domingo, 23 de dezembro de 2012

Os EUA constroem um búnker subterrâneo no valor de 100 milhões de dólares numa base secreta de mísseis israelita



Richard Silverstein 
Mais um elemento sobre a colaboração EUA/Israel na preparação das condições para a escalada da guerra no Médio-Oriente. Uma coisa é certa: sempre que o imperialismo toma medidas de defesa, é garantido que está a preparar o ataque. Não lhe basta a tragédia há décadas vivida na zona: tenciona ampliá-la, admitindo até um cenário de utilização de armamento nuclear.

Há alguns dias Walter Pincus informou no The Washington Post que o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA solicitou a apresentação de propostas com o fim de encontrar empreiteiros com garantias de segurança máxima para construir uma instalação militar subterrânea no valor de 100 milhões de dólares para o exército israelita. O que segue é a descrição do projecto:
O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA planeia a supervisão da construção de uma instalação subterrânea de cinco níveis para um complexo das Forças de Defesa de Israel, com o estranho nome de Instalação 911, numa Base da Força Aérea israelita próxima de Tel Aviv.
Espera-se que a construção demore mais de dois anos, a um custo de até 100 milhões de dólares. Terá salas de aulas no Nível 1, um auditório no Nível 3, um laboratório, portas resistentes ao impacto, protecção contra radiação não ionizante e uma segurança muito estrita. Todos os trabalhadores na construção darão garantias de segurança, haverá guardas na vedação e estará separada do resto da base por barreiras.
O artigo assinala também que no passado o Corpo já construiu instalações para mísseis nucleares de Israel. Portanto, não deveria surpreender-nos que uma fonte israelita de alto nível afirme que o local para este projecto é a base israelita de mísseis de máximo segredo Sdot Micha, localizada próximo de Beit Shemesh (a uns 24 quilómetros de Jerusalém). É aí que se encontra a frota de ICBM (mísseis com armas nucleares Jericó). O local é tão secreto que várias passagens de um artigo de 2010 al respeito em Yediot foram censurados. Provinha directamente do amplamente acessível sítio na web Global Security. Os censores costumam ser célebres pela sua subtileza, e muito menos pelo seu senso comum.
A instalação subterrânea construída pelos EUA será edificada à prova de armas nucleares, de modo que possa resistir a um ataque com armas de destruição massiva de um inimigo de Israel. Isso permitiria que o sistema de comando e controlo de mísseis de Israel se mantenha operacional mesmo nas condições de um possível ataque massivo e devastador. Segundo esta fonte, as FDI [exército israelita] já têm um centro de comando à prova de armas nucleares por debaixo de Kirya, a sua sede em Tel Aviv.
Como é sabido que Israel e os EUA se espiam um ao outro, considero que extraordinário que Israel confie nos EUA para construir uma das suas instalações militares mais confidenciais. De facto, tenho pessoalmente conhecimento de que o FBI interceptou durante anos a embaixada israelita em Washington D.C. A Mossad vem operando há décadas nos EUA ¿Por que não teme Israel que os EUA façam o mesmo no caso destas instalações?
Uma resposta pode ser que o projecto é financiado pelo programa de Vendas Militares ao Estrangeiro dos EUA, o que quer dizer que o nosso governo financia o projecto sem encargos para o contribuinte israelita. No caso de Israel, a economia triunfa sobre a própria segurança.
Há que preguntar: ¿de que inimigo se defende Israel ao construir este complexo? Como o projecto tardará dois anos a ficar concluído, isto será aproximadamente quando uma série de analistas crê que o Irão poderá ter capacidade nuclear se decidir criar uma arma.
Neste caso poderia haver duas considerações:
1. Israel prevê que o Irão terá armas de destruição massiva em 2014.
2. Israel prevê atacar o Irão em algum momento após a conclusão do Bunker subterrâneo.
Só pode haver um motivo para construir uma instalação semelhante: a protecção contra um ataque inimigo. Só há um inimigo que poderia pressupor uma ameaça semelhante para Israel: o Irão. De entre os inimigos actuais de Israel, só o Irão (para além da Síria, que está distraída pelos seus próprios problemas internos) tem capacidade de lançar mísseis de largo alcance contra ele. Ainda que actualmente não possa armá-los com uma ogiva nuclear, é concebível (na opinião de Israel) que esta situação mude. Por isso é crítico que Israel mantenha a sua própria capacidade nuclear para lançar um ataque e/ou responder a um ataque inimigo.
Uma vez que parece extremadamente improvável que os dirigentes iranianos lancem um ataque preventivo contra Israel, e certamente não um ataque nuclear, a construção de semelhante fortaleza indica que Israel prevê ele próprio a realização deste ataque e que tem que assegurar que as suas forças militares críticas permanecem intactas após uma reacção iraniana.
Mesmo que o nome de código do projecto 911 [acrónimo para 11-S] seja uma coincidência, é palpável o sentimento de um Armagedão iminente. Também há que assinalar que os três inimigos más formidáveis de Israel, Hezbollah, Hamas e Irão, têm consideráveis complexos militares subterrâneos. Pode admitir-se que Gilad Shalit tenha sido mantido em semelhantes búnkeres durante o seu cativeiro, e os altos dirigentes do Hamas retiram-se para complexos semelhantes durante os ataques israelitas, como o do mês passado.
Uma das tácticas mais efectivas do Hezbollah foi o uso de túneis que as FDI desconheciam para atacar as tropas israelitas a partir de diversos quadrantes com um efeito devastador. O Irão também enterrou a sua instalação avançada de enriquecimento de uranio Fordow sob 100 metros de montanha. Esta protecção impede que Israel destrua o local a menos que obtenha as bombas rebenta-búnkeres de 14 toneladas estado-unidenses. Portanto, Israel (juntamente com os seus adversários) está a colocar a sua infra-estrutura militar mais crítica e os seus sistemas de armamento debaixo de terra a fim de que possam resistir a uma possível sabotagem ou ataque frontal.
Pincus menciona algumas exigências religiosas verdadeiramente estranhas que são especificadas na solicitação da apresentação de propostas. Especifica as mezuzás :
O Corpo desenvolve uma detalhada descrição das mezuzás que o empreiteiro deve fornecer “para cada porta ou abertura com excepção dos serviços higiénicos ou cabines de duche” no edifício da Instalação 911. Uma mezuzá é um pergaminho com versos da Torá em hebreu, colocado num estojo e fixado na moldura da porta de uma casa de família judia como sinal de fé. Alguns interpretam que la lei judia requer –como neste caso– que em cada porta de uma casa seja fixada uma mezuzá.
Essas mezuzás, assinala o Corpo, “devem ser escritas em tinta indelével, em […] pergaminho de coiro sem revestimento” e escritas à mão por um escriba “possuidor de uma autorização escrita segundo a lei judia.” A escrita pode ser “asquenaze ou sefardita” mas “não uma mistura” e “deve ser uniforme”.
Também, “as mezuzás devem ser revistas por um computador numa instituição autorizada para a inspecção de mezuzás, bem como revistas manualmente no que diz respeito à forma das letras por um revisor autorizado pelo Rabinato Principal”. A mezuzá será fornecida com um estojo de alumínio com orifícios para que possa ser fixada à moldura da porta ou da abertura. Finalmente, “todas as mezuzás para a instalação serão fixadas pelo rabi da Base ou pelo seu representante nomeado e não pelo pessoal do empreiteiro”.
Francamente, nunca ouvi falar de alguma diferença entre mezuzás sefarditas ou asquenazes, nem de alguma diferença entre os estilos de escrita de uma tradição em relação à outra. O Parece mais que isto se terá baseado em informação inexacta sobre rituais judeus ou em interpretação errónea de alguma coisa que as FDI tenham indicado ao Corpo.
Mas, para além disso, sinto-me confiante ao saber que Deus, por meio deste poderosos amuletos religiosos, estará a proteger o povo judeu e seus defensores militares. A única interrogação que fica é ¿que divindade é mais poderosa: o Jeová judeu ou o Alá chiíta do Irão? ¿Mas não ofereceu Moisés um só Deus aos judeus? Que diria se visse agora o seu povo criar um Deus para Nós e outro Deus para Eles?. Espero que lhe provocasse tanto horror como me provoca a mim.

Richard Silverstein escreve o blog Tikun Olam que examina temas relacionados com a segurança nacional de Israel, os direitos humanos, e as ameaças contra a democracia israelita.

Este artículo foi publicado originalmente em Anti War
Fonte: http://www.informationclearinghouse.info/article33205.htm