Milton Temer - Portal do PSOL |
Passado o Carnaval, começa o ano a sério, com imensas preocupações, para quem acompanha a conjuntura internacional. E não é para menos. Enquanto os blocos desfilavam, sob um céu acintosamente azul do calor carioca, notícias vindas do, ou sobre o, Oriente Médio eram bem sintomáticas. Escondidas nas páginas internas dos jornais, ou nos intervalos do noticiário de rádio e tv, sobre a alegria da ressurreição dos festejos de rua, misturadas com o da prisão de quem se realizasse, fisiologicamente, em via pública, elas acenavam com um presságio de mau agouro.
Por "erro de pontaria", um míssil desviado de 300 metros matava 12
civis inocentes numa aldeia do Afeganistão. E o general americano,
encarregado da operação domesticadora de talibãs, pedia desculpas.
Afinal, esta ofensiva das tropas da OTAN, com militares do próprio país
incorporadas, estava voltada a uma ocupação de território a ser
entregue às autoridades nomeadas pelo atual governo do país. Objetivo
até então inalcançável tendo em vista que a população não consegue se
identificar com métodos e agentes impostos pelos invasores, após a
guerra em que se pretendeu por fim ao regime fundamentalista
anti-ocidente, deposto anteriormente pela ação dos marines.
A segunda manifestação perigosa vinha da própria secretária de
Estado dos EUA, a bizarra Hillary Clinton. Tornava pública a até então
não revelada concepção de que o Irã estaria se transformando numa
"ditadura militar". E para quem conhece o retrospecto de declarações
desse tipo, provenientes de antecessores da eminente secretária em
pauta, a alternativa mais previsível de desdobramento é a intervenção
militar. É a invasão, para a imposição da pax americana, controlada e
administrada por seus agentes locais. Resta a pergunta: os Estados
Unidos têm condições de ampliar suas ações para além das desastrosas
até então levadas a cabo no Iraque e no Afeganistão? Certamente que
não. A despeito de toda a carga ideológica que os meios de comunicação
ianques, atemorizados diante da ofensiva dos republicanos, não consigo
ver como isso se materializaria (me recuso a fazer referência a uma
suposta "direita" pois não consigo sequer identificar esquerda dos
democratas, quanto mais algo que não fosse direita, entre os
republicanos, hoje representados pela perigosa idiota Sara Palin).
O perigo está alhures. Na própria região. Mais especificamente, ali
ao lado, sob a batuta de um dos mais reacionários governos sionistas
entre os últimos que ocuparam o comando de Israel. Pois é sabido que, a
despeito de toda as acusações contra o "perigo nuclear" do Irã, somente
agora chegando ao enriquecimento em 20% do urânio, longe portanto dos
90% necessários à fabricação de uma ogiva nuclear, é em Israel que
estão dispostas, segundo denúncia do próprio e insuspeito Jimmy Carter,
nada menos do que algo em torno de 200. Com uma diferença fundamental.
O Irã é signatário do acordo de não-proliferação de armas nucleares.
Israel, não. Sem que ninguém, nenhuma potência capitalista ocidental,
tenha em algum momento cobrado sua adesão. Para Israel não vale a lei,
exatamente porque seu papel é garantir a sobrevivência dos governos
mais vendidos e corrompidos pelas potências capitalistas naquele
sub-continente - destaques para Arábia Saudita, Egito e Jordânia - e
impedir que haja recuperação de algum espírito nacionalista árabe.
Principalmente se for laico, como é o caso da Síria.
Ah, mas não temos por que nos preocupar, poderão sugerir alguns bem
intencionados. Afinal, os Estados Unidos enfim admitiram o poder maior
entregue a um descendente das classes oprimidas. Obama é o primeiro
negro a ocupar a Casa Branca, e o espírito de sua campanha contra os
republicanos não permitiria previsões pessimistas.
Perdoem-me, mas aqui entro com uma historinha que nada impede
afirmar que possa realmente ter ocorrido, mas que ilustra bem a
distinção entre campanha e poder. Conta-se que, na primeira vez em que
concorreu à governança do Estado de Nova Iorque, Nelson Rockefeller
teria procurado a mãe para comunicá-la da decisão. Quando, então, ouviu
da matriarca implacável: "Mas isto não é coisa para nossos empregados?".
Pois é...e estão aí fatos que nos levam a comprovar o quanto Obama -
admitindo-se suas boas intenções iniciais - já foi engolido pelo
complexo industrial-militar-petrolífero que domina Wall Street. E o
quanto, hoje, faz o papel de capataz da senzala, a serviço da Casa
Grande. No mesmo dia em que eram divulgadas as formulações da Clinton,
e o pedido de desculpas do general americano, pela morte " errática" de
12 civis afegãos, um pé de página do Globo anunciava que, por "falta de
locais onde aprisionar", a CIA de Obama já havia assassinado mais
insurgentes, pela ação terrorista do Estado americano, do que Bush em
seus últimos anos de cruzada fundamentalista pentecostal contra os
"infiéis" muçulmanos.
Fica para nós, para além das ameaças consequentes do desdobramento
dessa infindável crise no Oriente Médio, a angústia de saber até onde,
nesse contexto continuísta na essência, e apenas mais sutil na forma de
fazer, quando sairá da sombra, e das fronteiras que hoje ocupa, o Plano
Colômbia, consolidado e ampliado sob o governo Obama já em seu primeiro
ano, e ora de perfil baixo, talvez aguardando o melhor momento para o
bote continental.
Milton Temer é jornalista e diretor-técnico da Fundação Lauro Campos
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Enquanto o Carnaval passava...
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