terça-feira, 7 de abril de 2009

A queda de influência dos jornais e TVs

Altamiro Borges

O blog do jornalista Luís Nassif acaba de postar uma notícia realmente animadora. Com base em dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), que audita as tiragens de jornais e revistas, e do Ibope, que monitora a audiência das emissoras de televisão aberta, ele comprova que a última década foi dramática para a mídia hegemônica brasileira. Ela sofreu sensível queda de influência na sociedade. As profundas mutações tecnológicas, o aumento da concorrência no setor e a perda de credibilidade do jornalismo, entre outros fatores, teriam contribuído para este declínio.

No tocante às TVs abertas, a Globo teve a maior queda de participação no mercado (share). Em 2001, sua audiência era de 50,7%. Em 2004, ela chegou a bater em 56,7%. Hoje, está em 40,6% - coincidindo com a subida da TV Record, que saiu de 9,2% em 2001 para 16,2%. Nas últimas três semanas, o Jornal Nacional teve 26% de audiência em São Paulo. Seis anos atrás, era de 42%. Já no se refere à mídia impressa, Folha, Estadão, Globo, Correio Braziliense e JB reduziram a sua tiragem em quase 300 mil exemplares diários – de 1,2 milhão para 942 mil, queda de 25%.

Credibilidade da mídia no esgoto

O fator tecnológico parece ser a principal causa destas mudanças. Pesquisa recente, intitulada “O futuro da mídia”, revela que, para os brasileiros, o computador já é mais importante do que a TV. “Os entrevistados passam três vezes mais tempo por semana conectados à internet do que assistindo televisão. A maioria dos usuários (81%) apontou o computador como o meio de entretenimento mais importante em relação à TV... A interação com esses mecanismos e o fato dos usuários serem os próprios provedores de conteúdo de suas mídias foram destacados”, afirma a Deloitte. Este fenômeno, impensável há alguns anos atrás, confirma uma tendência mundial.

Mas não se deve desprezar, também, a perda de credibilidade dos jornais e das emissoras de TV. Como expôs o jornalista Pascual Serrano, num debate durante o Fórum Mundial de Mídia Livre, realizado no final de janeiro em Belém (PA), a mídia hegemônica sofre hoje uma forte corrosão na maioria dos países do planeta. Entre outros fatores do declínio, Serrano pontua:

- Crise de credibilidade. O público já não se fia nos meios de comunicação, tendo comprovado demasiadas vezes como eles mentem e ocultam os elementos fundamentais da realidade;

- Crise de objetividade. O mito da objetividade e da neutralidade está em queda e a autoridade do periodismo cai com ele;

- Crise de autoridade. A internet e as novas tecnologias revelam a capacidade das organizações sociais e dos jornalistas alternativos para enfrentar o predomínio da grande mídia;

- Crise de informação. A dinâmica mercantilista e a necessidade de aumentar a produtividade e a rentabilidade provocam a perda de qualidade da atividade jornalística.

Adeus à reforma agrária?







Waldemar Rossi
- Correio da Cidadania

As notícias de que o governo Lula assinou decreto que permite aumentar de 500 para 1.500 hectares o limite das terras que não podem ser desapropriadas para fins de Reforma Agrária, e que tal medida permite "legalizar" terras griladas, já foram aqui denunciadas e seus efeitos comentados. Porém, os projetos constitucionais de se fazer a Reforma Agrária sofrem mais um ataque, com a MP-458 (Medida Provisória), instrumento exclusivo do Presidente da República.

A ABRA (Associação Brasileira para a Reforma Agrária) convidou recentemente toda a imprensa de São Paulo e do Rio para uma entrevista coletiva, para esclarecimentos sobre os riscos de tal MP. Contou com a presença unicamente da Rede Vida de Televisão, o Brasil de Fato, a Revista Fórum e a Agência de Jornalismo da PUC, além de algumas pessoas representativas. A grande imprensa esteve ausente. Por que será? A razão de ser da entrevista: análise da MP-458 e a entrega da Amazônia Legal para grileiros latifundiários.

"Valendo-se exclusivamente de dados do INCRA e de outros órgãos do Estado, o professor (Ariovaldo Umbelino de Oliveira – departamento de Geografia da USP) descobriu que a Medida (MP- 458) permitirá ao governo entregar 67 milhões de hectares de terras públicas a algumas centenas de grandes posseiros que as ocupam ilegal e criminosamente. Para se ter uma idéia do que a cifra significa basta dizer que é maior que a área agriculturável da Alemanha e da Itália e um território maior que a França.", diz o comunicado.

A ocupação ilegal das terras públicas só pode ter ocorrido porque contou com o conluio de funcionários desonestos do INCRA, de cartórios de registros de imóveis, de juízes de direito, de secretários de Agricultura, governadores, ministros e etc. e tal, ao longo dos vários anos. A MP, portanto, vai "legalizar" mais um crime contra o patrimônio do povo, entregando essas terras a empresas multinacionais e nacionais, e permitirá a ampliação da sua utilização para os mega-projetos do agronegócio, da produção de carne e do etanol (álcool da cana de açúcar), visando a exportação. Ocasionará também a ampliação do desmatamento já criminoso da Amazônia, a expulsão de ribeirinhos, de pequenos posseiros e de indígenas. Contribuirá para acelerar o aquecimento global e a deterioração do meio ambiente.

Assim, aos poucos, Lula vai ratificando sua declaração, em 2003, de que as denúncias que fazia enquanto estava na oposição "eram meras bravatas", isto é, eram mentiras nas quais nós acreditamos piamente. "Não se justifica num país, por maior que seja, ter alguém com 30 mil alqueires de terra! Dois milhões de hectares de terra! Isso não tem justificativa em lugar nenhum do mundo! Só no Brasil. Porque temos um presidente covarde, que fica na dependência de contemplar uma bancada ruralista a troco de alguns votos" (Luiz Inácio Lula da Silva, à revista Caros Amigos, em novembro de 2.000). O mesmo Lula que implorou aos coordenadores do MST, em 2002, para que não radicalizassem durante a campanha eleitoral, porque "A reforma agrária a gente resolve numa canetada".

De fato, os trabalhadores rurais vêm recebendo uma verdadeira canetada, mas canetada na cabeça e com caneta do tamanho e peso dos maiores cassetetes das polícias estaduais.

Assim, não é difícil dizer que, com Lula, a Reforma Agrária - um grito nacional - pode dizer "Adeus!". A menos que o movimento social vá para as ruas, paralise a produção deste país e a mantenha parada enquanto as reformas políticas e econômicas de interesse social não forem executadas.

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.