sábado, 12 de setembro de 2009

Afeganistão: uma bomba na eleição alemã

Por Flavio Aguiar

Na sexta-feira, 4 de setembro, o comandante das tropas alemãs no Afeganistão, na região de Kunduz, pediu, autorizou ou ordenou o bombardeio aéreo, pelas forças da Otan, de dois caminhões-tanque, carregados com combustível, que estavam atolados num banco de areia do rio que tem o mesmo nome.

Aviões norte-americanos, que já estavam sobrevoando o local, e que providenciaram imagens telvisionadas para orientar o reconhecimento por parte do pessoal em terra, bombardearam o alvo. O resultado trágico provocou, em primeiro lugar, uma crise internacional sobre o que, de fato, aconteceu.

Para o comandante alemão, general George Klein, tratava-se de dois caminhões sequestrados pelos Talibãs, cercados por militantes que retiravam o combustível com sifões. Para organizações não-governamentais, tratava-se dos mesmos caminhões, mas cercados por civis atraídos pela perspectiva de obter combustível de graça.

As estimativas de mortos variam entre 56 e 150, conforme a organização que divulga os dados. Uma coisa é certa, até o momento: houve mortes de civis, em número ainda não identificado, cuja variação vai de 24 a 120. O caso jogou uma outra bomba, dessa vez na anunciada política do general norte-americano Stanley McChristal, comandante-geral das tropas da Otan no Afeganistão, para evitar mortes de civis. E provocou também um jogo de empurra-empurra entre alemães e norte-americanos sobre quem, de fato, teria responsabilidade pelo episódio.

Um esclarecimento: Kunduz é uma província bem ao norte do Afeganistão, perto da fronteira com duas repúblicas ex-soviéticas, o Uzbequistão e o Tadjiquistão, e próxima também da Índia e da China. Até três anos atrás era considerada uma região menos belicosa, mas de lá para cá as coisas mudaram, e ataques contra a presença dos alemães da Otan tem se avolumado.

A outra bomba que o episódio lançou estourou na Alemanha, onde se realizam eleições gerais para o Parlamento (e consequentemente o governo) em 27 de setembro próximo. Até agora a campanha vinha se processando, apesar da crise econômica e seus efeitos problemáticos na Alemanha, num clima de mornidão. Os casos mais espetaculares da campanha tinham sido levantados pelos uso de imagens consideradas provocantes sexualmente em cartazes de diferentes partidos: uma foto de uma candidata da União Democrata Cristã (CDU) na companhia da chanceler Ângela Merkel, ambas com decotes generosos, dizendo: "nós temos mais a oferecer", e um outro, do Partido Verde, sobre tolerância cultural, racial e sexual, em que duas mulheres, uma branca e outra negra, agarram os respectivos traseiros numa clara sugestão erótica.

Entretanto a tragédia do episódio afegão fez ferver o ambiente eleitoral. Até o momento o que se esperava era um desempenho seguro da CDU, mais fraco dos social-democratas (SPD), um pouco mais forte por parte do Partido Verde e da direita, o Partido Democrata Livre (FDP), ligado ao empresariado. Além disso, previa-se um desempenho medianamente fraco do novo partido A Esquerda (Die Linke), embora este tenha sido reforçado por bom desempenho em algumas eleições regionais no passado recente.

Ocorre que até o momento apenas a Linke declarou sua oposição aberta à presença de tropas alemãs no Afeganistão – uma presença, diga-se de passagem, que não é nada popular, por trazer à lembrança antigas ocupações militares por parte da Alemanha e por estar provocando mortes entre os enviados (já são 38). O incidente trágico no Afeganistão pode – e já está provocando – catapultar a popularidade da Linke, o que deixa os demais partidos de cabelos em pé, inclusive o Partido Verde, que, embora tradicionalmente pacifista, apoiou a participação do exército alemão no devastado Afeganistão.

Tudo isso lembra, e muito bem, que quem semeia bombas pode muito bem colher tempestades, e trouxe à tona a velha bandeira da paz que, no caso alemão e em muitos países da Europa, sempre foi tradicionalmente de esquerda desde pelo menos a Primeira Guerra Mundial. Os Verdes tinham sido reforçados por uma grande manifestação em Berlim (50 mil pessoas) no sábado, 6 de setembro, contra o uso da energia atômica na produção de eletricidade. Agora, porém, estão sendo diretamente questionados por sua posição dúbia, para dizer o mínimo, no Afeganistão. A imprensa alemã divulgou fotos da ocorrido, o que contribuiu para aumentar o impopularidade de uma ocupação cada vez mais difícil de defender.

DIONISIA DÍAZ, A AVÓ DA RESISTENCIA E DA DEMOCRACIA DE HONDURAS

“Derecha, izquierda; golpistas a la mierda”, exclama com um alto-falante uma mulher de 75 anos, vestida de azul, que marcha com os partidários do deposto presidente Manuel Zelaya: é Dionisia Díaz, veterana das lutas operárias em Honduras.

“Estive na greve de 54 e agora contra estes malditos golpistas que roubaram, seqüestraram a democracia”, disse a mulher à AFP, colocando o alto-falante embaixo do braço, antes que inicie a mobilização.

Nas marchas da Frente de Resistência contra o Golpe de Estado de 28 de junho de Honduras se vê com freqüência a mesma gente: não só os dirigentes, mas também entre a grande massa que está a meses nas ruas da capital. Uma que não falta é Dionisia Díaz.

“Na greve de 54 perdi meu esposo. Para fugir da repressão, a gente se refugiava nas montanhas e ele se foi à montanha e nunca mais regressou”, relata a mulher que nessa época tinha 20 anos.

A greve de 1954 é reconhecida como a maior proeza da luta popular em Honduras. Foi um movimento ocorrido na costa norte do país contra as transnacionais bananeiras que colocavam e tiravam presidentes e que acabou como uma das maiores conquistas dos trabalhadores.

“Não vamos parar esta luta até que este golpista Roberto Micheletti deixe a presidência ao verdadeiro presidente que elegemos nós os hondurenhos, que é Jo-sé Ma-nuel-Ze-la-ya-Ro-sa-les”, disse com ênfase em cada sílaba.

“Conheço bem a Micheletti. É de origem italiana. Era motorista de ônibus, depois teve uma empresa de ônibus e agora é um grande empresário, que fez o pior: participar em um golpe de Estado”, se queixa a mulher, natural da mesma cidade do presidente de fato.

“Desde 28 (de junho) andamos aqui e não vamos parar, não vamos parar”, sentencia a mulher, que ganha a vida com a venda de sapatos e roupa como comerciante informal.

E 55 anos depois, esta mulher originaria de El Progreso, departamento de Yoro, uma cidade rodeada ainda pelas plantações de bananeiras e situada a 240 km ao norte de Tegucigalpa, levanta novamente a bandeira da luta dos trabalhadores.

Todos os dias, Díaz, que tem 5 filhos, 18 netos e 7 bisnetos, é das primeiras a chegar à Universidade Pedagógica Nacional, a leste de Tegucigalpa, onde começa a motivar com seu alto-falante aos outros manifestantes para a mobilização.

Traduzido por Rosalvo Maciel

Original em Habla Honduras

Alimentação saudável...



Sistemas agroecológicos: Transgênicos não são solução para a agricultura




AFSSA *Adital -

Segundo estudo francês, orgânicos são mais nutritivos.

Um novo relatório da Agência Francesa para a Segurança dos Alimentos (AFSSA) concluiu que alimentos orgânicos são melhores para a saúde e contêm menos pesticidas e nitratos, que têm sido ligados a uma série de problemas de saúde incluindo diabetes e mal de Alzheimer.

Andre Leu, Presidente da Federação Orgânica da Austrália, disse que a avaliação crítica, exaustiva e atualizada sobre a qualidade nutricional dos alimentos orgânicos indica que eles têm taxas mais elevadas de minerais e antioxidantes.

"O estudo da AFSSA foi publicado na revista científica Agronomy for Sustainable Development, uma publicação reconhecida cujos conteúdos são revisados por pares, o que assegura que ele apresenta padrões científicos rigorosos", disse Leu.

Os principais apontamentos do estudo da AFSSA são os seguintes:

1. Produtos de plantas orgânicas contêm mais matéria seca (maior densidade nutricional)

2. Têm níveis mais altos de minerais;

3. Contêm mais antioxidantes como os fenóis e o ácido salicílico (conhecido por proteger contra cânceres, doenças do coração e muitos outros problemas de saúde);

4. Há poucos resultados documentados sobre níveis de carboidratos, proteínas e vitaminas;

5. 94-100% dos alimentos orgânicos não contêm nenhum resíduo de agrotóxicos;
6. Vegetais orgânicos contêm muito menos nitratos, cerca de 50% menos (altos teores de nitrato estão ligados a uma série de problemas de saúde incluindo diabetes e mal de Alzheimer)

7. Cereais orgânicos contêm níveis similares de micotoxinas em relação aos convencionais.

Em 2001, a AFSSA estabeleceu um grupo de especialistas para desenvolver uma avaliação crítica e exaustiva da qualidade nutricional e sanitária dos alimentos orgânicos.

A AFSAA diz que seu objetivo foi alcançar os mais altos padrões de qualidade científica em sua avaliação. Os artigos científicos selecionados para análise se referem a práticas agrícolas bem definidas e certificadas, e apresentaram as informações necessárias sobre desenho da metodologia, parâmetros de medidas válidos e amostragens e análises estatísticas válidas.

Depois de mais de dois anos de trabalho envolvendo cerca de 50 especialistas de todas as áreas específicas incluindo a agricultura orgânica, o consenso final do relatório foi publicado em língua francesa em 2003.

O relatório publicado na revista científica, em inglês, é na verdade um resumo deste estudo, e outras partes relevantes têm sido publicadas desde 2003.

As conclusões deste estudo são diferentes das que foram recentemente apresentadas pela Agência de Qualidade de Alimentos do Reino Unido, que foi amplamente criticado por especialistas internacionais pelo uso de metodologia falha e conclusões que contradizem seus próprios dados (ver Boletim 452 - 1. Pesquisadores concluem que orgânicos não trazem benefícios à saúde. Será mesmo?).

O relatório completo da AFSSA pode ser encontrado em:
http://swroc.cfans.umn.edu/organic/ASD_Lairon_2009.pdf

[Publicado Food Magazine, 03/09/2009. Reproduzido no Boletim da AS-PTA]


* Agência Francesa para a Segurança dos Alimentos

Morte de um revolucionário cubano...

Morre histórico comandante da revolução de Cuba‎

Juan Almeida Bosque, um dos poucos que ostentavam o título de "Comandante da Revolução Cubana" e que mostrou lealdade ferrenha a Fidel Castro no calor do campo de batalha, morreu nesta sexta-feira (dia 11), após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Membro do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e vice-presidente da ilha, ele tinha 82 anos. O Conselho de Estado decretou luto nacional, ordenando que todas as bandeiras fossem hasteadas a meio mastro.

 Juan Almeida

Vice-presidente do Conselho de Estado de Cuba, Juan Almeida Bosque chegou a ser considerado o terceiro homem da ilha.

"O nome do comandante da Revolução Juan Almeida Bosque permanecerá para sempre no coração e na mente de nossos compatriotas, como paradigma de firmeza revolucionária, convicções sólidas, valentia, patriotismo e compromisso com nosso povo", expressou um comunicado oficial. O comandante foi ainda um colaborador próximo e amigo pessoal de Fidel e Raúl Castro, este último atual presidente após substituir seu irmão enfermo.

"É com profunda dor que a direção do Partido e do Estado informa ao nosso povo que o comandante da revolução Juan Almeida Bosque, membro do Escritório Político e vice-presidente do Conselho de Estado, faleceu nesta capital, às 11h30 (horário local) da noite desta sexta-feira, como consequência de uma parada cardiorrespiratória", informou uma nota oficial.

O comunicado observou que não haveria cerimônia pública de velório, atendendo ao desejo do dirigente. Autoridades cubanas estavam organizando uma cerimônia para este domingo no monumento do herói cubano José Martí, na Praça da Revolução, em Havana, assim como em outros locais, como na Ilha da Juventude, onde Almeida ficou preso com os irmãos Castro, após participarem do assalto ao quartel Moncada, em 1953.

Almeida integrou-se à luta contra o regime ditatorial de Fulgêncio Batista, em março de 1952, quando era um estudante de Direito na Universidade de Havana, onde conheceu Fidel Castro, então um advogado formado e aspirante a promotor.

Almeida esteve ao lado de Castro em 26 de julho de 1953, quando o futuro presidente cubano liderou um ataque ao quartel de Moncada, uma força militar de Batista na cidade de Santiago de Cuba. A investida foi um fracasso e Almeida, assim como os irmãos Castro, foram presos e levados para a Isla de los Pinos, renomeada, posteriormente, de Isla de la Juventud (Ilha da Juventude). Mas aquele fracasso foi o primeiro passo importante rumo à Revolução Cubana, cinco anos e meio depois daquela data.

Almeida e os outros sobreviventes do ataque ao quartel foram libertados em maio de 1955, favorecidos por uma anistia dada a outros jovens revolucionários. Após a libertação, ele acompanhou os irmãos Castro no exílio no México, onde formaram uma guerrilha armada. Eles retornaram a Cuba em dezembro de 1956 no iate americano "Granma", que transportava um total de 82 combatentes, e lançaram batalhas da ilha de Sierra Maestra. Almeida, os irmãos Castro e Ernesto "Che Guevara" estiveram entre os 16 sobreviventes dos confrontos na ilha, nos quais vários rebeldes morreram nos confrontos com as tropas governamentais.

Após Batista fugir de Havana no Ano Novo de 1959, Almeida ocupou diversos postos militares, desde chefe das unidades motorizadas até chefe da Força Aérea do Exército Revolucionário. Mais tarde, ele foi nomeado vice-ministro e chefe do staff das Forças Armadas Revolucionárias.

Almeida era integrante do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba desde a sua criação em outubro de 1965. Tinha como tarefa receber novos embaixadores estrangeiros e dar as boas vindas a dirigentes estrangeiros visitantes. Ele desligou-se das atividades públicas em dezembro de 2003, após anunciar que sofria de problemas cardíacas. Almeida também compôs diversas músicas cubanas tradicionais e escreveu sobre seus anos na prisão e nas montanhas.

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