Fidel: a história real e o desafio dos jornalistas cubanos
Dedico esta reflexão de caráter histórico a nossos queridos jornalistas, por coincidir com o 7º Congresso da União dos Jornalistas de Cuba. Com eles, sinto-me em família. Como eu teria gostado de estudar as técnicas de seu ofício!
Por Fidel Castro, no Granma
A Upec teve a generosidade de editar um livro intitulado Fidel Jornalista que será lançado amanhã (4), à tarde. Enviaram-me um exemplar que contém vários artigos publicados em órgãos clandestinos ou legais há mais de 50 anos, com prólogo de Guillermo Cabrera Álvarez e escolha, introdução e apontamentos de Ana Núñez Machín.
Eu alcunhei Guillermo Cabrera de O Gênio, desde meus primeiros encontros com ele. Foi a impressão que tive daquela pessoa maravilhosa que infelizmente morreu no ano passado. Foi operado de coração fazia um tempo em nosso prestigioso Centro Cardiovascular da cidade de Santa Clara, criado pela Revolução.
Li de novo alguns dos artigos divulgados em Alerta, Bohemia, La Calle, e vivi mais uma vez aqueles anos.
Diante da necessidade de transmitir idéias, escrevi esses artigos. Fi-lo por puro instinto revolucionário. Sempre apliquei um princípio: as palavras devem ser simples; os conceitos, inteligíveis para as massas. Hoje tenho mais experiência, porém menos força; custa-me muito fazê-lo. O nível de nosso povo, com a Revolução, é muito mais alto; a tarefa é mais difícil.
Do ponto de vista revolucionário, não importam as discrepâncias; o que importa é a honestidade com que a gente opine. Das contradições, sairá a verdade. Talvez, noutra ocasião, valha a pena maior esforço para expressar algumas observações sobre o assunto.
Ontem ocorreu um importante acontecimento, que será o tema principal nos próximos dias: a libertação de Ingrid Betancourt e de um grupo de pessoas que estavam no poder das Farc, sigla da organização Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Em 10 de janeiro deste ano, nosso embaixador na Venezuela, Germán Sánchez, a pedido dos governos da Venezuela e da Colômbia, participa da entrega, à Cruz Vermelha Internacional, de Clara Rojas, que foi candidata à vice-presidência da Colômbia, quando Ingrid Betancourt se candidatou à presidência, e foi seqüestrada em 23 de fevereiro de 2002. Consuelo González, membro da Câmara dos Representantes, seqüestrada em 10 de setembro de 2001, foi libertada com ela.
Abria-se um capítulo de paz para a Colômbia, processo que Cuba vem apoiando há mais de 20 anos, sendo o mais conveniente para a unidade e libertação dos povos da nossa América, empregando novas vias nas complexas e especiais circunstâncias atuais, após o colapso da União Soviética no começo da década de 1990 — que não tentarei analisar aqui —, bem diferentes das de Cuba, da Nicarágua e de outros países nas décadas de 50, 60 e 70 do século 20.
O bombardeamento em 1º de março, de manhã, de um acampamento em solo equatoriano, onde dormiam guerrilheiros colombianos e jovens visitantes de diversas nacionalidades, com uso de tecnologia ianque, ocupação de território, tiros de misericórdia nos feridos e seqüestro de cadáveres, como parte do plano terrorista do governo dos Estados Unidos, repugnou o mundo.
Em 7 de março, realizou-se a Reunião do Grupo de Rio, na República Dominicana, onde o fato foi condenado energicamente, enquanto o governo dos Estados Unidos o aplaudia.
Manuel Marulanda, camponês e militante comunista, chefe principal dessa guerrilha criada há quase meio século, ainda vivia. Faleceu no dia 26 desse mês.
Ingrid Betancourt, enfraquecida e doente, bem como outros presos com precárias condições de saúde, dificilmente poderiam resistir mais tempo.
Por um elementar sentimento de humanidade, alegrou-nos a notícia de que Ingrid Betancourt, três cidadãos norte-americanos e outros prisioneiros tinham sido libertados.
Os civis nunca deveriam ser seqüestrados, nem os militares serem mantidos como prisioneiros nas condições da selva. Eram fatos objetivamente cruéis. Nenhum propósito revolucionário podia justificar isso. Em seu momento, será preciso fazer uma análise profunda dos fatores subjetivos.
Em Cuba, ganhamos nossa guerra revolucionária pondo logo em liberdade e sem condição alguma, os prisioneiros. Entregávamos à Cruz Vermelha Internacional os soldados e oficiais capturados em cada batalha, ocupando apenas as armas. Nenhum soldado as entrega, se a morte o espera, ou um tratamento cruel.
Observamos com preocupação que o imperialismo tenta aproveitar os acontecimentos da Colômbia para ocultar e justificar seus horrendos crimes de genocídio noutros povos, desviar a atenção internacional de seus planos intervencionistas na Venezuela e na Bolívia, e da presença da IV Frota em apoio à linha política que pretende liquidar totalmente a independência e apoderar-se dos recursos naturais dos demais países ao sul dos Estados Unidos.
São exemplos que devem ilustrar todos nossos jornalistas. A verdade em nossos tempos navega por mares tempestuosos, onde a mídia está nas mãos dos que ameaçam a sobrevivência humana com seus imensos recursos econômicos, tecnológicos e militares. Esse é o desafio dos jornalistas cubanos!