domingo, 14 de março de 2010

Pobre Grécia.....

Uma "Guernica económica" para a Grécia

por Joseph Halevi
Rua de Guernica após o bombardeamento. A Grécia enfrenta uma verdadeira Guernica económica, um massacre, face ao qual a esquerda europeia mostra uma passividade imperdoável. Aquilo que é imposto a Atenas é concebido como um exemplo, para criar horror na Espanha, Portugal e mesmo na Itália. Mas até a França, diante das directivas alemãs, entrou em colapso como num novo teste de Sedan, o qual é também económico.

No Verão passado, Angela Merkel permitiu que Berlim incorresse em défices, moderando o fanatismo protestante do então ministro das Finanças social-democrata. Agora, com Schäuble naquele ministério, estamos outra vez sob a total maldição bíblica.

De acordo com inquéritos, a opinião pública europeia tende a aceitar o argumento de os gastos deficitários serem equilibrados por cortes drásticos. Tal argumento é equivalente a igualar o estado a uma família que gasta mais do que ganha e é então forçada a reduzir o seu padrão de vida. O Estado podia encontrar-se nesta situação se se verificasse o pleno emprego como uma tendência natural. Ponde de lado tal quimera, o défice sempre pode ser financiado, desde que a autoridade que nele incida tenha controle tanto sobre a política monetária como fiscal, o que é impossível sob o euro.

O que
 os preocupa. Naturalmente, sob o euro, as relações capitalistas dentro da Europa são definidas de modo a que haja aqueles que podem e aqueles que não podem. Aparte o fanatismo ideológico, o rápido retorno de Berlim à ortodoxia financeira decorre de uma visão muito simples. Nós, dizem os dirigentes de Berlim, não daremos um dólar para a Europa (neste caso a Grécia e a península ibérica) porque nem meio tempo o nosso capitalismo saiu da crise graças às exportações líquidas. O congelamento de salários provocado pelo desemprego faz-nos confortáveis ao passo que os nossos mecanismos internos de subsídios, tanto ao nível federal como aos estaduais, facilita a reestruturação. Isto e a deflação salarial potenciarão a competitividade inter-capitalista da Alemanha.

Quem se importa com o cidadãos da Grécia e da península ibérica? A única preocupação é como proteger os valores financeiros dos bancos franceses e alemães que possuem títulos do governo emitidos por aqueles países. Vagos sinais de possíveis empréstimos para a Grécia são de facto destinados apenas para esse efeito. Os cortes impostos a Atenas deveriam tranquilizar os mercados, pois na verdade eles têm tido êxito, apesar da reviravolta que estão a provocar na economia do país. Assim chegou-se a um acordo extremamente duro entre Paris, Berlim, Frankfurt (sede do Bundesbank e o BCE seu aliado) com as agências de classificação, as quais avaliam a solvência dos emitentes de títulos, as próprias agências que até há poucos meses tanto a França como a Alemanha estavam a apontar o dedo como estando entre as principais culpadas pela crise financeira.

Os "mercados" estão a actuar como tubarões a rapinarem a Grécia com o apoio daqueles que primeiro os criticaram. O ano de 2008 nunca aconteceu, poderia dizer o falecido Jean Baudrillard. O populismo anti-financeiro de Merkel, Lagarde e Sarkozy (bem como de Tremonti) já mostrou o que vale. Produto temporário, é uma confusão entre a miopia da França com o capitalismo da Alemanha. Ao afundar a Grécia e forçar a Espanha e Portugal a segui-la, Frankfurt e Paris estão de facto a atacar um grupo de países que, na explosão da crise, isto é, até 2008, representavam mais de 9% das exportações italianas e mais de 10% das francesas, assim como 6% das alemãs.

E agora a crise de novas escapatórias, não percebida, assoma no horizonte, devido ao crescimento da China como um exportador líquido para a Europa. Enquanto isso, a Grécia continua a ser uma área de reciclagem para a indústria militar alemã: a aquisição de 150 tanques Leopard, concluída em Outubro último, não foi suspensa, mesmo no momento em que pensões e salários estão a ser cortados.
O original, "Una 'Guernica economica' per la Grecia", foi publicado em Il Manifesto de 09/Março/2010.   A versão em inglês encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2010/halevi110310.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

E a Islândia disse, NÃO.....

VITÓRIA ESMAGADORA DO POVO ISLANDÊS
 
Numa vitória esmagadora, 93% dos eleitores da Islândia disseram "Não" ao pagamento de prejuízos provocados pela falência de um banco privado. O referendo foi realizado no sábado, 6, e é o segundo da história do país. O povo islandês rejeitou assim as pressões impostas pelos governos britânico e holandês, bem como a atitude servil do seu governo e do seu parlamento que em Dezembro último assinaram um acordo comprometendo-se a pagar 3,9 mil milhões de euros aos credores do banco falido. Assim, a falência da ideologia neoliberal concretiza-se também no terreno prático. A pequena Islândia dá um exemplo a todos os países do mundo submetidos à extorsão. As vítimas da sanha do capital financeiro e imperialista começam a reagir.
Ver "O esquema de reembolso é chantagem"