Marcio Pochmann
A temática da qualificação da mão de obra não é desprezível no atual
momento pois corre o sério risco de se tornar um verdadeiro entrave ao
curso do desenvolvimento nacional, quando não um constrangimento
adicional ao avanço adequado dos grandes eventos esportivos para 2014
(Copa do Mundo de Futebol) e 2016 (Jogos Olímpicos). Na crise
internacional transcorrida no fim de 2008, o ciclo de expansão produtiva
com forte emprego assalariado formal iniciado três anos antes foi
arrefecido, o que permitiu postergar resoluções necessárias em torno da
temática da qualificação da força de trabalho no país.
Desde o segundo trimestre de 2009, contudo, a produção nacional voltou a
se recuperar, fruto das positivas políticas anticíclicas adotadas pelo
governo federal. Tanto assim que, no ano de 2010, a economia registrou
forte expansão do Produto Interno Bruto (PIB), com impactos
significativos na geração de mais de 2 milhões de empregos formais. Por
força disso, algumas regiões e setores de atividade econômica
apresentaram, inclusive, alguns sinais de escassez relativa da mão de
obra qualificada. Em geral, é possível assumir que o emprego de
profissionais das engenharias pode ajudar a observar - ainda que
sinteticamente - o impacto da expansão econômica sobre a determinação do
nível de ocupação do trabalho qualificado.
No contexto de expansão das atividades econômicas que demandam
crescentemente força do trabalho mais qualificada, devem ser
considerados primordialmente os elementos determinantes da oferta
laboral, sobretudo aquela derivada das engenharias, frente às suas
interligações com outras categorias profissionais. Assim, não há com
deixar de relacionar o processo de formação superior nas engenharias,
uma vez que o ensino superior no Brasil é constituído por duas centenas
de universidades, 127 centros universitários e quase 2 mil faculdades e
institutos de educação tecnológica, responsáveis pela absorção de quase 6
milhões de alunos.
Nos dias de hoje, são cerca de 830 mil pessoas que se graduam
anualmente, equivalendo a menos de 26% do total de vagas ofertadas a
cada ano pelo ensino superior. Das 3,2 milhões de vagas disponíveis pelo
conjunto dos cursos de graduação, 322 mil são de responsabilidade da
área das engenharias (engenharia, produção e construção), ou seja, 10,2%
do total de vagas abertas no país por ano. Para esse contingente de
vagas, registram-se mais 770 mil candidatos (12,5% do total de
candidatos aos cursos de ensino superior), o que resulta em 2,4
candidatos por vaga em todo o Brasil (para mais detalhes, ver a
publicação Radar nº 12, do Ipea, de fevereiro de 2011).
No ano de 2009, houve a graduação de 47,1 mil engenheiros, que
equivaleram a apenas um pouco menos de 15% do total de alunos que
ingressam nos cursos de engenharia. Isso significa que as engenharias
registraram elevados índices de evasão, impondo baixa quantidade de
concluintes nos cursos de graduação e certo desperdício de recursos
humanos e financeiros para vagas não ocupadas ou ocupadas por período
demasiadamente longo. Além disso, assinala-se também o problema
associado à qualidade formativa dos engenheiros, uma vez que 42,3% dos
concluintes das engenharias que se formaram em 2008 são oriundos de
instituições de nível superior que detêm baixo desempenho na
proficiência acadêmica, segundo informações do Ministério da Educação
(MEC). Ainda para o MEC, somente um em cada grupo de quatro graduados
provém de instituições com nível superior de alto desempenho
educacional.
Adicionalmente, ressalta-se que a oferta total de engenheiros formados
no Brasil não se encontra ainda plenamente absorvida pelas atividades
tradicionais das engenharias. Em plena década de 2000, por exemplo,
constatou-se que, do total da mão de obra qualificada nas engenharias,
estimada em 550 mil profissionais, havia menos de 1/3 exercendo
atividades finalísticas da profissão. Esse desvio na alocação dos
profissionais das engenharias em relação ao emprego final resulta de
duas décadas anteriores de baixa demanda de engenheiros devido ao
contido dinamismo econômico e quase ausência de investimentos em
infraestrutura nacional.
Da situação atual de disponibilidade nacional de engenheiros, deve-se
considerar o ingresso do contingente de graduandos a cada ano e o desvio
de profissionais para outras áreas de ocupação, o que pode permitir
antever alguns dos possíveis constrangimentos à demanda de pessoal
qualificado a serem atenuados. Em 2009, por exemplo, 323 mil engenheiros
foram contratados em todo o país, o que significou duas vezes mais a
abertura de vagas que o verificado no ano 2000. Se a economia brasileira
vier a crescer 6% em média nos próximos quatro anos, por exemplo, a
demanda por engenheiros em 2014 pode chegar a quase 650 mil novos
profissionais.
É em função disso que a formação de mão de obra qualificada no Brasil
requer atenção, seja no processo formativo, seja no ambiente de
contratação por parte das empresas. A ampliação das vagas no ensino
superior pressupõe enfrentar simultaneamente tanto a qualidade dos
cursos ofertados como a enorme evasão dos estudantes. Ao mesmo tempo,
cabe mencionar a necessidade da oferta de cursos de readaptação ao
ambiente de trabalho nas engenharias para aqueles profissionais que se
encontram desviados e podem retornar às atividades finalísticas
tradicionais. Considera-se que, do ponto de vista da demanda de mão de
obra qualificada, há espaço para avançar nas relações de trabalho,
especialmente naqueles setores mais dinâmicos em termos de contratação
de trabalhadores.
O processo de formação no próprio local de trabalho pode ser uma
oportunidade desenvolvida com apoio das instituições de representação
dos trabalhadores e do governo federal, o que inibiria o veto à
contratação de profissionais sem prévia experiência profissional. Também
a restrição à elevadíssima rotatividade contratual permitiria que os
investimentos na qualificação da força de trabalho pelas empresas se
convertessem em maior segurança na própria ocupação por maior tempo.
Isso implica planejamento democrático e participativo, sobretudo dos
diretamente interessados em impedir que a escassez de mão de obra seja
mais um obstáculo ao curso do desenvolvimento nacional.
Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), professor licenciado do Instituto de Economia e do
Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 17 de abril de 2011
Escassez de mão de obra?
As raízes ideológicas do Brasil Potência: 1) a política da ''nação proletária''
|
94 brasileiros serão mortos hoje
Revólveres, pistolas e fuzis: as verdadeiras armas de destruição em massa
João Paulo Charleaux
Hoje, 94 brasileiros morrerão depois
de receber um disparo de arma de fogo. É como se a tragédia ocorrida há
uma semana na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de
Janeiro, se repetisse oito vezes por dia. Todos os dias.
Por não compor um enredo
comovente, esta hecatombe a granel passa para os registros
sorrateiramente – não há cartas de psicopatas suicidas, nem há vídeos no
Youtube mostrando parentes gritando na rua e estudantes fugindo. Não é
notícia. E, por isso, os 60 milhões de brasileiros que foram contra a
proibição do comércio de armas no Brasil, no referendo de 2005, não se
sentem responsáveis por nada disso.
Agora, uma nova iniciativa
parlamentar pretende convocar mais um referendo sobre o tema,
provavelmente, para o dia 2 de outubro. A proposta, apresentada pelo
senador José Sarney depois da tragédia de Realengo, já está na CCJ
(Comissão de Constituição e Justiça) do Senado e deve ir a plenário na
sequência. Com sorte, os brasileiros terão uma segunda chance de decidir
sobre um assunto vital e negligenciado.
Em todo o mundo, a produção, o
comércio e o tráfico de pequenas armas de fogo e munição constituem um
dos aspectos mais obscuros, menos regulados e mais cinicamente ignorados
pela opinião pública.
O Brasil é um grande produtor de
armas. Três empresas privadas continuam produzindo a cluster bomb, um
tipo de munição altamente letal e imprecisa, proibida pela Convenção
sobre Munições em Cacho, da qual o Estado brasileiro não é signatário.
O país é também um grande
produtor de revólveres e pistolas. Por dia, são produzidas aqui 2.800
armas de cano curto, das quais 320 ficam no País e o restante é
exportado. De cada dez armas apreendidas pela polícia no Brasil, oito
são de fabricação nacional. E 70% das mortes por armas de fogo
registradas aqui em 2010 foram provocadas pelo uso de armas que entraram
legalmente no mercado, ou seja, entraram nas ruas pelas mãos de
“pessoas de bem”.
Os assassinos, aliás, também
são, na maioria dos casos, “pessoas de bem”. Pesquisadores
norte-americanos e australianos realizaram uma pesquisa sobre o perfil
dos crimes com armas de fogo em seus países e chegaram à conclusão de
que em apenas 15% dos casos as vítimas não conheciam os assassinos. Na
maioria das cidades brasileiras, os homicídios também ocorrem entre
pessoas que se conheciam, em finais de semana, em brigas de bar ou de
família e por motivos fúteis.
Um dos entraves para frear esse
massacre é o lobby das empresas produtoras de armas. No referendo
brasileiro de 2005, a Taurus doou 2,8 milhões de reais para a campanha
do “não” e a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) doou outros 2,7
milhões de reais. A soma corresponde quase à totalidade do custo da
vitoriosa campanha do “não”.
No plano internacional, não é
diferente. Grandes empresas e governos poderosos lucram com o comércio
de armas – principalmente de fuzis baratos e outras armas menores. O
documento que deveria regular o setor, o ATT (Arms Trade Treaty) usa
termos como “deveria, quando apropriado e levar em consideração” para
referir-se às obrigações dos Estados de não vender armas para
beligerantes de contextos onde sabidamente cometem-se crimes de guerra.
As exigência de respeitar a lei são cênicas, frouxas e escassas. O
comércio e o tráfico proliferam nas brechas.
Frequentemente, o Conselho de
Segurança das Nações Unidas aprova resoluções impondo embargo de armas a
ditadores e autorizando o uso da força para proteger a população civil,
mas não pode fazer nada por essas vítimas cotidianas de baixo perfil.
Os EUA movem sua máquina militar contra o Iraque, alegando combater a
ameaça de “armas de destruição em massa”, mas nenhum arsenal tem
provocado mais mortes do que estas pequenas armas espalhadas pelo mundo.
Neste caso, nem o Exército mais poderoso de todos tem o poder que um
voto pode ter num novo referendo.
João Paulo Charleaux é correspondente do Opera Mundi no Chile.
É a esquerda mundial governista que não quer ajudar ou é Cuba que não tem condições de receber ajuda?
Por Sturt Silva*
Alguns
meses atrás o sociólogo argentino Atílio Boron postou em seu blog (1)
um pequeno artigo sobre as “reformas” que estão ocorrendo em Cuba, que
tem seu auge na realização do VI congresso do Partido Comunista Cubano
(2) durante o período de 16 á 19 de abril. Inclusive o artigo foi
traduzido e publicado no Blog Solidários (3) (blog da ACJM-SC, que
colaboro) e em diversos blogs e sites da esquerda latino-americana.
Com um título nada atraente, para um leitor de esquerda de primeira viagem, “um plano Marshall para Cuba”, Atílio lançou um manifesto em defesa de Cuba tendo a América latina e os governos “amigos” da ilha como protagonistas.
Com um título nada atraente, para um leitor de esquerda de primeira viagem, “um plano Marshall para Cuba”, Atílio lançou um manifesto em defesa de Cuba tendo a América latina e os governos “amigos” da ilha como protagonistas.
Segundo Atílio diversos países da América Latina e do Caribe tem dívidas com Cuba, mas também são credores. E devido a toda ajuda e solidariedade que o governo e a sociedade cubana deram durantes anos, e atualmente ainda dá - principalmente na área social, estes países deveriam retribuir e ajudar Cuba neste momento tão difícil para a pátria de José Marti.
Ao contrário dos EUA e dos países colonialistas e imperialistas que além de saquearam, enviaram forças repressivas para massacrar (em suas maiorias terroristas e militares) o povo, Cuba com sua política internacionalista solidária envio médicos, cientistas e educadores. Então deve ser feita além de dedicatórias de solidariedade em relação às mudanças em Cuba, ajudas econômicas efetivas.
Ele também coloca que há uma obrigação moral desses países, hoje em sua maioria governados por partidos de esquerda e movimentos sociais, de ajudar na recuperação econômica da ilha.
Por que se não fosse à heróica e pertinente luta dos cubanos, primeiro contra o colonialismo e imperialismo e depois para manter de pé seu processo revolucionário, nossa América, como outros países do “terceiro mundo”, não teriam resistido e, talvez, não estivesse nesta situação “avançada” que se encontra atualmente. Só para citar dois exemplos de influência da revolução cubana nestes países: o PT, que hoje governa o Brasil, até pouco tempo se orientava estrategicamente através do processo político cubano. E mais recentemente a Revolução Bolivariana, em curso na Venezuela, teve inspiração na luta do povo cubano para conseguir o inicio de sua emancipação.
Então, é devido a esses e outros elementos que a América Latina e os “amigos” da ilha deverão perdoar as dívidas (para aqueles que são credores) e organizar junto um fundo especial de solidariedade á Cuba. Esse fundo ele chamou de Marshall - fazendo analogia ao que os EUA fizeram para os países da Europa - que recuperou parte daquelas economias, daquele continente, após a segunda guerra mundial.
E pelas informações que Atílio levantou há dinheiro, só falta vontade política desses governantes para por em pratica esse ato de estrita justiça.
Como o leitor atento pode observar neste breve resumo do texto do sociólogo argentino, o “Plano Marshall” parece necessário, porém utópico, se considerarmos o caráter de alguns destes governos “amigos” de Cuba. Tirando os países da ALBA, a maioria desses países é governada por um esquerda que há muito tempo esqueceu o que é socialismo e atua no cenário mundial com políticas de acordo com seus interesses nacionais e capitalistas. Será que suas burocracias (burguesias estatais) vão ariscar investir dinheiro num país bloqueado e com poucos recursos naturais e minerais? Será que esses governantes ainda são nutridos por questões humanitárias como fazem nos pensar quando discursam em nome dos direitos humanos?
Eu pessoalmente acho muito difícil um plano desses ser colocado em pratica. Não que Cuba não precisa e não mereça como li pseudo-esquerdistas (4) dizendo por ai. Mas, pela ideologia dessa nova esquerda “amiga” de Cuba, que não custa repetir, não é socialista, embora já tentassem construir o socialismo em seus países, prefiro acreditar mais nas forças internas cubanas do que nesta ajuda externa.
E é justamente em relação às forças internas cubanas que li recentemente um artigo (5) replicando a tese do Atílio, dizendo que o problema é o processo interno cubano. Ou seja, esse militante de esquerda acha que o problema não o que apontei acima.
Para esse militante, português - possivelmente do bloco de Esquerda, já que sua reflexão está no site de uma revista de cunho marxista ligado a esse partido, Cuba só não repetiu os erros do “socialismo real” como não inovou em relação “à construção de política de debates dos movimentos sociais”. Enquanto a sociedade civil teve significativo papel na ação popular e na transformação política latino-americana em Cuba “esta praticamente não contribui em nada para o desenvolvimento do processo”.
Está certo que os movimentos sociais destes países latinos que o próprio Atílio se refere, pelo menos em muitos deles, teve uma grande jornada de debates plurais, desde década de 80 até os dias hoje. E em Cuba em nome de certa unidade e da autodefesa não pode ser tão plural assim como deveria. Porém houve sim debates e inovações para a construção de um modelo alternativo em relação ao modelo socialista já existente. E mesmo se houve falta de reflexão aberta para uma proposta nacional isso é justificável devido a questões que quem estudou a história cubana sabem quais são. Ignorar essa complexidade é desconhecer a realidade cubana. E fazer analise superficial deste tipo, como fez o escritor do Bloco e fazem outras correntes “esquerdistas” (6), é seguir a cartilha dos reacionários, disfarçado de “liberais”, que vivem na mídia “pregando” o fim da revolução cubana.
Ao fazer a revolução Fidel, líder dessa, queria justiça social e “democracia direta”, porém foi obrigada a seguir um novo modelo para continuar seu processo de emancipação. Lembre que o “fechamento do regime” foi devido aos EUA não deixaram alternativas.
Os “doutores” (7) marxistas acham que as conquistas sociais vieram de uma burocracia ou de um esforço coletivo do povo cubano? Será que as organizações sociais cubanas criadas na década de 60 são apenas superficiais? Os 90% que aprovam a política do partido comunista, vanguarda organizada da nação, e os 92,5% que são membros dos Comitês em Defesa da Revolução (CDR) são pessoas que não servem para nada, numa nação sem analfabetos? São pessoas que deixaram “o gato comer suas línguas”? Ou será que um milhão que lotam as ruas no “Primeiro de Maio” não passam de massas “manipuladas” pelo único partido da ilha que tem um milhão de militantes numa nação com aproximadamente 7 milhões de pessoas ativas? (8)
Não meus caros leitores, quem diz que o povo cubano é ignorante, não passam de ignorantes em relação à realidade cubana e por isso escreve incredulidades como essas.
Quando olho para os movimentos sociais latinos vejo cada um com seus erros e dificuldades. “Cooptado” como é caso do Brasil e criminalizado e marginalizado como é caso do Peru. Situação pior encontro quando analiso as situações dos mexicanos e colombianos (muitos precisam pegar em armas para militar). Não consigo ver esta diferença brutal que se diz que têm em termos de organização democrática entre as sociedades latinas, de “democracias liberais”, e Cuba de “ditadura” socialista.
Cuba tem que avançar em seus debates e corrigir os erros históricos, porém duas coisas me parecem, que não podem se descuidadas: a manutenção da unidade e a atualidade da luta anti-imperialista.
Vejo que os erros internos só podem ser resolvidos pelos cubanos enquanto os fatores externos, como por exemplo, romper com o isolamento, que é uma tarefa fundamental para crescer economicamente e sair de uma crise de quase 30 anos, não é tarefa apenas de suas forças internas.
Por isso reafirmo que o problema maior de Cuba é sua relação com o mundo capitalista é não seus problemas internos. Cuba precisa relacionar com o mundo capitalista e neoliberal, sem ferir seu socialismo e ao mesmo tempo tentar aperfeiçoá-lo. Tarefa muito mais difícil do qual quer país do mundo com uma grave crise econômica, inclusive aqueles governados por esquerdas.
Notas:
(2) http://www.granma.cubaweb.cu/secciones/6to-congreso-pcc/index.html
(3) http://convencao2009.blogspot.com/2010/12/um-plano-marshall-para-cuba.html
(4) Essa reação partiu principalmente de setores de “esquerda”, inclusive de alguns que com a “derrocada do socialismo real” em 1990 passaram a defender um “socialismo” que não tem nada haver com o “socialismo cientifico” de Marx e Engels.
(5) http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/2945-cuba-a-suprema-ignorancia-do-povo
(6) Os esquerdistas que me refiro são as correntes trotskistas. A mais forte delas é LIT e sua seção no Brasil é o PSTU.
(7) Chamo de "doutores em marxismo", analistas puros e moralistas do materialismo histórico.
(8) AYERBE, L. A revolução Cubana. São Paulo: Editora da UNESP, 2004.
*Sturt Silva é estudante de história, blogueiro e militante do PCB.
O Brasil na encruzilhada dos direitos LGBT
As organizações de direitos humanos condenaram o Brasil globalmente pelo assassinato de Priscila Brandão, mas seu caso é apenas mais um entre muitos crimes de ódio homofóbicos e transfóbicos que têm se acumulado nos últimos anos no Brasil. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, entre 1980 e 2009, mais de 3.100 homossexuais foram assassinados a sangue frio em crimes de ódio no país.
Por Erica Hellerstein na Revista Forum
No dia 19 de março, o presidente Barack Obama iniciou,
pelo Brasil, uma viagem a três países da América Latina. Sua visita de
cinco dias a El Salvador, Brasil e Chile — países de uma região que é
comumente chamada de “quintal dos Estados Unidos” — representava uma
oportunidade para redefinir a política externa historicamente espinhosa
dos EUA para a América Latina.
A viagem de Obama à América do Sul é amplamente considerada como um gesto na direção da potência crescente da América Latina. O Brasil, em particular, agora a oitava economia do mundo, é frequentemente elogiado por seu dramático progresso econômico. “Mais da metade desta nação é agora considerada de classe média”, notou Obama, dirigindo-se ao povo brasileiro no Teatro Municipal do Rio, no dia 20 de março. “Milhões de pessoas saíram da pobreza”. Num discurso feito em Brasília no dia anterior, Obama exaltou o Brasil por sua notável taxa de crescimento econômico e sua transição da ditadura para uma democracia aberta. Thomas Shannon, embaixador dos EUA no Brasil, ecoou esse ponto de vista, afirmando que “o Brasil não é mais um país emergente. Ele já emergiu”.
Entretanto, como observou a recém eleita presidenta brasileira Dilma Rousseff nas boas-vindas a Obama, “nós ainda encaramos enormes desafios”. Um desses desafios é o aumento alarmante e pouco discutido nos ataques e assassinatos a LGBTs no Brasil. De acordo com a Associação para os Direitos das Mulheres em Desenvolvimento, o Brasil tem a taxa de violência transfóbica mais alta do mundo, e é citado como o “lugar mais letal para ser um indivíduo transgênero”. No ano passado, pelo menos 250 LGBTs foram assassinados.
No dia 2 de março de 2011, uma câmera de vigilância em Belo Horizonte captou o brutal assassinato de Priscila Brandão, travesti de 22 anos de idade, baleada quando caminhava pela rua. Citando o crescimento da violência contra transgêneros no Brasil, as autoridades acreditaram que se tratava de um crime de ódio, e não de um ato aleatório de violência.
As organizações de direitos humanos condenaram o Brasil globalmente pelo assassinato de Priscila Brandão, mas seu caso é apenas mais um entre muitos crimes de ódio homofóbicos e transfóbicos que têm se acumulado nos últimos anos no Brasil. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, entre 1980 e 2009, mais de 3.100 homossexuais foram assassinados a sangue frio em crimes de ódio no país.
Um relatório recém publicado pela Anistia Internacional sobre violência homofóbica afirma que “o Centro Latino-Americano de Sexualidade e Direitos Humanos identificou que os estados do Paraná e da Bahia têm os números mais altos de crimes contra homossexuais no país, e pelo menos 15 pessoas foram mortas em cada estado brasileiro em 2009, apenas por serem membros da comunidade LGBT”.
Em junho do ano passado, realizou-se em São Paulo a maior parada gay do mundo, com mais de 3 milhões de participantes. Mas, apesar dessa reunião pública gigantesca, o Brasil ainda está bem atrás de seu vizinho ao sudoeste, a Argentina, no reconhecimento dos direitos gay.
A Organização Pan-Americana de Saúde apontou, em seu relatório de 2008 “Campanha contra a Homofobia”, que “dentro da América Latina, a Argentina desfruta da reputação de maior tolerância à diversidade sexual” e em 15 de julho de 2010 se tornou o primeiro país latino-americano a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Enquanto os defensores da medida na Argentina enfrentavam abertamente os membros da Igreja Católica Romana que se opunham a ela de forma estridente, o Senado votava a favor da lei. Michael Shifter, presidente do Diálogo Inter-Americano, afirmou que a aprovação do casamento entre indivíduos do mesmo sexo “reflete a cultura socialmente liberal da Argentina de hoje”. Néstor Kirchner, ex-presidente da Argentina e então marido da atual presidenta Cristina Fernández de Kirchner, foi explícito em seu apoio à lei, apontando que “a Argentina deve deixar as medidas discriminatórias e a Idade das Trevas para trás” (A natureza progressista da Argentina não deve ser exagerada, no entanto — os direitos reprodutivos, tanto no Brasil como na Argentina, permanecem extremamente restritos).
Os formuladores de políticas públicas no Brasil não permaneceram completamente silenciosos no que se refere aos direitos gay. Em 4 de junho de 2010, o então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto estipulando que o Dia Nacional contra a Homofobia seria comemorado a cada ano no dia 17 de maio, em homenagem à data na qual, em 1990, a Organização Mundial de Saúde retirou oficialmente a homossexualidade da classificação internacional de doenças.
Em julho de 2010, as Nações Unidas, por iniciativa do governo Obama, reconheceram “status consultivo” à Comissão de Direitos Humanos de Gays e Lésbicas. O Brasil foi um dos membros da ONU a votar a favor da decisão. “Celebramos esta decisão”, disse Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). “É fundamental que as ONGs LGBT tenham a oportunidade de participar no debate de direitos humanos da ONU”.
Na reunião altamente esperada do dia 19 de março, o presidente Obama e a presidenta Dilma Rousseff integraram as inciativas LGBT às suas agendas e concordaram em estabelecer um relator especial para direitos humanos LGBT na Organização dos Estados Americanos (OEA). Uma declaração feita pela Casa Branca afirmava: “foi feito um acordo para a cooperação no avanço da democracia, dos direitos humanos e da liberdade para todos os povos bilateralmente e através das Nações Unidas … promovendo o respeito pelos direitos humanos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros através do estabelecimento de um relator especial na OEA”.
A convocação feita por Obama e Dilma pode ser uma força positiva de mudança em meio à barragem sinistra de crimes de ódio no Brasil. No entanto, como deixa claro o volume de crimes, os atos terão que falar mais alto que as palavras. Teremos que esperar para ver se, como promete a OEA, as medidas anti-violência falarão mais alto que os crimes e a retórica homofóbica contra LGBTs no Brasil.
Tradução de Idelber Avelar. Foto por Antonio Cruz/ABr. Publicado originalmente em http://www.thenation.com/article/159703/brazil-crossroads-lgbt-rights.
A viagem de Obama à América do Sul é amplamente considerada como um gesto na direção da potência crescente da América Latina. O Brasil, em particular, agora a oitava economia do mundo, é frequentemente elogiado por seu dramático progresso econômico. “Mais da metade desta nação é agora considerada de classe média”, notou Obama, dirigindo-se ao povo brasileiro no Teatro Municipal do Rio, no dia 20 de março. “Milhões de pessoas saíram da pobreza”. Num discurso feito em Brasília no dia anterior, Obama exaltou o Brasil por sua notável taxa de crescimento econômico e sua transição da ditadura para uma democracia aberta. Thomas Shannon, embaixador dos EUA no Brasil, ecoou esse ponto de vista, afirmando que “o Brasil não é mais um país emergente. Ele já emergiu”.
Entretanto, como observou a recém eleita presidenta brasileira Dilma Rousseff nas boas-vindas a Obama, “nós ainda encaramos enormes desafios”. Um desses desafios é o aumento alarmante e pouco discutido nos ataques e assassinatos a LGBTs no Brasil. De acordo com a Associação para os Direitos das Mulheres em Desenvolvimento, o Brasil tem a taxa de violência transfóbica mais alta do mundo, e é citado como o “lugar mais letal para ser um indivíduo transgênero”. No ano passado, pelo menos 250 LGBTs foram assassinados.
No dia 2 de março de 2011, uma câmera de vigilância em Belo Horizonte captou o brutal assassinato de Priscila Brandão, travesti de 22 anos de idade, baleada quando caminhava pela rua. Citando o crescimento da violência contra transgêneros no Brasil, as autoridades acreditaram que se tratava de um crime de ódio, e não de um ato aleatório de violência.
As organizações de direitos humanos condenaram o Brasil globalmente pelo assassinato de Priscila Brandão, mas seu caso é apenas mais um entre muitos crimes de ódio homofóbicos e transfóbicos que têm se acumulado nos últimos anos no Brasil. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, entre 1980 e 2009, mais de 3.100 homossexuais foram assassinados a sangue frio em crimes de ódio no país.
Um relatório recém publicado pela Anistia Internacional sobre violência homofóbica afirma que “o Centro Latino-Americano de Sexualidade e Direitos Humanos identificou que os estados do Paraná e da Bahia têm os números mais altos de crimes contra homossexuais no país, e pelo menos 15 pessoas foram mortas em cada estado brasileiro em 2009, apenas por serem membros da comunidade LGBT”.
Em junho do ano passado, realizou-se em São Paulo a maior parada gay do mundo, com mais de 3 milhões de participantes. Mas, apesar dessa reunião pública gigantesca, o Brasil ainda está bem atrás de seu vizinho ao sudoeste, a Argentina, no reconhecimento dos direitos gay.
A Organização Pan-Americana de Saúde apontou, em seu relatório de 2008 “Campanha contra a Homofobia”, que “dentro da América Latina, a Argentina desfruta da reputação de maior tolerância à diversidade sexual” e em 15 de julho de 2010 se tornou o primeiro país latino-americano a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Enquanto os defensores da medida na Argentina enfrentavam abertamente os membros da Igreja Católica Romana que se opunham a ela de forma estridente, o Senado votava a favor da lei. Michael Shifter, presidente do Diálogo Inter-Americano, afirmou que a aprovação do casamento entre indivíduos do mesmo sexo “reflete a cultura socialmente liberal da Argentina de hoje”. Néstor Kirchner, ex-presidente da Argentina e então marido da atual presidenta Cristina Fernández de Kirchner, foi explícito em seu apoio à lei, apontando que “a Argentina deve deixar as medidas discriminatórias e a Idade das Trevas para trás” (A natureza progressista da Argentina não deve ser exagerada, no entanto — os direitos reprodutivos, tanto no Brasil como na Argentina, permanecem extremamente restritos).
Os formuladores de políticas públicas no Brasil não permaneceram completamente silenciosos no que se refere aos direitos gay. Em 4 de junho de 2010, o então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto estipulando que o Dia Nacional contra a Homofobia seria comemorado a cada ano no dia 17 de maio, em homenagem à data na qual, em 1990, a Organização Mundial de Saúde retirou oficialmente a homossexualidade da classificação internacional de doenças.
Em julho de 2010, as Nações Unidas, por iniciativa do governo Obama, reconheceram “status consultivo” à Comissão de Direitos Humanos de Gays e Lésbicas. O Brasil foi um dos membros da ONU a votar a favor da decisão. “Celebramos esta decisão”, disse Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). “É fundamental que as ONGs LGBT tenham a oportunidade de participar no debate de direitos humanos da ONU”.
Na reunião altamente esperada do dia 19 de março, o presidente Obama e a presidenta Dilma Rousseff integraram as inciativas LGBT às suas agendas e concordaram em estabelecer um relator especial para direitos humanos LGBT na Organização dos Estados Americanos (OEA). Uma declaração feita pela Casa Branca afirmava: “foi feito um acordo para a cooperação no avanço da democracia, dos direitos humanos e da liberdade para todos os povos bilateralmente e através das Nações Unidas … promovendo o respeito pelos direitos humanos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros através do estabelecimento de um relator especial na OEA”.
A convocação feita por Obama e Dilma pode ser uma força positiva de mudança em meio à barragem sinistra de crimes de ódio no Brasil. No entanto, como deixa claro o volume de crimes, os atos terão que falar mais alto que as palavras. Teremos que esperar para ver se, como promete a OEA, as medidas anti-violência falarão mais alto que os crimes e a retórica homofóbica contra LGBTs no Brasil.
Tradução de Idelber Avelar. Foto por Antonio Cruz/ABr. Publicado originalmente em http://www.thenation.com/article/159703/brazil-crossroads-lgbt-rights.
Graças a Gilmar Mendes, foge do país médico condenado a 278 anos por violentar 37 mulheres
Do blog do Mello
O médico Roger Abdelmassih, de 67 anos, já está no Líbano, segundo a Folha.
E por lá deve ficar porque tem origem libanesa e o Brasil não tem
tratado de extradição com o Líbano. E isso poderia ter sido evitado,
caso o ministro Gilmar Mendes não concedesse o habeas corpus que o tirou
da cadeia.
O médico estava preso, aguardando recurso de sua defesa diante da sentença que o condenou a 278 anos de cadeia por violentar 37 mulheres (suas pacientes, o que agrava os crimes) entre 1995 e 2008. E aguardava preso porque a Polícia Federal informou que ele tentava renovar seu passaporte. A juíza Kenarik Boujikian Felippe determinou que ele fosse preso para evitar sua fuga do país.
Seu advogado recorreu. Disse que Roger Abdelmassih não pretendia fugir do país, só estaria renovando o passaporte...
Sem ao menos perguntar ao advogado por que um homem de 67 anos condenado a 278 anos de cadeia renovaria o passaporte (seria um novo Matusalém?), Gilmar Mendes mandou soltar o passarinho, que agora vai passear sua impunidade no exterior, até que a morte o separe da boa vida.
Por essas e outras, crimes contra as mulheres acontecem diariamente no país. Há o caso notório do jornalista Pimenta Neves, que matou fria e covardemente sua ex-namorada, a jornalista Sandra Gomide, e passeia sua impunidade, após ter destruído as vidas de Sandra e de sua família.
O que dirá Gilmar Mendes, o Simão Bacamarte do Judiciário, sobre seu habeas corpus que possibilitou a fuga do criminoso?
O médico estava preso, aguardando recurso de sua defesa diante da sentença que o condenou a 278 anos de cadeia por violentar 37 mulheres (suas pacientes, o que agrava os crimes) entre 1995 e 2008. E aguardava preso porque a Polícia Federal informou que ele tentava renovar seu passaporte. A juíza Kenarik Boujikian Felippe determinou que ele fosse preso para evitar sua fuga do país.
Seu advogado recorreu. Disse que Roger Abdelmassih não pretendia fugir do país, só estaria renovando o passaporte...
Sem ao menos perguntar ao advogado por que um homem de 67 anos condenado a 278 anos de cadeia renovaria o passaporte (seria um novo Matusalém?), Gilmar Mendes mandou soltar o passarinho, que agora vai passear sua impunidade no exterior, até que a morte o separe da boa vida.
Por essas e outras, crimes contra as mulheres acontecem diariamente no país. Há o caso notório do jornalista Pimenta Neves, que matou fria e covardemente sua ex-namorada, a jornalista Sandra Gomide, e passeia sua impunidade, após ter destruído as vidas de Sandra e de sua família.
O que dirá Gilmar Mendes, o Simão Bacamarte do Judiciário, sobre seu habeas corpus que possibilitou a fuga do criminoso?
Cresce ofensiva para derrubar pensões vitalícias
Cresce a ofensiva contra um privilégio da classe política no país –
as pensões vitalícias. O Ministério Público de Minas Gerais ajuizou ação
civil pública, com pedido de liminar, para suspender as pensões
vitalícias pagas a ex-governadores do estado, argumentando que a
“inusitada situação” configura violação dos princípios constitucionais
da administração pública.
Em Minas, atualmente recebem pensões os ex-chefes do Executivo Rondon
Pacheco (Arena, 1971-1975), Francelino Pereira (PDS, 1979-1983), Hélio
Garcia (PP, 1984-1987 e PMDB, 1991-1995) e Eduardo Azeredo (PSDB,
1995-1999). O benefício também é pago a Coracy Pinheiro, viúva de Israel
Pinheiro (PSD), que governou o estado entre 1966 e 1971.
Não é só o contribuinte mineiro que paga essa conta. Em fevereiro, a
ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu a
suspensão do pagamento de pensões a ex-governadores em todo o país. Ao
votar a favor de uma ação na qual a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
contesta a concessão do benefício a ex-chefes do Executivo do Pará, a
ministra concluiu que o pagamento é inconstitucional. Após o voto de
Cármen Lúcia, o ministro José Antonio Dias Toffoli pediu vista, adiando a
conclusão do julgamento. Apesar de o tribunal analisar apenas um pedido
de liminar, que é uma decisão provisória, ministros sinalizaram que vão
adiantar o mérito e que, possivelmente, vão declarar inconstitucional o
benefício. No caso do Pará, a pensão equivale ao salário de
desembargador, que é de cerca de 24 milreais.
Tramitam no tribunal outras oito ações contra a pensão de
ex-governadores. Mais processos podem ser protocolados porque, de acordo
com estimativas da OAB, legislações de quinze estados preveem
aposentadoria para ex-chefes do Executivo. Em 2007, o STF já determinou a
suspensão do pagamento de pensões a ex-governadores do Mato Grosso do
Sul e a expectativa é de que confirme que se trata de um privilégio
incompatível com a Constituição Federal.
Em MInas, os ex-governadores têm direito ao salário integral pago ao
atual ocupante do cargo, de 10,5 mil reais. Já a viúva de Israel
Pinheiro recebe metade do benefício. As pensões, concluiu o Ministério
Público no inquérito civil, são concedidas com base numa lei estadual de
1957 – com alterações posteriores – e na revogada Constituição Estadual
de 1967.
“A inusitada situação, portanto, da concessão de benesses vitalícias a
ex-chefes do Poder Executivo Estadual e seus familiares, não pode
permanecer, sem que se mantenha caracterizada a manifesta violação de
tais princípios (constitucionais), dentre os quais relevam o princípio
da igualdade, o princípio da impessoalidade, o princípio da moralidade
administrativa, bem como aqueles atinentes à responsabilidade dos gastos
públicos”, destaca o Ministério Púbico na ação.
Para a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, o estado deve ser
condenado a suspender os pagamentos e “em hipótese alguma poderá ensejar
invocação de direito adquirido por parte de quaisquer dos
beneficiários”, pois a Constituição Federal de 1988 “não recepcionou a
norma instituidora dos ‘benefícios’ em questão (Lei nº 1.654/67)”.
Diante da repercussão negativa dos pagamentos e após a instauração do
inquérito pelo Ministério Público, o governador Antonio Anastasia
(PSDB) encaminhou no início de fevereiro à Assembleia Legislativa
projeto de lei que extingue as pensões vitalícias para ex-governadores e
seus descendentes. O texto prevê o fim do benefício a partir de sua
aprovação e não altera as aposentadorias já pagas, que custam mais de
560 mil reais por ano aos cofres públicos. A proposta não avança no
Assembleia, pois o bloco de oposição alega que protocolou dias antes um
projeto semelhante e reclama a paternidade da iniciativa.
A ação civil – assinada pelos promotores João Medeiros, Eduardo
Nepomuceno, Maria Elmira, Leonardo Barbabela, Thaís Leite, Elisabeth
Villela e Patrícia Medina – foi ajuizada no último dia 8 na 2.ª Vara da
Fazenda Pública Estadual, onde tramita. Procurado, o governo estadual
não comentou a ação e destacou que a posição do Executivo está contida
na proposta encaminhada ao Legislativo.
PEC – O deputado federal Lelo Coimbra, do PMDB capixaba, ainda não
desistiu de apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição para acabar
com as pensões vitalícias pagas a ex-governadores e ex-prefeitos. Ele
precisa de 171 assinaturas, mas no começo do ano só havia obtido trinta.
30a. A maioria dos parlamentares tem se recusado a assinar justificando
que tem parentes e amigos recebendo o benefício.
FONTE: Agência Estado
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