terça-feira, 9 de março de 2010

A imprensa burguesa na visão de Marx, Lenin e Gramsci...

NADA MAIS ATUAL - MARX, LENIN, GRAMSCI E A IMPRENSA BURGUESA

Altamiro Borges

Diante do poder alcançado pela mídia hegemônica e das ilusões ainda existentes sobre seu papel, revisitar as idéias de intelectuais marxistas sobre o tema é da maior importância e causam surpresa por sua enorme atualidade. Marx, Lênin e Gramsci, entre outros pensadores revolucionários, sempre destacaram o papel dos meios de comunicação. Exatamente por entenderem a importância da luta de idéias, do fator subjetivo na transformação da sociedade, fizeram questão de desmascarar o que chamavam, sem meias palavras, de “imprensa burguesa” e de realçar a necessidade da construção de veículos alternativos dos trabalhadores.

Estes dois elementos, a denúncia do caráter de classe da imprensa capitalista e a defesa dos instrumentos próprios dos explorados, são as marcas principais destes intelectuais marxistas. Marx, Lênin e Gramsci dedicaram enorme energia ao trabalho jornalístico, escrevendo centenas de artigos e ajudando a construir vários jornais democráticos e proletários. Foram jornalistas de mão-cheia, produzindo textos que entraram para a história. Sempre estiveram sintonizados com o seu tempo, pulsando a evolução da luta de classes; nunca se descuidaram da forma, da linguagem, para melhor difundir os seus conteúdos revolucionários.

Defesa da liberdade de expressão

Vítimas da violenta perseguição das classes dominantes, os revolucionários nunca toleraram a censura dos opressores e foram os maiores defensores da verdadeira liberdade de expressão. A própria ampliação da democracia foi decorrência das lutas dos trabalhadores, já que nunca interessou à reacionária burguesia. Mas os revolucionários nunca confundiram esta exigência democrática com a proclamada “liberdade de imprensa”, tão alardeada pela burguesia que controla os meios de produção e usa todos os recursos, legais e ilegais, ardilosos e cruéis, para castrar a própria democracia e o avanço das lutas emancipadoras.

Numa fase ainda embrionária do movimento operário-socialista, Karl Marx logo se envolveu na atividade jornalística. Após concluir seu doutorado em filosofia, em 1841, ele pretendia seguir a carreira acadêmica e ingressar na Universidade de Bonn, mas a brutal repressão do governo prussiano inviabilizou tal projeto e o jovem filósofo alemão manteve seu sustento através do jornalismo. Em 1842, ingressou na equipe do jornal Gazeta Renana e virou o seu redator-chefe. Sob sua direção, este periódico democrático triplicou o número de assinantes e ganhou prestígio, mas durou poucos meses e foi fechado pela ditadura prussiana.
Sem ilusões na imprensa burguesa
Na seqüência, entre 1848/49, passou a escrever no jornal Nova Gazeta Renana, que se transformou numa trincheira de resistência ao regime autoritário. Em menos de dois anos, Marx escreveu mais de 500 textos e tornou-se um articulista de sucesso. O combate ao código de censura do governo prussiano resultou na proibição do jornal. Marx ainda escreveu para o Die Press e o New York Tribune sobre política, economia e história. “Era um jornalismo que revelava a minuciosa leitura de Marx, seu alto grau de informação não apenas sobre os fatos e conflitos, como também sobre os atores individuais e a própria imprensa”, relata José Onofre, na apresentação do livro recém-lançado “Karl Marx e a liberdade de imprensa”.

Em sua defesa da liberdade de expressão, ele nunca vacilou na denúncia da ditadura burguesa. Para ele, o jornal deveria ser uma arma de combate à opressão e à exploração e não um veículo neutro. “A função da imprensa é ser o cão-de-guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho onipresente e a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade”. Em outro texto, afirma: “O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”. Por estas idéias libertárias, ele foi processado e perseguido.

Poder do capital sobre a imprensa

Outro que nunca se iludiu foi Vladimir Lênin. Atuando num período da ascensão revolucionária, ele foi ainda mais duro no combate aos jornais burgueses. Num texto intitulado “a liberdade de imprensa do capitalismo”, ele desnuda esta falácia. “A ‘liberdade de imprensa’ é também uma das principais palavras de ordem da ‘democracia pura’. Os operários sabem e os socialistas de todos os países reconheceram-no milhares de vezes que esta liberdade é um engano enquanto as melhores impressoras e os estoques de papel forem açambarcados pelos capitalistas, e enquanto subsistir o poder do capital sobre a imprensa”.

“Com vista a conquistar a igualdade efetiva e a verdadeira democracia para os trabalhadores, é preciso começar por privar o capital da possibilidade de alugar escritores, de comprar editoriais e de subornar jornais, mas para isso é necessário destruir o jugo do capital... Os capitalistas chamam sempre ‘liberdade’ à liberdade para os ricos de manterem seus lucros e liberdade para os operários de morrerem à fome. Os capitalistas denominam de liberdade de imprensa a liberdade de suborno da imprensa pelos ricos, a liberdade de usar a riqueza para forjar e falsear a chamada opinião pública”. Nada mais atual!

Numa outra fase histórica, em que o setor da comunicação ainda não era um poderoso ramo da economia, Lênin chegou a se contrapor à participação dos comunistas na imprensa burguesa. “Poder-se-á admitir que colaborem nos jornais burgueses? Não. A semelhante colaboração se opõe tanto as razões teóricas como a linha política e a prática da social-democracia... Dir-nos-ão que não há regra sem exceção. O que é indiscutível. Não se pode condenar o camarada que, vivendo no exílio, escreve num jornal qualquer. É por vezes difícil criticar um social-democrata que, para ganhar a vida, colabora numa seção secundária de um jornal burguês”. Mas, para ele, tais casos deveriam ser encarados como exceção e com princípios.

“Boicote, boicote, boicote”
Para encerrar este bloco, que evidencia que os marxistas nunca nutriram ilusões sobre o caráter de classe da imprensa burguesa e nem se embasbacaram com o seu poder de sedução, vale reproduzir uma longa citação de Antonio Gramsci, o revolucionário italiano de padeceu onze anos nos cárceres. No texto “Os jornais e os operários”, escrito em 1916, ele faz uma conclamação aos trabalhadores que bem poderia servir para uma campanha contra a revista Veja e outros veículos da mídia brasileira na atualidade:

Para ele, a assinatura de jornal burguês “é uma escolha cheia de insídias e de perigos que deveria ser feita com consciência, com critério e depois de amadurecida reflexão. Antes de mais, o operário deve negar decididamente qualquer solidariedade com o jornal burguês. Deveria recordar-se sempre, sempre, sempre, que o jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um instrumento de luta movido por idéias e interesses que estão em contraste com os seus. Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma idéia: servir à classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora. E, de fato, da primeira à última linha, o jornal burguês sente e revela esta preocupação”.

“Todos os dias, pois, sucede a este mesmo operário a possibilidade de poder constatar pessoalmente que os jornais burgueses apresentam os fatos, mesmo os mais simples, de modo a favorecer a classe burguesa e a política burguesa em prejuízo da política e da classe operária. Rebenta uma greve! Para o jornal burguês os operários nunca têm razão. Há uma manifestação! Os manifestantes, apenas porque são operários, são sempre tumultuosos e malfeitores. E não falemos daqueles casos em que o jornal burguês ou cala, ou deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público trabalhador. Apesar disso, a aquiescência culposa do operário em relação ao jornal burguês é sem limites”.

“É preciso reagir contra ela e despertar o operário para a exata avaliação da realidade. É preciso dizer e repetir que a moeda atirada distraidamente é um projétil oferecido ao jornal burguês que o lançará depois, no momento oportuno, contra a massa operária. Se os operários se persuadirem desta elementar verdade, aprenderiam a boicotar a imprensa burguesa, em bloco e com a mesma disciplina com que a burguesia boicota os jornais operários, isto é, a imprensa socialista. Não contribuam com dinheiro para a imprensa burguesa que vos é adversária: eis qual deve ser o nosso grito de guerra neste momento, caracterizado pela campanha de assinatura de todos os jornais burgueses: Boicotem, boicotem, boicotem!”.

Construtores da Imprensa Revolucionária
Exatamente por não nutrirem ilusões na imprensa burguesa, Marx, Lênin e Gramsci sempre investiram na construção de instrumentos próprios das forças contrárias à lógica do capital. Segundo o biógrafo David Riazanov, “a Nova Gazeta Renana tratava de todas as questões importantes, de sorte que o jornal pode ser considerado um modelo de periódico revolucionário. Nenhum outro periódico russo nem europeu chegou à altura da Nova Gazeta... Seus artigos não perderam nada de sua atualidade, de seu ardor revolucionário, de sua agudeza na análise dos acontecimentos. Ao lê-los, sobretudo os de Marx, acreditamos assistir à história da revolução alemã e da revolução francesa, tão vivo é o estilo, como profundo é o sentido”.

Já Lênin, que viveu numa fase de efervescência revolucionária, dedicou boa parte das suas energias para construção de jornais socialistas – dos mais diferentes tipos, sempre sintonizados com a evolução da luta de classes. Iskra, Vperiod, Pravda, Proletari, Rabotchaia Pravda, Nievskaia Svesdá, entre outros jornais organizados e dirigidos por ele, servirão para agregar as forças de esquerda, fazer agitação nas fábricas, aprofundar os debates ideológicos e construir o partido. Na sua mais célebre definição, Lênin sintetizou:

“O jornal não é apenas um propagandista coletivo e um agitador coletivo. Ele é, também, um organizador coletivo. Neste último sentido, ele pode ser comparado com os andaimes que são levantados ao redor de um edifício em construção, que assinala os contornos, facilitam as relações entre os diferentes pedreiros, ajudam-lhes a distribuírem tarefas e a observar os resultados gerais alcançados pelo trabalho organizado”. A reacionária burguesia russa logo entendeu o perigo representado por estes jornais, tanto que os reprimiu ferozmente. No caso do Pravda, de um total de 270 edições, 110 foram objeto de ações judiciais e os seus redatores foram condenados a um total de 472 anos de prisão. Mas isto não abrandou o seu vigor!

Atualidade das noções marxistas
No caso de Gramsci, o longo período de cárcere dificultou a sua atividade jornalística e castrou seu desejo de organizar a imprensa operária. Antes da prisão, ele editou vários jornais de fábrica e empenhou-se na difusão do Ordine Nuovo. Na sua rica elaboração sobre o papel dos intelectuais e a luta pela hegemonia, ele chega a afirmar que, em momentos de crise, o jornal pode funcionar como partido político, ajudando a desnudar a ideologia dominante e a construir a ação contra-hegemônica do proletariado. Para ele, o momento da desconstrução do velho é, ao mesmo tempo, o da construção do novo.

As contribuições de Gramsci servem para desmistificar o papel da mídia hoje, mantendo impressionante atualidade. Para ele, a imprensa burguesa é um “aparelho privado de hegemonia”, capaz de disputar os rumos da sociedade por meio de uma verdadeira guerra de posições em todas as “trincheiras ideológicas”. Através da imprensa privada e mercantil, que objetiva o lucro e que faz da notícia uma mera mercadoria, a burguesia tenta se aparentar como representante da esfera pública. Além disso, em momentos de crise da ideologia dominante e de fratura dos partidos burgueses, a imprensa se apresenta como “o partido do capital”, que organiza e amalgama os interesses das várias frações de classe da burguesia.

Nota:

Exposição apresentada durante o 12º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (CNC), em 02 de dezembro, no Rio de Janeiro.

Por Altamiro Borges, jornalista, Secretário de Comunicação do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição)

A predação dos eucaliptos.....

O crescimento da transgenia chega aos eucaliptos. Entrevista com Paulo Kageyama




 
 "Há uma controvérsia sobre a questão de que os eucaliptos transgênicos são de mais alto consumo que outras espécies. De fato, como são de muito rápido crescimento, plantados em grande escala e em monocultivo, sem Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reservas Legais (RLs), deve haver grande consumo de água e rebaixamento do lençol freático", explica o geneticista Paulo Kageyama. Em entrevista, concedida, por e-mail, à IHU On-Line ele fala sobre a estrutura desse tipo de eucalipto geneticamente modificado, suas principais características e formas de influência em relação ao meio ambiente onde vai ser plantado. Mas Kageyama alerta: "O que está em jogo é o custo ambiental, dado o perigo de contaminação de eucaliptos não transgênicos, voltados para a produção de outro fim que não o de celulose e papel, que seriam prejudicados". Paulo Kageyama é formado em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo, onde realizou mestrado e doutorado em Agronomia. É pós-doutor pela North Carolina State University. Atua no Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal e é professor da USP.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais as principais vantagens do eucalipto transgênico, que justificam o investimento em sua cultura? As árvores crescem mais rápido, por exemplo?
Paulo Kageyama - O principal e mais utilizado Gene Geneticamente Modificado (OGM) pelas indústrias madeireiras de produção de celulose e papel, e que vem sendo motivo de vários processos da CTNBio, é o transgene que reduz o teor de lignina [1] da madeira. Essas indústrias alegam vantagens econômicas muito grandes no processo de extração da lignina para a produção de celulose, que seria o motivo das mesmas ao propor esse OGM, além de que se utilizaria menor quantidade de produtos químicos para a extração da celulose, que seria um outro objetivo alegado.

Em princípio, o gene em questão não tem efeito sobre o crescimento das plantas, mas sim na qualidade da sua madeira. Certamente que, sendo a estrutura da madeira das árvores basicamente formada de lignina, que dá a dureza, e a celulose, que completaria a sua estrutura, a redução de lignina pode afetar indiretamente o crescimento, pois pode a árvore com sua redução sofrer tombamento, quebra etc.

 

IHU On-Line - Quando são feitos os cálculos sobre as vantagens econômicas do eucalipto transgênico, é incluído nessa conta o gasto ambiental que seu plantio produz, como o consumo de água e energia?
Paulo Kageyama - Como o transgene em questão confere em princípio somente efeito sobre a qualidade da madeira (menor teor de lignina), o consumo de água e energia, em princípio, não seria diferente entre o eucalipto Geneticamente Modificado (GM) e o não GM. Portanto, os impactos ambientais apontados para os não GMs seriam, em princípio, os mesmos para os transgênicos. O consumo de água e energia, em princípio, não entra nos cálculos econômicos e ambientais, na comparação entre os eucaliptos GMs e não GMs. O que está em jogo é o custo ambiental, dado o perigo de contaminação de eucaliptos não transgênicos voltados para a produção de outro fim que não o de celulose e papel, que seriam prejudicados.

 

IHU On-Line - Se o monocultivo do eucalipto já é ambientalmente condenável, o que se pode falar do eucalipto transgênico? Quais os principais riscos que ele oferece ao meio ambiente?
Paulo Kageyama - De fato, o eucalipto em monocultivo em grande escala tem impactos sobre o meio ambiente e a biodiversidade. Como o OGM em questão se refere à diminuição do teor de lignina, as críticas ao monocultivo de eucalipto GM devem ser as mesmas do Não GM.
Em menor importância para as indústrias, é o gene para aumento da produtividade, através de aumento da eficácia da fotossíntese. Nesse caso, podemos ter maior crescimento e maior produtividade ainda, tendo efeito nos impactos sobre o ambiente. Porém, a ênfase das indústrias nesse momento é com a redução de lignina na madeira.
IHU On-Line - O eucalipto transgênico consome mais ou menos água do que o eucalipto não transgênico?
Paulo Kageyama - Há uma controvérsia sobre a questão de que os eucaliptos transgênicos são de mais alto consumo que outras espécies. De fato, como são de muito rápido crescimento, plantados em grande escala e em monocultivo, sem Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reservas Legais (RLs), deve haver grande consumo de água e rebaixamento do lençol freático. O problema, portanto, é muito mais de escala, principalmente. Muitas outras espécies de árvores, inclusive nativas, devem ter o mesmo comportamento se utilizadas da mesma forma que vêm sendo utilizados os eucaliptos. Ao se plantar qualquer cultura em monocultivo em grande escala, as APPs e RLs têm exatamente a função de dar equilíbrio à paisagem rural, tanto na questão de água como de pragas e doenças. Porém, deve-se salientar que os OGMs mais destacados são para redução de lignina, não devendo, em princípio, afetar essa questão do consumo de água.

 

IHU On-Line - Como são feitos os testes do plantio do eucalipto transgênico? Que cuidados são tomados?
Paulo Kageyama - Na CTNBio, as empresas podem entrar com processos de Liberação Planejada, e na fase de pesquisa, e, numa fase mais avançada, com processos de Liberação Comercial, como o próprio nome diz, para já liberação de plantios em escala comercial.

Com os eucaliptos, estamos ainda na fase de pesquisa, ou de contenção, sendo em áreas pequenas e com controle de isolamento, com regras já estabelecidas. Segundo o Comunicado No 2 da CTNBio para esses processos, deve-se guardar uma distância de 1 000 metros de outro talhão de eucalipto que possa ser utilizado para produção de sementes, visando evitar a contaminação de pólen GM para não GM. Para o caso de sementes, nessa fase de Liberação Planejada, ou de Pesquisa, essa distância mínima é de 100 metros de outro talhão que possa ser contaminado.

Somente após vários processos de liberação planejada, envolvendo testes e pesquisas com contenção, é que as empresas podem solicitar processos de liberação comercial. As empresas estão caminhando a passos largos para entrar nessa fase de liberação comercial, que só temos atualmente para a soja, o algodão e o milho.
IHU On-Line - Quais os riscos da realização de testes de plantio de eucalipto transgênico sem fiscalização ambiental? Que tipo de fiscalização ambiental deveria ser feita para acompanhar esses testes?
Paulo Kageyama - Nós membros da CTNBio analisamos e aprovamos ou não os processos de liberação mandados pelas empresas. Em casos novos ou duvidosos, podemos pedir visitas para checagem de algum ponto de dúvida. Porém, a fiscalização no campo é de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do IBAMA. Essa fiscalização não é feita em 100% dos processos, a não ser que haja pedido especial, o que é uma boa coisa. Como existem as regras aprovadas pela CTNBio, com elas em mãos, pode-se cobrar dos órgãos competentes para se fazer essa fiscalização. Na CTNBio, temos que acreditar que o que está no processo é o que está ocorrendo no campo. Na fase de liberação planejada, onde estamos com os eucaliptos, a fiscalização das distâncias para se evitar a contaminação por pólen e sementes é relativamente fácil, se se conhece bem as espécies. Julgo que as empresas, na fase de liberação planejada, praticamente não têm condições de realizar plantios comerciais de OGMs, pois, para isso, deveria ter as sementes para tal e que passam pelo controle da CTNBio.
IHU On-Line - Como está essa questão no Brasil? O país já produz eucalipto transgênico?   
Paulo Kageyama - Como já relatado, temos eucaliptos transgênicos no Brasil, porém, ainda na fase de testes ou de pesquisa, com áreas pequenas (cerca de 1um hectare) onde os cuidados de se evitar a contaminação por polinização ou dispersão de sementes são regulados pelo Comunicado já relatado. Dessa forma, as empresas já detêm conhecimento e material genético para produzir eucaliptos transgênicos, só faltando passar esta fase para proposições de liberação comercial.

A nosso ver, como os eucaliptos são de polinização cruzada, como o milho, com polinização à longa distância por abelhas sociais, principalmente, cuidados com a contaminação vêm sendo uma das preocupações de cautela e precaução. Os genes para redução de lignina beneficiam os produtores de celulose e papel, mas devem prejudicar os produtores de eucaliptos para madeira, carvão, móveis, óleos, mel etc.
Notas:
[1] A lignina ou lenhina é uma macromolécula tridimensional amorfa encontrada nas plantas terrestres, associada à celulose na parede celular cuja função é de conferir rigidez, impermeabilidade e resistência a ataques microbiológicos e mecânicos aos tecidos vegetais.

* Instituto Humanitas Unisinos