sexta-feira, 29 de maio de 2009

Cultura na net...é só buscar....

A morte dos formadores de opinião

Por Marcos Schmidt

Eles morreram com a era do WWW. São zumbis que se recusam a deitar nos seus caixões, e devemos, todos nós, colocar nossa pá cheia de terra sobre suas covas sem lápides.

Acabo de conhecer um novo artista.
Ele morreu em 1336, aos 21 anos de idade, se o pouco de informação que consegui sobre ele tem alguma veracidade. Um puta artista contemporâneo. Seu nome é Buonamico Buffalmacco. Apenas um trabalho seu sobreviveu ao tempo, ainda assim contestado e quase destruído durante a 2ª Guerra.
Bom, conheci seu trabalho há pouco tempo: é um contemporâneo meu, portanto. Escrevi sobre esta postura no meu primeiro artigo aqui no OPS e não arredo o pé dela: o que não conheço é novo para mim, pouco importa se data de dez minutos atrás ou se tem 800 anos de idade.
Esse ponto é essencial para mim. E hoje, a essa altura do campeonato e, mais importante ainda, sendo brasileiro e vivendo no Brasil, dou pouco valor a concepções que afirmam a necessidade de estar acompanhando no mesmo passo o que se discute nos meios artísticos de Londres, Nova Iorque, Paris. Nem no que as galerias chiques de São Paulo, que praticam o onanismo para essas cidades sofisticadas, querem que eu ache interessante (interessante é o adjetivo utilizado em 99% das ocasiões pelos connoisseurs do universo artístico).
Por que não Adis Abeba? Ou Minsk? Caracas? Sud Mennucci, em São Paulo?
Sou brasileiro, vivo no Brasil, mal tenho grana prá ir prá minha cidade natal, São José dos Campos, visitar meus pais de vez em quando. Sinto o martelo da culpa batendo na minha cabeça quando, ao invés de pagar uma conta, pego essa grana e gasto num livro (um! um só, que livro brasileiro é caro prá cacete). A cultura que nos chega, chega mais ou menos como aqueles pneus velhos que o Brasil, por algum motivo que nunca entendi direito, recebe aos milhões de toneladas: restolho dos países ricos.
Vivo em São Paulo, hoje. Para meu espanto, que já achava SJC uma cidade caríssima, SP é ainda pior.
Louvo a internet toda manhã, quando ligo o PC para trabalhar.
É através dela que me informo, basicamente. E é dentro desse contexto que fico me perguntando: estou num apartamento na República, diante da tela de um computador conectado à rede. Posso buscar qualquer coisa. De qualquer lugar do planeta. Coisas de procedência duvidosa. Coisas maravilhosas, que nem poderia supor que existissem (aliás, acho muito estranho pessoas que reclamam de “tédio” na net. A palavra correta não é tédio, é preguiça).
Desse modo, sendo eu mesmo o editor que pauta o que é interessante ou não, devo ficar centrado e agoniado em relação ao que acontece em Londres ou Nova Iorque? Por que?
No mundo virtual, e isso é completamente indissociável do mundo real hoje, esse tipo de concepção submissa a determinados centros de influência simplesmente não vale mais. Isso morreu, e muita gente não se deu conta disso. Vale apenas para os coronéis da cultura que pretendem continuar fazendo valer seu poder de influenciar o gado. Mas a cova deles já está aberta.
Talvez ainda demore um pouco para que cada indivíduo que tem acesso à internet, mesmo numa lan-house, tenha a real consciência de seu poder. De que ele não tem mais nenhuma necessidade de que alguém diga o que ele deve ler, ver, assistir, ou algo assim.
Darei apenas mais um exemplo concreto, além do magnífico Buffalmacco.
Anos atrás, por algum motivo que nem me lembro qual era, fiquei curioso em relação à alguma coisa da Armênia, e fui pesquisar na net. No meio de um monte de coisas, caí num site horroroso, escrito numa língua que não conheço e poluído até o limite do tolerável. Entretanto, havia ali uma imagem que intuí ser a capa de um disco, ou CD. Consegui ler uma palavra: Zulal. Fui procurar prá ver o que era.
Deu trabalho, mas achei. Um trio de moças da Armênia, acho que agora radicadas nos Estados Unidos, que canta canções folclóricas da Armênia à capella. Deu mais trabalho ainda, e achei o tal CD: lindo, delicado, uma das coisas mais belas que ouvi desde então, muito diferente de qualquer coisa que eu já tivesse ouvido.
Interessei-me. Procurei mais coisas da música da Armênia. Cheguei à sua música sacra, numa gravação de um certo Sharakan Early Music Ensemble, e parei ali. Não tenho palavras para descrever o que encontrei: música única, muito, mas muito antiga, transitando o tempo todo entre uma tradição ocidental e outra, que me parece vir da influência (ou seria sombra?) da Turquia, do Irã, do leste europeu. A sua antiguidade pareceu-se ser devida ao fato dela servir como afirmação de identidade num país minúsculo, em localização estratégica, cobiçado por outras nações maiores e mais poderosas.
Não fosse a internet e o fato de ninguém, a não ser eu mesmo, pautar o que é do meu interesse, como eu teria conhecido o trio Zulal e a música sacra da Armênia? Nunca vi nada disso na Ilustrada, no caderno Mais, no Segundo Caderno, na Bravo, na Piauí... Baudrillard passou reto por isso, assim como Paul Virilio e Arthur Danto.
Que me importa, portanto, que as coisas de que eu realmente gosto não foram referendadas pelos ditadores de tendências, pelos formadores de opinião, pelas grandes mentes do nosso tempo? A era deles acabou. Eu penso, eu escolho. Nunca vou abrir mão disso. E aqueles que leram este texto e entenderam, que também nunca abram mão de pensar única e exclusivamente por si mesmos.
E viva Buffalmacco, viva Zulal e viva o Sharakan Early Music Ensemble!

EUA: A impunidade perpetuada






Todos os dias se torna mais claro como era falsa a imagem de Obama
criada pela poderosa campanha de propaganda. Agora foi o Supremo
Tribunal Federal dos EUA a dar uma machadada na imagem de Obama, como
saneador da vida pública dos EUA. Pouco a pouco, assiste-se ao
regresso dos falcões e até já Dick Cheney, o vice-presidente de Bush,
ganha os favores dos media norte-americanos…
La Jornada (Editorial) -

Numa votação dividida, cinco contra quatro, o Supremo Tribunal de Justiça dos Estados Unidos recusou julgar dois altos funcionários da administração de Geroge Bush, o ex-Procurador Geral daquele país, John Ashcroft, e o actual director Departamento Federal de Investigação [FBI, na sua sigla em Inglês], Robert Mueller, acusados de criar uma rede de reclusão e abuso contra suspeitos de terrorismo.

O tribunal superior do país vizinho revogou assim a decisão de um tribunal federal de recurso de Nova Iorque que tinha decidido que Mueller e Ashcroft podiam ser responsabilizados pelos maltratos a que foram submetidos centenas de imigrantes muçulmanos – entre eles o denunciante Javaid Iqbal –, detidos depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001, e, posteriormente, processados por violações às leis migratórias e outros delitos menores, sem que se tivesse podido provar qualquer vínculo com o terrorismo. O próprio Iqbal, depois de ter estado vários meses numa prisão de Brooklyn, privado de cuidados médicos e submetido a situações humilhantes e tareias sistemáticas – segundo o seu depoimento –, foi declarado culpado de fraude e, finalmente, deportado para o Paquistão, seu país natal.

A decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos tem implicações escandalosas e inaceitáveis, porque proporciona uma cobertura à impunidade, apesar dos protestos de diferentes organizações humanitárias internacionais e de amplos sectores da sociedade estadunidense, não obstante as sobejas evidências de uma inumerável quantidade de atropelos perpetrados por funcionários civis e militares estadunidenses, no contexto da «guerra contra o terrorismo», abusos que, dificilmente, poderiam ter acontecido sem o conhecimento, e a anuência, de altos funcionários da administração Bush.

Ao que foi acima dito deve acrescentar-se as recentes declarações da presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, que acusou a Agência Central de Inteligência [CIA, na sua sigla em Inglês] de ocultar ao Congresso do país vizinho a aplicação de técnicas de tortura aos «combatentes inimigos» capturados depois das invasões do Afeganistão e do Iraque, e depois ter reconhecido que estava a par das ditas práticas desde 2003.

Estes factos, no seu conjunto, mancham severamente a imagem do sistema de justiça dos Estados Unidos, já há muito denegrido; denunciam as instituições do poder Judicial e Legislativo daquele país como garantes da impunidade – quer por acção quer por omissão – e, ao fim e ao cabo, desgastam a credibilidade do projecto político de Barack Obama, que chegou à Casa Branca há já quase quatro meses, com a promessa de sanear a vida institucional dos Estados Unidos e tirar esse país da bancarrota política e moral em que se encontra, como saldo da desastrosa era Bush.

Quanto à sentença judicial, não pode passar-se um pano sobre a absolvição dos citados funcionários, pois, se no imediato e em termos políticos, ela pode ser conveniente para o próprio Obama por reduzir as pressões dos falcões de Washington, de que um dos representantes, o ex vice-presidente Dick Cheney, adquiriu nos últimos dias notoriedade mediática como crítico virulento da actual administração.

Está no entanto claro que, se o presidente estadunidense não encontrar forma de reverter a sentença proferida pelo Supremo Tribunal, esta acabará rapidamente por deteriorar a confiança que nele depositaram os eleitores da nação vizinha e amplas franjas da população mundial.

Publicada no diário mexicano La Jornada

Tradução de José Paulo Gascão

Enquanto isso na Bolivia...

Sobre a ligação Ustacha da rede fascista**
MARCOS DOMICH





Pouco a pouco, a partir da descoberta e prisão de um núcleo da rede terrorista que, em apoio aos separatistas de Santa Cruz, procurava destruir o processo de mudanças em curso na Bolívia, vai-se descobrindo os objectivos, separatismo e não autonomia, e os apoios externos que, como eram evidente vão directos à CIA…



Marcos Domich*

Com as declarações do que foi chamado «garganta funda», Ignacio Villa, e a abertura dos materiais encontrados no stand de COTAS [N. do T.: empresa privada e principal companhia de telecomunicações boliviana] nos pavilhões da feira industrial de Santa Cruz, fechou-se uma etapa da investigação do grupo terrorista e dos seus planos, sob o comando do boliviano-húngaro Eduardo Rozsa. Contudo este não senão é o núcleo, talvez o principal, e o articulador do plano de acções terroristas; com a sua desarticulação, no entanto, não se pode falar de um caso encerrado. A partir do que se encontrou (armas, explosivos, documentos, mapas, vídeos, etc.) está a desenhar-se a rede de conexões, personalidades de contacto, finalidade das acções e objectivo final.

A descoberta, o desmantelamento, as ligações e os objectivos do núcleo de Rozsa teve o efeito de um terramoto na direita boliviana e nos grupos fascistas. Estão atónitos. Sentem-se descobertos, nus e exibidos. Parecem até ter perdido a folha de parra que lhes tapava as partes pudentes.

Sabe-se tudo o que tramavam e até onde queriam chegar. Demoraram um pouco a recompor-se do choque e voltaram às andanças. A sua única opção é a violência que pode gerar o terrorismo aberto. Há uma razão poderosa: a preservação dos seus interesses e o infinito financiamento externo; «poderoso cavalheiro, este é D. dinheiro». Não quer dizer que não haja financiamento interno, mas é menor que o externo.

O estado de confusão que lhes causou a revelação do núcleo Rozsa provocou ondas de fissura e confrontações que trouxeram mais dados e mais testemunhos. As revelações da empresária Katty Rabczuk são definitivas: disse que tem conhecimento que vários empresários de Santa Cruz entregavam entre 120 e 180.000 dólares mensais, durante a «terceira etapa» do processo «autonomista». Seria interessante conhecer em que consistiram as outras etapas que não eram do seu conhecimento. O que é certo é que houve pessoas que inocentemente acreditava que trabalhava em prol da autonomia, quando o que na realidade se estava a gerar era um movimento separatista. O seu operador na sombra é «A Torre», grupo de elite dos Costa, Marinkovic, Dabdoud, Nayar, Justiniano e outros.

Tudo indica que a ideologia que inspirou este movimento era apenas a ideia-força da «independência», particularmente em Santa Cruz. Sob o pretexto da liberdade, da democracia e do comércio livre, tinha que esquartejar a Bolívia. Depois veriam se podiam arrastar outras regiões, como as que incluem a chamada «meia-lua».

A preparação foi longa e contou com poderosos inspiradores e sustentadores. Este vão desde troca-tintas argentinos como o ex-mayor e espia Mones Ruiz, passando pelo vértice, Alejandro Peña, contra-revolucionário, contra-revolucionário venezuelano e presidente de UnoAmérica, até chegar a Armando Valladares e Carlos Montaner, ambos terroristas cubanos, afilhados da CIA.

É enorme a lista de «instituições», sobretudo ONG, principalmente estadunidenses. Como fungos, nsurgem na Bolívia, entre outras, a FULIDE afilhada da CAINCO e representada por Carlos Dabdoud e Walter Justiniano e a famosa Human Rights Fundation (HRF), presidida pelo trânsfuga Hugo Achá e filial da HRF de Thor Halvorssen, um «contra» venezuelano hereditariamente ligado à CIA.

Voltaremos ao tema.



* Marcos Domich, Professor na Universidade de La Paz e amigo e colaborador de odiario.info

** N. do T.: A Ustacha é uma organização nacionalista croata, aliada del nazismo e fundada em 1929 por Ante Pavelic. Criada depois do assassínio do líder croata Stjepan Radic no Parlamento de Belgrado. Tornou-se tristemente célebre pelo recurso sistemático à violência terrorista para atingir o seu objectivo principal: a independência da Croácia e a formação de um Estado Croata. Muita da violência na guerra de desmantelamento da Jugoslávia é da sua responsabilidade. So que esta violência não reprimida no Ocidente: trata-se terrorismo amigo…


José Paulo Gascão