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Objetivo: O
objetivo deste trabalho é a discussão da participação da Doutrina
Espírita nas Transformações Sociais, com os estudos de Allan Kardec, na
França., ou seja a interação entre o social e o espiritual.
Etimologia: Sociologia é um vocábulo composto: – da palavra latina societas (sociedade, socius = companheiro) e – da palavra grega logos (estudo, ciência). A Sociologia é, então, a ciência da sociedade ou da associação ou do companheirismo. Assim,
a Sociologia é o estudo científico das formas fundamentais da
convivência humana, ou ainda segundo, Santos, T M dos, citado por
GREGÓRIO, em seu Manual de Sociologia, Sociologia é: – a ciência que tem por objeto o estudo dos fatos sociais; – um grande complexo de relações humanas ou; – um sistema de interação.
O objeto da Sociologia é estudo dos fatos sociais, considerando-se como fato social: "O
fato social são todas as formas de associações humanas e as maneiras de
agir, sentir, e pensar, padronizadas e socialmente sancionadas; ou em
uma palavra, os modos de ser, sentir, pensar e agir comuns aos grupos
sociais".
A Sociologia limita-se a estudar os fatos sociais tais
como são e inteirar-se de como é a sociedade e não se propõe de como
deve ser. Em síntese mostra o que é a sociedade e não como deve ser.
Histórico: O
homem é um animal social e a sociedade está em constante transformação
que embora ocorram muito rapidamente, é possível historicamente
registrar-se historicamente grandes mudanças sociais que marcaram época.
Os períodos de transformações mais marcantes estão relacionados
com as grandes descobertas ou com as revoluções nos paradigmas
vigentes.
A revolução tecnológica e industrial se iniciou com o
domínio do fogo e das técnicas de agricultura, causando as primeiras
grandes renovações no comportamento social do ser humano. A agricultura
fixou o homem em pontos estratégicos, garantindo uma subsistência mais
duradoura. Ao desfrutar de interesses comuns, ele se organizou
socialmente e passou a defender com mais empenho o seu território.
As
descobertas de imprensa, da máquina a vapor, do motor a combustão, do
rádio, do cinema, do telefone, da televisão, do computador entre outras
provocaram transformações vultosas exigindo novas sistemáticas de
organização para o trabalho e para a hierarquia da sociedade. Essas
conquistas instrumentalizaram o homem, permitindo que ele multiplique
sua força, amplie sua velocidade, economize seu tempo, difunda suas
ideias, divulgue seus costumes, e enfim, concretize seus sonhos.
A
revolução dos paradigmas científicos ocorreu em épocas diversas,
repercutiu também no comportamento e nos costumes das sociedades
humanas. Tanto na Antiguidade Clássica quanto na Idade Média as relações
sociais não chegavam a apresentar um "problema" a ser investigado. Além
do mais o deve ser prevalecia sobre o que é.
O
surgimento da Sociologia só foi possível como resposta aos abalos
provocados pela Revolução Industrial, pelas novas condições de
existência por ela criadas.
Num espaço de 150 anos, ou seja, de
Copérnico a Newton, a ciência passou por notável progresso, mudando até
mesmo a localização do planeta Terra no cosmo. Assim, as contribuições
dos pensadores para a mudança do deve ser para o que é foram: – Nicolau Copérnico (1473-1543) desloca o centro da terra para o Sol. – Francis Bacon (1561-1626)
diz que a teologia deve ceder lugar à dúvida metódica. Para ele a
observação e a experiência ampliariam infinitamente o poder do homem e
deveriam ser estendidas e aplicadas ao estudo da sociedade. Quis
realizar experimentos a fim de descobrir e formular leis gerais sobre a
sociedade. – Vico (1668-1744) expressa que o homem produz a
própria história. Apoiando-se nesse ponto de vista, afirmava que a
sociedade podia ser compreendida porque, ao contrário da natureza, ela
constitui obra dos próprios indivíduos. – Montesquieu (1689-1755),
iluminista, estabeleceu uma série de observações sobre a população, o
comércio, a religião, a moral, a família etc. O intuito, ao estudar as
instituições de sua época, era demonstrar que elas eram irracionais e
injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse
sentido, impediam a liberdade do homem. – Revolução Francesa (1789-1799) desorganiza o Estado tradicional. – Pensadores franceses
como Saint-Simon, Comte, Le Play e outros concentrarão suas reflexões
sobre a natureza e as consequências da revolução. A tarefa que esses
pensadores se propõem é a de racionalizar a nova ordem, encontrando
soluções para o estado de "desorganização" então existente. Mas para
estabelecer a "ordem e a paz", pois é a esta missão que esses pensadores
se entregam, para encontrar um estado de equilíbrio na nova sociedade,
seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos
sociais, instituindo, portanto, uma ciência da sociedade.
Neste
ponto, cabe lembrar que filósofos sociais como Voltaire, Montesquieu,
Diderot, Rousseau(1995), Locke, Beccaria, desenvolveram os princípios
ético-políticos da organização social democrática, os quais serviram de
base para as lutas que deflagram a Revolução Francesa (1789). Sendo esta
uma revolução tipicamente de classe na qual a Burguesia soube mobilizar
as outras classes sociais (camponeses, proletários urbanos, nobres
insatisfeitos, intelectuais etc.) em favor de seus objetivos e com o
intuito de derrubar o “Ancien Regime”, a sociedade do arbítrio, dominada
pela desigualdade política, pelo despotismo e pela tradição.
Neste
sentido, a experiência social da modernidade, fundada em pressupostos
democráticos de igualdade, reciprocidade de direitos e deveres dos
cidadãos perante a lei, liberdade econômica para empreender e gerir
negócios, possibilidade de desenvolver habilidades técnicas no sentido
do progresso individual e social, são desdobramentos político-sociais
trazidos pela Revolução Francesa, e que tiveram sua origem nas
concepções ideológicas do Iluminismo.
O pensador Augusto Comte
(1798-1857), criador do vocábulo "Sociologia", pretendeu oferecer uma
coexistência pacífica entre a ordem dos conservadores e o progresso dos
revolucionários.
A criação da Sociologia tem o objetivo de
separar o conhecimento da teologia e da metafísica, dando-lhe um caráter
"positivo". O sentido positivo emprestado à nova ciência, fê-la
distinto de outras, tais como a Economia, o Direito e a Política.
Augusto
Comte utiliza-se dos métodos já elaborados pelas ciências naturais e
constrói comparativamente os fundamentos da Sociologia, estabelecendo
leis invariáveis para a sociedade, da mesma forma que a física e a
química. Mostra o que é a sociedade (ciência) e não o que deve ser
(filosofia) e deu ênfase ao estado positivo, mas criou o religioso,
obedecendo a hierarquia católica, com a diferença de que os seus deuses
são os homens célebres que se foram, tais como Sócrates, Platão, César
etc.
São esse os Estados: – Teológico ou Fetichista, em que se nota a adoração de totens; – Metafísico ou Racional, em que a inteligência já pode tentar a especulação sobre as primeiras causas; – Científico ou Positivo,
em que não se necessita de forças sobrenaturais, nem de deuses nem de
anjos, porque dispõe de recursos para compreender a natureza.
O
Espiritismo de Allan Kardec aceita os três estados citados, mas nos diz
que eles coexistem, inclusive, numa comunidade cientifica. Amplia a
visão do fato social quando o inter-relaciona com a mediunidade.
Enquanto
para a Sociologia o "fato social" diz respeito ao presente (ela não
cogita de Deus nem de Espíritos), para o Espiritismo ele tem uma
dimensão cósmica, ou seja, há um entrelaçamento entre o aqui e o agora
com o ontem e o amanhã, pois tudo se encadeia na natureza.
A
Sociologia observa, formula hipóteses, experimenta e tira conclusões dos
fatos sociais. Não tem a incumbência de emitir juízos de valor. Diz-nos
como são os fatos sociais e não como devem ser.
A atualidade
cultural representa um grande desafio à compreensão histórica e social
de uma época. Afinal, trata-se da tentativa de “decifrar” os caminhos
sociais e as tendências culturais de um período histórico, que em boa
medida, é organizado no seu contexto de espaço e tempo. Tal
empreendimento de estudo, diz respeito à necessidade de compreendermos o
“momento histórico” em que vivemos e as diferentes modalidades de
organização da vida nos mundos sociais contemporâneos ao nosso.
Neste
sentido, o contemporâneo é sempre plural, porquanto as tendências
culturais de uma sociedade não se repetem necessariamente noutro
contexto, podendo inclusive a pluralidade significar diferentes ritmos
históricos, econômicos, sociais, comportamentais e éticos. Pode parecer
estranho falar de atualidades culturais em termos de tendências plurais,
sobretudo nestes tempos de globalização econômica e comunicacional.
A
questão da cultura contemporânea é uma preocupação generalizada da
humanidade que experimenta o impacto das mudanças econômicas,
tecnológicas, políticas e sociais. E não pode ser menos relevante para
nós, espíritas, sobretudo quando consideramos que Allan Kardec, ao
organizar o sistema teórico-metodológico do Espiritismo no século 19,
manteve um diálogo cultural intenso com as principais tendências
filosóficas e científicas do seu tempo, bem como propôs que o
Espiritismo “lançasse luz sobre todas as questões da economia social”.
Kardec
em “O Que é o Espiritismo” e na “Revista Espírita” analisou inúmeros
problemas filosóficos do seu tempo e esclareceu questões práticas,
sociais, buscando apresentar a “Solução de alguns problemas com auxílio
da Doutrina Espírita”. (O Que é o Espiritismo, cap.III, Allan Kardec),
segundo SOUZA.
As formas de organização do mundo social
contemporâneo e as práticas culturais do nosso tempo têm sido definidas
de muitas maneiras: pós-modernidade, sociedades-em-rede, sociedade
pós-industrial, sociedade da informação e do conhecimento, sociedades de
consumo, sendo que tais denominações foram elaboradas no contexto das
mudanças porque passa o mundo na globalização.
É possível
identificar, no contexto da globalização econômica, o esvaziamento
político-social de algumas categorias tipicamente modernas: o
“estado-nação”, que enfraquecido, perde em controle econômico e fonte
social de identidades coletivas; a crise da ciência moderna, enquanto
razão universal, face à diversidade de tradições culturais
não-ocidentais; o deslocamento do eixo da economia industrial para o
âmbito da “informação”. O que se observa é um esforço dos cientistas
sociais e historiadores em compreender as consequências políticas,
culturais e éticas da formação de uma sociedade mundial.
A
cultura contemporânea em sua complexidade é simultaneamente
tecnocientífica e mística, global e local, tecnológica e tradicional,
democrática e fundamentalista, racional e dogmática. Assim sendo, ela
reflete as novas maneiras de “organizar os mundos sociais” os quais
estão ideologicamente fragmentados, esteticamente plurais, voltados ao
espírito de “seita” em desfavor da “religião oficial”, economicamente
integrados, interligados pelo regime tecnológico da comunicação em
redes, com a hegemonia crescente da cultura de consumo e finalmente
vivendo a crise de valores da atualidade: a perda das referências
nacionais, ideológicas, religiosas, filosóficas, políticas e éticas do
nosso tempo. Nestas rápidas considerações, temos algumas características
do cenário cultural contemporâneo.
Na nossa época, a sociedade em que vivemos, continua sendo influenciada pelos ideais iluministas: – o sentido social de pertencimento, –
as identidades culturais que partilhamos com os demais membros da
comunidade, ainda são constituídas por influência da nacionalidade que
nos abriga; – a imprensa, tornada possível pela reprodução
tipográfica de Gutenberg, foi a principal responsável pela criação da
“esfera pública burguesa”, este espaço democrático de livre intercâmbio
de informações e troca de mercadorias; – o mercado e o comportamento
econômico típicos da sociedade mundial, expansionista, integrada,
interdependente, hegemônica, são aspectos que tem origem nos ideais do
Pensamento Iluminista; – a crise do pensamento religioso, sua
precária legitimidade nas modernas sociedades de consumo, remete ao
processo de racionalização da vida social promovido pela ciência e
técnica modernas; – a necessidade política da divisão, autonomia e
equilíbrio dos três poderes (legislativo, executivo e judiciário) como
fator de manutenção do regime democrático, faz-nos voltar às páginas de
“L’Esprit des Lois” do Barão de Montesquieu, este precursor iluminista
da ciência política contemporânea; – o caráter secular do pensamento
(a laicização da cultura), segundo os Iluministas, uma etapa necessária
ao progresso da humanidade; finalmente, – a descoberta da “razão
histórica” (“leis da história” que controlam o devenir) que nos levaria
ao desenvolvimento econômico, social, político e individual, à plena
realização da “natureza humana”, da sua racionalidade, do seu progresso
intelectual.
Pelo visto, a influência do Iluminismo sobre o mundo
contemporâneo pode ser encontrada nos vários domínios da vida social.
Nós, os cidadãos das sociedades democráticas, com seus parlamentos, seu
estado de direito, sua economia de mercado, com o incrível avanço
tecnológico que logramos, somos herdeiros dos chamados filósofos das
luzes.
Se por um lado é possível associar a herança cultural do
Iluminismo ao progresso econômico e social, às liberdades políticas e
conquistas democráticas, ao estado de direito, às luzes da razão e da
técnica, ao declínio da concepção medieval do mundo (geocêntrica,
teocêntrica, clerical, arbitrária), por outro lado, é necessário
reconhecer o caráter secular (“desencantamento do mundo” - universo como
máquina) da herança intelectual do Iluminismo.
Em outras
palavras, a racionalização da visão de mundo europeia que surge com o
trabalho intelectual de iluministas como René Descartes, Francis Bacon,
Galileu, Kepler, Newton, promoveu uma cultura baseada na “secularização
da consciência”, na “geometrização do espaço” e no “mecanicismo
científico”. Estes aspectos da herança iluminista refletem o rompimento
com a Ideologia religiosa dominante e, por decorrência, a formação
daquilo que foi celebrizado e mitificado na modernidade como sendo a
“autonomia da razão”, as “luzes da razão”, uma concepção mecanicista,
materialista e desencantada do mundo, da vida e do universo.
Trata-se
do esvaziamento da alma do mundo, da sua explicação por razões
estritamente materiais, onde “a matéria explica a matéria” e o universo é
unidimensional. Assim, a ciência moderna esta filha legítima do
Iluminismo nasce do trabalho científico de Galileu, da aplicação do
cálculo aos fenômenos astronômicos e da física clássica desenvolvida
pelo físico inglês Isaac Newton. A partir deste modelo do universo
regido por leis matemáticas é estabelecido o “materialismo científico”, a
ciência objetivista e linear.
As principais teorias e concepções
científicas do século 19, o positivismo, o evolucionismo, o marxismo,
tiveram a marca do legado iluminista, ao mesmo tempo progressista,
racionalista e experimental. A imagem do mundo projetada por esta
cultura científica não contemplava a possibilidade de qualquer realidade
fora do domínio “material”. Ou seja, a “matéria objetiva” era a “única
dimensão” que poderia ser explicada através do experimento em
laboratório, da verificabilidade racional das causas dos fenômenos
naturais, do controle de suas variáveis por meio do cálculo, da
comprovação das leis que regem os fenômenos naturais, físicos,
biológicos ou sociais.
Neste contexto do século das luzes, na
França onde o Iluminismo assumiu sua feição intelectual mais vigorosa, o
Espiritismo é elaborado pelo iluminista-romântico Allan Kardec. No
“Caráter da Revelação Espírita”, verdadeiro tratado de epistemologia do
Espiritismo, Kardec define que a natureza deste último: “É, pois,
rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de
observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram
progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o
método experimental; até então, acreditou-se que esse método também só
era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas”.
(Kardec, 1990:20)
Pelo que se observa neste trecho do capítulo I
do livro “La Genèse, Les Miracles et Les Prédictions Selon le
Spiritisme”, publicado em Paris aos 6 de janeiro de 1868, torna-se
evidente a herança intelectual Iluminista do Espiritismo.
Na
segunda metade do século 19 — período do trabalho intelectual-espírita
de Allan Kardec (1854 a1869) — já era do domínio científico as
principais noções, metodologias e conceitos que foram trazidos pelo
Iluminismo: a teoria do progresso da natureza humana, a racionalidade e a
experimentação como métodos da Ciência, a racionalização da vida
social, a noção de leis universais que regem o desenvolvimento da
humanidade, o evolucionismo biológico, as noções de contrato social,
educação racional, legalismo e estado de direito, justiça social,
direitos individuais e outras.
Conforme visto acima, Allan Kardec
não apenas reconhecia o papel fundamental do método positivo no avanço e
consolidação da ciência moderna, como também desenvolveu procedimentos
para empregar tal método em seus estudos dos fenômenos espíritas.
Vivendo à época da ciência positiva, contemporâneo de Augusto Comte,
Kardec soube submeter à observação os fatos espíritas objetivos, à
comparação, os dados e informações espirituais, aplicar o princípio
classificatório na escala espírita, encontrar a causalidade racional dos
fenômenos mediúnicos através de estudo rigoroso das suas várias
hipóteses de explicação, manter os conceitos espíritas na racionalização
lógica e coerente.
Observando o aspecto metodológico do trabalho
investigativo de Allan Kardec, é possível constatar a significativa
influência das principais vertentes do pensamento iluminista
(racionalismo, experimentalismo, evolucionismo) sobre o Espiritismo.
Todavia,
não apenas no método de elaboração o Espiritismo é herdeiro do
pensamento iluminista, o é também em toda a teoria espírita. Em “O Livro
dos Espíritos”, obra que contém a formulação da codificação kardeciana
resumida em capítulos, encontramos a sua parte terceira dedicada
exclusivamente às “Leis Morais”, todas elas concebidas, estudadas,
utilizadas e defendidas pelo Iluminismo. Pensadores como Rousseau no seu
“O Contrato Social”, Montesquieu em “O Espírito das Leis”, Maquiavel em
“O Príncipe”, Descartes em “O Discurso do Método”, Voltaire, Diderot e
muitos outros Iluministas escreveram sobre as “Leis históricas do
devenir”, Leis da sociedade, Lei do Progresso, de Igualdade, de
Liberdade, de Justiça e outras.
A noção de Leis da História, do
desenvolvimento da humanidade, do aperfeiçoamento racional da natureza
humana, do progresso da sociedade, foram ideias fundamentais ao
pensamento e práxis do movimento intelectual e político das Luzes. A
Visão que o Espiritismo proporciona da evolução da humanidade é, neste
sentido das leis, iluminista, uma abordagem não teológica do progresso,
que rompe com a ideia da suposta intervenção constante e pessoal de Deus
na História.
Ao contrário disso, o Espiritismo assume uma feição
naturalista, isto é, concebe a evolução da vida e da humanidade por
meio de leis naturais, entre elas a reencarnação e a influência
recíproca dos diferentes planos da vida. A Teologia conheceu a sua maior
crise na modernidade exatamente porque ignorava as leis naturais, todas
elas divinas e progressivamente conhecidas pela humanidade.
Portanto,
o caráter iluminista do Espiritismo aparece no seu método, na sua
compreensão da transformação da sociedade através da mudança do nível de
consciência e da irresistível força do progresso (moral, social,
antropológico), bem como no conhecimento racional das leis espirituais,
sua aplicação no campo psicológico, das crenças, dos usos sociais, das
instituições e dos valores econômicos, políticos e culturais.
Em
verdade, Allan Kardec, respirando o clima cultural da França do século
das luzes, soube transcendê-lo. Trabalhando com um modelo epistemológico
que estava à frente de seu tempo, Kardec desenvolveu, no diálogo com os
espíritos, uma racionalidade aberta, complexa, integrada, que reunia
interpretações filosóficas, dados objetivos da ciência de sua época,
relatos etnográficos dos espíritos, empatia espiritual e a vivência de
uma consciência religiosa autêntica e profunda.
Enquanto o modelo
da ciência positiva instaurou o império da “razão objetiva”,
unidimensional e mecanicista, passando a considerar todo o conhecimento
religioso um fóssil do passado, Allan Kardec, no intercâmbio com os
“mortos”, descobrira formas de vida e matéria em outras frequências e
planos. Deste diálogo com o desconhecido, foi possível desfazer o
aparente abismo da transcendência.
Desta forma, Allan Kardec com
sua infidelidade ao paradigma cientificista da sua época, soube
construir uma nova ciência, uma nova linguagem, que em muito superou os
condicionamentos da ciência newton-cartesiana. Afinal, descrever formas
de matéria cujo grau de eterização rompia com a física corpuscular de
Newton, em pleno século 19, significou avançar na direção de uma
Concepção Quântica do Universo.
Sendo assim, o Espiritismo é por
um lado iluminista, em seu conhecimento racional das leis que regem a
evolução bio-psico-sócio-espiritual do gênero humano e por outro, é
herdeiro da tradição filosófica do Romantismo, reencantando o mundo com
os valores espirituais, com o amor e a fraternidade universais, com o
significado profundo de cada nível evolutivo, em cada reencarnação, em
cada ser, em toda individualidade, em diferentes esferas e manifestações
da vida, na grande teia do universo que não é outra coisa senão o
pensamento de Deus.
O Espiritismo nasceu com a modernidade, no
berço cultural da nova civilização industrial e democrática, na França
da segunda metade do século 19 e, por consequência, disso traz em sua
identidade a marca cultural desse contexto, sua síntese e superação.
Graças ao espírito transcendental do pensamento de Kardec, a metodologia
original que desenvolveu no estudo dos fenômenos espirituais (análise
sintética, interface entre racionalidade e transcendência, verificação
experimental e diálogo transcendental com os espíritos, análise dos
fatos mediúnicos e interpretação complexa dos fenômenos espirituais em
suas múltiplas dimensões), foi possível ao construtor do Espiritismo uma
atitude intelectual autônoma face às limitações do materialismo
filosófico e científico (Marxismo e Positivismo), ao dogmatismo
religioso e a crença tradicionalista na fé cega (cristandade
tradicional), SOUZA.
A busca pelo desenvolvimento, seja dos
países capitalistas ou mesmo ditatoriais, consiste em criar um complexo
industrial sob o controle do Estado e suas burocracias; mantido pelos
verdadeiros intelectuais que auxiliam no desenvolvimento da ciência,
tecnologia, produz a literatura, a arte que domina os meios de
comunicação.
Os complexos industriais, estatais e “intelectuais”
constituem a força dominante dos países nesse século com a predominância
em alguns dos governos, da força estatal e em outros das corporações
industriais e até mesmo do aparelho militar.
Independentemente
do rótulo de democracia capitalista ou socialista que detenham, todos
buscam expandir seus domínios políticos , econômicos e sociais e com
isso explorar sem medidas a natureza, os outros países e os seres
humanos com características de expansão e exploração.
O objetivo do desenvolvimento é o de conseguir um tipo de vida que se convencionou chamar de “boa vida”, que se caracteriza por: – eliminar os trabalhos braçais, pesados ou sujos, bem como o caminhar; – utilizar: roupas, aparelhos para o conforto extremo, inclusive na presença de alterações climáticas( conforto material ); –
privacidade no sentido de evitar as coisas de uso coletivo, eliminando a
diversidade e encorajando os indivíduos a encapsular-se nos grupos
iguais, da mesma classe social, profissão, raça, religião e/ou
retirar-se em família; – amar o diferente, o estrangeiro, ouvir novas ideias, exigir um esforço de tolerância para o qual não se é educado; –
em relação à segurança utilizar todo um aparato militar, seguro de vida
e outros que preservam esse conforto, a privacidade, e o trabalho não
braçal de forma a manter-se cada vez mais preservado tudo aquilo que as
pessoas conseguiram ou a maioria, sendo a segurança direcionada para a
elite ou para a maioria da população relacionada ao enfoque político de
cada país e/ou grupo social.
Foram as estruturas sociais que
estabeleceram ao longo da história, através da força e da imposição, o
cultivo de metas e valores, os quais estruturam a ideologia dessa mesma
sociedade.
A estrutura ideológica das sociedades do final do século 20, tem por base os seguintes princípios: –
hierarquia entre os países, os povos e as famílias; aos superiores cabe
o domínio, a decisão, a imposição de seus interesses, os quais,
irradiam suas determinações para a base ou periferia; – progresso pelo crescimento, expansão e exploração leva à crise, conflitos e guerras; –
conhecimento considerado verdadeiro, é obtido de forma dedutiva,
dicotômica e atomística, as coisas são analisadas separadamente; – as relações pessoais são verticais e hierárquicas, competitivas e exploratórias; – as relações com a natureza são de dominação e exploração.
O
mau desenvolvimento dos países se reflete na sociedade, nos seres
humanos, na natureza, nas estruturas comerciais e na sobrevivência.
Na Sociedade: A
superprodução, com a mecanização, a informatização e a falta de
abastecimento, leva consequentemente ao desemprego, ao trabalho reduzido
e à ociosidade. A distribuição é desigual, há injustiça por sexo e
idade, os custos recaem sobre os mais pobres. As instituições e
empresas tendem à centralização, ao aumento, tornando-se setorizadas.
Promovem a autoexploração, as pessoas trabalham mais, não participam das
decisões, não avaliam os resultados e só executam ordens, além de
trabalharem acima da sua capacidade física e mental e, consequentemente,
ficam esgotadas e doentes. O espectadorismo se reflete no isolamento
da juventude e da velhice. As pessoas são mantidas como espectadores no
esporte, só assistindo, na arte, vendo, nada para participar, realizar,
conviver, ser envolvido. Em relação à cultura, a qual domina e é
imposta, levando ao desprezo das culturas próprias dos povos indígenas e
minorias, isto leva a eliminá-las ou destruí-las.
Nos Seres Humanos: –
o corpo: mergulhado no sistema social, trabalhando em serviços
desinteressantes, desestimulantes e sem convivência afetiva, desenvolve
doenças próprias do sistema como: moléstias cardiovasculares; câncer,
enfermidades crônicas, agravadas pela falta de exercícios físicos e
alimentação incorreta. – a mente: propícia a desordens mentais, suicídios e enfermidades crônicas. –
o espírito: em consequência da despersonalização imposta pelo trabalho,
pela falta de convivência entre as pessoas, especialmente de idades
variadas e diferentes grupos sociais, étnicos e culturais, apáticos, com
desesperança, refletem a falta de sentido na vida.
Na Natureza: A
destruição dos ecossistemas, pela falta de respeito às limitações
naturais na busca pelo desenvolvimento, destrói e maltrata a terra, que
perde a capacidade de reconstituição e torna a vida consequentemente
impossível aos serem que a habitam.
Nas Estruturas Comerciais Mundiais: Considerando que a sociedade deve perpetuar a sua hierarquia e reproduzir o seu sistema de expansão e exploração,
mantendo-os, cria-se, através de marketing agressivo, necessidades para
os povos dependentes e para o homem em sua individualidade. Ficando o
consumidor a serviço da produção, ou seja, com o objetivo de aumentar as
suas necessidades para alimentar o sistema. Assim, a ideia de que a
produção e o consumo sejam decisivos a partir das necessidades reais das
pessoas é uma ideia considerada subversiva, pois levaria a uma gestão
econômica de que o máximo das necessidades se fizesse com um mínimo de
trabalho, de capital e de recursos naturais. Fazer mais e viver
melhor com menos, com produtos duráveis que poderão ter por muito tempo,
daria ao ser humano possibilidades de se desenvolver como pessoa, ao
invés de se preocupar em ter mais coisas e/ou coisas novas, segundo
necessidades criadas artificialmente.
Na Sobrevivência: As crises mundiais, segundo o modelo econômico que produzem discrepâncias derivam: – da grande produção, sem mercado; – da ameaça da competição entre países ou instituições; – das guerras de comércio, que fomentam guerras locais com motivos religiosos ou não.
Propostas
de mudanças na resolução de sintomas ou problemas criados pelo
desenvolvimento que busca essa “boa vida”, surgem na estrutura social
para resolvê-los, mas sem mudar de paradigma, ou seja, mantendo o par: expansão x exploração, reforçando a estrutura e a ideologia.
As
bases para as soluções são tentadas pelos governos socialistas ou
capitalistas, com pequenas diferenças quanto à ênfase em um ou outro
tipo de solução, que apenas mascaram ou encobrem os problemas.
O
poder tem sido exercido quase sempre de maneira autoritária,
centralizadora, subjugando povos inteiros e manipulando a consciência
humana, impondo regras para os costumes e os comportamentos sociais.
Mesmo
assim, e apesar disso, o livre-arbítrio e a liberdade individual têm
sido o ideal e a esperança desejada por todos os povos e, sempre que
essas condições deixaram de ser respeitadas, ultrapassando-se o grau de
liberdade, o direito de cada um e as tradições de cada povo, o Homem se
aviltou e a suja sociedade sucumbiu.
Talvez, angustiado pela sua
fragilidade e perplexo diante da Natureza que o cerca, o homem
desenvolveu um caráter místico e transcendente. Ao criar suas tradições e
crenças religiosas, ele estabeleceu regras que disciplinaram a ética e a
moral fazendo-o distinguir o comportamento certo do errado e o objeto
sagrado do profano.
Porém, a maioria das religiões que deveriam
abrir a mente humana favorecendo as conquistas espirituais para todos,
quase sempre, se constituiu em doutrinas sectárias que estabeleceram
limites rígidos de liberdade física e psicológica. E, quase todas,
criaram um sistema de troca de favores com Deus ou com suas divindades,
ignoraram o princípio de igualdade entre os homens perante Deus,
estabelecendo um sistema hierárquico entre seus sacerdotes e uma escala
de privilégios entre seus seguidores.
Por isso, ainda hoje, o
fanatismo religioso serve de argumento para oprimir e segregar a mulher
nos países muçulmanos, para separar em dezenas de grupos o mesmo povo na
Índia, ou para guerrear e matar na Palestina.
Na atualidade,
uma transformação social profunda através da religião só ocorrerá quando
cada um por si mesmo realizar sua reforma interior. O homem terá que
desenvolver sua segurança através da sua autoconfiança. Ele terá que se
libertar das amarras culturais e dos preconceitos, de mitos, crendices e
dos estigmas sociais. Ele terá que saber que pode aprender de tudo, mas
só deverá vivenciar o melhor.
Ele terá que evoluir por
experiência própria e decidir por si mesmo os seus caminhos e as suas
companhias. Suas relações com seus semelhantes e com o meio onde respira
a vida deverão ser de cordialidade, de cooperação, de parceria
solidária uns com os outros.
Por enquanto, o homem ainda vive e
convive com os mesmos costumes primitivos que colocam uns contra os
outros, na disputa do poder, na ostentação de valores materiais ou na
permissividade de vícios ou paixões sem limites.
Nas últimas
décadas, transformações sociais gigantescas e rápidas ultrapassaram
qualquer previsão calculada e atropelaram qualquer controle político ou
cultural. Curiosamente, ao lado de ganhos tecnológicos espantosos, o
homem atual vive um paradoxo de perdas morais. Dispondo de conhecimentos
para alimentar todos os que têm fome, ele se entrega à fartura,
aumentando a mortalidade pela obesidade por comer demais. Contando com
pílulas para controlar a concepção, ele descontrola a licenciosidade
sexual e aumenta o número de adolescentes grávidas. Conhecendo as drogas
que sanearam a loucura, esvaziando os hospícios, aumentam os que
consomem drogas na rua, exigindo, pela violência, que os que são sadios
se tranquem em casa para não morrerem.
Decodificando o DNA para
identificar com precisão a paternidade, desconhecemos qualquer código
moral que nos oriente no que fazer com milhares de embriões de proveta,
que permanecerão sem pais. Mesmo conhecendo os primores da técnica
cirúrgica que embeleza, optamos, muitas vezes, por matar um feto
malformado.
O mesmo “laser” que “opera” na sala de cirurgia, para salvar vidas, é usado para matar nas “operações de guerra”.
A
televisão, que difunde cultura e divertimento, ensina as técnicas para
matar, os golpes para roubar, as mentiras para enganar, estimula o sexo
sem compromisso e exalta a família dissoluta, desunida, sem raízes e que
debocha das tradições.
O computador hoje está no endereço de
todas as casas, a Internet destina a correspondência a todos os cantos
da Terra, mas o homem parece que perdeu o endereço da sua consciência,
do seu Deus e possivelmente do seu futuro.
Permanecemos com a
mesma fragilidade de antes porque sabemos escrever apenas a estória do
nosso ontem. Já desvendamos milhões de anos sobre o nosso comportamento
social, na mais remota Antiguidade e nos dias contemporâneos, mas somos
incapazes de determinar com certeza como será nosso próximo minuto, e
menos ainda o nosso amanhã.
Resta-nos a esperança de uma nova era
de transformações sociais mais profundas, que está para ocorrer com
base nos valores transcendentes do ser humano, e com direito a todos de
usufruí-la.
Herculano Pires, em “O Espírito e o Tempo”, diz: “O
Espiritismo não é nem pretende ser uma religião social, pelo que não
disputa um lugar entre as igrejas e as seitas, mas quer ajudar as
religiões a completarem a sua obra de espiritualização do mundo”.
As
mudanças radicais que colaboram para o acelerado avanço das tecnologias
provocam e continuam gerando mudanças no perfil das pessoas, pelo
estonteante desenvolvimento das mesmas e do acelerado volume de
informações a que se tem presenciado.
A antiga ordem das
representações e dos saberes oscila para dar lugar ao imaginário, modos
de conhecimento e estilos de regulação social, ainda pouco
estabilizados, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de
humanidade inventado, segundo Pierre Lévy, em “As Tecnologias da
Inteligência”.
As tecnologias da informação, certamente, têm uma
participação importante no processo de aumento do nível de informação
que as pessoas atualmente têm apresentado a algumas décadas, o que pode
facilitar o acesso e aumentar o esclarecimento de uma parcela da
sociedade sobre certos princípios religiosos que pressupõem a abolição
do raciocínio e do livre-arbítrio. O que poderá colaborar para um
aprofundamento sobre o Espiritismo, por parte daquele que se dizem
espíritas e também atrair outros que têm alguma informação sobre o
caráter racional do Espiritismo.
A sociedade da informação seria
uma resposta à dinâmica da própria sociedade, dentro de um enfoque
sistêmico, onde a interdisciplinaridade é fundamental.
Sabe-se
que os centros espíritas recebem muitos aflitos, domesticados e
assustados com todo esse processo de desenvolvimento e esclarecimento,
muitas vezes não coerentes com as formações específicas das religiões no
mundo e, principalmente, no Brasil.
Diante desse “público”, o
Espiritismo deve estar preparado para apresentar, através do diálogo,
seus princípios verdadeiros, ou melhor, a conduta do verdadeiro
espírita: aquele que abraça uma religião em profundidade mas sem ter a
garantida da salvação pela obediência, sendo ele responsável pela
própria sorte.
“O atendimento fraterno se caracteriza por aquela
recepção que sabe ouvir, entender e encaminhar de forma positiva e sem
promessas, ofertando a doutrina do Espiritismo que esclarece e conforta,
mas sem obrigar ninguém a seguir esta ou aquela recomendação, decisão
essa de foro íntimo de cada um”.
Para esse atendimento são
necessários: Boa vontade; ouvidos para ouvir; conhecimento doutrinário;
conhecimento do centro espírita, noções de psicologia, falar apenas
quando necessário, incentivando-o a conhecer a doutrina. Aqueles, em sua
maioria, cidadãos conscientes que aceitam, em poucas palavras,
reconhecer que toda a sua sorte presente é o resultado de suas obras
passadas e que a condição de seu futuro, sob as regras do
livre-arbítrio, dependem igualmente de suas ações.
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São Paulo, 1996. p.129-144. O Espiritismo frente ao Homem da “Sociedade da Informação”. Novidades: Jornal Mundo Espírita, Portal do Espírito. 2003. ELAINE M. Reflexões teóricas e históricas sobre o Espiritualismo entre 1850-1930. cópia xerox, Dept. História. FCH. UNICAMP - abril 1997. SOUZA, Denizard de. Espiritismo e Iluminismo. ABRADE- Associação Brasileira dos Divulgadores do Espiritismo. DF - 2002. O Espiritismo e a Cultura Contemporânea. ABRADE- Associação Brasileira dos Divulgadores do Espiritismo. DF, 2002
Fonte:
União das Sociedades Espíritas (USE) de Ribeirão Preto-SP. Material de
apoio a palestras, coordenado pelo departamento de orientação
doutrinária. URL: [http://www.userp.org.br/roteiros_2007.asp]
Maria Solange Guarino Tavares,
dirigente da USE de Ribeirão Preto-SP, possui graduação, mestrado,
doutorado e pós-doutorado em enfermagem pela Universidade de São Paulo
(USP). Atualmente é professora titular da Faculdade de Medicina do
Triângulo Mineiro e professora titular da USP. E-mail: marciacr@eerp.usp.br
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