A
mídia está “indignada” com a quebra do sigilo fiscal de alguns altos
tucanos. Um crime – não é possível usar meias palavras para o que é este
acesso ilegal – que, até agora, carece de autoria mas, sobretudo, de
motivação. Precisa, também, de uma mudança de nome porque o que existe,
até agora, é o acesso ilegal, mas não o vazamento de informações
sigilosas porque, exceto no caso de Eduardo Jorge, que tem tido a visita
frequente a estes dados por ordem – e parece que também sem ordem –
judicial, nada vazou. O caro leitor viu ou ouviu algo sobre o que
conteriam as tais declarações violadas? Não? E espero que nenhum de nós
venha a ouvir nada sobre elas, senão em razão de investigações fiscais
ou judiciais, que é a única maneira legal e correta de que venham a
público tais informações.
Embora, como eu tenha deixado claro, não tenha a menor condescendência com quem agiu assim – e quem teve a vida familiar devassada como os Brizola fala isso de cadeira – é estranho que nossa imprensa não demonstre nada parecido com a santa ira de que está possuída agora, quando se trata de outros atentados à democracia.
Não me recordo de um editorial dizendo que os níveis de pobreza do Brasil eram um atentado à democracia. Ou de que é uma vergonha um país imenso como o nosso tenha tanta gente sem um pé-de-chão. Ou que o lucro dos bancos brasileiros é obsceno e transfere para quem não produz e não apóia a produção boa parte da renda do trabalho, das pensões e aposentadoria e das empresas que produzem e empregam.
Não me lembro de nada disso; estarei desmemoriado? Mesmo as matérias sobre as deficiências na saúde e na educação eu só as vejo quando os governantes estaduais ou municipais não são da predileção da grande mídia.
O estado democrático de direito, que inclui, pela nossa Constituição, os sigilos bancário, fiscal e telefônico é, também, condicionado ao “dono” . O sigilo fiscal de Guilherme Estrella, diretor de Exploração da Petrobras foi violado em plena tribuna do Senado e não houve um artigozinho condenando.
E o estado democrático de Direito, para a nossa mídia, não inclui os direitos sociais do povão. Qualquer melhoria para ele é “demagogia”, “populismo”, “clientelismo”. Governante que os promove, mesmo sem tirar nada de quem tem, é “messiânico”, “personalista”, “ignorante”.
As próprias garantias do pleito democrático são abertamente manipuladas. Serra tenta impugnar a candidatura Dilma com argumentos pífios, que não podem ser considerados sequer numa conversa de botequim e o máximo que se ouve é que isso é um erro. Um ex-presidente como FHC escreve e assina nos jornais, hoje, um artigozinho em que pede o mesmo – “chama a atenção que nenhum procurador da República, nem mesmo candidatos ou partidos, haja pedido o cancelamento das candidaturas beneficiadas (pelo prestígio de Lula), senão para obtê-lo, ao menos para refrear o abuso” – e não se considera isso uma ameaça à democracia.
Vejam bem: acham absurdo um presidente pedir votos e não acham um absurdo um ex-presidente, que tem candidato – pedir a cassação do registro da candidata favorita, que tem 50% ou mais da intenção de voto popular.
Nos custou muito atingir a democracia e, mesmo demorados, ela nos deu os frutos que colhemos agora. Nossa democracia, a depender de nossa imprensa, é assim: todos os direitos para poucos- “os nossos” – nenhum direito para muitos, “essa ralé”.
A democracia brasileira, para não ser uma fantasia, depende da democracia da informação. Com esta mídia, teremos nela, sempre, um inimigo da democracia real. Porque ela é parte de uma elite que despreza o povo brasileiro. E, quando o povo é desprezado, que democracia pode haver?
Embora, como eu tenha deixado claro, não tenha a menor condescendência com quem agiu assim – e quem teve a vida familiar devassada como os Brizola fala isso de cadeira – é estranho que nossa imprensa não demonstre nada parecido com a santa ira de que está possuída agora, quando se trata de outros atentados à democracia.
Não me recordo de um editorial dizendo que os níveis de pobreza do Brasil eram um atentado à democracia. Ou de que é uma vergonha um país imenso como o nosso tenha tanta gente sem um pé-de-chão. Ou que o lucro dos bancos brasileiros é obsceno e transfere para quem não produz e não apóia a produção boa parte da renda do trabalho, das pensões e aposentadoria e das empresas que produzem e empregam.
Não me lembro de nada disso; estarei desmemoriado? Mesmo as matérias sobre as deficiências na saúde e na educação eu só as vejo quando os governantes estaduais ou municipais não são da predileção da grande mídia.
O estado democrático de direito, que inclui, pela nossa Constituição, os sigilos bancário, fiscal e telefônico é, também, condicionado ao “dono” . O sigilo fiscal de Guilherme Estrella, diretor de Exploração da Petrobras foi violado em plena tribuna do Senado e não houve um artigozinho condenando.
E o estado democrático de Direito, para a nossa mídia, não inclui os direitos sociais do povão. Qualquer melhoria para ele é “demagogia”, “populismo”, “clientelismo”. Governante que os promove, mesmo sem tirar nada de quem tem, é “messiânico”, “personalista”, “ignorante”.
As próprias garantias do pleito democrático são abertamente manipuladas. Serra tenta impugnar a candidatura Dilma com argumentos pífios, que não podem ser considerados sequer numa conversa de botequim e o máximo que se ouve é que isso é um erro. Um ex-presidente como FHC escreve e assina nos jornais, hoje, um artigozinho em que pede o mesmo – “chama a atenção que nenhum procurador da República, nem mesmo candidatos ou partidos, haja pedido o cancelamento das candidaturas beneficiadas (pelo prestígio de Lula), senão para obtê-lo, ao menos para refrear o abuso” – e não se considera isso uma ameaça à democracia.
Vejam bem: acham absurdo um presidente pedir votos e não acham um absurdo um ex-presidente, que tem candidato – pedir a cassação do registro da candidata favorita, que tem 50% ou mais da intenção de voto popular.
Nos custou muito atingir a democracia e, mesmo demorados, ela nos deu os frutos que colhemos agora. Nossa democracia, a depender de nossa imprensa, é assim: todos os direitos para poucos- “os nossos” – nenhum direito para muitos, “essa ralé”.
A democracia brasileira, para não ser uma fantasia, depende da democracia da informação. Com esta mídia, teremos nela, sempre, um inimigo da democracia real. Porque ela é parte de uma elite que despreza o povo brasileiro. E, quando o povo é desprezado, que democracia pode haver?