terça-feira, 16 de outubro de 2007

Um Filme de Cao Hamburguer





Formato: rmvb
Áudio: Português e Hebraico
Legendas: Português (para os diálogos em hebraico)
Duração: 1:43
Tamanho: 374 MB
Divididos em 05 Partes
Servidor: Rapidshare



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Texto do blog Overmundo:


1970. O Brasil sofria o auge do regime militar sob o governo do general Emilio Garrastazu Médici. Em junho, mesmo com a situação política conturbada pela qual o país passava, a seleção de Pelé, Tostão e Rivellino conquistou o tricampeonato do mundo de futebol no México. Foi também neste mesmo ano que os pais do garoto Mauro saíram de férias. Pelo menos é esse o pontapé inicial do filme “O ano em que meus pais saíram de férias”, segundo longa do diretor Cao Hamburger, cuja estréia acontece dia 02 de novembro.

Mauro, interpretado pelo ator-mirim Michel Joelsas, é filho de dois militantes que são obrigados a se exilar devido à repressão da ditadura. Mauro é então levado de Belo Horizonte para São Paulo para viver com o avô (Paulo Autran), um judeu morador do bairro do Bom Retiro. (Para aqueles que desconhecem, o bairro é famoso por ter abrigado imigrantes, tanto brasileiros, nordestinos vindos para o sudeste em meados da década de 60, quanto estrangeiros, destacando-se nesse último judeus e italianos).

O menino, porém, é obrigado a viver com Shlomo (interpretado pelo ator amador pernambucano Germano Haiut), também judeu e vizinho de seu avô que morrera no mesmo dia em que o menino chegou a São Paulo. O homem passa a adquirir importância significativa na vida do garoto.

É então neste mesmo momento, em meio a toda aquela tensão causada pela ditadura e as expectativas dos brasileiros com a copa do mundo no México que se desenvolve a história.

Embora consiga restituir o cenário da época e construir um clima de tensão muito melhor que muitas produções que abordam o tema, a intenção do filme não é a de narrar os acontecimentos referentes ao período histórico cujos resquícios ainda se encontram presentes. Tanto a ditadura quanto a conquista do tri funcionam apenas como pano de fundo para o filme; um contexto histórico que cria relações com aquilo que de fato se deseja mostrar. “O ano em que meus pais saíram de férias” gira em torno do menino Mauro e das situações que ele é obrigado a enfrentar. É uma história que almeja e consegue de modo simples, porém excepcional, representar o momento de transição de um garoto que aos poucos deixa de ser criança para iniciar o momento de preparação para a adolescência. Aquela fase intermediária, conflituosa na qual aquilo que foi já não é mais.

A maneira encontrada para isso foi colocar Mauro em um universo estranho a ele, obrigando-o a conviver com pessoas e realidades diferentes da sua. Para ilustrar esse momento na vida do garoto, Cao recorreu a métafora do goleiro. Assim como o jogador está fadado a uma condição solitária durante uma partida de futebol, Mauro também está sozinho em um ambiente diferente daquele a qual era acostumado em Minas. Vale lembrar que o sonho do menino, incentivado pelo pai, era de se tornar goleiro.

A escolha do ano de 1970 se justifica de forma cabível como cenário ilustrativo do filme. Assim, como o país enfrentava um clima de tensão, devido à pressão provocada pela ditadura misturada a expectativa da copa do mundo, o menino Mauro também passava por um momento de instabilidade. A passagem da infância para a adolescência, marcada tanto pelas dúvidas pelas quais uma criança naturalmente é obrigada a passar, como pela inconstância das situações que o garoto foi obrigado a enfrentar. A ansiedade gerada pela promessa feita pelos pais de retornarem no início da copa e os momentos de felicidade proporcionados pela copa do mundo e pela descoberta de novos amigos, do amor, da solidariedade e até mesmo da sexualidade. E o êxito é alcançado graças à forma que Cao utilizou para transmitir ao espectador o momento de transição. Os diálogos são escassos sim, mas nada que transforme o filme em algo monótono. Os gestos substituem a fala de uma maneira muito melhor, retornando aquele velho, porém verdadeiro clichê, de que um ato vale mais do que mil palavras.

O final previsível não retira nenhum dos méritos alcançados durante o desenvolvimento do filme. Apesar de triste, mostra que Mauro venceu toda aquela inconstância própria da vida de qualquer criança e potencializada pelas situações a que foi obrigado a enfrentar. Agora ele está pronto para viver... e voltar.

“O ano em que meus pais saíram de férias”, representa a transição na carreira do diretor Cao Hamburger, uma vez que ele deixa de dirigir para as crianças (para quem não se lembra ele dirigiu tanto a série como o filme “Castelo Rá-Tim-Bum") e passa a fazer filmes para adultos. E isso, ele mesmo afirmou na palestra do dia 26 de outubro na PUC Minas.

Matando pelo bem do Brasil

Mário Maestri

Em “Tropa de Elite”, o singular não é o filme em si, mas o estrondoso sucesso antes mesmo do seu lançamento. Como película, a obra de José Padilha repete em geral as receitas inovadoras de “Cidade de Deus”, sem o brilho do célebre longa-metragem de Fernando Meirelles: a criminalidade urbana como tema; o narrador como condutor da trama; os quadros dinâmicos em uma sucessão de clips. Uma espécie de plágio doce devido parcialmente ao fato de Bráulio Mantovani assinar os roteiros das duas películas.



Na essência, os filmes são opostos. Em “Cidade de Deus”, através da história da comunidade homônima, Fernando Meirelles relata a construção social do criminoso, para propor superação individual pela arte e pelo trabalho (fotografia) do destino do jovem favelado ao crime. Mantendo-se nos marcos da leitura da favela pela cidade, a câmara de Meirelles procura dar a voz aos protagonistas. No fundo, é leitura social otimista, ainda que ingênua.

Não há meias cores em “Tropa de Elite”, apesar do sinistro claro-escuro em que o filme se move. Os protagonistas e antagonistas são feitos de uma só peça: corruptos ou honestos às vísceras. Os únicos heróis são os policiais do BOPE, a sinistra tropa de elite carioca que, no filme, tortura, mata e morre em desesperada e incompreendida última defesa da civilização contra a barbárie, da cidade contra o morro. Ao iniciar a película, o narrador traça o quadro geral maniqueísta: “Se o Rio dependesse só da polícia tradicional, os traficantes já teriam tomado a cidade[...]”
“Tropa de Elite” não cria muito. Limita-se a encenar sentimentos que ultrapassam os limites das classes altas e médias endinheiradas: a certeza de que a única solução para o crime, corporificação da maldade absoluta, é a mão-de-ferro da repressão sem piedade. Proposta com a qual a mídia martela uma imensa parcela da população que materializa, no sentimento de insegurança, o stress permanente produzido pelas incertezas e insatisfações da vida quotidiana.
O que não significa que o filme não possua soluções imaginosas, como a inversão da ordem normal dos fatores sociais, ao apresentar a execução do horrível traficante “Baiano”, branco, pelo honestíssimo Matias, policial e acadêmico de Direito, negro. Ou a melodramática superposição de papéis de Nascimento, o capitão do BOPE, organizador dos assassinatos e homem sensível à espera do primeiro filho, símbolo da inocência do mundo que defende, à custa de permanente descida ao inferno.

O deputado quer apenas saber o “quanto” vai ganhar, ao se associar a policiais que chafurdam no crime. Os estudantes discutem as causas e as soluções da marginalização social mas, no frigir dos ovos, são drogados hipócritas, traficantes e queridinhos de criminosos. Nesse mundo em degringolada, o único remédio forte é a morte e a tortura ministradas profissionalmente por policiais incorruptíveis, que entregam a vida se necessário no cumprimento de suas missões. Tudo pelo bem do Brasil.

José Padilha apenas dramatiza a apologia das execuções de populares pelas forças policiais, sob as ordens e cumplicidade das autoridades e os aplausos dos meios de comunicação. “Carandiru”, de Hector Babenco, denunciou sem maior sucesso o mega-massacre da polícia militar paulista. Invertendo o sinal, “Tropa de Elite” glamouriza mortandades como as do Complexo do Alemão, em junho deste ano.
Através da escusa da encenação do real, “Tropa de Elite” radicaliza as propostas de “Tolerância Zero” com a criminalidade, apresentadas incessantemente pela cinematografia estadunidenses de segunda linha. Sem pruridos, extrema insinuações de séries como “Lei & Ordem” sobre a legitimidade da execução e da tortura na obtenção de resultados louváveis: a eliminação do terrorista, a morte do traficante, a prisão do pedófilo.

Em fins dos anos 1980, o sucesso da subliteratura de tema esotérico de Paulo Coelho registrou a crise geral da confiança nas soluções sociais racionalistas, devido à vitória mundial da maré neoliberal. No mundo fantástico do segundo governo Lula da Silva, enquanto cresce a dilaceração dos laços sociais e nacionais, os ricos tornam-se mais ricos e as classes médias viajam ao exterior despreocupadas com a inevitável ressaca do dia seguinte do real-maravilha.
O sucesso de “Tropa de Elite” registra o conservadorismo crescente da população nacional, na esteira da fragilização do mundo do trabalho e mergulho geral das lideranças populares tradicionais na corrupção. É enorme vitória dos poderosos que policiais fardados de preto encarnem a solução da insegurança nacional, distribuindo a morte entre os pobres, sob a bandeira da caveira sorridente. “Tropa de elite, osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você!”. E, se não te cuidares, meu chapa, vai te pegar, mesmo!


Mário Maestri é professor do curso de História e do PPGH da UPF.