terça-feira, 4 de agosto de 2009

Esquerda dividida: PSOL alivia Serra e a direita

PSOL alivia Serra e oposição de direita

O programa televisivo nacional do PSOL, apesar de divulgar iniciativas importantes como a CPI da dívida pública, e efetuar denúncias essenciais como a da recente legislação agrária pró-latifúndio, incorre em grave erro político ao não denunciar a oposição de direita, composta principalmente pelo PSDB e DEM.

O programa televisivo nacional do PSOL, em 30 de julho, apresentou como principal característica a ausência de críticas à oposição de direita, composta principalmente pelo PSDB e DEM.

Apesar de divulgar iniciativas populares e democráticas importantes como a CPI da dívida pública, e efetuar denúncias essenciais como a da recente legislação agrária pró-latifúndio, destruidora da floresta, na Amazônia, o PSOL, a meu ver, incorre em grave erro político.

Considera o governo Lula, um governo de centro, o inimigo central dos trabalhadores.

Nada mais falso. Se o governo Lula não ameaça o grande capital, está longe de ser o governo dos sonhos do grande capital.

Um governo ao estilo do de FHC, totalmente vende-pátria e privatizante, sumetido sem contratempos à hegemonia dos EUA, esse o goveno ideal do grande capital e das forças mais à direita (PSDB, DEM, PPS).

Eis a razão da campanha constante da grande mídia, Organizações Globo à frente, contra o governo Lula.

O núcleo duro da direita

O núcleo duro da direita está no PSDB, DEM, na mídia vendida (a quase totalidade da mídia); expressão política das forças sociais mais reacionárias, inimigas centrais dos trabalhadores e do povo: o grande capital imperialista e brasileiro, com destaque para o parasitismo financeiro e especulativo; o latifúndio, com destaque para sua versão moderna e predatória, o agronegócio.

O governo Lula é um governo de centro, com origem popular e democrática, obrigado por sua própria natureza a relevantes concessões populares e democráticas (por exemplo, o bolsa-família; o clima, no geral, de preservação e ampliação das liberdades democráticas; uma política timidamente desenvolvimentista - o PAC, e muito menos privatista que a de FHC, etc).

Mas o PSOL concentra o fogo no governo Lula e alivia o principal inimigo dos trabalhadores, a oposição de direita.

O poder vai muito além do governo Lula

Parte assim de uma lógica primária, considerar o governo como o responsável central pelos problemas populares, quando o real poder no Brasil vai muito além do governo Lula: está concentrado na política antipopular, antidemocrática e antinacional das gestões monetaristas do Banco Central; no domínio da economia brasileira pelo imperialismo e o conjunto do grande capital; na grande mídia.

Ao não entender, ou talvez seja melhor dizer, não poder entender isso, o PSOL, ao tomar como inimigo central o presidente Lula (cuja grande popularidade não se deve ao acaso), ao aliviar completamente a oposição de direita, corta quaisquer possibilidades de diálogo, convencimento e aliança com as imprescindíveis e amplamente majoritárias bases populares do lulismo.

No mais, o programa televisivo do PSOL mostrou os habituais personalismo e incontinência verbal de Heloísa Helena. E, momento triste, apareceu a deputada Luciana Genro - a mesma financiada nas eleições pela Gerdau, grande empresa do ramo siderúrgico beneficiária das privatizações; a mesma deputada que chegou a convocar passeata no Rio Grande do Sul em comum acordo com o movimento "Cansei", versão atualizada das marchas golpistas de 1964 -, tendo ao fundo "denúncias" da Veja, o panfleto mais virulento da extrema-direita.

E a independência da esquerda?

Pelo visto, a próxima eleição presidencial de 2010 aponta para uma aliança objetiva, consciente ou inconscientemente, da ultra-esquerda (PSOL, PSTU, PCB) com a candidatura mais reacionária, a candidatura privatizante e neoliberal do tucano José Serra, todos empenhados em bater no governo Lula.

Dado que o PC do B adere de maneira praticamente acrítica ao governo Lula, num desvio de direita, inverso ao da ultra-esquerda, a eleição de 2010 surge como ainda mais preocupante: os comunistas, e as demais forças populares, democráticas, e de esquerda, tendem a não exercer sua própria independência política, ficando a reboque de forças políticas e sociais alheias.

Antônio Augusto é jornalista

INTOLERÂNCIA (1916) - filme clássico

CINEASTA: D. W. GRIFFITH
GÊNERO: DRAMA
DIÁLOGO: MUDO
LEGENDA: PORTUGUÊS
TAMANHO: 1GB
FORMATO: AVI

SINOPSE: O filme fala da intolerância através dos tempos, através de quatro histórias paralelas. Planejado como um grande libelo contra o ódio em vários momentos da história da humanidade, INTOLERÂNCIA é considerado um dos mais importantes filmes da história do cinema mundial. Junto com O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO, o filme anterior do diretor D. W. Griffith, é apontado como marco da linguagem cinematográfica moderna. Além da importância técnica, na montagem ou nos planos de câmeras, Griffith mostrou que o cinema poderia se tornar uma grande indústria de entretenimento, que serviria para levar ao público não só diversão, mas as bases de um discurso de ideologia nacional.
INTOLERÂNCIA foi produzido em 1916, ainda nos tempos do cinema mudo, e intercala quatro histórias. As duas mais importantes são sobre a relação de amor entre dois jovens na Califórnia da época, em meio a greves, desemprego e injustiças sociais, e sobre a queda da Babilônia, em 539 a.C., tomada pelos persas. O massacre de protestantes huguenotes e calvinistas em Paris, no ano de 1572, conhecido como a Noite de São Bartolomeu, é o tema da terceira história e a vida e morte de Cristo é a quarta, e a que tem menos destaque.
O episódio sobre a queda da Babilônia é responsável pelos momentos mais impressionantes da obra de Griffith. Para retratar o fim de uma sociedade que cultuava a deusa do amor, atacada por guerreiros que espalhavam o ódio e que só puderam vencer graças à uma traição enciumada, Griffith construiu um templo de grandiosidade que iria mudar a história do cinema. As cenas de batalha, com milhares de figurantes, impressionam, mesmo se comparadas com superproduções atuais. O tamanho dos cenários que reconstituem a cidade só foi superado recentemente, em filmes como TITANIC, SENHOR DOS ANÉIS e WATERWORLD.
Griffith tinha noção clara da importância que o cinema poderia ter nas décadas seguintes, como entretenimento e instrumento de propaganda ideológica. Em “Intolerância”, mescla um eficiente panorama das barbaridades cometidas pela humanidade ao longo da história com um retrato preciso das injustiças sociais dos Estados Unidos da época. Mas certamente não imaginava que seu filme, recheado de boas intenções, iria se tornar tão importante para compreender alguns dos momentos mais intolerantes do século XX e que continuaria atual no século XXI, quando os mesmos argumentos presentes na cena final são utilizados na tentativa de justificar uma guerra no Oriente Médio.
NOTA: A última parte dos links Megaupload pesa apenas 766kb, por ser apenas um arquivo de finalização.

CRÉDITOS: Tales Santana - CinemaCultura

Alimentos orgânicos: respeito à qualidade de vida e ao meio ambiente

Do Correio da Cidadania


Escrito por Ana Célia Alves de Azevedo Reveilleau




Hoje mais do que nunca, notamos que há muita preocupação com o homem para que tenha uma vida digna e com qualidade. Para entendermos o que vem a ser o termo "sadia qualidade de vida" nosso enfoque não poderia deixar de ser iniciado pela Constituição Federal de 1988, onde encontramos vários capítulos que nos indicam o que precisamos para atingir a vida digna e com qualidade, como direito à saúde, à educação, ao trabalho, lazer, segurança, previdência social etc.



É especialmente no Capítulo VI, da Ordem Social, artigo 225, sobre o meio ambiente, que vamos identificar que somos organismos vivos harmonizados com a natureza. E que por isso nossa qualidade de vida quotidiana depende do estado no qual a ecoesfera se encontra, ou seja, precisamos de ar, água, alimentos, elementos essenciais para a sobrevivência material, daí ser vital um meio ambiente ecologicamente equilibrado.



Nesse sentido, a sustentabilidade ecológica passou a ser uma condição para a sobrevivência da humanidade. O princípio do desenvolvimento sustentável tornou-se o norte para que a vida tenha qualidade, com suas bases de difusão na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, celebrado no Rio de Janeiro1992, conhecida como ECO/92.



O primeiro princípio da declaração do Rio, assim dispõe: "O seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável, têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza".



A Organização Mundial da Saúde também elaborou uma estratégia Mundial de Saúde e Meio Ambiente, na qual destaca os vínculos existentes entre a saúde e o meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentável.



Desta forma, a qualidade de vida depende da qualidade do ambiente, além disso, ela não quer dizer quantidade de vida, devendo, pois, haver uma dimensão ética na valorização e sentido da existência, que deve assumir feição abrangente das necessidades de que todos os seres humanos precisam para viver dignamente.

A saúde é um direito fundamental de todo ser humano, cujos termos são claros na Declaração Universal dos Direito Humanos votada pela ONU em 1948, dispondo que "todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar, a si e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis (...)".



Enquanto houver pessoas que não possam gozar efetivamente do direito à saúde, estará havendo discriminação e ofensa à dignidade das pessoas excluídas.



Também não se pode falar de saúde desvinculada do meio ambiente, pois sempre que se amparar o ambiente estará se beneficiando a saúde do homem.



Daí, a razão da nossa Constituição ao tutelar meio ambiente, dizer que ele é essencial a nossa sadia qualidade de vida e que é direito de todos, tantos das presentes como das futuras gerações. Logo, a concepção sobre saúde e qualidade de vida implica também em estar o meio ambiente ecologicamente equilibrado e é o homem o principal responsável por este equilíbrio, a fim de que possa preservar sua própria existência.



O Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90, constituiu um importante instrumento em defesa da saúde, pois reforça a legislação de vigilância sanitária, ao reafirmar a responsabilidade do produtor pela qualidade dos produtos e serviços ofertados no mercado de consumo.



Com isso, a busca em preservar o meio ambiente e ter uma vida saudável é uma das principais razões que se incentiva a produção de produtos orgânicos, isto é, produzidos sem destruir os recursos naturais e com respeito à saúde.



Para garantir que um produto seja orgânico é necessário verificar todo o seu sistema de produção. Nele o produtor deve valorizar as espécies de animais e plantas, proteger o solo de degradações para que continue fértil, com inexistência de cultivo de transgênicos, para não colocar em risco a diversidade de variedades existentes na natureza. Deve também não utilizar fertilizantes sintéticos, solúveis, agrotóxicos e outras substâncias venenosas para o ser humano. Além do mais, as pessoas que participam de sua produção recebem todos os cuidados que um trabalhador necessita e seus direitos são respeitados.



O governo criou o sistema oficial para controlar a produção de orgânicos, por meio de um selo que passará a identificar os verdadeiros produtos orgânicos, denominado SISORG, Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. A partir de 2010 todo produto orgânico, salvo os vendidos diretamente pelos agricultores familiares, levarão o mencionado selo.



Atualmente, existem instituições, denominadas certificadoras, que não tem vínculo com os produtores orgânicos e fazem o trabalho de avaliar se o produto pode levar o selo ou não. As instituições devem ser credenciadas pelo Ministério da Agricultura e trabalhar com métodos internacionais.



Os sistemas orgânicos estão baseados em princípios agroecológicos, o que significa dizer que visam preservar o uso sustentável do solo, da água, do ar, reduzindo as contaminações e protegendo a biodiversidade.



Com isso, podemos dizer que alimento orgânico não é um modismo, mas uma necessidade, para alcançarmos o equilíbrio ambiental, proporcionar a sadia qualidade de vida e assumir o dever imposto na Constituição Federal, art. 225, de preservar e defender o meio ambiente.



Ana Célia Alves de Azevedo Reveilleau é servidora pública federal, mestre em Direito Ambiental pela PUC/SP e autora do livro ‘Gestão Compartilhada de Resíduos Sólidos e a Proteção Ambiental’, Ed. Habilis, 2008.

Base Gringa na Colombia...

Bases dos EUA na Colômbia ameaçam segurança do Brasil


"O fato de eu ser paranoico não significa que não esteja sendo perseguido", lembrou o chanceler brasileiro, Celso Amorim, em entrevista nesta domingo (2) na Folha de S.Paulo, em bem humorada citação de Millôr Fernandes. Ele se referia às bases militares que os Estados Unidos pretendem construir na Colômbia, país que tem 1.644 km de fronteira com o Brasil, em áreas remotas da selva amazônica. Não é só Amorim; o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou em público sua "preocupação" com o que é, evidentemente, um problema, grave, de segurança nacional.


Por Bernardo Joffily no Vermelho



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Na entrevista à Folha, Amorim expressa seu sentimento com uma interjeição brasileira de difícil tradução: "Gente!". E explica: "Se, de repente, você tem uma força de fora muito grande na região... Bem, se as bases vão ter outra aplicação, e não está claro se vão ter, é natural que todos os países, inclusive de fora, se preocupem."


Reunião com assessor da Casa Branca


O chanceler observa que "é um fato novo" e "a impressão é que as bases servem para operação de aviões com raio de ação muito grande". Ressalta que "a Colômbia é um país soberano e tem o direito de fazer o que quiser no território dela", mas assinala que o plano das bases não foi comunicado previamente ao Brasil, como já ocorrera com a decisão de reativar a Quarta Frota da marinha de guerra dos EUA, para operar em águas latino-americanas.


Foi noticiado que nesta semana o titular do Itamaraty, mais o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia, reúnem-se no Brasil com Jim Jones, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca. O tema das bases com certeza entrará na pauta.


Base de Apiay ficará a 400 km do Amazonas


O acordo em negociação entre os EUA e a Colômbia prevê a instalação de três bases, em Malambo, Palanquero e Apiay (veja o mapa). Elas devem substituir a base de Manta, no Equador, cujo prazo caducou e não será renovado pelo governo patriótico de Rafael Correa.


As bases na Colômbia deverão abrigar 800 militares americanos e mais 600 'contratistas', mercenários empregados dentro do esquema de terceirização cada vez mais usado pelo Pentágono. Os aviões ali instalados poderão atingir praticamente qualquer ponto da América Latina. A base mais próxima do Brasil, em Apiay, ficará a 400 km de nossa fronteira.


O anúncio foi mal recebido em todo o continente e motivou queixas até da Espanha. "Preocupação" foi a palavra mais branda para expressar o sentimento geral.
Afinal, a América do Sul festejou no último dia 18 a desativação de Manta, que tornou-a o único continente do mundo inteiramente livre de bases estrangeiras. Em vez disso, está sob ameaça de ter três bases, e os 400 homens de Manta se multiplicarão por quatro.


Ceticismo com os pretextos de Uribe


Ninguém gosta de bases militares estrangeiras em seu território, nem mesmo nas proximidades. Menos ainda quando elas são dos EUA, potência recordista em guerras e agressões no século passado e também no atual.


Ninguém? Não. O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, localizado na extrema direita do leque político sul-americano, defende com ardor as relações cada vez mais estreitas com o Pentágono, em nome do combate ao narcotráfico e ao "terrorismo" representado pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).


Há, porém, um grande ceticismo quanto à veracidade desse pretexto. A opinião unânime é que a presença militar dos gringos tem tudo a ver com interesses geoestratégicos muito mais amplos, ligados à rebeldia antiimperialista que se espalha pelos latino-americanos e vem vencendo sucessivas eleições presidenciais.


A Venezuela bolivariana, que também possui uma vasta fronteira e uma relação atritada com a Colômbia, foi quem reagiu de modo mais incisivo. O governo do presidente Hugo Chávez manifestou em nota oficial "sua indignação ante a irresponsabilidade do governo da Colômbia", alertando que este "põe em perigo a paz e a estabilidade na região".


O governo brasileiro também reagiu prontamente, embora em tom mais diplomático. O Itamaraty já pediu informações oficiais a Washington e Bogotá, assim como transparência quanto à implantação das bases.


Nossos militares também se incomodam


Porém os diplomatas não são os únicos brasileiros incomodados. O site www.inforel.org , que tem muitos militares no seu público, acompanha o episódio em tom de denúncia dos "gringos". No pé de uma das suas matérias o InfoRel publica uma Análise da Notícia que pode expressar o pensamento de boa parte das Forças Armadas brasileiras. Veja a íntegra:


"Mais uma vez, Colômbia e Venezuela tencionam o ambiente político sul-americano.
A Colômbia, de Álvaro Uribe, discute neste momento, como fortalecer ainda mais sua aliança com os Estados Unidos, agora no campo militar.


Vai ceder três bases aéreas para os “gringos” atuarem com desenvoltura em seu território à caça de narcoterroristas das Farc.


Os Estados Unidos despejam milhões de dólares na Colômbia e essa ajuda foi fundamental para a reeleição de Uribe.


O Plano Colômbia, financiado pelos norte-americanos, essencial para que o país começasse a derrotar as Farc.


A derrota da guerrilha, o principal ganho político de Uribe.


No entanto, a presença militar dos Estados Unidos na região não incomoda apenas a Venezuela.


E deveria ser repelida por todos os países. Daí um desafio para o recém criado Conselho Sul-Americano de Defesa.


A presença militar dos Estados Unidos na América do Sul, seja através deste acordo, seja por meio da Quarta Frota da sua Marinha, supõe uma ingerência que acreditávamos, a administração Obama, poria fim.


A Colômbia fica no coração da região, o que permitirá aos Estados Unidos, operarem em qualquer país sul-americano em questão de minutos.


O ministro Celso Amorim, afirmou nesta quarta-feira, que a construção da confiança entre Chávez e Uribe, é fundamental.


Mais fundamental ainda seria os países sul-americanos aprofundarem a cooperação, inclusive militar, pois nossos problemas são comuns.


Não deveríamos buscar parceiros fora, principalmente aqueles que possuem um histórico de intervenções nada democráticas."


Evolução do pensamento estratégico brasileiro


Vale aqui esboçar como tem sido a evolução histórica do pensamento estratégico dos militares brasileiros. Ela tem tudo a ver com o tom de denúncia usado pelo InfoRel.
Desde os primeiros passos do Estado brasileiro, essa visão estratégica concentrou suas preocupações e atenções na região do Prata, com uma história de atritos herdada da fase colonial. Ali se travaram as grandes guerras externas do Império. Mesmo quando estas cessaram o 3º Exército, no Rio Grande do Sul, sempre mereceu atenções especiais.


Uma mudança de vulto nessa estratégia começou a partir da 2ª Guerra Mundial, quando os militares brasileiros passaram a sofrer forte influência americana, e transformou-se em doutrina oficial durante a ditadura de 1964. Seu alvo já não eram os hermanos platinos, mas o "inimigo interno", a "ameaça comunista". Em nome dessa "doutrina de segurança nacional" a ditadura torturou e assassinou compatriotas, lutadores da liberdade, desde as masmorras da Operação Bandeirantes em São Paulo até as selvado do Araguaia no sul do Pará.


Porém depois da derrota da ditadura e principalmente do fim da Guerra Fria uma mudança ainda mais significativa foi se afirmando na concepção estratégica dos militares. Este terceiro ponto de vista parte da constatação de que temos um vizinho, ao norte, que é uma superpotência militar agressiva. E passa a olhar com outra prioridade em especial nossas fronteiras amazônicas, extensas, distantes, pouco povoadas, riquíssimas e cobiçadas.


As Forças Armadas se realocam


Os militares, desde a democratização, relutam em tornar públicas essa visão, até porque o Brasil busca manter a cordialidade nas relações com os EUA. Mas ela foi expressa no ano passado por um paisano bem relacionado com as Forças Armadas, o então ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger.
“Historicamente as Forças Armadas estão concentradas no Sul e no Leste. Hoje nossas maiores preocupações com segurança estão no Oeste e no Norte”, disse o ministro.


Os atos das Forças Armadas concordam com essas preocupações. A nova prioridade para a localização da tropa, vista como exigência de segurança nacional, vem sendo implementada desde a década de 1990.


O Comando Militar da Amazônia, do Exército, já conta com 25 mil homens e a curto prazo passará a 30 mil. Entre 2003 e 2008, a 2ª Brigada Infantaria Selva [19], o 3º Batalhão Infantaria, o 19º Batalhão Logístico e a 22ª Pelotão de Polícia do Exército foram transferidos do Rio para região.


Entre estas forças estão algumas reconhecidas como as melhores unidades de combate na selva do mundo, que incorporam índios da amazônia e especialistas formados pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva. É o caso da 1ª, 2ª, 16ª, 17ª e a 23ª Brigadas de Infantaria de Selva.


Outras frentes de pressão


A notícia das bases de Malambo, Palanquero e Apiay com certeza reforça essa visão estratégica. O que não significa que a tensão criada por elas deva ficar circunscita à esfera militar. O exemplo de Manta é eloquente. Foi a vitória do movimento popular, com a eleição de Correa, que livrou o Equador daquele enclave do Pentágono.
Isto ressalta o papel do povo colombiano, maior interessado em evitar que o acordo das bases se consume. Reforça também o papel da denúncia, da solidariedade e da pressão internacionais, especialmente nos países que, como o Brasil, terão que se haver com a incômoda vizinhança. Exige ainda pressões diplomáticas, como as que devem se manifestar na reunião de cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), no dia 10, em Quito.


Bogotá já mandou avisar que nem Uribe e nem o seu ministro das Relações Exteriores, Jaime Bermúdez, irão à cúpula da Unasul. Frustra-se assim a intenção de Lula, de tratar pessoalmente a questão com o colombiano, em Quito. O governo Uribe permanece costas para os sul-americanos e só ter olhos para Washington, enquanto não vem a furo o abcesso ultrarreacionário que ali se instalou, para a desdita principalmente do povo colombiano.

Golpe em Honduras...
















Honduras e a Sociedade Interamericana de Imprensa

*Por Atilio Boron - no blog do Julio Garcia

O prolongamento da crise em Honduras não tem um efeito neutro, pois joga a favor dos golpistas. O repúdio e o isolamento universais não comovem os usurpadores. Todo o contrário: confirmam sua visão paranóica de um mundo dominado por comunistas, subversivos e revolucionários que conspiram sem trégua para frustrar sua empreitada patriótica. Tanto os militares como os civis hondurenhos compartilham esse delírio que continua sendo alimentado, dia a dia, pelo Pentágono, CIA e boa parte do establishment político do império, para os quais a guerra não terminou nem vai terminar jamais.

Guerra, sobretudo, contra esse imenso e inesperado movimento social que se pôs em marcha a partir do golpe e que transborda ampla – e talvez irreversivelmente – os estreitos marcos da mal chamada "democracia representativa" em Honduras. Bastou que aquele pretendesse honrar tal fórmula para que a santa aliança abandonasse em tropel as cavernas e saísse para a batalha: ali se juntaram, para unir forças, os representantes militares e políticos do império com a corrupta oligarquia local, a perversa hierarquia da Igreja Católica, as diversas frações do patronato e o poder midiático que este conglomerado da riqueza e do privilégio controla sob seu capricho, fazendo da liberdade de imprensa uma brincadeira sangrenta.

Não é casualidade que o website da benemérita Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), sempre tão atenta a tudo que ocorre com os meios em Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador, tenha ocultado arteiramente o que está ocorrendo em Honduras. A resolução mais importante sobre o assunto dos meios de comunicação, adotada em 24 de julho, é uma condenação... ao presidente Rafael Correa (!), por incentivar o ‘incessante clima de confrontação e injúrias contra jornalistas, proprietários de meios de comunicação e suas empresas’. Nenhuma palavra sobre Gabriel Fino Noriega, jornalista hondurenho da Radio Estelar, assassinado por forças paramilitares, o que informa a Missão da ONU enviada para investigar a situação dos direitos humanos em Honduras.

A mesma delegação comprovou que em Tegucigalpa, o Canal 36, a Radio TV Maya e a Radio Globo foram militarizadas, constatando-se ainda o assalto a diversas sedes de meios de comunicação e ameaças de morte a jornalistas, bloqueio de suas transmissões ou a interceptação telefônica e bloqueio do acesso à internet. A missão também corroborou o fogo aberto por metralhadoras contra a cabine de transmissão da Rádio Juticalpa, em Olancho, e as ameaças de morte feitas contra jornalistas como o diretor do diário El Libertador, Johnny J. Lagos Enríquez, assim como contra o jornalista Luis Galdanes.

Na cidade de Progresso, os militares silenciaram as transmissões da Rádio Progresso, sendo hostilizado seu diretor, o sacerdote jesuíta Ismael Moreno, e detido temporariamente um de seus jornalistas enquanto outros recebiam ameaças de morte. Outro caso é o do Canal 26, TV Atlântica, cujo diretor declarou à missão da ONU que os militares indicaram aos veículos de comunicação da cidade que deveriam abster-se de transmitir outras versões ou informações que não emanassem do governo de fato.

Diante da agressão sofrida pelos jornalistas da Telesur e a rede Venezuelana de Televisão (VTV) – sem cujo valente trabalho o mundo jamais teria se inteirado do que ocorria em Honduras – a SIP se limitou a emitir um tímido comunicado lamentando os fatos; a resolução dura, em troca, foi tomada contra Correa.

Seria muito demorado enumerar todas as violações à liberdade de imprensa e aos direitos humanos, à parte o assassinato de Noriega, que passaram despercebidas ante os atentos censores da SIP e seus ventriloqüentes, Mario Vargas Llosa e a turma dos "mais que perfeitos idiotas latino-americanos". Seu silêncio cúmplice revela a descompostura moral do império, suas permanentes mentiras e a impunidade com a qual se movem esses falsos defensores da ‘liberdade de imprensa’. E frente a esse cenário, a secretária de Estado Hillary Clinton se atreve a qualificar como imprudente o gesto de Zelaya de viajar até a fronteira de seu país (!), ao passo que seu porta-voz, Philip Crowley, advertia contra "qualquer ação que possa conduzir à violência" em Honduras.

Já falta muito pouco para que Washington comece a declarar que o verdadeiro golpista é Zelaya e foi ele e não outro que lançou seu país em um caos de violência e morte. A promessa de novas mediações a cargo da Casa Branca só servirá para desfigurar ainda mais a verdade e inclinar o fiel da balança a favor dos golpistas e seus mandantes.

*Atílio Boron é doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard, professor titular de Teoria Política na UBA (Universidade de Buenos Aires) e recebeu o Prêmio Jose Marti 2009, por sua "incansável contribuição para a unidade e a integração da América Latina e do Caribe", de acordo com o júri internacional da UNESCO, idealizadora da premiação.

**Traduzido por Gabriel Brito, jornalista. (Via Correio da Cidadania)