sábado, 13 de novembro de 2010

A CRIADA HANYO - 1960 - KI-YOUNG KIM


A CRIADA HANYO
1960
KI-YOUNG KIM


SINOPSE:
Thriller que conta a história de um professor de piano rígido e moralista que um belo dia sucumbe aos encantos de sua empregada doméstica. E o que podia ser apenas um mau passo na vida desse homem, acaba se tornando um drama que arrasta toda a família, com consequências realmente assustadoras para todos.




LEGENDAS PT/BR EXCLUSIVAS


MAIS UMA PARCERIA ENTRE OS BLOGS: CINE-CULT-CLASSIC E Don't Panic!

SOBRE:
Esta obra-prima deKim Ki-young realizada em 1960 deve ser vista na primeira oportunidade possível - se você tiver a sorte. Este conto moral em preto e branco é uma comédia de humor negro puro, um conto quase exagerado de um respeitável professor de música, cuja vida é complicada, por uma aluna que se apaixona por ele. O tom não é diferente de um drama deliciosamente escabroso .A empregada quase tem prazer em mostrar a erosão gradual da moralidade e da corrosividade do pecado. As falas, estranhas, algumas manuscritas, apenas contribuem para a atmosfera. E prepare-se para um final que vai deixar você de queixo caído por alguns dias. O filme é um milagre.

Começando com um olhar realista da Coréia do Sul em 1960 centrado em uma família em ascensão, a trama se volta para um conto histérico e expressionista, de pecado corrosivo e decepção. A transformação do romance de uma noite chuvosa em uma grandiosa erradicação moral é uma das voltas mais impressionantes de atmosfera que eu já vi em um filme. Igualmente surpreendente é a sua visão das mudanças dos personagens, dramaticamente, à medida que são confrontados com este inferno. A atriz que interpretou a empregada, Lee Eun-calço, cumpriu seu papél tão bem, que ela não conseguia mais encontrar trabalho depois desse filme. Expectadores literalmente gritavam por sua morte nas primeiras exibições! Ver este filme só por ela, já vai fazer você não se arrepender!

Não é de se adimirar que um crítico chamou o diretor Kim de"Douglas Sirk com ácido" . Enquanto o público ocidental pode rir de algumas situações exageradamente melodramáticas, este filme, no entanto, é muito selvagem para os anos 60, e consegue ser chocante e inesquecível. (Tem também uma das grandes cenas de morte já apresentadas pelo cinema).

O DIRETOR KI-YOUNG KIM:
A primeira expressão, madura, do estilo de Kim Ki-young estava em seu “A Criada” (1960), que apresentou uma personagem femme fatale poderosa. É amplamente considerado um dos melhores filmes coreanos de todos os tempos. Depois de uma "Idade de Ouro" durante os anos 1960, a década de 1970 foi um ponto baixo na história do cinema coreano por causa da censura governamental e uma diminuição do interesse público. No entanto, trabalhando independentemente, Kim produziu algumas de suas mais excêntricas criações cinematográficas nesta época. Filmes como Mulher Inseto (1972) e Iodo (1977) foram sucesso na época e muito influente nas gerações mais novas de cineastas sul-coreanos, tanto em sua época de lançamento, como em sua redescoberta anos mais tarde. Na década de 1980, a popularidade de Kim entrou em declínio, e sua produção diminuiu na segunda metade da década. Negligenciado pelo mainstream durante a maior parte dos anos 90, Kim se tornou uma figura de culto em fóruns de cinema sul-coreano na Internet no início de 1990. A atenção internacional em seu trabalho foi estimulado por uma retrospectiva da carreira em 1997 no “Pusan International Film Festival”. Filmes de Kim, anteriormente pouco conhecidos ou completamente desconhecidos fora da Coréia do Sul, mostraram entusiasmo e ganhou novas audiências no Japão, nos Estados Unidos, na Alemanha, na França e outros lugares. Ele estava preparando um filme para sua volta, quando juntamente com sua esposa foram mortos em um incêndio em 1998. O Festival Internacional de Berlim deu a Kim uma retrospectiva póstuma em 1998, e a Cinemateca Francesa selecionou 18 filmes de Kim, alguns recém-redescobertos e restaurados, em 2006. Através dos esforços do Conselho de Cinema Coreano (KOFIC), filmes anteriormente perdidos de Kim Ki-young continuam à ser redescobertos e restaurados. Muitos dos atuais proeminentes cineastas sul coreanos, incluindo diretores como Im Sang-soo, Kim Ki-duk, Joon-ho Bong e Park Chan-wook, alegam a influência de Kim Ki-young em suas carreiras.


ELENCO:
Eun-shim Lee
Jeung-nyeo Ju
Jin Kyu Kim
Sung-kee Ahn
Aeng-ran Eom
Seok-je Kang
Seon-ae Ko
Jeong-ok Na

FICHA:

Título Original: Hanyo
País De Origem: Coréia do Sul
Ano De Lançamento: 1960
Gênero: Terror / Drama / Thriller
Duração: 1h 51Min
Idioma: Coreano

DADOS DO ARQUIVO:

Qualidade: DVDRip
Formato: AVI
Tamanho: 1.20 GB
Legenda: Português/BR (Separadas)
Servidor: Megaupload

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Venezuela aprova projeto que facilita nacionalização dos bancos

  Por Redação do Correio do Brasil, com Reuters - de Caracas

Parlamentares venezuelanos aprovaram na última quinta-feira em primeira votação um projeto que facilita a nacionalização dos bancos e exige que eles destinem 5% dos seus lucros a entidades sociais.
chavez
Chávez já aumentou a presença do Estado em várias áreas da economia, especialmente petróleo, eletricidade e telecomunicações
Nas últimas semanas, o presidente Hugo Chávez tem acelerado sua meta de construção de um Estado socialista, mas poucos acreditam que ele irá estatizar de uma vez o sistema bancário. O mais provável é que ele busque aumentar a participação governamental no setor.
- Qualquer banco privado que não se submeter à lei, que seja nacionalizado -, disse Chávez, brandindo um exemplar da Constituição numa reunião ministerial transmitida pela TV na última quinta-feira. Ele estava se referindo a outra lei, que obriga os bancos a financiarem projetos habitacionais.
Parlamentares chavistas dizem que o novo projeto adequa o setor bancário aos planos de desenvolvimento do governo, e protege os correntistas ao adotar regras mais rígidas.
- O espírito da nossa lei é proteger os usuários, não os banqueiros, como costumava acontecer -, disse o deputado Ricardo Sanguino, presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional.
Não há data marcada para a segunda votação, mas ela pode acontecer já na semana que vem.
O projeto simplifica o processo de aquisição e fechamento de bancos falidos, permitindo que o presidente autorize pessoalmente essas medidas. Aparentemente, também os declara como de “utilidade pública”, status que habitualmente antecede as estatizações.
Em quase 12 anos no poder, Chávez já aumentou a presença do Estado em várias áreas da economia, especialmente petróleo, eletricidade e telecomunicações. Os bancos estatais já constituem cerca de um terço do sistema bancário na Venezuela.
Em 2009, o governo adquiriu o Banco Venezuela, um dos maiores do país, que pertencia ao espanhol Santander. Nos últimos 12 meses, o Estado assumiu vários bancos menores em dificuldades.
Depois de ter sua maioria parlamentar reduzida nas eleições de setembro, Chávez está acelerando a tramitação de projetos antes da posse dos novos deputados, em janeiro.
Se a lei for aprovada, os bancos terão de entregar 5% dos seus lucros para os chamados “conselhos comunitários”, mas poderão optar por fazer essas doações a outras entidades beneficentes.
O projeto estabelece também multas de até 5% do capital do banco e longas penas de prisão em casos de fraude.

Ainda sobre o ENEM...

Nicolelis: Só no Brasil a educação é discutida por comentarista esportivo

por Conceição Lemes no Viomundo

Desde o último final de semana, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Ministério da Educação (MEC) estão sob bombardeio midiático.
Estavam inscritos 4,6 milhões estudantes, e 3,4 milhões  submeteram-se às provas.  O exame foi aplicado em 1.698 cidades, 11.646 locais e 128.200 salas.  Foram impressos 5 milhões de provas para o sábado e outros 5 milhões para o domingo. Ou seja, o total de inscritos mais de 10% de reserva técnica.
No teste do sábado, ocorreram  dois erros  distintos. Um foi assumido pela gráfica encarregada da impressão. Na montagem, algumas provas do caderno de cor amarela tiveram questões repetidas, ou numeradas incorretamente ou que faltaram. Cálculos preliminares do MEC indicavam que essa falha tivesse afetado cerca de 2 mil alunos. Mas o balanço diário tem demonstrado, até agora, que são bem menos: aproximadamente 200.
O outro erro, de responsabilidade do Inep, foi no cabeçalho do cartão-resposta. Por falta de revisão adequada, inverteram-se os títulos. O de Ciências da Natureza apareceu no lugar de Ciências Humanas e vice-versa. Os fiscais de sala foram orientados a pedir aos alunos que preenchessem o cartão, de acordo com a numeração de cada questão, independentemente do cabeçalho. Inep é o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, órgão do MEC encarregado de realizar o Enem.
“Nenhum aluno será prejudicado. Aqueles que tiveram problemas poderão fazer a prova em outra data”, tem garantido desde o início o ministro da Educação, Fernando Haddad. “Isso é possível porque o Enem aplica  a teoria da resposta ao item (TRI), que permite que exames feitos em ocasiões diferentes tenham o mesmo grau de dificuldade.”
Interesses poderosos, porém, amplificaram ENORMEMENTE os erros para destruir a credibilidade do Enem. Afinal, a nota no exame é um dos componentes utilizados em várias universidades públicas do país para aprovação de candidatos, além de servir de avaliação parabolsa do PRO-UNI.
“Só os donos de cursinhos e aqueles que não querem a democratização do acesso à universidade podem ter algo contra o Enem”, afirma, indignado, ao Viomundo o neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos EUA, e fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte. “Eu vi a entrevista do ministro Fernando Haddad ao Bom Dia Brasil, TV Globo. Que loucura!  Como  jornalistas  que num dia falam de incêndio, no outro, de escola de samba, no outro, ainda, de esporte, podem se arvorar em discutir um assunto tão delicado como sistema educacional? Pior é que ainda se acham entendedores. Só no Brasil educação é discutida por comentarista esportivo!”
Nicolelis é um dos maiores neurocientistas do mundo. Vive há 20 anos nos Estados Unidos, onde há décadas existe o SAT (standart admissions test), que é muito parecido com o Enem. Tem três filhos. Os três já passaram pelo Enem americano.
Viomundo — De um total de 3,4 milhões de provas aplicadas no sábado, houve problema incontornável em menos de 2 mil. Tem sentido detonar o Enem, como a mídia brasileira tem feito? E dizer que o Enem fracassou, como um ex-ministro da Educação anda alardeando?
Miguel Nicolelis — Sinceramente, de jeito algum — nem um nem outro. O Enem é equivalente ao  SAT, dos Estados Unidos. A metodologia usada nas provas é a mesma: a teoria de resposta ao item, ou TRI, que é uma tecnologia de fazer exames.  O SAT foi criado  em 1901. Curiosamente, em outubro de 2005, entre as milhões de provas impressas, algumas tinham problema na barra de códigos onde o teste vai  ser lido.  A entidade que  faz o exame não conseguiu controlar, porque esses erros podem acontecer.
Viomundo — A Universidade de Duke utiliza o SAT?
Miguel Nicolelis — Não só a Duke, mas todas as grandes universidades americanas reconhecem o SAT. É quase um consenso nos Estados Unidos. Apenas uma minoria é contra. E o Enem, insisto, é uma adaptação do SAT, que é uma das melhores maneiras de avaliação de conhecimento do mundo. O teste é a melhor  forma de avaliar uniformemente alunos submetidos a diferentes metodologias de ensino. É a saída para homogeneizar a  avaliação de estudantes provenientes de um sistema federativo de educação, como o americano e o brasileiro,  onde os graus de informação, os métodos, as formas como se dão, são diferentes.
Viomundo — Qual a periodicidade do SAT?
Miguel Nicolelis –  Aqui, o exame é aplicado sete vezes por ano. O aluno, se quiser, pode fazer três, quatro, cinco, até sete, desde que, claro, pague as provas. No final, apenas a melhor é computada. Vários estudos feitos aqui já demonstraram que o SAT é altamente correlacionado à capacidade mental geral da pessoa.
Todo ano as provas têm uma parte experimental. São questões que não contam nota para a prova. Servem apenas para testar o grau de dificuldade. Outro peculiaridade do sistema americano é a forma de corrigir a prova. É desencorajado o chute.
Viomundo — Explique melhor.
Miguel Nicolelis — Resposta errada perde ponto, resposta em branco, não. Por isso, o aluno pensa muito antes de chutar, pois a probabilidade de ele errar é grande. Então se ele não sabe é preferível não responder do que correr o risco de responder errado.
Viomundo –  Interessante …
Miguel Nicolelis – Na verdade,  o SAT é  maneira  mais honesta, mais democrática de avaliar pessoas de  lugares diferentes, com sistemas educacionais diferentes,  para tentar padronizar o ingresso. Aqui, nos EUA, a molecada faz o exame e manda para as faculdades que querem frequentar. E as escolas decidem quem entra, quem não entra. O SAT é um dos componentes para essa avaliação.
Viomundo — Aí tem cursinho para entrar na faculdade?
Miguel Nicolelis — Tem para as pessoas aprenderem a fazer o exame, mas não é aquela loucura da minha época. Era cheio de cursinho para todo lugar no Brasil. Cursinho  é uma máquina de fazer dinheiro.  Não serve para nada a não ser para fazer o exame. Por isso ouso dizer: só os donos de cursinho e aqueles que não querem democratizar o acesso à universidade podem ter algo contra o Enem.
Viomundo –Mas o fato de a prova ter erros é ruim.
Miguel Nicolelis — Concordo. Mas os erros vão acontecer.  Em 1978, quando fiz a Fuvest (vestibular unificado no Estado de São Paulo), teve pergunta eliminada, pois não tinha resposta.  Isso acontece desde o tempo em que havia exame para admissão [ao primeiro ginasial, atualmente 5ª série do ensino fundamental)  na época das cavernas (risos). Você não tem exame 100% correto o tempo inteiro.
Então, algumas pessoas estão confundindo uma metodologia  bem estudada, bastante conhecida e aceita há décadas,   com problemas operacionais que acontecem em qualquer processo de impressão de milhões de documentos. Na dimensão em que aconteceram no Brasil está dentro das probabilidade de fatalidades.
Viomundo -- Em 2009, também houve problema, lembra-se?
Miguel Nicolelis -- No ano passado foi um furto, foi um crime. O MEC não pode ser condenado por causa de um assalto, que é uma contigência e nada tem a ver com a metodologia do teste.
Só que, infelizmente, gerou problemas operacionais para algumas universidades, que não consideraram a nota do Enem nos seus vestibulares. Isso não quer dizer que elas não entendam ou nãoaceitam o teste. As provas do Enem são muito mais democráticas, mais  racionais e mais bem-feitas do que os vestibulares de qualquer universidade brasileira.
Eu fiz a Fuvest. Naquela época, era muito ruim. Não media nada. E, ainda assim, a gente teve de se sujeitar àquilo, para entrar na faculdade a qualquer custo.
Viomundo -- Fez cursinho?
Miguel Nicolelis -- Não. Eu tive o privilégio de estudar numa escola privada boa. Mas muitas pessoas que não tinham educação de alto nível eram obrigadas a recorrer ao cursinho para competir em condições de igualdade.
Mas o cursinho não melhora o aprendizado de ninguém. Cursinho é uma técnica de aprender a maximizar a feitura do exame. É quase um efeito colateral do sistema educacional absurdo que  até recentemente tínhamos no Brasil. É um arremedo. É um aborto do sistema educacional que não funciona.
Viomundo -- Qual a sua avaliação do Enem?
Miguel Nicolelis -- É um avanço tremendo, porque a longo prazo a repetição do Enem várias vezes por ano vai acabar com o estresse do vestibular. Você retira o estresse do vestibular. Na minha época, e isso acontece muito ainda hoje, o jovem passava os três anos esperando aquele "monstro". De tal sorte, o vestibular transformava o colegial numa câmara de tortura. Uma pressão insuportável. Um  inferno tanto para os meninos e meninas quanto para as famílias. Além disso,  um sistema humilhante, porque as pessoas que não podiam frequentar um colégio privado de alto nível sofriam com o complexo de não poder competir em pé de igualdade. Por isso os cursinhos floresceram e fizeram a riqueza de tanta gente, que agora está metendo o pau no Enem. Evidentemente  vários interesses estão sendo contrariados devido ao êxito do Enem.
Viomundo -- Tem muita gente pixando, mesmo.
Miguel Nicolelis -- Todo esse pessoal que pixa acha que sabe do que está falando.  Só que não sabe de nada. Exame educacional não é  jogo de futebol. Tem metodologia, dados, história. E olha que eu adoro futebol. Sempre que estou no Brasil, vou ao estádio para assistir ao jogos do Palmeiras [Ninguém é perfeito (rs)!] O Brasil fez muito bem em entrar no Enem. É o único jeito de  acabar com esse escárnio, com essa ferida que é o vestibular .
Viomundo — Nos EUA, não há vestibular para a universidade. O senhor acha que o Brasil seguirá essa tendência?
Miguel Nicolelis --  Acho que sim. O importante é o seguinte. O Brasil está tentando iniciar esse processo. Quando você inicia um processo dessa magnitude, com milhões fazendo exame,  é normal ter problemas operacionais de percurso, problemas operacionais. Isso faz parte do processo.
Nós estamos caminhando para o Enem ser a moeda de troca da inclusão educacional. As crianças vão aprender que não é porque elas fazem cursinho famoso da Avenida Paulista que elas vão ter mais chance de entrar na universidade. Elas vão entrar na universidade pelo que elas acumularam de conhecimento ao longo da vida acadêmica delas. Elas vão poder demonstrar esse conhecimento sem estresse, sem medo, sem complexo de inferioridade. De uma maneira democrática.E, num futuro próximo, tanto as crianças de escolas privadas quanto as  de escolas públicas vão começar a entrar nesse jogo  em pé de igualdade. Aí,  sim vai virar jogo de futebol.
Futebol é uma das poucas coisas no Brasil em que o mérito é implacável. Joga quem sabe jogar. Perna de pau não joga. Não tem espaço. O talento se impõe instantantaneamente.
Educação tem de ser a mesma coisa. O talento e a capacidade têm de aflorar naturalmente e todas as pessoas têm de ter a chance de sentar na prova com as mesmas possibilidades.

Os dilemas do Enem


Criado em 1998 com o objetivo de revolucionar a maneira como os estudantes do País são avaliados, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aumentou, ano a ano, de tamanho e de funções até ser alçado à categoria de principal pilar para a seleção de estudantes às universidades federais – no que depender do Ministério da Educação (MEC), será o único sistema de seleção ao ensino superior no futuro. Cresceu tanto que virou um problema: como ministrar uma prova em perfeitas condições de segurança, sigilo e baixo índice de erros para milhões de alunos em todo o território nacional? As duas últimas edições expuseram falhas que respingaram na reputação do MEC e que forçaram o ministro Fernando Haddad a passar a semana a se explicar. No frigir dos ovos, a dimensão do problema na edição 2010 foi menor do que parecia de início, mas serviu para colocar em discussão o papel do exame na educação nacional.
As dores de cabeça do Enem deste ano começaram no primeiro dia de exame, no sábado 6, por conta de dois erros. Primeiro, as provas, as mesmas para todos os estudantes, são divididas em diferentes cores, que correspondem a uma ordem do gabarito. Alguns alunos no Paraná e em Sergipe receberam uma versão da prova amarela com questões repetidas e outras faltando. O segundo problema, com o gabarito: o espaço para o preenchimento das questões de Ciências da Natureza estava trocado com o de Ciências Humanas. Os alunos que enfrentaram o problema foram instruídos a solicitar ao MEC a correção invertida de cabeçalho.
Cerca de 20 mil alunos receberam a prova com problemas, mas a maioria deles conseguiu trocar pela versão correta durante o exame. No total, menos de 2 mil, em um universo de mais de 4 milhões acabaram não recebendo uma nova prova amarela sem os erros. Se depender de Had-dad, somente eles farão nova avaliação. A questão dos gabaritos foi solucionada com os fiscais dos exames no dia e com a solicitação de uma correção específica.
Outras denúncias foram feitas durante os dois dias de prova. No Recife, um repórter do Jornal do Commercio que prestou o exame mandou uma mensagem de celular para a sua redação contando o tema da redação – o objetivo seria denunciar a brecha na segurança. O MEC pediu a abertura de um inquérito para investigar a atuação do jornalista.
Houve ainda a suspeita, repercutida nos meios de comunicação, de que o tema da redação havia vazado em cursinhos preparatórios para o vestibular em Petrolina (PE). A Polícia Federal investigava o caso até o fechamento desta edição. Se houver consistência na investigação, um inquérito será aberto.
A repercussão dos problemas começou ainda no sábado à noite e tornou-se o principal assunto do início da semana. A preocupação justificava-se: o Enem vinha sendo foco de olhares desconfiados por conta do imbróglio na edição 2009, este mais grave, quando um segurança da Gráfica Plural, responsável por imprimir o exame, roubou exemplares da prova e tentou vendê-los a jornais. A denúncia gerou o adiamento do Enem, a troca da Plural pela norte-americana RR Donnelley, a maior do mundo (e bem mais cara que a antecessora) e muita turbulência. O nome de Haddad, que chegou a ser cotado como possível candidato apoiado pelo presidente Lula ao governo do Distrito Federal ou de São Paulo em 2010 perdeu força.
Portanto, no fim de semana da realização do Enem 2010, toda a mídia focou-se no andamento da avaliação. Após o exame, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), orgão do MEC responsável pelo Enem, Joaquim Soares Neto, minimizou as falhas e falou em “missão cumprida” – e foi o termo usado pelo presidente Lula. Não foi o que acharam a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Defensoria Pública da União, pelas ações do defensor Ricardo Salviano, que chegou a declarar que uma nova prova para poucos acabaria com a isonomia do exame. As duas entidades pregavam que, havendo alunos prejudicados, mesmo que poucos, todos deveriam refazer a prova. Simultaneamente a isso, a juiza Karla Miranda Maia, da 7ª Vara Federal do Ceará, concedeu uma liminar para o cancelamento do exame. Estudantes protestaram contra o MEC usando narizes de palhaço. Outros protestos estavam marcados pelo País.
A CartaCapital Haddad reafirmou ser contra um novo exame para todos. “O problema é localizado e as provas devem ser ministradas somente para os alunos prejudicados.” “O exame utiliza uma metodologia internacionalmente reconhecida que não é novidade entre pensadores da educação, mas obviamente o é no meio jurídico.”
A metodologia referida pelo ministro é a chamada Teoria de Resposta ao Item (TRI), usada no Enem desde 2009. A TRI baseia-se em um modelo internacionalmente reconhecido que assegura o mesmo grau de dificuldade em provas diferentes. É a mesma estratégia usada no Scholastic Assessment Test (STI), o sistema de seleção para vagas universitárias nos Estados Unidos e em outros países. “Em uma prova clássica como o vestibular convencional, qualquer problema pontual é motivo para uma reaplicação da prova. O Enem não é mais assim, nem poderia ser com o tamanho que tem. Por isso só precisamos fazer novo exame para quem foi prejudicado”, defendeu Haddad.
Segundo o ministro, sua conversa com o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, foi elucidativa para suspender a anulação do Enem 2010. A aplicação posterior de um novo Enem somente aos prejudicados tem um precedente em 2009 no Espírito Santo, quando inundações impediram que cerca de 8 mil estudantes chegassem ao local da prova em alguns municípios. “Dada a urgência do caso, quero crer que os tribunais como o TRF e o STF vão estar disponíveis para uma solução”, complementa.
A novela Enem 2010 reacendeu a discussão sobre o papel da prova. Criado durante o governo Fernando Henrique, o Enem seria um termômetro do ensino médio. Diferente dos vestibulares, sua prova é baseada no conceito de habilidades e competências, que prioriza a capacidade de raciocínio e interpretação, e não o conhecimento adquirido de quem o faz. Dois anos depois, sua nota já era contabilizada parcialmente em alguns vestibulares públicos.
Em 2004, no governo Lula, a nota do Enem passou a valer como nota para o Programa Universidade para Todos (ProUni), o sistema de financiamento de bolsas de estudo que concede descontos fiscais às instituições que o adotam. Com a associação Enem-ProUni, o número de estudantes que passaram a participar do teste quadruplicou – foram 4,6 milhões de estudantes inscritos este ano.
Atualmente, o Enem serve como avaliação também para o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, desde 2009, como critério de seleção para 39 instituições federais de ensino superior. O reitor da Universidade de São Carlos (Ufscar), Targino de Araújo Filho, entende que o “Enem-vestibular” é bom para as universidades e os alunos. “Na medida em que ele se transforma em processo único de seleção, torna-se um objeto de inserção social. Minimiza a quantidade de vestibulares, e na medida em que há uma ênfase em conteúdos, tem uma influência muito grande no ensino médio”, diz. A Ufscar comandada por Targino usou, a partir deste ano e em conjunto com outras 38 universidades federais, apenas o Enem como processo de seleção.
Mas o fato de o Enem ter várias aplicações simultâneas assusta alguns especialistas da educação. A ex-assessora do Inep e ex-formuladora de questões da Unicamp Maria Luiza Abaurre entende que ter muitos focos simultâneos é o mesmo que não ter nenhum. “O Enem é avaliação do ensino médio e vestibular, e também seleciona para o Pro-Uni, ou seja, uma função diferente, de pessoas que concorrem a bolsas, não a vagas. E também tornou-se uma prova de certificação para o EJA, que é uma prova sem caráter de seleção. Isso torna muito difícil ao elaborador do exame conseguir um perfil do que de fato precisa ser medido pelas questões”, acredita.
Haddad discorda da questão levantada por Abaurre e cita o sistema norte-americano. “O método dos Estados Unidos funciona da mesma maneira e é o melhor sistema universitário do mundo. Não foi por outra razão que miramos nele para fortalecer o nosso.”
Outra crítica cada vez mais constante ao Enem como selecionador para as universidades é que o sistema de habilidades e competências, criado para avaliar alunos e não as escolas, na realidade não traz diferenças marcantes em relação ao vestibular convencional. É assim que vê Romualdo Portela, professor da USP que estuda políticas educacionais. “Existe uma coerência entre quem se qualifica para uma faculdade via Enem e via vestibulares convencionais. Não mudou substancialmente”, diz. A opinião de Portela é compartilhada por Otaviano Helene, ex-presidente do Inep durante o primeiro governo Lula. “As escolas também são responsáveis por desenvolver habilidades dos alunos. Portanto, quem está em escola melhor segue tendo vantagem”, afirma.
O ministro concorda que o cenário atual é este, mas deve mudar ao longo dos anos. “Veja a Prova Brasil, que é uma espécie de Enem do ensino fundamental (para alunos do 5° e 9° anos). Desde 2005, houve uma nítida queda na diferença entre as escolas particulares e públicas. É o que espero do Enem para os próximos anos.”
Os próximos dias devem ser de batalhas entre o MEC e a Justiça. Se não conseguir reverter a anulação, Haddad vai se manter forte o bastante para levar adiante o projeto de ampliação do Enem? O impacto nas mudanças curriculares pode demorar ainda mais se a resposta por negativa.