sábado, 14 de novembro de 2015

A História Da Eternidade (2014) - Nacional - Making Off

A História da Eternidade
(A História da Eternidade)
A História da Eternidade (Camilo Cavalcante, 2014)
Poster
Sinopse
Em
um pequeno vilarejo no Sertão, três histórias de amor e desejo
revolucionam a paisagem afetiva de seus moradores. Personagens de um
mundo romanesco, no qual suas concepções da vida estão limitadas, de um
lado pelos instintos humanos, do outro por um destino cego e fatalista.
Screenshots


Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Marcela Cartaxo - Querência
Leonardo França - Aderaldo
Débora Ingrid - Afonsina
Claudio Jaborandy - Nataniel
Zezita Matos - Dona Das Dores
Maxwell Nascimento - Geraldo
Irandhir Santos - João
Gênero: Drama
Diretor: Camilo Cavalcante
Duração: 120 minutos
Ano de Lançamento: 2014
País de Origem: Brasil
Idioma do Áudio: Português
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt3565050/
Qualidade de Vídeo: Web DL
Container: MKV
Vídeo Codec: MPEG-4 AVC
Vídeo Bitrate: 1.963 Kbps
Áudio Codec: A_AAC
Áudio Bitrate: 384 kbps  48 KHz Kbps
Resolução: 1280 x 720
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 1.655 Gb
Legendas: Sem Legenda
Crítica
A Eternidade conta uma história
por Marcelo Miranda

A
escolha pelo artigo definido para o título deste primeiro
longa-metragem de Camilo Cavalcante (A História da Eternidade), antes do
sentido totalizante que parece carregar, impõe, num primeiro contato
com o filme, ao menos duas possibilidades, de acordo com o viés que se
adotar. A hipótese inicial seria a de que veremos a grande história,
quem sabe definitiva, de o que é o conceito de “eternidade”, e aí existe
uma ambição fadada à impossibilidade cósmica de defini-lo; a segunda
hipótese, menos evidente (e talvez mais escorregadia), é a de que
veremos, de fato, uma história contada do ponto de vista da Eternidade, a
palavra aqui deixando de ser apenas conceito abstrato para se ser ela
mesma personagem (ou mito), tornando-se a instância narradora. Por essa
segunda possibilidade, tem-se um filme menos centrado na derivação de
alguma grande narrativa do que na ocupação do quadro com elementos
constitutivos de uma pictorialidade que será, afinal, sua maior
característica visual. (O uso do scope amplia a noção de vastidão num
espaço relativamente pequeno de um vilarejo isolado.) A Eternidade seria
tudo aquilo a ocupar o espaço da tela – cada elemento de linguagem e de
encenação que se consiga ver, ouvir ou imaginar, sendo a articulação
entre eles o escopo do que é efetivamente o filme de Camilo Cavalcante. A
Eternidade, portanto, é o que é mostrado a partir da existência da
câmera, e não apenas pelo relato temático (que, por sua vez, seria o
elemento mais importante da primeira hipótese).

A diferenciação é
importante na medida em que A História da Eternidade alimenta a mise en
scène com um manancial de símbolos e referências pictóricas e
literárias que expandem seu universo para além do cinema (eis a beleza
da impureza, como diria André Bazin). Pensar a Eternidade como o ponto
de saída da narração do filme o localiza fora de algum tempo e espaço. A
iconografia do sertão, tão cara à filmografia brasileira ao longo de
toda a sua história, aqui se desprende do imaginário pré-fabricado e
caminha sozinha, como se fosse outra coisa que, mesmo reconhecendo a
base, ainda está a ser descoberta na totalidade. O filme não é cínico,
porém: Camilo Cavalcante jamais disfarça a evidência de estar sempre no
sertão – muito pelo contrário: talvez os maiores desarranjos do filme
estejam em momentos de mais ostentação desse universo facilmente
assimilável. Mas a honestidade de A História da Eternidade está em, sem
omitir o dado essencial, seguir adiante com ele e se esforçar por dar ao
espectador alguma visão ainda inédita, na possibilidade de olhar (no
sentido do olho humano mesmo) algo que surpreenda pelo inusitado e pelo
maravilhamento a emanar daquilo que vem do quadro.

A tela larga
de A História da Eternidade possibilita ao filme se apresentar com alto
grau de grandiloquência na criação desse lugar indefinido, de tempo
próprio, já explicitado no primeiro plano: em enquadramento aberto, um
sanfoneiro cego se senta em uma árvore de galhos retorcidos,
reenquadrado pelo infinito do céu e da terra – imagem forte da “mais
remota lonjura” descrita pelo escritor mexicano Juan Rulfo. Depois de
alguns minutos, um cortejo fúnebre carregando o caixão de uma criança
atravessa o quadro, lentamente. Da pintura imóvel anterior tem-se agora o
movimento, mas esse movimento traz morte e tristeza. O prólogo é
prenúncio de todo o resto: visualmente, o filme trabalha a imagem até o
limite da composição, às vezes em planos ainda mais abertos, nos quais
se vislumbra, em meio ao cenário natural, o movimento dos corpos de
personagens a se deslocar de um canto a outro (algo similar, por
exemplo, ao visto no cinema de Sergio Leone).

A História da
Eternidade se fixa na obsessão pelo número três – são três conflitos,
apresentados ao longo de três capítulos delimitados, sobre a intimidade
de três mulheres representantes de três gerações. Essa triangulação já
pode ser vista nos pontos de atenção da cena inicial e o movimento
triangular do filme será também o seu eixo estético. A mise en scéne
depende sempre de como os personagens circulam pelo pequeno vilarejo
onde a ação é ambientada, indo de um lugar a outro de acordo com os
espaços permitidos pela direção de fotografia, assinada por Beto
Martins. Existe não apenas o foco na ação de primeiro plano, mas também
na profundidade de campo do scope, que deixa o ator ganhar existência
mais plena a partir da composição que lhe é cabida. Martins já disse em
entrevistas ter se inspirado na pintura de Caravaggio, algo perceptível
não só nas escolhas de onde colocar a câmera, mas também na luz
utilizada no plano, no claro-escuro para delinear o cenário e as junções
dos corpos com os objetos em cena. Em dois momentos, o filme se entrega
a movimentos circulares em plano-sequência que poderiam se tornar
apenas fetichistas, mas o cuidado na construção anterior de outros tipos
de espaços cênicos integra-os na artesania do filme. Se na maior parte
das cenas a câmera está fixa, sua movimentação se assemelha a um
acontecimento próximo do milagroso, considerando o universo mítico e
fabular tratado por Cavalcante.

Os tais dois rodopios se dão em
instantes de epifania: num, o artista rebelde e desprezado vivido por
Irandhir Santos dança e canta ao som de “Fala”, dos Secos &
Molhados; no outro, o mesmo personagem leva a sobrinha adolescente
(Débora Ingrid) para ver um mar imaginário que só existe num truque
simples de montagem no ápice do plano circular. Nos dois momentos,
tem-se a performance como elemento central, junto à consciência (dos
personagens e também do filme) de aquilo que não se vê ganhar concretude
na forma como se apresenta diante dos olhos. O olhar em A História da
Eternidade tem esse poder de materialização: a avó (Zezita Matos) passa a
desejar o neto (e a se afligir e infligir dor) quando vê fotografias
pornográficas numa revista do garoto e percebe nele não mais um menino,
mas um homem; a mulher solteira e amarga (Marcélia Cartaxo) é cortejada
pelo sanfoneiro cego e ferido, que obviamente não a enxerga, mas
acredita ter a chance de um momento de intimidade com ela, ficando
diariamente na espera de um sinal que ele espera sentir, mas não ver.
Todas as três mulheres, portanto, partem do olhar para ultrapassarem os
próprios limites e desejos. A superação vem da visão renovada diante de
uma realidade que parecia estanque e arcaica.

Os arquétipos do
filme carregam características de lendas e crenças que se misturam umas
às outras para chegar a um desenlace próprio do “realismo maravilhoso”
muito próximo de uma certa literatura latina (de novo Juan Rulfo, mas
pode-se invocar também García Márquez e Ariano Suassuna): a chuva no
semi-árido, que não vem lavar pecados ou purificar os corpos (como faz o
mar de Fernando de Noronha em Sangue Azul, de Lírio Ferreira), mas
diluir o sangue de uns, celebrar o batismo luxurioso de outros e ser a
paisagem de uma Pietà emoldurada pela violência do mundo exterior, que
invade o isolamento daquele novo sertão para também submetê-lo a uma
reconfiguração.

Fonte: Revista Cinética
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

Arquivo(s) anexado(s)

A História Da Eternidade (2014) - Nacional - Making Off

A História da Eternidade
(A História da Eternidade)
A História da Eternidade (Camilo Cavalcante, 2014)
Poster
Sinopse
Em
um pequeno vilarejo no Sertão, três histórias de amor e desejo
revolucionam a paisagem afetiva de seus moradores. Personagens de um
mundo romanesco, no qual suas concepções da vida estão limitadas, de um
lado pelos instintos humanos, do outro por um destino cego e fatalista.
Screenshots


Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Marcela Cartaxo - Querência
Leonardo França - Aderaldo
Débora Ingrid - Afonsina
Claudio Jaborandy - Nataniel
Zezita Matos - Dona Das Dores
Maxwell Nascimento - Geraldo
Irandhir Santos - João
Gênero: Drama
Diretor: Camilo Cavalcante
Duração: 120 minutos
Ano de Lançamento: 2014
País de Origem: Brasil
Idioma do Áudio: Português
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt3565050/
Qualidade de Vídeo: Web DL
Container: MKV
Vídeo Codec: MPEG-4 AVC
Vídeo Bitrate: 1.963 Kbps
Áudio Codec: A_AAC
Áudio Bitrate: 384 kbps  48 KHz Kbps
Resolução: 1280 x 720
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 1.655 Gb
Legendas: Sem Legenda
Crítica
A Eternidade conta uma história
por Marcelo Miranda

A
escolha pelo artigo definido para o título deste primeiro
longa-metragem de Camilo Cavalcante (A História da Eternidade), antes do
sentido totalizante que parece carregar, impõe, num primeiro contato
com o filme, ao menos duas possibilidades, de acordo com o viés que se
adotar. A hipótese inicial seria a de que veremos a grande história,
quem sabe definitiva, de o que é o conceito de “eternidade”, e aí existe
uma ambição fadada à impossibilidade cósmica de defini-lo; a segunda
hipótese, menos evidente (e talvez mais escorregadia), é a de que
veremos, de fato, uma história contada do ponto de vista da Eternidade, a
palavra aqui deixando de ser apenas conceito abstrato para se ser ela
mesma personagem (ou mito), tornando-se a instância narradora. Por essa
segunda possibilidade, tem-se um filme menos centrado na derivação de
alguma grande narrativa do que na ocupação do quadro com elementos
constitutivos de uma pictorialidade que será, afinal, sua maior
característica visual. (O uso do scope amplia a noção de vastidão num
espaço relativamente pequeno de um vilarejo isolado.) A Eternidade seria
tudo aquilo a ocupar o espaço da tela – cada elemento de linguagem e de
encenação que se consiga ver, ouvir ou imaginar, sendo a articulação
entre eles o escopo do que é efetivamente o filme de Camilo Cavalcante. A
Eternidade, portanto, é o que é mostrado a partir da existência da
câmera, e não apenas pelo relato temático (que, por sua vez, seria o
elemento mais importante da primeira hipótese).

A diferenciação é
importante na medida em que A História da Eternidade alimenta a mise en
scène com um manancial de símbolos e referências pictóricas e
literárias que expandem seu universo para além do cinema (eis a beleza
da impureza, como diria André Bazin). Pensar a Eternidade como o ponto
de saída da narração do filme o localiza fora de algum tempo e espaço. A
iconografia do sertão, tão cara à filmografia brasileira ao longo de
toda a sua história, aqui se desprende do imaginário pré-fabricado e
caminha sozinha, como se fosse outra coisa que, mesmo reconhecendo a
base, ainda está a ser descoberta na totalidade. O filme não é cínico,
porém: Camilo Cavalcante jamais disfarça a evidência de estar sempre no
sertão – muito pelo contrário: talvez os maiores desarranjos do filme
estejam em momentos de mais ostentação desse universo facilmente
assimilável. Mas a honestidade de A História da Eternidade está em, sem
omitir o dado essencial, seguir adiante com ele e se esforçar por dar ao
espectador alguma visão ainda inédita, na possibilidade de olhar (no
sentido do olho humano mesmo) algo que surpreenda pelo inusitado e pelo
maravilhamento a emanar daquilo que vem do quadro.

A tela larga
de A História da Eternidade possibilita ao filme se apresentar com alto
grau de grandiloquência na criação desse lugar indefinido, de tempo
próprio, já explicitado no primeiro plano: em enquadramento aberto, um
sanfoneiro cego se senta em uma árvore de galhos retorcidos,
reenquadrado pelo infinito do céu e da terra – imagem forte da “mais
remota lonjura” descrita pelo escritor mexicano Juan Rulfo. Depois de
alguns minutos, um cortejo fúnebre carregando o caixão de uma criança
atravessa o quadro, lentamente. Da pintura imóvel anterior tem-se agora o
movimento, mas esse movimento traz morte e tristeza. O prólogo é
prenúncio de todo o resto: visualmente, o filme trabalha a imagem até o
limite da composição, às vezes em planos ainda mais abertos, nos quais
se vislumbra, em meio ao cenário natural, o movimento dos corpos de
personagens a se deslocar de um canto a outro (algo similar, por
exemplo, ao visto no cinema de Sergio Leone).

A História da
Eternidade se fixa na obsessão pelo número três – são três conflitos,
apresentados ao longo de três capítulos delimitados, sobre a intimidade
de três mulheres representantes de três gerações. Essa triangulação já
pode ser vista nos pontos de atenção da cena inicial e o movimento
triangular do filme será também o seu eixo estético. A mise en scéne
depende sempre de como os personagens circulam pelo pequeno vilarejo
onde a ação é ambientada, indo de um lugar a outro de acordo com os
espaços permitidos pela direção de fotografia, assinada por Beto
Martins. Existe não apenas o foco na ação de primeiro plano, mas também
na profundidade de campo do scope, que deixa o ator ganhar existência
mais plena a partir da composição que lhe é cabida. Martins já disse em
entrevistas ter se inspirado na pintura de Caravaggio, algo perceptível
não só nas escolhas de onde colocar a câmera, mas também na luz
utilizada no plano, no claro-escuro para delinear o cenário e as junções
dos corpos com os objetos em cena. Em dois momentos, o filme se entrega
a movimentos circulares em plano-sequência que poderiam se tornar
apenas fetichistas, mas o cuidado na construção anterior de outros tipos
de espaços cênicos integra-os na artesania do filme. Se na maior parte
das cenas a câmera está fixa, sua movimentação se assemelha a um
acontecimento próximo do milagroso, considerando o universo mítico e
fabular tratado por Cavalcante.

Os tais dois rodopios se dão em
instantes de epifania: num, o artista rebelde e desprezado vivido por
Irandhir Santos dança e canta ao som de “Fala”, dos Secos &
Molhados; no outro, o mesmo personagem leva a sobrinha adolescente
(Débora Ingrid) para ver um mar imaginário que só existe num truque
simples de montagem no ápice do plano circular. Nos dois momentos,
tem-se a performance como elemento central, junto à consciência (dos
personagens e também do filme) de aquilo que não se vê ganhar concretude
na forma como se apresenta diante dos olhos. O olhar em A História da
Eternidade tem esse poder de materialização: a avó (Zezita Matos) passa a
desejar o neto (e a se afligir e infligir dor) quando vê fotografias
pornográficas numa revista do garoto e percebe nele não mais um menino,
mas um homem; a mulher solteira e amarga (Marcélia Cartaxo) é cortejada
pelo sanfoneiro cego e ferido, que obviamente não a enxerga, mas
acredita ter a chance de um momento de intimidade com ela, ficando
diariamente na espera de um sinal que ele espera sentir, mas não ver.
Todas as três mulheres, portanto, partem do olhar para ultrapassarem os
próprios limites e desejos. A superação vem da visão renovada diante de
uma realidade que parecia estanque e arcaica.

Os arquétipos do
filme carregam características de lendas e crenças que se misturam umas
às outras para chegar a um desenlace próprio do “realismo maravilhoso”
muito próximo de uma certa literatura latina (de novo Juan Rulfo, mas
pode-se invocar também García Márquez e Ariano Suassuna): a chuva no
semi-árido, que não vem lavar pecados ou purificar os corpos (como faz o
mar de Fernando de Noronha em Sangue Azul, de Lírio Ferreira), mas
diluir o sangue de uns, celebrar o batismo luxurioso de outros e ser a
paisagem de uma Pietà emoldurada pela violência do mundo exterior, que
invade o isolamento daquele novo sertão para também submetê-lo a uma
reconfiguração.

Fonte: Revista Cinética
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

Arquivo(s) anexado(s)