos negros, a explosão da juventude e do rock ‘n
roll, a disseminação da pílula anticoncepcional e o início da afirmação
do poder feminino. Nas Américas, ocorria a Revolução Cubana e a
possibilidade de sua expansão por todo o continente, com a emergência de
governos nacionalistas e progressistas. Em contrapartida, as ditaduras
começaram a eclodir na região, iniciando-se pelo Brasil e expandindo-se,
posteriormente, por toda a América do Sul e Central, quase sem exceção
de países.
Em 31 de março/1º de abril de 1964, o general Olímpio Mourão Filho parte
com suas tropas de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro e dá
início ao Golpe que iria manter os militares no poder durante 21 anos. O
governo João Goulart, progressista e que pretendia promover as então
chamadas “reformas estruturais”, como a reforma agrária, a reforma
fundiária urbana, a industrialização independente e a distribuição de
renda no país, foi deposto sob a acusação de se alinhar com as forças e a
ideologia comunista.
Convocados pelas “marchas com Deus e pela família”, realizadas nas
principais cidades brasileiras e lideradas por representantes da UDN
(União Democrática Nacional), por bispos e padres católicos e lideranças
conservadoras, os militares depuseram o presidente da República
constitucionalmente eleito prometendo “restabelecer a ordem” e
rapidamente devolver o comando do país aos civis, mas se encastelaram no
poder. Promoveram desenvolvimento econômico acelerado, durante os anos
do chamado “milagre econômico brasileiro” (1968/1973), com crescimento
do PIB na casa dos 10% ao ano, mas prenderam, torturaram e mataram quem
se atrevesse a oferecer qualquer tipo de resistência às suas atividades e
aos seus comandos.
A violência começou, na verdade, antes do desenvolvimento econômico e se
estendeu por muito tempo depois de o país ter caído em estagnação.
Desde as primeiras semanas do governo golpista, políticos legalmente
eleitos, bem como lideranças sindicais, estudantis e sociais foram
presas e submetidas a inquéritos policiais-militares, tiveram seus
direitos políticos cassados e foram proibidas de atuar politicamente
pelo prazo de 10 anos. Foi inicialmente desmantelada a estrutura
sindical de trabalhadores no país, que começara, nos anos de 1960, a
sair da tutela do Estado e tornar-se independente. Desmantelou-se, a
seguir, o movimento estudantil, com a invasão do Congresso da União
Nacional dos Estudantes (UNE), a prisão de todas as suas principais
lideranças e a proibição de ações políticas nas escolas e faculdades,
com a extinção dos Centros Acadêmicos e a promulgação do Decreto 477,
que punia com a expulsão e o impedimento de se matricular em escolas
públicas no país durante três anos para os que se envolvessem em
atividades políticas.
Sem alternativas de ação legal, a juventude, principalmente, começou a
agir na clandestinidade. Muitos partidos políticos e organizações
paramilitares de esquerda foram criadas, quase todas dissidentes do
antigo Partido Comunista, já dividido, naquele momento em PCB e PCdoB.
Multiplicaram-se grupos armados, de guerrilha urbana e rural. A
repressão se sofisticou. No âmbito militar foram criados os órgãos de
investigação e tortura policial-militar, com a Operação Bandeirantes
(OBAN), em São Paulo, e as agências no interior de cada uma das forças
armadas: o DOI-CODI, do Exército, o PARASAR, da Aeronáutica, e o
CENIMAR, da Marinha, todos eles órgãos especializados na repressão à
“subversão e ao terrorismo”. A Escola Superior de Guerra, sob inspiração
norte-americana, elaborou a “ideologia de segurança nacional”. Criou-se
a Operação Condor, para ação conjunta dos aparelhos repressivos de
todas as ditaduras do Cone Sul.
Os que detinham o poder político e das armas prenderam e arrebentaram.
Os que se encontravam na oposição defenderam-se como puderam. Uns, no
exercício de um poder ditatorial, afirmavam que estavam salvando o país
do perigo comunista e que produziam o desenvolvimento. Outros, na
resistência à ditadura, se esforçavam para construir uma alternativa
econômica, social e política ao capitalismo e sonhavam como o
socialismo. Os primeiros reinaram soberanos durante 21 anos, sem prestar
contas dos seus atos, fossem eles políticos, econômicos ou sociais.
Nunca se apurou a corrupção no período, pois a imprensa estava sob
censura e os partidos políticos e as organizações da sociedade civil
foram impedidos de se manifestar livremente. Os segundos foram presos,
se esconderam, se exilaram ou foram mortos.
Com a crise econômica do final dos anos de 1970 e do início dos anos de
1980, ocorre o desgaste do governo militar e de suas políticas,
permitindo que a sociedade civil se reorganize. Conquista-se, primeiro, a
partir de uma ampla mobilização nacional, a anistia para os presos e
exilados políticos (1979) e, depois, com a Campanha das Diretas-Já e a
votação no Colégio Eleitoral, elege-se Tancredo Neves e inicia-se (1985)
a Nova República. Em 1988, com a nova Constituição Federal,
instaura-se, efetivamente, um novo período democrático que ainda
perdura.
Mesmo sob a democracia, nunca foram abertos os arquivos da ditadura e
dos seus órgãos de repressão. Os que abusaram do poder ditatorial, que
prenderam ilegalmente, que bateram, torturaram, mataram e desapareceram
com corpos nunca foram julgados nem punidos. A anistia de 1979, na
verdade, além de conquista dos movimentos de resistência à ditadura, foi
também um ardil dos ditadores para se autoproteger, pois que anistiou
também os que, protegidos pela força do arbítrio, se excederam na
repressão dos que lhes faziam oposição.
Em todos os países do Cone Sul nos quais houve ditaduras igualmente
repressoras durante os anos da guerra-fria já foram instaurados
inquéritos para apuração de responsabilidades e recuperação da memória
histórica. Apenas no Brasil as resistências perduram. Os militares da
reserva e da ativa ainda barram a instalação da Comissão da Verdade. É
este o motivo pelo qual se valeram do Clube Militar para divulgar um
documento de críticas ao governo Dilma Rousseff e a duas de suas
ministras (Maria do Rosário, dos Direitos Humanos e Eleonora Menunicci,
da Secretaria de Políticas para as Mulheres). Mesmo repreendidos, os
agentes da antiga repressão contra-atacaram. Divulgaram um segundo
documento, que já detêm mais de duas mil assinaturas e que conta,
inclusive, com o apoio explícito de generais da ativa.
Os militares que atuaram na repressão e aqueles que lhes são solidários
por ideologia e/ou por espírito de corpo (corporativismo) não se
conformam com a possibilidade de terem suas ações vasculhadas. Temem
serem colocados no ridículo de terem que explicar as violências que
cometeram. Argumentam que se vivia em um “estado de guerra” e que “houve
baixas de ambos os lados”. Esquecem-se, no entanto, que eles detinham a
força e o poder de Estado e que a maioria de seus opositores só detinha
o poder da persuasão, sendo ínfima a minoria que possuía armas, quase
todas obtidas por meio das ações clandestinas que deflagravam. Estes já
foram punidos, além disso, pelas prisões, pelas torturas, pelos abusos a
que foram submetidos e até pela morte. O desequilíbrio de forças era
enorme, quase incomensurável. Os agentes repressores contavam com a
impunidade e a cobertura “legal” e do sistema, o que os torna
terroristas de Estado e, por este motivo, ainda mais imperiosa a
necessidade de que seus atos sejam revelados. Um país que não purga os
seus erros vive sob o risco permanente de repeti-los.
Não há porque comemorar o 31 de março/1º de abril. O ato realizado no
Rio de Janeiro na quinta-feira (29), na porta do Clube Militar e a
repressão policial que desencadeou, com antigos militares, de um lado,
querendo exaltar o Golpe Militar de 1964, e estudantes e ativistas de
partidos de esquerda, de outro, vilipendiando a ditadura, é exemplar da
exacerbação de ânimos no Brasil hoje. Os militares precisam ser
contidos, pois estão se insubordinando à presidenta Dilma Rousseff, sua
comandante suprema e a quem devem obediência. Se não o forem, os atos de
provocação aumentarão e, muito provavelmente, os confrontos se
intensificarão, gerando um clima de insegurança que em nada contribui
para a estabilidade democrática. Cabe, inclusive, aqui, uma pergunta: a
desestabilização da democracia não será a intenção dos antigos agentes
da força e do arbítrio?